quarta-feira, 28 de maio de 2008

Os sabores de Alanis.

Vazou há um tempo o novo CD de Alanis Morissette, “Flavors of Entanglement”. Acho que a novidade no caso é Guy Sigsworth, que já produziu Seal, Björk e Madonna. Mas impossível fazer comparações entre eles. Tem gente achando esse álbum dançante, mas é que está sonoramente mais alegre. Tem uns loops, um toque de drum’ n’ bass em algumas músicas, mas a Alanis de sempre continua ali – ou não, pois a moça está sempre mudando.

“Citizen Of The Planet” é obscura e bela, fala sobre não ter lugar fixo e como isso é confuso mas pode ser bom. “Underneath” tem um ar do álbum anterior “So-Called Chaos”. Instrumentos acústicos com guitarra bem marcada e gritos no refrão, achei alegre. “Versions Of Violence”, uma das faixas seguintes, experimenta com vozes e tem uma letra bem séria. Achei “In The Praise Of The Vulnerable Man” uma das mais bonitas. Adoro as declarações de amor dela. Fala sobre algo que precisamos dar importância: a capacidade da pessoa ao nosso lado se permitir ser vulnerável e agradece-la por isso. O ritmo é alegre e dá vontade de cantar junto.

“Moratorium” parece ter ganhado camadas eletrônicas que não foram originalmente planejadas, mas que caíram bem ali. “Torch” tem uma letra tão linda, que não consigo decidir entre ela e a de “Tapes” – que fala sobre auto-estima e auto-sabotagem; arrepio ouvindo. O álbum termina com “Incomplete”, uma música mais positiva, com malabarismos no coral, efeitos bonitinhos e uma letra genial! Me dá a oportunidade de gritar e cochichar, amo isso em Alanis. Talvez minha favorita.

Na edição de luxo do CD, teremos mais seis faixas. Entre elas, destaque para “On The Tequila” e “Orchid”. A primeira é um depoimento de felicidade aos amigos e a segunda tem uma letra doce e profunda e a voz dela esta mais bonita que nunca. Não entendi ainda porque essas ficaram de fora das 11 canções originais pro CD.

As pessoas querem que ela volte a ser bitchy como no primeiro álbum. “Jagged Little Pill” é maravilhoso, mas imitar aquilo seria dar um passo pra trás. Alanis está mais atenta, delicada e filosófica que nunca. É muito bom ver como ela amadureceu. Acho que pois isso quer dizer que o mesmo aconteceu comigo.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A arte da tradução

Sempre achei que títulos de filmes americanos, no Brasil, são um caso à parte de qualquer discussão. Do desafiador da lógica “Meu Primeiro Amor 2” ao estraga-prazeres “E o Marido era o Culpado”, esses tradutores me tiraram do sério. E eu sempre achava que, na verdade, os títulos originais é que eram geniais demais. Daí nada em português ia ficar melhor mesmo.

Quer um exemplo? O novo filme de Wong Kar Wai se chama “Um Beijo Roubado” por aqui. Uma bosta de título, convenhamos. Pode indicar comédia romântica, sessão da tarde e pornô. Título original: “My Blueberry Nights”.

O diretor do filme ia usar torta de morango na história – então ele possivelmente se chamaria “My Strawberry Nights”. Mas ele perguntou à Norah Jones, sua atriz principal, qual a torta que ela mais odiava – e ela disse que era a de blueberry. Então ele mudou tudo e fez a pobre comer quilos e quilos de torta de... mirtilo. Sim, a tradução de blueberry é mirtilo.

Foi quando me dei conta! Pensa bem, esse filme poderia se chamar “Minhas Noites de Mirtilo”. Isso faz que até mesmo um título totalmente estúpido, como “Um Beijo Roubado”, pareça bom. Traduções literais nos títulos são ruins, manter o nome original e colocar um subtítulo também é ridículo, mas colocar um nome completamente diferente, às vezes, dá certo.

domingo, 18 de maio de 2008

Mate o entrevistado

Além de só comer miojo de galinha caipira ou tomate, ser leitor assíduo da revista “Caras”, e só me sentir confortável naquelas meias baratinhas das Lojas Americanas, tenho uma face pouco conhecida. Eu fui produtor de TV.

