Penélope Cruz merece todos os aplausos do mundo por sua atuação em “Nine”. Ela é, com certeza, a peça mais marcante e fundamental dessa história. Mas isso não pode ser considerado um elogio. Afinal, ela divide cena com Nicole Kidman, Judi Dench e Sophia Loren, atrizes com o rosto tão esticado de plásticas e paralisados de botox, que a gente não consegue saber muito bem onde está o drama, o humor ou a ironia em suas falas.
Para o espanto de muitos, ela não canta mal e sua cena de dança é especialmente sexy. Pena que toda sua participação no filme não soma 30 minutos, o que faz da indicação ao Oscar até um relativo mistério. Sua presença em “Abraços Partidos” é bem mais interessante, mas é bom que isso faz com que Almodóvar baixe a bola, pare de tratar os prêmios como garantidos e escreva um roteiro mais honesto no futuro.
Voltando à “Nine”, é uma pena que ele não passe nem perto da beleza que é “Chicago”, premiado musical anterior do cineasta Rob Marshall. Ele foi pra outro lado do mundo e conseguiu fazer músicas parecidas. A maioria delas é ótima, com um arzinho smoky jazz cabaré, mas uma história se passa em Roma e outro em Chicago! É complicado enxergar onde termina a licença poética e começa o comodismo nas composições -sempre cheias de misturas de idiomas e pobres de rimas.
A história fala sobre um cineasta que está enfrentando uma crise de criatividade – e de meia-idade – e se esforça para concluir seu filme mais recente em meio a confusões e lembranças e romances, envolvendo esposa, amante, uma jornalista de moda, sua mãe, sua infância etc. Tudo foi inspirado no filme autobiográfico de Federico Fellini, “8 ½”.
A história parece rica, e é! Mas é complexa demais e não há como contá-la com a rapidez proposta. O personagem de Daniel Day Lewis sofre por uma tal mulher e o público nem entendeu ainda o motivo, pois não deu tempo de explicar a influência da tal fulana na vida dele. Sem contar que a maior parte das pessoas não entende o tormento que é trabalhar com algo que requer inspiração e acaba achando seus conflitos psicológicos frívolos.
Quando o filme “Piaf” saiu parecia pré-requisito pra ser gay ter assistido. Então eu impliquei e não vi ainda. Mas Marion Cotillard em “Nine” foi interessante. Que moça simpática! Se eu fosse cineasta amarrava essa menina e transformava na nova musa de Hollywood. E talvez isso já esteja acontecendo e eu é que esteja atrasado...
Prefiro nem comentar como as cenas de dança parecem ter sido filmadas no mesmo lugar e nem a participação de Fergie, que dá vergonha só de lembrar. Já Kate Hudson – cada vez mais a cara da mãe - faz uma cena de dança bem legal, pena que na hora de cantar ela erra a pronúncia da única expressão em italiano que há na letra.
Outro ponto é que a fama de sexy das italianas só rola por lá. Pro resto do mundo elas não são lá um estereótipo de beleza por serem cheinhas, temperamentais e nada delicadas. O inverso acontece com os homens de lá que, mesmo peludos e igualmente temperamentais, são considerados deuses no exterior. Um filme que se passa na Itália devia citar isso – especialmente um musical por, historicamente, atrair o público feminino e gay.
Falar nisso, vá ensaiando a tarantela. Lembra dos gays com “Milk” e “Brockback Mountain” e dos negros em “Dreamgirls” e “Hairspray”? Então. Itália é a pauta do verão, e ainda será tema de filmes, documentários e editoriais de moda no mundo inteiro, se prepare.
Aliás, outro mérito de Penélope Cruz é ter ultrapassado o limite latino da carreira. As pessoas não reparam muito essas coisas, mas ela é da safra que foi moda no final dos anos 1990, quando explodiu no mundo todo gente como Shakira, Salma Hayek, Jennifer Lopez, Gloria Estefan, Rick Martin, Enrique Iglesias e muitas outras pessoas que ou desapareceram ou trataram de apagar as origens do currículo. Cruz continua intacta e o motivo é simples: ela atua bem. Mas todo e qualquer adjetivo é discutível, então vamos deixar isso pra lá. Indiscutível é que ser uma espanhola que interpreta uma italiana que fala inglês deve ter dado trabalho.
Ainda assim e mesmo muito premiada, não consigo achar que ela já teve seu grande papel. “Nine” pode ter rendido uma indicação ao Oscar, mas não é a melhor produção para ter na biografia. Prefiro pensar que a carreira dela ainda aguarda algo maior para o futuro, que ela é maior do que os papéis que já lhe foram oferecidos – sempre o de uma mulher sexy e/ou maluca e/ou bandida. Que coisa! Oremos por ela e por Rob Marshall.
Ciao.