Regina Navarro Lins, psicanalista, fala de sexualidade e relacionamentos em sua coluna na internet. Por acaso, me deparei com uma sobre homossexualidade. Aqui tem ela na íntegra. Mas resolvi fazer um texto contando o que ela fala nas minhas palavras.
A gente sempre julga as coisas com os valores do nosso tempo, com os que nos foram ensinados, sem saber que o mundo foi e é muito diferente dependendo da época e do lugar analisados. Religiões, crenças, ideias, valores e costumes nasceram, se firmaram e até passaram e você nem ficou sabendo. A homossexualidade é um exemplo.
Ela foi uma força conservadora na Grécia clássica (século V a.C.), por exemplo. Em algumas cidades, era uma prática necessária dos ritos de passagem da juventude. Sua repressão só começou nos séculos XII e XIII.
No século XIX, a atividade homossexual deixou de ser classificada como pecado e passou a ser considerada doença. Mas é interessante perceber como o tabu só diminuiu nos anos 60, com o surgimento dos anticoncepcionais: a dissociação entre o ato sexual e a reprodução possibilitou aos homossexuais sair um pouco da clandestinidade na medida em que as práticas homo e hétero se aproximaram. Afinal, ambas visavam o prazer.
Mas a discriminação com gays continua, no formato de piadinha e agressões. Qual o motivo disso então? É que ultrapassa as quatro paredes, claro. Segundo ela, a homofobia deriva de um tipo de pensamento que trata diferença e inferioridade de formas parecidas.
Homofóbicos são, então, pessoas conservadoras e rígidas, no sentido de serem favoráveis à manutenção dos papéis sexuais tradicionais. Pois quando se considera que um “homem homossexual não é homem”, fica óbvia a tentativa de preservação dos estereótipos masculinos e femininos, uma coisa tradicional que tem várias formas. E isso, que já foi amplamente discutido nesse blog, é uma bobagem com os dias contados.
Enfim, a homofobia reforça a frágil heterossexualidade de muitos homens. Ela é, então, um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia para evitar o reconhecimento de uma parte de si mesmo que a pessoa não quer aceitar. Ou acha que é coincidência que todos os ataques a gays são sempre homens atacando homens?
Não acho que necessariamente todo homofóbico é um gay enrustido, mas dirigir a própria agressividade contra os homossexuais pode ser simplesmente um modo de exteriorizar os seus próprios conflitos - e assim torná-los suportáveis.
E acaba tendo também uma função social, especialmente em grupos neo-nazistas, mas também em bares e nos escritórios por aí: um heterossexual que exprime seus preconceitos contra os gays pode ganhar a aprovação dos outros héteros ao redor, aumentando a confiança em si. Não tem meio termo: chamou o time adversário de boiola, chamou o motorista infrator de viado, chamou o colega de trabalho de afetado? Tudo é a mesma farinha. Tudo é preconceito pois o que há de parecido entre as expressões é o fato de igualar os gays a algo que você considera perdedor, errado ou inferior.
A homofobia não deixará de existir num passe de mágica, mas qual é a fórmula? Caminhamos hoje (lentamente, eu diria) para uma sociedade de parceria. E, se nela o desejo de adquirir poder sobre os outros não for preponderante, a homossexualidade deixará de ser tratada como anomalia, passando a ser aceita simplesmente como uma diferença.
Sinceramente, não sei se estarei vivo pra ver isso.
A gente sempre julga as coisas com os valores do nosso tempo, com os que nos foram ensinados, sem saber que o mundo foi e é muito diferente dependendo da época e do lugar analisados. Religiões, crenças, ideias, valores e costumes nasceram, se firmaram e até passaram e você nem ficou sabendo. A homossexualidade é um exemplo.
Ela foi uma força conservadora na Grécia clássica (século V a.C.), por exemplo. Em algumas cidades, era uma prática necessária dos ritos de passagem da juventude. Sua repressão só começou nos séculos XII e XIII.
No século XIX, a atividade homossexual deixou de ser classificada como pecado e passou a ser considerada doença. Mas é interessante perceber como o tabu só diminuiu nos anos 60, com o surgimento dos anticoncepcionais: a dissociação entre o ato sexual e a reprodução possibilitou aos homossexuais sair um pouco da clandestinidade na medida em que as práticas homo e hétero se aproximaram. Afinal, ambas visavam o prazer.
Mas a discriminação com gays continua, no formato de piadinha e agressões. Qual o motivo disso então? É que ultrapassa as quatro paredes, claro. Segundo ela, a homofobia deriva de um tipo de pensamento que trata diferença e inferioridade de formas parecidas.
Homofóbicos são, então, pessoas conservadoras e rígidas, no sentido de serem favoráveis à manutenção dos papéis sexuais tradicionais. Pois quando se considera que um “homem homossexual não é homem”, fica óbvia a tentativa de preservação dos estereótipos masculinos e femininos, uma coisa tradicional que tem várias formas. E isso, que já foi amplamente discutido nesse blog, é uma bobagem com os dias contados.
Enfim, a homofobia reforça a frágil heterossexualidade de muitos homens. Ela é, então, um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia para evitar o reconhecimento de uma parte de si mesmo que a pessoa não quer aceitar. Ou acha que é coincidência que todos os ataques a gays são sempre homens atacando homens?
Não acho que necessariamente todo homofóbico é um gay enrustido, mas dirigir a própria agressividade contra os homossexuais pode ser simplesmente um modo de exteriorizar os seus próprios conflitos - e assim torná-los suportáveis.
E acaba tendo também uma função social, especialmente em grupos neo-nazistas, mas também em bares e nos escritórios por aí: um heterossexual que exprime seus preconceitos contra os gays pode ganhar a aprovação dos outros héteros ao redor, aumentando a confiança em si. Não tem meio termo: chamou o time adversário de boiola, chamou o motorista infrator de viado, chamou o colega de trabalho de afetado? Tudo é a mesma farinha. Tudo é preconceito pois o que há de parecido entre as expressões é o fato de igualar os gays a algo que você considera perdedor, errado ou inferior.
A homofobia não deixará de existir num passe de mágica, mas qual é a fórmula? Caminhamos hoje (lentamente, eu diria) para uma sociedade de parceria. E, se nela o desejo de adquirir poder sobre os outros não for preponderante, a homossexualidade deixará de ser tratada como anomalia, passando a ser aceita simplesmente como uma diferença.
Sinceramente, não sei se estarei vivo pra ver isso.