Para quem se coloca a pergunta “o que é o amor?” a resposta pode ser, basicamente, qualquer uma. Ganhar uma rosa sem motivos, ganhar uma rosa no aniversário, ganhar uma rosa depois do sexo, ganhar uma rosa depois de um soco. Tudo isso é amor para alguém. Jacó e Raquel, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Frank e April, Lady Gaga e Alejandro.
E o que amor é para você? As cobertas de domingo, a festa hype de sábado, estar sempre rindo, estar sempre sério, estar nunca sozinho ou uma experiência profunda do erotismo, do desejo pelo corpo belo, do arrepio instruso e certeiro. Para mim, ele é tudo isso e mais, é algo que nos tira da racionalidade – queria usar a expressão “salva da racionalidade”, mas talvez não seja bem assim, afinal.
Mas o amor não é cego, senhores. Você pode até não escolher a quem vai direcionar seus pensamentos, mas eles só inundam sua cabeça se você deixar. Nos sentimos atraídos por todos, pois somos seres ligados às sensações e às fantasias, mas na hora do vamos ver há uma lista infinita de empecilhos bem reais. E acho que aí está a grande questão. A questão que move milhões de dólares em filmes, cosméticos e comidas: uma coisa dita tão boa, tão celebrada, não devia fazer sofrer, certo?
O fato é que ninguém acorda e vê uma macieira no quintal de casa. Explico: havia uma semente que foi plantada, cuidada e germinou. Tudo, absolutamente tudo, que faz um amor acender ou apagar, sempre esteve ali. O problema é que a macieira demora anos para estar totalmente crescida e esse intervalo de tempo causa a impressão do “de repente”. Acredite, nada nesse mundo acontece de repente. Ao mesmo tempo, não há nada novo debaixo do sol e todo o código daquela árvore estava adormecido naquela sementinha; ali dentro já havia uma árvore inteira. Só que você não viu.
Quando botamos o padrão do amor romântico no topo de prioridades e acreditamos na sua ilusão, estragamos o amor, pois o romantismo é apenas “uma das” formas do amor. E o preço dessa contradição é pago em lágrimas. É a infelicidade pelo desvio do padrão. Se tratarmos o amor como uma lista de regras, como uma caixinha na qual devemos nos encaixar, ele nega seu propósito original e, pela lógica das coisas desse mundo, deixa de ser amor. Concorda?
Já acho suspeito quando dizem que "tal me pessoa me completa" - pois, afinal, a gente se soma, mas todos já estamos completos -, então nem sei o que dizer do fato de que, no fundo, estar em um relacionamento é atestar que você realmente acha que nenhuma das outras milhões de pessoas no mundo tem a ver com você, mesmo que você não tenha conhecido 0,01% delas nem superficialmente.
É que o amor-paixão-adrenalina desaparece na mesma velocidade com que chega e tudo o que resta são bitucas de cigarro no tapete. Quando o ar ainda fede, dizemos que jamais cairemos de novo nessa ilusão romântica. Mas basta respirarmos fundo no ar novamente limpo para estarmos lá, criando novos laços. Só não pode cair para a falta de respeito, que as vezes parece natural diante do excesso de intimidade.
Essa é a vida, segundo canção de Regina Spektor: você é jovem até não ser, você ama até não amar, você tenta até não conseguir, você ri até chorar, você chora até rir e todo mundo respira até seu último suspiro. Você espia dentro de si e pega as coisas que gosta e tenta amar as coisas que pegou. E aí você pega esse amor que você criou e deposita no coração de outra pessoa, que pulsa o sangue de outra pessoa. E andando de braços dados, você espera não se machucar, mas mesmo se machucando, fará tudo de novo.
É preciso coragem para pular de ponta numa piscina – bem funda – de improbabilidades. Acontece que é intraduzível a sensação boa de amar. E é bonito exatamente porque pode trazer junto com ele tanta dor, exige esforço e empenho, então precisa compensar o sofrimento. A pergunta, no final, é essa. Como anda essa equação por aí?
