Sempre que saio do cinema depois de ver um filme bom, tenho uma sensação de que minha vida é outra. Me sinto mais leve e tenho a impressão de que ela vai mudar. Não foi diferente com “Milk – A Voz da Igualdade”, que assisti ontem.
Para quem não sabe, o filme traz Sean Penn no papel que lhe deu o Oscar deste ano. Ele interpreta o político Harvey Milk, um pioneiro dos direitos homossexuais nos Estados Unidos. Contando um pouco de sua vida pessoal, o filme aborda, principalmente, sua contribuição contra a aprovação de uma proposta que pretendia impedir o trabalho de professores gays. Ele foi membro do Conselho de Supervisores da cidade de São Francisco. Na Flórida, a cantora cristã Anita Bryant liderou com sucesso uma campanha para derrubar uma lei que proibia a discriminação contra os homossexuais e o filme fala sobre isso também.
O longa é de Gus Van Sant, abertamente gay, notável diretor de “Gênio Indomável”, “Paranoid Park” e “Elefante”. Ao contrário de muitos filmes com personagens reais, o trabalho não virou uma cinebiografia enfadonha. A atuação de Sean Penn é excelente e, ao misturar cenas do longa com cenas reais da época, o trabalho tem um ar bem realístico e a gente tem a sensação de estar vendo um documentário. Mas, claro, muitos críticos torceram o nariz dizendo que o filme tinha virado mais uma homenagem a Milk – como se isso fosse menos nobre.
Que seja, então. Ela acontece em um momento delicado para a comunidade homossexual da Califórnia, particularmente de São Francisco, cidade de Milk. Ela está abalada com a aprovação popular da proposta 8, que inclui uma emenda na Constituição Estadual que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo – o que havia sido autorizado pela Suprema Corte local em maio de 2008. Foi a primeira vez que a Constituição dos Estados Unidos fez uma interferência para retirar um direito civil.
É interessante ver também como política e homossexualismo mantém uma relação – mesmo que dentro do armário e mesmo que muitos neguem. Nos anos 50, no discurso do senador McCarthy a caça às bruxas comunistas, por exemplo. Uma carta do secretário nacional do Partido Republicano dizia: “Talvez tão perigosos quanto os comunistas propriamente ditos, são os pervertidos escusos que infiltraram nosso governo nos últimos anos”. Absurdo? Nada. O braço direito de McCarthy, Roy Cohn, odiou gays a vida inteira (e morreu de Aids escondendo sua homossexualidade). Na época, a revista “Time” defendeu o projeto de despedir os gays que trabalhassem para o governo federal. A mesma revista que selecionou Milk como uma das cem pessoas mais influentes do século XX depois.
Mas o que mais me assustou no filme foi perceber que aquilo tudo se passou nos anos 70 e o mundo ainda está assim. É certo que houve progresso, mas há tantas Anitas Bryants por aí ainda. Todo casal que está junto e se gosta troca beijos na boca, certo? O que acontece é que gays podem ter direito de benefícios de seguro de vida, casar, ter filhos e o escambau, mas enquanto dar um beijo no seu namorado em público for um ato político, existe algo errado com o redor.
Não quero cair num concurso de vitimização, mas é imensa e ironicamente estúpido termos que ter um gay no poder para assegurar os direitos homossexuais, não? É como diz a famosa frase de Martin Niemöller: "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".
Tudo bem, grupos particulares (constituídos por raça, etnia, orientação sexual, etc) devem militar pelos seus direitos. Mas o local é o global e defender os interesses de pessoas diferentes de você deveria ser algo corriqueiro. É muito incômodo ver que as pessoas seguem suas vidas olhando para seus umbigos, sem perceber que só é possível proteger a liberdade da gente se entendermos que, para isso, é necessário defender a liberdade de nosso vizinho como se fosse a nossa.
Se não há nenhuma lei sendo quebrada, a condição de liberdade de um é a de todos. Quanto tempo vão demorar para perceber isso? Sempre que saio do cinema depois de ver um filme bom, tenho uma sensação de que minha vida é outra. Saí de “Milk" de mãos dadas com meu namorado. O filme não respondeu a tal questão, mas me deu esperança. E, olha, como existe o risco real de sermos xingados ou apanharmos por estarmos andando na rua de mãos dadas, isso foi um feito.