Ok, eu tenho 20 anos, não trabalhei na Globo. Mas ter passado sete meses fazendo matérias e produzindo um programa semanal de entrevistas foi pra lá de punk rock – nos sentidos bom e ruim da coisa. A vontade de assassinar uma boa dúzia de convidados não tá escrito. Aqueles que, por mais que a TV já tenha completado 57 anos, ainda não entenderam o procedimento de aparecer nela. Pensando nisso, me ocorreu de fazer uma lista com as duas regras óbvias. Foram instituídas lá em mil novecentos e Hebe-Camargo-Menina, mas alguns insistem em esquecer:

Fique na cadeira!
Nada de cadeiras que giram, pois o telespectador fica mareado com aquele balanço. Mete lá um sofá ou um banquinho de madeira. O fio do microfone passa por trás e deixa tudo certinho pro convidado sentado. O problema é que, depois de uma hora de entrevista, o sujeito esquece que tá na TV, fica confortável, e esquece que o apresentador despediu de você de mentirinha. Você ainda precisa ficar ali sentado pra gente fazer cenas de corte e te desconectar do microfone. Mas eles ouvem o “obrigado pela participação” e se levantam! Grrrr!

Não bote a mão no microfone!
A haste do microfone devia dar choques de 220 volts em quem encostasse ali sem ser repórter. Porque ô mania que essa gente tem de querer afagar o instrumento de trabalho do jornalista ou tomá-lo da mão dele. Quando é microfone de lapela (aqueles que ficam na gola) convidados são mestres em dar umas boas expirações altas ou encostar a mão toda hora nele, causando o famoso xugstaramrram no áudio.

Ai, ai. TV só é bom do lado de fora. E olhe lá!

sábado, 10 de maio de 2008

Não vi Homem de Ferro ou Speed Racer bebe leite.

E essa nossa vida de modernos, ein? Existem milhares de estilos musicais e gêneros de filmes mas, de alguma forma, não me parece suficiente isso. Agora há a pressão do quando também. As coisas que você vê, lê e ouve te definem de certa forma e, as vezes, também suas companhias. Mas que merda é essa: “Já ouviu o novo CD do The Fulaninhos?”. Eu respondo perguntando: “Já saiu?” e me lançam um olhar de desprezo enquanto me dão um tapa verbal: “Mas já vazou faz tipo três dias!”.

Então lá vai: Não, eu não baixei o CD dos Fulaninhos. Eu tenho baixado menos músicas ultimamente ou priorizado músicas mais antigas – e antiga quer dizer pré-anos 70, não 2005. Não, eu não vi “Homem de Ferro”. Tenho dúvidas sobre a credibilidade da história que só quero responder no conforto da minha sala, vou esperar o DVD e não me importo se “todo mundo já viu”.

Sabe, tenho o direito de decidir o quando. Tanto que acabei de ver “Speed Racer”, o novo filme dos moços de “Matrix”. Eu assistia o desenho animado nas minhas madrugadas de Cartoon Network – mescladas com “Sexy Time” do MultiShow, claro. Tinha altas expectativas e o filme não é ruim, mas talvez elas é que fosse altas demais. O caso foi que, ao invés de ver um filme de ação punk rock, me vi diante de um filme infantil com lição moral no final, com discursos pró-família unida jamais será vencida. Speed Racer comemora uma vitória bebendo leite! Mas não posso negar: foi divertido.

Para ouvir depois de ler: Get Rythm - Johnny Cash

domingo, 4 de maio de 2008

Promessas do meio do ano.



Acordei desesperado por jazz. Pensei em ouvir Norah Jones, precisava de canções calmas. Mas coloquei Jamie Cullum. Ele é novinho, mistura jazz e pop e rock de uma forma gostosa e as letras são legais. Aí começou a tocar “Next Year, Baby”, uma canção que fala sobre promessas de ano novo. E percebi que não fiz nenhuma.

Acho que estava cansado de não cumpri-las. Mas vou mudar isso agora. Sim, estamos em maio, mas eis o que quero fazer até o final do ano: esse ano eu quero beber menos. Gastar menos com coisas supérfluas. Quero ir mais vezes ao cinema. Quero tirar minha carteira de motorista. Quero fazer mais tatuagens, ler mais romances, fazer mais amigos. Comer mais doces, receber mais carinhos e trocar sussurros.

Para ouvir depois de ler: Next Year, Baby - Jamie Cullum