segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Viu essa bagunça da "Men's Health"?


A edição de dezembro da revista de boa forma "Men’s Health" traz nada menos que seis chamadas de capa exatamente iguais às publicadas há dois anos, em outubro de 2007. Pelo visto, metade dos destaques da revista atual contém o mesmo texto da edição lançada há dois anos, incluindo as exatas 1.293 dicas para comer melhor.

Na capa atual, o ator sensação Taylor Lautner, do longa-metragem "Lua Nova", já na antiga, o fodão do Jason Stathem, de filmes como "Carga Explosiva", "Revólver" e "Snatch".

O diretor de redação, David Zinczenko, disse (aqui) que a repetição das chamadas faz parte de uma estratégia da marca: "Foi proposital, trata-se de uma ação conjunta dos nossos títulos", e, logo depois, afirmou que os assinantes receberam a publicação com uma capa diferente.

Bom, proposital a gente já sabia, pois ninguém consegue fazer isso aí sem querer, né? O Gawkor, blog onde eu li a declaração do cara, não caiu na balela e termina o texto pedindo novas explicações do editor e ainda zombando: "Faremos uma nova matéria e uma nova manchete para elas".

Casos como o do "KLB é homenageado pela ONU" (lembra disso?) são corriqueiros na era da internet. Uma revista copiar outra, a gente sempre vê. Não que esse pessoal esteja certo - aliás, pelo contrário - mas é bem comum. Agora, você confiaria em uma revista que republica matérias dela mesma? Essa é a pergunta rondando a ação da "Men's Health".

Vamos lá: são textos sobre saúde, muitos são frios, nada deve ter mudado. Por isso, acho bem válido republicar matérias ocasionalmente. Mas colocar mais de uma republicação num único número, todas da mesma edição antiga, e ainda com as chamadas idênticas e no mesmo lugar da capa já é desaforo demais, não? Sem contar a falta de respeito com o leitor.

Não foi a toa que a imprensa americana não engoliu a desculpa do editor e classificou a duplicação como nada mais que preguiça e descuido. É o famoso caso do "ah, ninguém vai perceber". Mas se tem uma coisa que a web mostrou pra gente foi exatamente isso. Sempre tem alguém que percebe.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Acabei de me formar

Em primeiro lugar, agradeço ao primeiro professor do primeiro dia de aula, por me ensinar que, com a devida força de vontade e desempenho, um analfabeto funcional pode sim se transformar em professor universitário, e da matéria Redação e Produção de Texto. Depois gostaria de agradecer à minha professora de diagramação, que não sabia usar um Mac. À professora de Assessoria de Imprensa, por mostrar as inimagináveis e incontáveis maneiras de ensinar uma coisa tão simples da maneira mais complicada e equivocada.

À minha professora de TV, que me mostrou muitas possibilidades de assassínio da língua portuguesa, me exemplificou o que era confusão mental e me ensinou o que é imaginação com as notas que simplesmente inventava. À minha professora de Economia, por me ensinar que, como eu imaginava, compaixão não é uma característica inerente ao economista. Ao outro professor da mesma matéria, que transformava toda e qualquer aula sua em uma incrível palestra sobre o PT.

Agradeço também ao professor L.A. por sua absoluta falta de paciência e prepotência resultantes, deduzo, de uma infância reprimida. Ao professor de Fotojornalismo, por ter me ensinado com maestria que existe picaretagem em todos os lugares, inclusive na fotografia. E, finalmente, ao professor de Redação, um dos piores seres humanos que já passou na minha frente, com um ego incrivelmente cheio de sucessos imaginários e competências facilmente desmascaradas em um diálogo que durasse mais de 10 minutos.

Aos egoístas colegas que acham que estagiar numa emissora de TV sensacionalista é algo nobre. Aos que, no último período da faculdade, não sabiam diferenciar “furto” de “roubo”, escreviam “hilário” sem a letra H e ainda não sabem que o correto é “nada a ver” e não “nada haver”. A todas as mulheres que escolheram ser bonitas a competentes, e a todos os meninos por provarem que o machismo e a homofobia sobreviveram de maneira esplendorosa à virada do século. Todos iluminaram o meu caminho e provaram que, embora a quantidade de alunos seja grande, o nível intelectual da concorrência é bem baixo.

Obrigado a todos!

UPDATE: Ficou ofendido com o texto, foi? Leia esse aqui agora.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Se tem uma coisa que eu não tenho é esperança nessa merda de país

Faltavam poucos minutos para meia noite de sábado para domingo, quando eu e meu namorado fomos cutucados por um PM.

- Vocês estão se beijando?

Não soubemos nem mesmo que respostas dar. Afinal, era uma pergunta absurdamente óbvia. Sim, estávamos nos beijando, como estavam os outros dois casais na mesma pequena praça.

- Acho melhor vocês circularem.

Ficamos sentados no mesmo lugar com cara de quem diz: “você não pode estar falando sério”. Mas, sim, ele estava.

- Gente, mas tem outros dois casais aqui! – argumentei.
- Olha, vamos circular na boa? – disse o policial, naquele tom de quem faz uma ameaça enrustida caso você se negue a fazer o que ele pede.