Para quem não sabe, o filme traz Sean Penn no papel que lhe deu o Oscar deste ano. Ele interpreta o político Harvey Milk, um pioneiro dos direitos homossexuais nos Estados Unidos. Contando um pouco de sua vida pessoal, o filme aborda, principalmente, sua contribuição contra a aprovação de uma proposta que pretendia impedir o trabalho de professores gays. Ele foi membro do Conselho de Supervisores da cidade de São Francisco. Na Flórida, a cantora cristã Anita Bryant liderou com sucesso uma campanha para derrubar uma lei que proibia a discriminação contra os homossexuais e o filme fala sobre isso também.
O longa é de Gus Van Sant, abertamente gay, notável diretor de “Gênio Indomável”, “Paranoid Park” e “Elefante”. Ao contrário de muitos filmes com personagens reais, o trabalho não virou uma cinebiografia enfadonha. A atuação de Sean Penn é excelente e, ao misturar cenas do longa com cenas reais da época, o trabalho tem um ar bem realístico e a gente tem a sensação de estar vendo um documentário. Mas, claro, muitos críticos torceram o nariz dizendo que o filme tinha virado mais uma homenagem a Milk – como se isso fosse menos nobre.
Que seja, então. Ela acontece em um momento delicado para a comunidade homossexual da Califórnia, particularmente de São Francisco, cidade de Milk. Ela está abalada com a aprovação popular da proposta 8, que inclui uma emenda na Constituição Estadual que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo – o que havia sido autorizado pela Suprema Corte local em maio de 2008. Foi a primeira vez que a Constituição dos Estados Unidos fez uma interferência para retirar um direito civil.
É interessante ver também como política e homossexualismo mantém uma relação – mesmo que dentro do armário e mesmo que muitos neguem. Nos anos 50, no discurso do senador McCarthy a caça às bruxas comunistas, por exemplo. Uma carta do secretário nacional do Partido Republicano dizia: “Talvez tão perigosos quanto os comunistas propriamente ditos, são os pervertidos escusos que infiltraram nosso governo nos últimos anos”. Absurdo? Nada. O braço direito de McCarthy, Roy Cohn, odiou gays a vida inteira (e morreu de Aids escondendo sua homossexualidade). Na época, a revista “Time” defendeu o projeto de despedir os gays que trabalhassem para o governo federal. A mesma revista que selecionou Milk como uma das cem pessoas mais influentes do século XX depois.
Mas o que mais me assustou no filme foi perceber que aquilo tudo se passou nos anos 70 e o mundo ainda está assim. É certo que houve progresso, mas há tantas Anitas Bryants por aí ainda. Todo casal que está junto e se gosta troca beijos na boca, certo? O que acontece é que gays podem ter direito de benefícios de seguro de vida, casar, ter filhos e o escambau, mas enquanto dar um beijo no seu namorado em público for um ato político, existe algo errado com o redor.
Não quero cair num concurso de vitimização, mas é imensa e ironicamente estúpido termos que ter um gay no poder para assegurar os direitos homossexuais, não? É como diz a famosa frase de Martin Niemöller: "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse".
Tudo bem, grupos particulares (constituídos por raça, etnia, orientação sexual, etc) devem militar pelos seus direitos. Mas o local é o global e defender os interesses de pessoas diferentes de você deveria ser algo corriqueiro. É muito incômodo ver que as pessoas seguem suas vidas olhando para seus umbigos, sem perceber que só é possível proteger a liberdade da gente se entendermos que, para isso, é necessário defender a liberdade de nosso vizinho como se fosse a nossa.
Se não há nenhuma lei sendo quebrada, a condição de liberdade de um é a de todos. Quanto tempo vão demorar para perceber isso? Sempre que saio do cinema depois de ver um filme bom, tenho uma sensação de que minha vida é outra. Saí de “Milk" de mãos dadas com meu namorado. O filme não respondeu a tal questão, mas me deu esperança. E, olha, como existe o risco real de sermos xingados ou apanharmos por estarmos andando na rua de mãos dadas, isso foi um feito.