Alguém postou isso no Twitter dia desses, antes dos ingressos do festival se esgotarem, e eu ri muito. Resumiu bastante o que eu acho dessa febre toda de um festival com meia dúzia de bandas esgotar os trocentos mil ingressos em poucas horas.
Tem um amigo que chama essas coisas de Nutellas. Vocês lembram quando Nutella era uma coisa muito, muito cara? Todo mundo que tinha experimentado tinha gostado e fim. Aí ficou mais barato e, agora, todo mundo ama Nutella mais que a vida e quer casar com Nutella e ter filhos de Nutella. Nutella é tudo de bom, maravilhoso, melhor coisa do mundo e eu sempre gostei desde criança. É isso que está acontecendo com a música?
Mas ó, sou o primeiro a falar: não sou uma pessoa atualizada. Demoro para ver e ouvir aquilo que todo mundo está vendo e ouvindo agora. Sabe aquele cara vacilão que vem falar do novo CD da banda quando ela já está quase lançando o próximo? Pois é, sou eu.
Por isso, tudo que vou falar aqui agora tem pouca credibilidade, mas eu fico muito intrigado quando anunciam aquelas bandas que eu realmente nunca ouvi falar e geral vem comemorar quase com orgasmos.
(E quando tocam Florence and the Machine na boate? Povo berra a letra como se fosse a última música que vão ouvir na vida. E essa babação em cima da Adele agora? Eu, sempre o último a pegar essas coisas, tinha pensado em falar assim com um amigo: “Sabe a Adele, daquela música 'Chasing Pavements'? Já ouviu o novo CD dela?”. Antes de chegar à quarta palavra da frase fui interrompido por um “Meu deus, ela é maravilhoooooosaaaa!”. Até levei susto. Gente, é boa, mas não é isso tudo, fiquem calmos).
Tem uma safra de novos artistas que eu sei quem são, eu já ouvi ou já ouvi falar. Me passaram os clipes, vi no "SNL", etc. Estou cercado de pessoas antenadas em música e trabalho com isso. Mas sério, vocês realmente amam tanto assim The Vaccines? E Toro Y Moi é mesmo isso tudo? Vocês realmente ouviram algo do Peter Bjorn and John além daquela música do assobio? Poxa, vocês não só estão com tempo como são bem reservados.
Sim, pois antes do line-up do Planeta Terra, por exemplo, ninguém nunca falou de nenhuma dessas pessoas. Nunca me indicaram, nunca me passaram um link, nunca citaram numa conversa. Nunca vi nada a respeito desses artistas vindo da boca das mesmas pessoas que agora estão se matando ali na fila dos ingressos. Estranho, né?
Aquele seu amigo de bigode e de xadrez que acabou de twittar que o show da Sharon Jones foi o melhor do mundo nunca tinha mencionado a mulher antes - mas, claro, sabe todas as referências do último clipe da Lady Gaga e ficou falando mal dele no Twitter a semana passada toda. Talvez eu é que esteja abilolado demais com a minha ideia utópica de que as pessoas deviam falar mais é daquilo que as agrada. Ou é mesmo uma inversão de valores?
Não duvido que as bandas que citei sejam boas (aliás, vou até procurar ouvir tudo delas para entender a melação), mas elas também são só exemplos, não é nada contra elas, tá?
Fiquei pensado se isso era uma continuação daquela veia de pensamento do começo dos anos 2000, do “eu sou mais indie que você” e concluí que não. Afinal, se você quer provar que é alternativo e you've probably never heard of it, não pode se vangloriar de conhecer artista que está vindo pro Brasil, né? Você tem é que citar uma banda underground da Macedônia que nem lançou o primeiro EP ainda. Quem toca em festival já é mainstream demais pra essa galera.
Mas aí eu penso nas últimas coisas que baixei. Adicionadas recentemente no iTunes: Sara Lov, Hunx and His Punx, Cults, Pigeon Detectives, Ultraviolet Sound e Junior Boys. Também nunca mostrei nenhum deles para ninguém. Mas também duvido que fosse saltitar de alegria se algum confirmasse show no Brasil. Então não sei o que concluir. Não sei bem porque o hype alheio me incomoda. Será que é porque não faço parte dele, doutor?
Acho que tudo em excesso é perigoso e isso que presenciei com os ingressos do Planeta Terra é um bom exemplo de como a internet está deixando o povo mais mente fechada que aberta. Está fechando o povo em grupinhos ao invés de colocar as pessoas em contato com coisas diferentes e que façam sentido para elas mesmas. É como se você precisasse conhecer tal e tal coisa para ser cool. Sendo que as tais coisas são sempre novas, nunca um clássico. É sempre a nova do The Killers e não a antiga do U2 – como se fossem super diferentes.
Preguiça. Não preguiça de conhecer essas bandas novas, mas de achar que conhecê-las é o suficiente para alimentar minha cultura musical – especialmente pois há muito, muito mais por aí.
O babacômetro tá chegando num nível alto demais.
3 comentários:
Ótimos insights. Eu penso bem parecido, maaas... Amigo, não perca teu tempo com essas porcarias indie! Florence & the machine? Adele? Wtf?! Isso tudo é chato DEMAIS! Ouve o novo do August Burns Red que sara. ;)
Adorei seu blog...é muito interessante.
Parabéns pelo blog.
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