quarta-feira, 29 de abril de 2009

"Like A Prayer" tem 20 anos

Onde você estava no outono de 1989? Talvez você não se lembre. Mas se fizermos essa pergunta para Madonna a resposta vai vir rapidinho: ela estava lançando o álbum “Like A Prayer”, até hoje considerado um de seus melhores.

Fiz uma matéria sobre ele pro Portal Mundo Oi. Leia aqui!


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Eu não uso relógio de pulso

“Você não usa relógio de pulso?” dizem todos assustados ao meu redor quando essas palavras saem da minha boca.

Eu passo meus dias na frente de uma tela de computador que tem um relógio ali do lado. Quando estou longe dele, meu celular está perto de mim, caso eu queira saber as horas. Mas é que raramente eu quero. Não da forma que os outros olham.

Não me atraso com frequência a compromissos – se é que os tenho – mas é uma coisa meio política. Eu não uso pois eu não quero usar. Embora eu passe um tempo considerável planejando meu futuro – a longo, médio e curto prazo – eu tento não pensar no passado e constantemente as pessoas olham as horas para saberem quantas já passaram, nunca quantas virão. O tempo é muito mais percebido pela sua escassez que pelo seu excesso e eu tento combater isso dentro da minha inocência.

O último relógio que ganhei era feio, mas eu andava com ele mesmo assim. Apesar de tudo que disse, não sou contra eles, os objetos relógio de pulso. Alguns são bonitos e tudo. O meu não era, mas estava lá.

- Cadê ele? - me perguntou a pessoa que me deu de presente.

- Ah, dei para o mendigo da rua perto do meu trabalho. Ele vivia me perguntando as horas.

Passou da hora de parar de bobagens.

sábado, 18 de abril de 2009

Almoço de graça

O nerd que abandonou a faculdade para poder trabalhar mais. Não que a família fosse pobre - não é como se ele tivesse ido fritar hambúrgueres no McDonald’s. Ele e uns amigos desenvolveram um software, chamado MS-DOS, que posteriormente virou o Windows. O sistema operacional esteve, para os anos 90, como a IBM estave para os anos 80 e Google e Apple estão para os 2000. O que, obviamente, inclui lucros astronômicos.

O nerd é Bill Gates que, aos poucos, planeja doar toda sua fortuna à caridade antes de morrer. Estima-se que o valor doado para pesquisas e medidas preventivas para doenças como AIDS, câncer e malária ultrapasse os 40 bilhões de dólares.

Estou vidrado em um documentário que passou na TV agora. A repórter pergunta como é ser Bill Gates e ter tanta grana assim. “É ótimo poder não se preocupar com isso. Eu estou devolvendo ao mundo o dinheiro que acumulei e essa é a melhor forma de fazê-lo” responde o agora grisalho executivo.

E deve ser mesmo, não? Imagine ter uma quantidade de dinheiro infinitamente superior àquela necessária para a vida de várias gerações! Sem se preocupar com contas, você tem tempo e cabeça para levar seu trabalho com mais otimismo e ser mais feliz consigo – caso essa fortuna não tenha vindo de nenhuma ação ilegal.

Muitos torcem o nariz e dizem que Gates sempre quer ter algo em mãos para manter-se ocupado. Primeiro era a Microsoft, depois a África com malária e, agora, ele quer um Prêmio Nobel da Paz. Que seja. Injetar tanto dinheiro nessas áreas é um feito. Uma empresária aparece e diz cheia de sinceridade: “Com isso eu acho que, no final das contas, o Windows vai ser uma nota de roda-pé na biografia dele e seu trabalho humanitário será o grande capítulo de sua vida”.

Querendo ou não, Bill Gates está firmando seu nome na lista de celebridades filantrópicas. Não existe almoço de graça, é claro. Prêmio Nobel, poder, respeito ou apenas mais popularidade estão sempre em jogo quando falamos de benfeitores como ele, John Lennon, Oprah Winfrey, Bono Vox, Hebe Camargo, Madonna e até Al Gore.

Mas importa? Se você doa anonimamente ou posando para as fotos o dinheiro entrou da mesma maneira e terá os mesmos fins.

William H. Gates finaliza o documentário: “Ele me comunicou que ia doar toda sua fortuna durante um telefonema. Foi um telefonema e tanto aquele! Pode procurar e você não vai achar em lugar nenhum um pai mais orgulhoso do que eu”.

Para ouvir depois de ler: Imagine – John Lennon

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vitória

Recebi uma mensagem logo de manhã na semana passada. É uma amiga, vamos chamá-la de Vitória. Ela me conta em um SMS com seis caracteres de pura empolgação: “Peguei”. O assunto, no caso, era um jovem que fazia parte de suas fantasias na última semana. Mas esse texto não tem um final feliz, se prepare.

