sexta-feira, 25 de julho de 2008

Abalou Gotham em chamas



Se você não assistiu "Batman - O Cavaleiro das Trevas" saiba que está dentro de uma minoria ameaçada de extinção. A bilheteria vai muitíssimo bem obrigado e dando sinais de ultrapassar a de “Titanic”. Boa parte da culpa disso é a vontade do pessoal em ver o ator Heath Ledger em seu último papel – ele morreu em janeiro.

Ledger interpreta, e muito bem, o vilão Coringa. Tem gente por aí dizendo que melhor que o Jack Nicholson, mas não dá pra comparar. O Coringa do "Batman", de 1989, é outro. Ele é mais cômico, mais seguro e mais caricato.

O Coringa do filme de Christopher Nolan, o de Heath Ledger, é bem mais psicótico. Ele surta como se a violência e o terror fossem as respostas mais imediatas ao bom-mocismo fajuto, ao heroísmo oportunista e a todos os truques que sustentam o sistema corrupto, excludente e repressor que reina em Gotham City – e por outros lugares fora da tela também.

O vilão se vitimiza contando versões para suas cicatrizes no rosto. A história da violência paterna, em uma família disfuncional, é usada como justificativa para sua fúria, desesperança e ação suicida de destruir tudo a sua volta. Ele vive no gueto, na marginalidade, não tem amigos, não tem amantes e nem capangas.

"Why so serious?" (por que você está tão sério?), repetida pelo Coringa como a pergunta perversa de seu pai antes de mutilá-lo, já é uma das frases do ano e estampa camisetas, pôsteres, nicks de MSN e perfis de Orkut. Antes de ver o filme achei isso estranho. Como ver um filme de herói e sair amando o vilão? É que Coringa não é tão categórico assim e o filme não é de herói. Batman e Coringa fazem um filme sobre a dicotomia das ações e dos desejos das pessoas, mostrando como todo mundo é igual diante de certos sentimentos.

Para ouvir depois de ler: The Hives - Tick-Tick-Boom

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Com vergonha do Orgulho

No último final de semana aconteceu a Parada do Orgulho Gay. Muita gente veio me perguntar o motivo de eu não ter ido. É que eu acho aquilo uma super bobagem. Há todo o lado político, claro. Mas eu prefiro ter orgulho aqui em casa do que lá.

A campanha da Passeata deste ano era a favor do projeto de lei que transforma a homofobia em crime. Acho ótimo, apoio. Mas vai ver quem estava lá e tinha conhecimento disso. Perguntei pra amigos que foram e poucos sabiam. E os que sabiam não souberam me dizer de quem é o projeto de lei, de onde o cara é, onde precisa aprovar. É um circo, a maior parte das pessoas vai pela farra e pela pegação. Eu não me reconheço nisso. Se há algo que eu apoio é quebrar o preconceito de que todo gay é promíscuo, usa rosa, ouve Cher, têm glamour, purpurina e arrasa. Aí chega a Parada e mostra o contrário. Me dá um pouco de vergonha, sabe? Eu não me identifico com nada ali.

O argumento de muitos é o de que é importante mostrar pro mundo que “nós existimos”. Mas gays sempre existiram, mainstream ou underground. Não é melhor validar sua existência com você mesmo? Organizar uma passeata gigantesca pros outros verem é reafirmar que é eles que têm o poder.

Não sei se estou certo, mas é isso que penso. Eu não uso blusas com arco-íris, mas eu não tenho vergonha de ser gay, não nego se me perguntam. Pra quê me importar com isso? As pessoas que realmente precisam saber disso já sabem, estou satisfeito. Sou a favor da aprovação dessa lei, do casamento gay, da adoção de crianças por casais homossexuais, porém organizar shows com um travesti vestido de Amy Winehouse não vai trazer isso mais rápido.

