Tudo começa de maneira inocente: você está na casa do seu amigo ou amiga conversando despreocupadamente, e ele ou ela te fala o quanto aquele livro é legal. Você olha a capa do livro, olha a cara da pessoa, sente o peso do livro na mão e profere as famosas últimas palavras: - Posso levar?
Últimas palavras para o livro, é claro. Ele vai se juntar àquela gigantesca pilha que você deu o nome de "Livros que eu preciso ler urgentemente", cujo tamanho é o mesmo da vergonha que você sente ao olhar para ela. Você só sente vergonha maior quando olha para aquelas outras duas pilhas: a "Livros que eu preciso muito ler urgentemente mesmo" e "Livros que eu preciso ler e devolver senão não conseguirei mais me sentir um ser humano novamente". E eu deixo as pilhas perto da prateleira de livros que já li e isso causa, aposto, ciúmes entre eles.
Pegar emprestado livros que você sabe que não vai ler é um misto de querer abraçar o mundo (vou ler todos os livros legais que me recomendarem), de superestimar a própria capacidade de leitura (amanhã vou ler "Em Busca do Tempo Perdido", "O Tempo e o Vento" e uns dois ou três volumes da enciclopédia Barsa, antes do almoço) e de ter uma espécie de piedade desnecessária pela pessoa que está te oferecendo o livro emprestado (ele vai ficar magoado comigo se eu não aceitar; coitada, ela está oferecendo tão assim de coração).
Mas o pior é que nem são apenas os emprestados – mas é impressionante como meu semblante faz com que os outros pensem que presente perfeito pra mim seja sempre um livro. Tudo bem, gosto de ganha-los, mas parece que a pessoas entra na Leitura do Pátio, fecha o olho, rodopia e aponta pra uma prateleira. Daí tenho também uma pilha de livros que ganhei e nunca li. Dos que li, raros gostei. As minhas pilhas em casa estão cada vez maiores, quase do tamanho da minha irmã mais nova. Tenho a esperança que alguma mágica aconteça e que, durante uns três meses, meu dia tenha 576 horas, em vez de só 24h. Aí, sim, meu problema com os livros que não li estaria resolvido.
Últimas palavras para o livro, é claro. Ele vai se juntar àquela gigantesca pilha que você deu o nome de "Livros que eu preciso ler urgentemente", cujo tamanho é o mesmo da vergonha que você sente ao olhar para ela. Você só sente vergonha maior quando olha para aquelas outras duas pilhas: a "Livros que eu preciso muito ler urgentemente mesmo" e "Livros que eu preciso ler e devolver senão não conseguirei mais me sentir um ser humano novamente". E eu deixo as pilhas perto da prateleira de livros que já li e isso causa, aposto, ciúmes entre eles.
Pegar emprestado livros que você sabe que não vai ler é um misto de querer abraçar o mundo (vou ler todos os livros legais que me recomendarem), de superestimar a própria capacidade de leitura (amanhã vou ler "Em Busca do Tempo Perdido", "O Tempo e o Vento" e uns dois ou três volumes da enciclopédia Barsa, antes do almoço) e de ter uma espécie de piedade desnecessária pela pessoa que está te oferecendo o livro emprestado (ele vai ficar magoado comigo se eu não aceitar; coitada, ela está oferecendo tão assim de coração).
Mas o pior é que nem são apenas os emprestados – mas é impressionante como meu semblante faz com que os outros pensem que presente perfeito pra mim seja sempre um livro. Tudo bem, gosto de ganha-los, mas parece que a pessoas entra na Leitura do Pátio, fecha o olho, rodopia e aponta pra uma prateleira. Daí tenho também uma pilha de livros que ganhei e nunca li. Dos que li, raros gostei. As minhas pilhas em casa estão cada vez maiores, quase do tamanho da minha irmã mais nova. Tenho a esperança que alguma mágica aconteça e que, durante uns três meses, meu dia tenha 576 horas, em vez de só 24h. Aí, sim, meu problema com os livros que não li estaria resolvido.
Para ouvir depois de ler: Spineless - Alanis Morissette