Eles se conheceram por acaso no Stadt Jever, aqui em Belo Horizonte. Ele foi ao banheiro e ela sentou em sua mesa, achando que ela estava vaga. Ele voltou e os dois começaram a conversar. As amigas dela chegaram, mas não antes deles trocarem números. Ele apenas acenou para todas com a cabeça e sumiu pela porta.

Ele demorou três dias para ligar. A desculpa era clássica, havia perdido o papel. Vitória não se importou. Ele era educado e os dois conseguiram manter uma conversa digna durante os cinco minutos que estiveram juntos. Minutos versus uma vida inteira é bem diferente, ela sabia, mas era um começo. Afinal, com quantos desconhecidos você passa cinco minutos conversando sem parar e sem citar a previsão do tempo, os engarrafamentos ou os signos?

Combinaram de sair e saíram. Encontraram-se e fizeram uma boa refeição japonesa na sexta. Jantaram filés bonitos no sábado. E domingo ele queria almoçar com ela. Segundo ela, ponto positivo.

- Quando mais cedo no relógio, mais séria está a coisa. Se ele quer encontrar pro almoço deve ser por causa das nossas conversas, que são ótimas.

Fazia sentido a explicação dela. Mas não pude evitar perguntar:

- Mas e como é o sexo?
- Ainda não fizemos sexo.
- Ih...

Expliquei para Vitória que, se o problema não era a agenda deles e se ainda não existia sexo, a teoria dela estava inversa. O almoço provavelmente seria o fim de tudo. Se eles estivessem se pegando de verdade, não teria nada a ver. Mas, sem sexo, você cair de “drinks com comidas sofisticadas” para “almoço no shopping com guaraná” é uma tragédia. É porque ficou tedioso. De uma forma inexplicavelmente estranha e incrivelmente encantadora, ela arregalou apenas um olho e me perguntou o que fazer.

- Pegue as rédeas. Ligue para ele, cancele o almoço e sugira algo de noite. Dê um jeito dele entender que você quer ir pra cama. Não vá se não quiser, mas jogue com a possibilidade.

E foi o que ela fez. Ela não queria perder o moço. Como poucas pessoas, não se sentia pronta para sexo no quarto encontro, mas sabia que o rapaz tinha seu valor. No final das contas, como a telinha luminosa me informou, eles acabaram mesmo na cama. Uau.

Hoje fez, portanto, uma semana do incidente. O telefone celular dela não para de tocar. É o tal. Aparentemente, o homem morava com os pais ainda. Era uma casa gigantesca e seu quarto era independente, mas em algum lugar ali estavam seus pais. Aquele ar de executivo que deu super certo precocemente acabou. Era óbvio que o cara, que já estava na casa dos 30, era mantido com mesadas, o que afasta mulheres independentes.

Enquanto eu escolhia de qual líquido industrial a máquina da Nestlé ia encher meu copo, Vitória concluiu:

- Eu já passei dessa fase de estar fascinada pelo glamour vazio. Umas pegadas aleatórias têm o seu valor, mas uma pessoa independente, bem humorada e talentosa é muito mais tesão.

Eu ri e concordei mentalmente.

Para ouvir depois de ler: Alanis Morissette - That I Would Be Good

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O fotógrafo farsante

Quando você é um estudante de jornalismo acaba enfrentando alguns bons dilemas. Você fica sabendo de coisas muito estranhas sobre certas pessoas e passa a enxergá-las de uma forma diferente.

Engana-se quem acha que investigação é um dom, basta praticar e você vai ver que aquelas aulas de sociologia serviram para algo. Nem que seja identificar o líder numa rodinha de conversas de um bar.

No caso não é um bar, mas uma cafeteria estilosa cheia de roqueiros indies, jornalistas, publicitários, fashionistas e mantidos-pelos-pais em geral. Enquanto a hostess te leva até sua cadeira e antes que alguém possa gritar “Martini”, você já sabe qual é a mesa mais importante ali.

No caso era a de Alex, vamos chamá-lo assim. Lembra que nos anos 90 era super cool ser DJ? A moda da vez é ser fotógrafo e foi Alex quem trouxe isso à tona. Ele não é de Belo Horizonte – ou pelo menos não diz que é, pois Minas Gerais não é hype. Já fomos apresentados mais de uma vez, mas ele não se lembra de mim.

Acompanhado de muitos novos fotógrafos que, como ele, vestem roupas que pagariam meu aluguel, trocamos olhares. Ele tem um desespero no olhar pois se sente uma farsa. Claro que eu não vi isso nos olhos dele. A sensação de farsa que ele tem eu fiquei sabendo por terceiros, que ouviram a confissão numa viagem errada de não sei qual droga.

Sentamos em uma mesa perto da dele. Trocamos sorrisos, ele me reconheceu. A mesa tem nuvens de palavras, sabe como é isso? De cinco em cinco minutos o silêncio reina. Um assunto renasce, atinge o ápice ensurdecedor, todos riem e a graça passa. Silêncio de novo. Todos fumam e eu troco de cadeira pois o cheiro deles me incomoda.

