domingo, 25 de abril de 2010

Eu não vou trazer nada para você

Eu sabia que isso ia acontecer. Basta você dizer que vai fazer uma viagem internacional que logo aparecem conhecidos – daqueles bem distantes – te pedindo encomendas.

E não é que eu tenha anunciado demais não. Exatamente por isso, tentei não alardear demais minha ida, mas nunca tem como. Sempre tem um sem noção que descobre e vem te pedir para trazer um cacareco qualquer.

Para não ser rude, dou um sorriso leve e digo: “Me passa o que você quiser que, depois, eu vejo” e explico que, de maneira alguma, vou sair procurando o que a pessoa quer. Se, por acaso, eu topar de frente com o objeto desejado pelo conhecido, ok. Se não, me desculpe. Compre online ou quando você mesmo viajar.

É curioso isso. Tem conhecido meu que já foi pra Paris, Itália, Irlanda, Nova York, Los Angeles, Nova Orleans e Canadá e ninguém me trouxe nada. Não estou reclamando, pois nada pedi. As pessoas parecem não entender que quando você viaja para fora do país – principalmente pela primeira vez – quer encher suas malas é de coisas para você ou presentes para seus amigos mais chegados. Não para os outros!

Mentira, todo mundo entende isso sim. Aliás, todo mundo que já viajou pra qualquer lugar entende isso muito bem. Mas eles pedem coisas do mesmo jeito apostando na sua educação. Bom, estou deixando esse post como aviso. =P

Para ouvir depois de ler: I Love New York - Madonna

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O País das Maravilhas de Tim Burton

Apesar de ter gostado muito dos filmes, uma coisa me incomodou em “Sherlock Holmes” e em “Onde Vivem os Monstros”. Os dois dão sinais de não serem a primeira opção de seus diretores. Era como se eles tivessem um cadernão de ideias soltas anotadas e aí buscaram livros com personagens já prontos para incorporar tais pensamentos. Era o que eu achei que aconteceria com a versão de “Alice no País das Maravilhas”, de Tim Burton.

Mas isso não aconteceu – pelo menos não de forma tão categórica.

Ele pegou os dois livros de Lewis Carroll com a personagem – “Alice's Adventures in Wonderland” e “Alice Through the Looking Glass” – e fez uma outra história. Como era de se esperar, Johnny Depp é ninguém menos que o Chapeleiro Maluco. Qualquer fã de cinema sabe muito bem que esse segundo adjetivo é a cara de seus melhores papéis e, talvez por isso, já não seja novidade.

Com uma semi-desconhecida como Alice – a australiana Mia Wasikowska, que não parece somar nada à narrativa – achei que Depp seria o centro das atenções. Bastou Helena Bonham Carter aparecer como a Rainha Vermelha para eu mudar de ideia. Ela tem uma maneira muito peculiar de fazer o tipo mandona e rouba todas as cenas em que está presente.

De outro lado, aparece Anne Hathaway, como a Rainha Branca, uma hilária sátira à delicadeza excessiva das princesas em filmes, e vários outros personagens realmente muito bons – com destaque para o Gato, com voz do ótimo Stephen Fry.

Mas se Burton alcança a glória com o uso do 3D, com o ar sombrio à uma história anteriormente mágica, com figurinos e cenografia – a cena onde Alice encolhe e diminui várias vezes é um desafio de escalas e planos de distância –, ele peca nas cenas de ação, que são previsíveis e rápidas. Mas a gente se importa? Não muito.

A linha entre o real e o feito por computador é imperceptível em vários momentos e apenas Burton pode transformar “Alice” em um filme de aventura que não parece ser algo aproveitador – lembrando que estou analisando apenas o filme e não os milhares de produtos lançados sobre ele.

O cenário criado pelo diretor para continuar a história de Carroll faz jus ao que ele escreveu anteriormente. Burton até cita o manuscrito original da história – chamado “Alice's Adventures Underground” – e faz muitas piadas, especialmente visuais. Apesar disso, ficaram de fora alguns trocadilhos e lições de moral através da lógica, como "Você poderia me dizer, por favor, qual caminho eu devo seguir?", "Isso depende muito de onde você deseja chegar", até o chá maluco e o desaniversário.

Daqui do meu modesto ponto de vista, muita gente vai se decepcionar com a história, principalmente quem é fã de longa data dos livros ou leu correndo antes de ver o filme. Talvez tivesse sido melhor, para o público e para a própria Disney, fazer uma versão da história original e não aumentar nada. A narrativa de Tim Burton é mesmo um espetáculo agradável aos olhos, mas também é fria e previsivelmente exótica.

Mesmo que isso signifique longas filas e chateação de púberes ao redor, “Alice no País das Maravilhas” merece ser visto no cinema. Não é o melhor trabalho de nenhum dos envolvidos na produção, mas está longe, muito longe, de ser vergonhoso.

sábado, 10 de abril de 2010

Os prédios continuam de pé

Neste momento, na casa ou prédio em que você vive ou está, você só consegue perceber fisicamente, com seus cinco sentidos, cerca de dez por cento do prédio.

Pense bem. Dentro das paredes há tanta coisa a mais do que no exterior delas. O encanamento, os fios elétricos, o material de isolamento, os dutos de ar. Há também muito trabalho, esforço e tempo que foi investido e que, depois, quase ninguém vê e talvez nunca irá apreciar.

Na vida, em qualquer organização, negócio, família ou pessoa, também existem camadas que nunca vemos. O trabalho mais fundamental que fazemos passa despercebido. E às vezes é difícil mostrar o que temos feito. Quantas vezes sentimos a dor de outra pessoa, rezamos por ela, contamos casos alheios e fazemos elogios que nunca chegarão aos ouvidos da tal pessoa?

Mas talvez seja hora de fechar os olhos e pensar em tudo que não pode ser visto. Para o bem ou para o mal, você pode imaginar coisas que nunca existiram, mas também pode visualizar acontecimentos verdadeiros que farão o valor desses relecionamentos subirem no seu conceito.

No meio da pior das tragédias e de todo o caos, ninguém recebe crédito pelo prédio que não desabou durante o terremoto. E isso é uma puta injustiça.