“Não quero saber não, heim, Fulano. Manda circular”, gritou uma voz de dentro do prédio perto da referida praça. Então ok, fomos embora.

Descemos uma rua para pegar um táxi. Táxi que nunca passava. Em um buffet ao nosso lado estava tendo uma festa. “Você tem o telefone de algum tele-táxi?”, perguntamos ao porteiro.

- Aqui na rua passa táxi toda hora. Não é possível que você não pode esperar um pouquinho!

Sim, essa foi a resposta dele.

Olha, o porteiro não precisava ser simpático, não tinha a mínima obrigação. Mas bastava dizer que não tinha ao invés de ser grosso gratuitamente, certo?

Ser gay fez com que tentassem, mais de uma vez, me bater na rua. Talvez mais de 30 vezes me xingaram enquanto tudo que eu fazia era apenas andar. Agora, se nem na polícia eu posso confiar, gente cujo salário é pago com os impostos que eu pago e cuja função é me proteger, estamos todos fodidos. Não há esperança mesmo pra isso aqui que circularam e deram o nome de república democrática.

Mas, no país das bananas, da bolsa-gás e das pizzas, o texto acima surpreendeu alguém? É, infelizmente a mim também não.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O que esse povo pensa do futuro?

A chamada geração Y, que nasceu nos anos 1980, chegou ao mercado de trabalho. Mais do que esperado, isso gera um enorme choque. De um lado, empresas tradicionais e absolutamente hierárquicas, de outro, recém formados com planos de carreira almejando uma chefia até, no máximo, seus 27 anos. A crise mudou um pouco essa visão dos jovens, mas as empresas estão falhando na adaptação. É equivocado generalizar? Talvez. Mas vamos ignorar isso e seguir e você vai ver onde eu quero chegar.

O que acontece, e aposto que gente como Marcelo Tas me apoiaria nisso, é que os empregadores ainda tratam seu estagiário e trainee como o jovem perdido no mundo que está, por quase um favor, recebendo uma chance de aprender. Em 2009 essa é a maior balela do mundo. Afinal, quem está chegando agora no mercado de trabalho soma mais conhecimento do que era possível antes. Sim, pouca experiência profissional, mas no nível teórico, todos os profissionais de uma empresa estão nivelados quando o assunto é bacharelado, curso de inglês e palestras, sem contar que o jovem de hoje acumula experiências de vida muito diferentes das que seus chefes tinham quando começaram. Portanto, chega desse discurso.

A grande característica da minha geração é que ela foi criada à base do prazer. Meus pais tiravam boas notas pois era a obrigação deles. Eu tirava pois, passando de ano, ganhava um presente. Percebem a diferença? O grande coringa do jovem no mercado de trabalho é esse. Ele trabalhará horas à fio se for em algo que ele goste. Mas, ei, todo mundo sabe que nem todo mundo vai trabalhar em algo que gosta. E aí está outra característica desse pessoal que veio ao mundo na mesma época que eu. Nascidos e encastelados desde então, sucumbem na primeira crítica e não admitem estar errados, o que é um mega ponto contra eles no mercado de trabalho verdadeiro.

Nem todos, inclusive, estão a fim de se darem bem por conta própria. Como Millôr Fernandes disse, ninguém fala mais entusiasticamente de livre-empresa, de leis de mercado e "que vença o melhor" do que a pessoa que herdou tudo do pai. Minha geração não lidou de verdade com política ou guerras e se sente informada lendo sites superficiais. Isso é de um antagonismo gigantesco. Como vários dos de ontem, os jovens hoje falam sobre distribuição de renda, ecologia e sustentabilidade, mas tudo de dentro da casa dos pais, sem ter tido contato real com nenhum desses tópicos e planejando manter essa distância.

Qualidade de vida é isso pra essa galera, é garantir o seu. Não é necessariamente sair da casa dos pais e começar uma revolução na sua vida não. Esse povo quer deixar sua marca no mundo, fazer diferença, chamar atenção, mas com tudo garantido pelos pais antes. O carro, as viagens, o computador, a cerveja e as roupas de grife.

Todas essas características tendem a ficar mais agudas daqui pra frente, nas gerações a seguir, e isso me causa um certo medo. Já agora eu me vejo cercado de indivíduos hedonistas e egocêntricos, tratando tudo ao redor como descartável. No mercado talvez isso seja bom. Afinal, quem é qualificado e não recebe o aumento prometido diz “adeus” e começa em outra empresa logo demais. Mas sei lá...

Me preocupam – e também me fascinam, confesso – esses que não escolhem aprender e/ou se qualificar e os que vivem de freelancer, por exemplo. Eu estou pensando de forma limitada só aceitando empregos de carteira assinada, em já querer um mínimo de segurança para o futuro? É muito fácil se jogar no mundo sabendo que, se der uma merda, a casa dos pais estará seca, sã e salva para você no caminho de volta. Mas será assim pra sempre? O que esse pessoal pensa do futuro?

Quem descansa agora, trabalha muito mais amanhã. Só tô dizendo...

Para ouvir depois de ler: Smells Like Teen Spirit - Nirvana