Para ouvir depois de ler: Nirvana – Rape Me

sábado, 11 de abril de 2009

Falar sério sobre “Crepúsculo”?

Acabai de alugar o primeiro filme da sensação “Crepúsculo”. É, não li os livros e não vi no cinema. Estou mais uma vez atrasado da modinha – isso está ficando recorrente, o que será que quer dizer? Amadureci? Quase que nem escrevo um texto sobre ele. Mas acho que algumas de minhas observações deviam ser escritas e qual o objetivo de escrevê-las se não o de publicar?

Uma jovem chamada Bella Swan muda de cidade e fica encucada com o ar misterioso de Edward Cullen, que estuda em sua escola. Com um tempo de convívio, uma paixão forte entre eles aparece no meio da revelação de uma curiosa característica do cara: ele é um vampiro e a garota acaba virando refém do segredo da existência dessas criaturas.

Dá pra resumir a história assim, mas claro que há muito mais do que isso – trata-se, inclusive, de uma trilogia de filmes. Todos eles baseados em livros da autora Stephanie Meyer. “Crepúsculo” é o primeiro da saga e arrecadou mais de 36 milhões de dólares em seu final de semana de estréia nos Estados Unidos.

Não quero e não vou entrar nos méritos do longa como sendo nada a não ser mais um filme de entretenimento. Ele não passa disso e muito se engana quem acha que isso é uma ofensa a ele. Ele é bem produzido, boa fotografia, bons efeitos especiais e o elenco é competente e esteticamente impecável.

Não vi muito filmes de vampiros na vida, mas achei interessante a abordagem das criaturas feitas aqui: nada de caixões ou dentes pontiagudos. O peso do segredo de fazer parte desse grupo é o que faz a história interessante para mim.

Mas, convenhamos, é mais um filme adolescente. Apesar do lado vampiresco (que teoricamente deveria abrir e organizar um arcabouço de informações, lendas e tradições), a história é muito simples e inocente. De fora ele até parece uma produção sombria, mas preste atenção nos valores presentes ali: um amor juvenil quase shakespeariano, quase sem contato físico algum e absurdamente idealizado (alguém aí achou sua alma-gêmea com 17 anos?). E, no meio de muitas cenas e enquadramentos feitos apenas para tirarem suspiros das menininhas, uma história de luta que não é necessariamente do bem contra o mal.

Algo errado com ele? Nada! Quanto mais contestador ele parecer, mais adolescentes em crise vão assistir. E quanto mais inocente ele for, mais os pais vão aprovar a febre. Se o filme é legal, não tem problema eu deixar meus filho gastar tubos de dinheiro com ele, certo? Sabia que uma pesquisa mostrou que a média de vezes que os adolescentes viram “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel” no cinema foi de três vezes?

Era só isso que queria dizer. Não faz sentido torcer o nariz para “Crepúsculo”. Trata-se de um bom passatempo e de um longa que cumpre o que promete (entreter) e nada mais. Quem disse que todos os filmes do mundo precisam ser contestadores e cults?

Para ouvir depois de ler: Rockz - Tô Planejando

domingo, 5 de abril de 2009

Sobre um garoto

Will Freeman, como seu próprio nome diz, é um homem livre. Herdeiro de uma música cujos direitos autorais lhe rendem fortunas, vive sozinho em uma bela casa equipada e não precisa trabalhar. Entre planos mirabolantes para preencher o vazio de seus dias ele conhece Marcus, um garoto incrivelmente impopular na escola e com problemas familiares que só não são maiores que os de auto-estima. E, por mais incrível que pareça, os dois se tornam amigos.

Esse é o argumento de “Um Grande Garoto”, de Nick Hornby, o autor de “Alta Fidelidade”. Lembrei dele hoje, 15 anos do suicídio de Kurt Cobain, pois o livro é recheado de citações ao Nirvana – começando por seu título original, “About a Boy”, que faz referência à canção “About a Girl”.

É delicioso. Acho que, quem está lendo isso e me conhece ou sabe como eu era no colégio, entende porque ele me toca tanto. Acredito que qualquer um com mais de 20 anos vá ler este livro e perceber lembranças e medos que achou ter deixado no passado. Mas também vai acessar áreas muito gostosas da mente e ficar intrigado com a narração, que mostra as situações vistas pelos dois protagonistas.

O livro gerou um filme homônimo, com Hugh Grant, tão doce e perspicaz quanto o livro. O final não é o mesmo, mas é divertido. Vale a pena ser visto. Diferente de “Alta Fidelidade”, as citações pops não conduzem a história, mas as dúvidas masculinas continuam a permear o livro – que agora tem duas gerações de respostas. “Um Grande Garoto” tem uma narrativa doce, madura e também é o retrato de uma geração.

Marcus, desajeitado e esquisito, era capaz de criar pontes por onde quer que passasse. E eu ando precisando de pontes.

Para ouvir depois de ler:
Something to Talk About - Badly Drawn Boy