sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Xuxa, colabora

Lembro muito bem que, no ano passado, uma chamada do Programa Amaury Jr. que entrevistou a Xuxa dizia: “De férias na Disney com a filha Sasha, ela concedeu uma entrevista corajosa onde acusa a televisão brasileira de não dar atenção para as crianças. E, quando dá, pensa primeiro em retorno financeiro e em índices de audiência, jamais na educação.”

Fiquei perplexo com afirmação. Não que não seja verdade, mas de sair da boca da suposta rainha dos baixinhos. Algo me cheirou a busca por redenção. Depois que teve uma filha, Xuxa entendeu bem melhor seu papel e sua influência na TV brasileira.

Ela passou a apresentar seus programas vestida e não fez concessões - mesmo quando sua nova fórmula educativa amargou pouca audiência – e, imagino, desfez o tal pacto com o capeta. O estrago com as meninas que engravidaram na adolescência e com as que sofreram por se acharem fora do padrão loira-magra-branca das Paquitas já estava feito, mas isso não vem ao caso.

Conectada ao Twitter, Xuxa sofreu um pouquinho nos últimos dias, mostrando absoluta falta de intimidade com a ferramenta online. Além de escrever todos os textos em letra maiúscula e dos inúmeros erros de português, foi a vez de sua filha, Sasha, escrever uma palavra errada. As correções vieram dos internautas e deixaram a apresentadora puta da vida, a ponto de postar:



Ah, ok. Uma menina de 11 anos, brasileira, filha de brasileiros e que mora no Brasil, foi alfabetizada em inglês?

Os últimos acontecimentos só mostraram o que todos suspeitavam: o sucesso é perigoso. Como observou o jornalista Mauricio Styver (aqui), o Twitter apenas tornou possível uma coisa há tempos sonhada: xingar a TV e ser ouvido. E Xuxa, endeusada e isolada em seu castelo, não estava preparada para enfrentar a realidade. E o vídeo ridículo do tal fã Davis Reimberg só mostra como o povo brasileiro, alienado que só ele, precisa desesperadamente de novos ídolos.

Agora, rolou o boato de que a apresentadora ia dar uma de Daniela Cicarelli com YouTube e ameaçou processar e censurar o Twitter. Faz-me rir. Xuxa, colabora com a gente e volta pra sua vidinha intocável, por favor? Cercada de puxa-sacos você faz um bem para o resto do mundo que, por consequência, fica bem longe de você.

sábado, 22 de agosto de 2009

Você merece alguém melhor que eu

Já ouviu essa frase? Não é uma das piores armadilhas do mundo?

Se você concordar com a pessoa estará, supostamente, falando que não gosta dela. Admitindo que está de olho em outro alguém ou se colocando no alto de um pedestal inalcançável de beleza e sabedoria e dizendo que ninguém ao seu lado é capaz de ser tão bom quando você.

Por outro lado, se você discordar, rola uma sensação de estar se diminuindo. De que você aceita qualquer pessoa do seu lado. E, além disso, talvez ainda dê a impressão contrária. A de que você precisa estar ali para cuidar da outra pessoa que, por sua vez e se interpretar assim, vai achar a afirmação um tanto quanto orgulhosa demais.

Conversando com uma amiga, concluímos que sempre que a tal frase é proferida ela é verdadeira. Mas o que rola é que esse “alguém melhor” não é, necessariamente, outra pessoa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O pop tem razão: “Stuck”

“Eu era deprimido pois ouvia música pop ou eu ouvia música pop pois eu era deprimido?”. Essa é uma questão de “Alta Fidelidade”, não sei se do filme ou do livro ou dos dois. O que interessa é que a dúvida é pertinente. Para tentar extrair dela algum divertimento – e, quem sabe, alguma sabedoria – criei essa categoria no blog para analisar alguma música que, de alguma forma, faz sentido.



Stacie Orrico, ex-cantora gospel que apostou no pop adolescente nos anos 90, não foi para frente. Não tinha como mesmo com essa voz nasal. Mas se alguma coisa ficou foi “Stuck”, uma canção que, como o nome diz, gruda na cabeça.

Preste atenção na historinha do clipe. O mocinho não quer nada com a mocinha, mas fica provocando ela o tempo todo. Na vida real é assim também, é tudo uma questão de encher o saco e decidir parar com tudo por completo. Só assim a sensação de estar preso na pessoa também vai sumir.

O clipe também faz uma citação a “DisMissed”. Lembra desse reality show da MTV? Mais anos 90 impossível. No caso, uma pessoa ia para um encontro com duas outras do sexo oposto e escolhia uma no final. Tem crônica mais fiel da frivolidade dos relacionamentos? Não é suficiente que, para não perderem nenhuma oportunidade, muitas pessoas ficam com várias ao mesmo tempo paralelamente. Agora, eles saem os três para jantar?

