Todo mundo já fez perguntas filosóficas para si mesmo. Final de ano e aniversário são boas datas para isso. De onde viemos, para onde vamos e essas merdas todas. “Quem eu sou?”, a maior delas, talvez seja a única que possamos responder. Não é fácil, mas é possível.
O mundo está cheio de respostas. Eu sou brasileiro, filho, cristão, estudante, heterossexual, judeu, dentista, gay, negro, irmão, afilhado, índio, blogueiro, the walrus.
(Quando você era criança, por exemplo, sua mãe era só sua mãe. Aí você vai crescendo e vendo que ela é a esposa do seu pai, a empresária de tal lugar, a amiga de não sei quem. Mas é claro que essas respostas não são as que as pessoas buscam. Aliás, elas atrapalham um pouco a busca. Complicado isso. Do alto dos nossos 18 anos, achávamos que era o contrário, não? O peso da decisão de vestibular parecia tão mais decisivo; se errar nessa escolha, terei uma vida de merda para sempre. Mas na verdade, enquanto isso, fica cada vez mais fácil mudar de área, de rumo, de profissão. Sofríamos, na verdade, outro tipo de pressão – que ficará para outro texto, se ficar.)
Mas algo em você não é a representação desses papéis sociais que estamos fadados a cumprir. Outro dia ouvi uma frase ótima: desconhece-te a ti mesmo. Trata-se do inverso do aforisma grego citado por Platão, conhece-te a ti mesmo. Afinal, o que conhecemos da gente são esses rótulos que, com prazer, deixamos os outros colocarem na gente. Sabe quando seu pai te xinga dizendo que, se você nunca experimentou beterraba, como sabe que não gosta do sabor? Você é o que você faz quando não está sequestrado por um ideal. É o que você gosta (ou quer gostar) e faz (ou quer fazer) por você, para você, sem se importar em como isso será visto de fora.
Por isso, o elogio à diferença é tão perigoso quanto sua supressão. Ao invés de se orgulhar, de se envergonhar ou de recriminar, devíamos nos sentir livres para apenas ser. Aí você vai se permitindo e concluindo o que é bom ou não para você. E, é óbvio, o que é ruim para você pode ser exatamente o que o outro precisa e, portanto, você não deve opinar naquilo. E vice-versa.
Infelizmente, hoje, essa ideia não é possível em sua totalidade. Existem instituições muito, mas muito grandes mesmo, das quais não podemos simplesmente fugir. Viver fora delas é uma loucura, mas dentro, se traindo, também. E o dilema é esse. Fazer um acordo com o instituído versus aguentar a angústia de não ter aquilo que você abriu mão.
Há um provérbio, não sei de onde, que diz o seguinte: ninguém se banha, num rio, duas vezes com a mesma água. Desista das tags da vida real e vá andando enquanto não passar aquela dor que sinaliza que você não está em casa.
Para ouvir depois de ler: Live and Let Die - Paul McCartney
O mundo está cheio de respostas. Eu sou brasileiro, filho, cristão, estudante, heterossexual, judeu, dentista, gay, negro, irmão, afilhado, índio, blogueiro, the walrus.
(Quando você era criança, por exemplo, sua mãe era só sua mãe. Aí você vai crescendo e vendo que ela é a esposa do seu pai, a empresária de tal lugar, a amiga de não sei quem. Mas é claro que essas respostas não são as que as pessoas buscam. Aliás, elas atrapalham um pouco a busca. Complicado isso. Do alto dos nossos 18 anos, achávamos que era o contrário, não? O peso da decisão de vestibular parecia tão mais decisivo; se errar nessa escolha, terei uma vida de merda para sempre. Mas na verdade, enquanto isso, fica cada vez mais fácil mudar de área, de rumo, de profissão. Sofríamos, na verdade, outro tipo de pressão – que ficará para outro texto, se ficar.)
Mas algo em você não é a representação desses papéis sociais que estamos fadados a cumprir. Outro dia ouvi uma frase ótima: desconhece-te a ti mesmo. Trata-se do inverso do aforisma grego citado por Platão, conhece-te a ti mesmo. Afinal, o que conhecemos da gente são esses rótulos que, com prazer, deixamos os outros colocarem na gente. Sabe quando seu pai te xinga dizendo que, se você nunca experimentou beterraba, como sabe que não gosta do sabor? Você é o que você faz quando não está sequestrado por um ideal. É o que você gosta (ou quer gostar) e faz (ou quer fazer) por você, para você, sem se importar em como isso será visto de fora.
Por isso, o elogio à diferença é tão perigoso quanto sua supressão. Ao invés de se orgulhar, de se envergonhar ou de recriminar, devíamos nos sentir livres para apenas ser. Aí você vai se permitindo e concluindo o que é bom ou não para você. E, é óbvio, o que é ruim para você pode ser exatamente o que o outro precisa e, portanto, você não deve opinar naquilo. E vice-versa.
Infelizmente, hoje, essa ideia não é possível em sua totalidade. Existem instituições muito, mas muito grandes mesmo, das quais não podemos simplesmente fugir. Viver fora delas é uma loucura, mas dentro, se traindo, também. E o dilema é esse. Fazer um acordo com o instituído versus aguentar a angústia de não ter aquilo que você abriu mão.
Há um provérbio, não sei de onde, que diz o seguinte: ninguém se banha, num rio, duas vezes com a mesma água. Desista das tags da vida real e vá andando enquanto não passar aquela dor que sinaliza que você não está em casa.
Para ouvir depois de ler: Live and Let Die - Paul McCartney
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