Para ouvir depois de ler: Katy Perry - I Kissed a Girl

sábado, 19 de julho de 2008

Um Obama pra chamar de seu

Seria uma baita idiotice eu dizer que fiquei interessado em saber mais sobre Barack Obama pois descobri que ele ouve Rolling Stones? Ah, e também Earth, Wind & Fire, Bruce Springsteen, Bob Dylan, Sheryl Crowe e Jay-Z. Claro que sair por aí falando que tipo de música você ouve é bom, te aproxima de quem tem um gosto parecido e, logo, o candidato democrata às eleições presidenciais dos Estados Unidos já tinha o apoio de vários músicos. “Músicos são mais inclinados à idéia de mudança”, disse o presidenciável à revista Rolling Stone desse mês.

As opiniões dele me chamaram bastante atenção. O apoio de músicos e o fato de ser negro levam a perguntas sobre as letras de rap e hip-hop. Barack é categórico ao afirmar que, por definição, o rock é a música da rebeldia. Se ele não for criticado, não está fazendo seu papel. Rappers são bons homens de negócios, mas é injusto culparem o estilo por destruir valores familiares sozinho.

Ele tem um plano de investimentos a longo prazo em combustíveis e geradores de energia alternativos que deverá reduzir a emissão de carbono dos Estados Unidos em 80% até 2050 se seguido à risca. Obama teve the fucking balls de basear sua campanha em questões ambientais e sociais. São os assuntos mais delicados de se tratar. “Durante o período em que os republicanos tinham a maioria no Congresso, as empresas petrolíferas literalmente escreviam a legislação energética e as empresas de medicamento as do setor”, disse. E quem viu “Fahrenheit 9/11” (Michael Moore, 2004) sabe que isso existe mesmo – é tudo uma grande jogo de interesse pessoal e há lobistas por todos os lados. “Estamos basicamente num governo New Deal em uma economia do século 21. Precisamos de um upgrade”. Fazer lobby é muito lucrativo, Obama vai pisar no pé de big guys, mas é agora ou nunca, né?

Outra questão delicada onde Obama permanece calmo é o casamento gay. Ele não estabelece relações simplistas entre grupos (“Porque é fácil cair em um concurso sobre vitimização”, diz) mas acredita em uniões civis que garantam todos os direitos. Assim, mesmo que a sociedade ainda tenha problemas em aceitar isso – por questões variadas – já há um consenso, pelo menos, no que diz respeito a coisas como benefícios de seguro social e visitas em hospitais. Com esse consenso crescendo, logo logo o restante muda. A cultura está mudando.

Barack Obama está se saindo o pai do otimismo. Ele acredita no povo norte-americano mais que o próprio povo talvez. Mas é que, pela primeira vez em tempos, querem saber mais para onde o presidente vai levar o país do que querem saber sobre “o” presidente, e sua vida e blá blá blá. Acho incrível isso. Eu tirei meu título de eleitor no dia seguinte ao meu aniversário de 16 anos e tenho soltado suspiros atrás da urna eletrônica quando percebo que estou votando no candidato menos pior. Quero um Obama aqui. Eu super votaria nele.

Para ouvir depois de ler: Bruce Springsteen - The Rising

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Jaquissom Jonata Gladyson da Silva, liberal de esquerda


No blog de um amigo, achei um teste para checar suas direções políticas. Eu acho que escolas deviam ter programas de inclusão no mercado de trabalho para o jovem recém-formado, sou contra pena de morte, a favor do aborto e de gays adotarem crianças. Também não acho que devia ter ensino religioso nos colégios. Acho que quem tem condições financeiras de ter acesso a cuidados médicos mais avançados devia tê-lo, mas também não acho que os impostos são baixos para os ricos. Então o meu deu isso, liberal de esquerda. Quem quiser fazer também, eis o link.

Num teste bem diferente, você escolhe seu grau de pobreza e vê qual é seu nome de pobre. O meu é Jaquissom Jonata Gladyson da Silva. Saiba o seu aqui.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Saramago sim e amém.