Ela menciona um telefonema de arrependimento do cara na música. Acho que foi Fernanda Young quem disse – e todos nós confirmamos – que a sensação de “o telefone vai tocar” é uma das mais chatas. Antes, quando você saía de casa, estava tudo bem. Mas, hoje, seu celular – e a angústia da espera de um telefonema que não vem – te acompanham rua afora.

O look retrô das pessoas no clipe e a citação de Beatles no final ganharam minha atenção na época. Assistir o clipe hoje mostra como a música tem uma letra fácil, mas coerente. “Eu te amo, mas te odeio, não consigo parar de pensar em você. Eu me sinto idiota”. É a coisa mais comum do mundo moderno.

sábado, 15 de agosto de 2009

“Brüno”: genial ou homofóbico?

Acabei de assistir “Brüno”, nova comédia de Sasha Baron Cohen, ator também por trás de “Borat”, produção de 2006 indicada ao Oscar de melhor roteiro original.

O primeiro filme conta a jornada de um repórter do Cazaquistão aos Estados Unidos, mostrando as supostas diferenças culturais entre os dois lugares. Toda a produção tem um ar de “câmera escondida”, apenas registrando a reação das pessoas aos atos malucos do tal cazaque.

Novamente, o personagem principal dá título ao filme, mas Brüno é um repórter gay pra lá de caricato, especialista em moda. Austríaco, ele sai de seu país em busca de fama e se mete em inúmeras roubadas.

O que acontece é que ele não é famoso ainda e não pode sair ileso de excentricidades como falar mal de pessoas que não conhece, adotar africanos e ter a pretensão de acabar com a guerra no mundo. Ao encarnar um personagem como Brüno – que é superficial, afetado e incrivelmente burro – todos os alicerces da cultura norte-americana tem potencial para ser alvo de algum tipo de sátira, mesmo que não explicitamente.

O novo filme é muito mais incorreto que "Borat" e também muito mais ousado. Hilário ver Paula Abdul, por exemplo, falando que fazer trabalhos humanitários e ajudar outras pessoas “é como respirar o ar que respiro” ao mesmo tempo que usa um mexicano de quatro como poltrona. Impossível enumerar as cenas que mais ri, são muitas. Mas tenha uma atenção especial à viagem dele ao Oriente Médio, seus dias acampando e à música no final.

O principal erro é que, como em “Borat”, Cohen entra em um grupo – no caso, os gays – para provocar as pessoas ao redor, mas acaba satirizando o próprio grupo que se apropriou. Interromper uma passeata contra os direitos homossexuais vestido com roupas de sadomasoquismo é engraçado, mas de forma alguma contribui para qualquer tipo de tolerância, certo? O tiro sairia pela culatra se o objetivo fosse melhorar a aceitação dos gays na sociedade. Como não é o caso, o longa segue bem. Mas tem seus méritos no assunto quando, por exemplo, mostra quão ridícula é a fala de um pastor que, supostamente, “cura” gays.

Comédias desse tipo são especialmente engraçadas para mim, pois as pessoas ao redor acham que estão sendo acariciadas com risos, mas estão levando belas bofetadas na cara. A crítica aos costumes está lá e, no fim, você acha que a sociedade não tem solução mesmo. A intolerância e a ignorância estão enraizadas de uma forma muito profunda e você percebe que riu para não chorar. Mas pelo menos riu bastante.

Hoje é dia dos solteiros

Hoje, dia 15 de agosto, é comemorado o Dia dos Solteiros. Sim, comemorado, veja bem. Então eu vou entrar na dança e, ao invés de lamentar que ainda pertenço a este grupo, vou listar as inúmeras vantagens de ser um deles.

A primeira coisa é que é muito mais fácil conhecer gente nova e fazer novas amizades sem um namorado do seu lado te distraindo. Quando você sai sozinho para ver os amigos é você quem faz seu horário e você acaba tendo que conversar um pouquinho com todo mundo que está ali. E ninguém do seu lado fica falando “vamos embora?” ou “você não acha que já bebeu demais?” ou “não agüento mais ouvir essa sua piada”.

Tudo bem que nada se compara a uma tarde nublada de sábado vendo filmes em casa abraçados, mas solteiros não precisam fazer todo um processo de deliberação para escolher filmes na locadora. Tá querendo rever “Esqueceram de Mim”? Tudo bem. Está no clima de “Duro de Matar”? Ótimo. Ninguém vai te julgar e você ainda pode comer comidas gordurosas à vontade na frente da TV.

