Eu ficava indignado ouvindo minha mãe e meu tio conversando sobre o que tinham almoçado. Ambos de dieta, parecia uma competição pra ver quem tinha comido menos. “Eu só comi brócolis, rúcula e uma fatia de peito de frango”. “Ah, eu comi duas fatias, mas não bebi nada”. “Mas eu nunca bebo”. “Mas eu só como quando estou morrendo de fome”. “Mas acho que isso faz mal”. Ai. Ouvir essa prestação de contas era um saco.
Mas eu reparei que isso é pra lá de comum. E nem sempre as conversas concentram-se em comida. Aliás, podem ser sobre qualquer coisa. A diferença é que muita gente está por aí tentando perder a competição.
“Ai, eu estou tão sem dinheiro”. “Eu só tenho 15 na carteira”. “Eu só tenho 15 no banco”. Qual a graça de ficar competindo pra ver quem tem menos? Um “puxa vida, eu também” finalizaria a conversa bem melhor. O cristianismo católico acusou o lucro como pecado há centenas de anos. Mas os vestígios estão aqui ainda.
Tente dizer pra alguém que você trabalha mais que ele e que, portanto, tem mais direito de estar cansado, por exemplo. Rapaz, ele vai virar uma fera e argumentar que “todo dia tem muita coisa pra fazer”, que está sobrecarregado, sem tempo pra nada, sofrendo. É quase impossível alguém dizer “é, meu trabalho é fácil e delicioso”. Mesmo que seja, a pessoa é escrava da aparência de sofrimento.
E depressivos? Se eu chegar e falar que eu tive depressão pra alguém que também teve e tratou com remédios eles praticamente me batem. Se acham mais vítimas, mais merecedores do título da patologia. Por mim, que fiquem. Não quero competir pra ver quem é mais mentalmente perturbado.
E é por isso que me encontro muito sozinho ultimamente. Cercado de pessoas, na verdade. Mas solitário. Porque todos têm problemas pipocando em suas respectivas vidas. Mas as pessoas acham muito mais interessante falar dos seus do que ouvir o do outro – é natural isso. Então fico eu aqui calado. Cada nova tentativa de compartilhar minhas indagações e frustrações é interrompida pelo interlocutor contando “um caso pior”.
Para ouvir depois de ler: End Of A Century - Blur
Mas eu reparei que isso é pra lá de comum. E nem sempre as conversas concentram-se em comida. Aliás, podem ser sobre qualquer coisa. A diferença é que muita gente está por aí tentando perder a competição.
“Ai, eu estou tão sem dinheiro”. “Eu só tenho 15 na carteira”. “Eu só tenho 15 no banco”. Qual a graça de ficar competindo pra ver quem tem menos? Um “puxa vida, eu também” finalizaria a conversa bem melhor. O cristianismo católico acusou o lucro como pecado há centenas de anos. Mas os vestígios estão aqui ainda.
Tente dizer pra alguém que você trabalha mais que ele e que, portanto, tem mais direito de estar cansado, por exemplo. Rapaz, ele vai virar uma fera e argumentar que “todo dia tem muita coisa pra fazer”, que está sobrecarregado, sem tempo pra nada, sofrendo. É quase impossível alguém dizer “é, meu trabalho é fácil e delicioso”. Mesmo que seja, a pessoa é escrava da aparência de sofrimento.
E depressivos? Se eu chegar e falar que eu tive depressão pra alguém que também teve e tratou com remédios eles praticamente me batem. Se acham mais vítimas, mais merecedores do título da patologia. Por mim, que fiquem. Não quero competir pra ver quem é mais mentalmente perturbado.
E é por isso que me encontro muito sozinho ultimamente. Cercado de pessoas, na verdade. Mas solitário. Porque todos têm problemas pipocando em suas respectivas vidas. Mas as pessoas acham muito mais interessante falar dos seus do que ouvir o do outro – é natural isso. Então fico eu aqui calado. Cada nova tentativa de compartilhar minhas indagações e frustrações é interrompida pelo interlocutor contando “um caso pior”.
Para ouvir depois de ler: End Of A Century - Blur
4 comentários:
Muito bom o texto!
Eu já havia reparado isso no mundo, mas nunca poetizado - ou descrito, documentado.
Mas não fiqeu triste: nem todos são assim!
eu quero emagrecer, como fas?
hasdiuhdadasiusahsuahda
brinks
Cada nova tentativa de compartilhar minhas indagações e frustrações é interrompida pelo interlocutor contando “um caso pior”.
comigo é assim sempre tambem.
:~~
Lendo seu blog inteiro ;)
Uma frase para você:
"Que se há-de fazer com a verdade de que todo mundo é um pouco triste e um pouco só."
Clarice Lispector, A Hora da Estrela
O livro que não gosto e nunca consegui ler totalmente...a personagem me irrita.Talvez ela tenha algo de mim que não goste.
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