Passou uma mulher perto de mim no shopping e olhou pra vitrine da livraria. Ela viu uma edição de “Ensaio Sobre a Cegueira”, de José Saramago, com uma folha colorida sobre a capa que dizia “Livro que inspirou o filme de Fernando Meirelles”. E ela disse com desdém: “Ah, agora que vai ter filme, todo mundo vai querer ler”.

Sim, muita gente vai querer ler antes do filme. Outros depois. Mas não são motivos válidos? Querer ler Saramago é um feito num país onde nem tantas pessoas lêem. Os dados mostram que 53% das pessoas alfabetizadas gostam de ler, mas sempre tem o jovem que só lê livros recomendados pela escola e o pessoal que só lê a Bíblia.

Acho cínico isso. Dizer que brasileiro não lê e depois criticar que, quando lê, é só Paulo Coelho. Enfim. Insistir que a única coisa boa nas prateleiras é Machado de Assis e Guimarães Rosa é uma perda de tempo. Eles são geniais, existem outros exemplos, mas eu não tenho preconceitos com a nova geração da literatura, sabe? Há espaço pra todo mundo de todos os tempos e gêneros. Bruna Surfistinha, Sidney Sheldon, Fernanda Young, Candace Bushnell, Nick Hornby, José de Alencar, Conan Doyle. Escolha o que você quer ler, você é livre!

Mas não me venha com essa. Não interessam os motivos que levaram alguém até um livro, interessam? O que importa é o resultado, o que aquela experiência de leitura veio a somar ou não na sua vida, no seu caráter. Deus sabe que motivos muito imbecis me levaram a livros pra lá de geniais.

Para ler depois de ler: Ensaio Sobre a Cegueira – José Saramago

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Eu acabei de nascer

As pessoas com boas notas não tinham vida social e as que tinham vida social não tinham boas notas. Essa máxima era a desculpa que eu usava para ser infeliz à minha analista. Afinal de contas, no colégio, eu não tinha nenhuma dessas duas coisas. Ainda tenho dúvidas se tê-las teria me feito feliz, mas não é essa a questão. A questão é que eu não tinha pois não queria, acho.

Pensa comigo. Eu não vou responder, mas imagine o meu conceito de vida social na quinta série. Porque eu não bebia, não saía, não usava nenhuma droga nem fazia sexo – e já vieram me dizer que existiam boatos que eu fazia essas coisas todas e as vezes juntas. Ai, ai. Então, vida social de quinta série eu tinha sim. Ia ao cinema, ia ao McDonald’s, matava aula pra comer chocolate. Não acho que havia algo errado nisso.

Eu me achava maduro demais para as pessoas ao redor. No mesmo dia que fui à escola sem ter dormido pois virei a madrugada terminando de ler “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, ouço pessoas comentando sobre a última entrevista da Sandy. Ô preguiça. E pra alguém que aprendeu inglês sozinho, freqüentava sebos e usava o cabelo partido de lado, havia algo de político e anárquico em ter notas baixas.

A verdade é que a vida ficava mais fácil mantendo a expectativa de todos baixa. Ainda fica. Minha arma quando crescendo era já parecer estar crescido. E só confesso isso pois constatei que minha arma para negar que cresci é parecer estar crescendo. Eu não estou correndo atrás de nada que perdi, não acho que perdi nada, mas sim que há espaço para tudo.

Ler fofocas de celebridades não anula Edgar Morin. Minha inteligência não está perdida se estou sendo infantil ou nojento. Há hora e lugar para ser sério. E, como eu já disse antes, acho que aquela seriedade e importância que eu dava pras coisas quando era mais nova vinha do medo. Hoje ela vem de um lugar diferente, do reconhecimento. Que irônico: eu escolhi ler livros sobre pessoas, ao invés de interagir com elas, para poder ser levado a sério. Agora eu pouco ligo. Como disse Dr. Seus, seja quem você é e diga o que você pensa. Afinal, os que interessam não se importam e os que se importam não lhe interessam.

Eu achei que tinha me tornado adulto ali, às sete e vinto cinco da manhã e na última frase de “Os Miseráveis”. Que bobagem. Eu acabei de nascer...