sexta-feira, 22 de julho de 2011

Do pão de queijo ao leite condensado de hoje


Minha bisavó tinha uma receita de pão de queijo que era puro amor. A massa era gostosa e fofa e o salgado era sempre grande. Uma fornada saía sempre que eu passava meu dia por lá. Ele sempre era servido com café nessas xícaras cor de mel. Nunca gostei da bebida, nem das xícaras, mas esse cheiro ainda me lembra dessa época. Sigo um fã de pão de queijo, mas igual aquele nunca mais provei.

Outra diversão gastronômica que só tinha lá era Toddy. Sim, Toddy tinha em todo lugar – inclusive na minha casa -, mas era só com leite, óbvio. Mas com uns 5 anos de idade desenvolvi uma fascinação estranha por querer provar o pó nas colheradas. Gostava da sensação seca na boca e do esforço estranho para engolir aquela meleca sabor chocolate que era formada. Pelo nível de bizarrice da coisa, não me deixavam fazer isso em casa. Mas lá podia; casa de bisavó pode tudo. Lembro da textura do sofá onde eu sentava para ver desenho animado com um potinho de Toddy puro. Depois eu ia pro quintal catar tatu-bolinha.

Na casa da minha avó era outra história. Lá tinha Danette e flans, os doces mais chiques do supermercado. Atacava todos, assim como atacava os Yakults. Aqueles potinhos de leite fermentado, por algum motivo muito estranho, só entravam na minha casa se tivesse alguém doente por ali. Agora que cresci e não frequento mais a casa dos meus avós como antes, percebi que os doces ainda estão por lá. Na verdade, eles são os lanchinhos de madrugada no meu avô, que sofre de insônia. Mas ele nunca reclamou de me ver roubando as delícias.

Sorvete também era uma coisa rara de se ver em casa. Potes de 2 litros eram muito caros – na verdade, eu ainda acho que são. A raridade dava um gosto diferente à sobremesa e culpo esses episódios por hoje eu ser um tarado com o doce e não poder pisar em um self-service - minha taça vira sempre um grande nada gelado e super doce.

Tinha também o sorvete de um cara que vendia na porta do meu colégio – o Instituo Lídia Angélica, no Itapoã. Era R$ 1,50 o cascão (com cobertura!) e tinha só um sabor indecifrável. Acho que era abacaxi, mas o negócio era metade amarelo e metade rosa. O “creme holandês” da São Domingos tem o mesmo gosto. Acho aquele lugar uma chacota – pois é caro demais pra qualidade baixa de seus sorvetes -, mas quando passo lá, pego um pote sabor infância.

Vocês lembram que a Coca-Cola tamanho família tinha 1 litro? Cada um da casa tinha um copo durante a refeição do sábado e acabou, meu amigo. Hoje, 1 litro é o que eu levo pra dentro do cinema. Na verdade, acho que o hype todo da minha geração ao redor de produtos como Kit Kat, Nutella e Pringles é isso; é a vontade de só comer tudo aquilo que não podíamos.

Parece que estou reclamando da minha infância, mas não estou. E minha mãe me entenderia: minha avó sempre fazia doces bem legais, mas era dessas que raspava a lata até ao alumínio começar a sair. Por isso, com seu primeiro salário, minha mãe comprou um leite condensado só pra ela. Toda vez que me vejo abrindo mão de um arroz pra comprar umas caixas de bis e alugar uns filmes, digo uma frase que virou o mantra do mercado: “esse é o meu leite condensado de hoje. E eu mereço!”

Boa sexta.