Para ouvir depois de ler: Real Love - John Lennon
E o que amor é para você? As cobertas de domingo, a festa hype de sábado, estar sempre rindo, estar sempre sério, estar nunca sozinho ou uma experiência profunda do erotismo, do desejo pelo corpo belo, do arrepio instruso e certeiro. Para mim, ele é tudo isso e mais, é algo que nos tira da racionalidade – queria usar a expressão “salva da racionalidade”, mas talvez não seja bem assim, afinal.
Mas o amor não é cego, senhores. Você pode até não escolher a quem vai direcionar seus pensamentos, mas eles só inundam sua cabeça se você deixar. Nos sentimos atraídos por todos, pois somos seres ligados às sensações e às fantasias, mas na hora do vamos ver há uma lista infinita de empecilhos bem reais. E acho que aí está a grande questão. A questão que move milhões de dólares em filmes, cosméticos e comidas: uma coisa dita tão boa, tão celebrada, não devia fazer sofrer, certo?
O fato é que ninguém acorda e vê uma macieira no quintal de casa. Explico: havia uma semente que foi plantada, cuidada e germinou. Tudo, absolutamente tudo, que faz um amor acender ou apagar, sempre esteve ali. O problema é que a macieira demora anos para estar totalmente crescida e esse intervalo de tempo causa a impressão do “de repente”. Acredite, nada nesse mundo acontece de repente. Ao mesmo tempo, não há nada novo debaixo do sol e todo o código daquela árvore estava adormecido naquela sementinha; ali dentro já havia uma árvore inteira. Só que você não viu.
Quando botamos o padrão do amor romântico no topo de prioridades e acreditamos na sua ilusão, estragamos o amor, pois o romantismo é apenas “uma das” formas do amor. E o preço dessa contradição é pago em lágrimas. É a infelicidade pelo desvio do padrão. Se tratarmos o amor como uma lista de regras, como uma caixinha na qual devemos nos encaixar, ele nega seu propósito original e, pela lógica das coisas desse mundo, deixa de ser amor. Concorda?
Já acho suspeito quando dizem que "tal me pessoa me completa" - pois, afinal, a gente se soma, mas todos já estamos completos -, então nem sei o que dizer do fato de que, no fundo, estar em um relacionamento é atestar que você realmente acha que nenhuma das outras milhões de pessoas no mundo tem a ver com você, mesmo que você não tenha conhecido 0,01% delas nem superficialmente.
É que o amor-paixão-adrenalina desaparece na mesma velocidade com que chega e tudo o que resta são bitucas de cigarro no tapete. Quando o ar ainda fede, dizemos que jamais cairemos de novo nessa ilusão romântica. Mas basta respirarmos fundo no ar novamente limpo para estarmos lá, criando novos laços. Só não pode cair para a falta de respeito, que as vezes parece natural diante do excesso de intimidade.
Essa é a vida, segundo canção de Regina Spektor: você é jovem até não ser, você ama até não amar, você tenta até não conseguir, você ri até chorar, você chora até rir e todo mundo respira até seu último suspiro. Você espia dentro de si e pega as coisas que gosta e tenta amar as coisas que pegou. E aí você pega esse amor que você criou e deposita no coração de outra pessoa, que pulsa o sangue de outra pessoa. E andando de braços dados, você espera não se machucar, mas mesmo se machucando, fará tudo de novo.
É preciso coragem para pular de ponta numa piscina – bem funda – de improbabilidades. Acontece que é intraduzível a sensação boa de amar. E é bonito exatamente porque pode trazer junto com ele tanta dor, exige esforço e empenho, então precisa compensar o sofrimento. A pergunta, no final, é essa. Como anda essa equação por aí?
Para ouvir depois de ler: Real Love - John Lennon