Ah, e você economiza muita grana sendo solteiro. Sendo bonzinho e considerando que vocês não precisem gastar dinheiro com motel, ainda tem jantares, cineminhas, bebidinhas, cafezinhos e presentes nas mínimas datas, como Natal, aniversários do namoro, aniversário de cada um e Dia dos Namorados.

Ficou mais tolerável agora?

Para ouvir depois de ler: 'Til Death Do Us Apart - Madonna

domingo, 9 de agosto de 2009

Uma questão de controle remoto

Tudo que acontece na minha vida me lembra um filme que vi ou um livro que li. Não devia ser o contrário? Meus pais diriam que sim, meus amigos que não.

Diga: como você soube mostrar à primeira pessoa que amou que a amava? Inventou uma maneira ou se inspirou em algo que viu numa série de televisão? Tudo é uma versão de uma outra coisa? Que atire a primeira pedra quem nunca precisou copiar uma frase de um filme por aí.

Toda vez que aparece alguma medida contra a abordagem de alguns temas em certos horários na TV, vem uma galera falar que é censura. Mas a influência dos meios de comunicação é ilimitada. Não no sentido de que podem colocar o que quiserem na sua cabeça, mas é que aquela caixa no meio da sua sala não apenas te informa do que está acontecendo no mundo.

Quando os pais saem e os filhos estão ali, não há formação de opinião sobre política, há um noticiário de como anda a sociedade. Apresentadoras de desenhos animados com roupinhas curtas, rappers pegando no saco. Anúncios com modelos de 16 anos fazendo pose sexual e revistas pornográficas com mulheres vestidas de criança. Você acha mesmo que nada disso fica registrado de alguma forma na mente da molecada? Na minha ficou e aposto que minha analista concordaria.

Mas, ei, não estou dizendo que isso é ruim. Só é preciso ter cuidado para uma coisa não passar por cima da outra, principalmente na dicotomia corpo e mente. Eu tenho uma irmã de 15 anos e sei como as coisas podem fugir do controle.

Vão discordar de mim os mais conservadores, os mesmos que dizem que brincar na rua é mais saudável que vídeo game. Dirão que o melhor é trocar experiências com pessoas por perto. Bobagem. Não há como medir pior/melhor, são experiências diferentes e praticamente tudo que lemos e assistimos tem a experiência real de alguém como base - sem contar que uma coisa não exclui a outra. Na verdade, estamos compartilhando histórias que vem de gente do outro lado do mundo, coisa que era impossível tempos atrás.

Tudo no mundo tem um lado bom e um ruim.

Para ouvir depois de ler: The Machine – Regina Spektor

sábado, 8 de agosto de 2009

O pop tem razão: “Maybe”

“Eu era deprimido pois ouvia música pop ou eu ouvia música pop pois eu era deprimido?”. Essa é uma das questões de “Alta Fidelidade”, não sei se no filme ou no livro ou nos dois. O que interessa é que se trata de uma dúvida incrivelmente pertinente. Para tentar extrair dela algum divertimento – e, quem sabe, alguma sabedoria – criei essa categoria no blog, chamada “O Pop tem Razão”, para analisar alguma música que, de alguma forma, faz sentido. E eu sei exatamente com qual vou inaugurá-la.



Nunca fui fã de Spice Girls e menos ainda da carreira solo das moças, mas o clipe de “Maybe”, da Emma Bunton, me chamou atenção. E, depois, a letra. Como pode um pop tão inocente fazer uma crônica tão justa dos relacionamentos modernos?

Preste atenção no começo da música, por exemplo. “O amor não é engraçado quando está te queimando por dentro, quando tudo que você pensa é como sobreviver à noite. E quando você quer, é apenas um jogo que você joga e quando você consegue, querem tomar de você”. Sobre o mesmo tema, outra parte da letra diz: “E se você quer, não há ninguém pra você. Quando não precisa, existem muitos peixes no mar”.

Não faz sentido? É de comum conhecimento que, depois de um longo período sem ninguém, muitas pessoas aparecem. Não é exatamente algo que gera indecisão, mas um pingo de frustração.

Mas a melhor parte é o refrão, que me lembra as indagações das minhas amigas, querendo ler sinais em todo e qualquer mínimo movimento da pessoa que elas gostam: “Talvez não seja nada, talvez seja tudo na minha cabeça. Talvez eu seja tola, talvez seja uma perda de tempo. Mas eu acho que não, talvez eu tenha certeza que talvez eu esteja apaixonada”.

A gente bem gostaria que os eventos de nossas vidas fossem polvilhados ao longo dela, mas não é assim. São mesmo marés, períodos ruins seguidos de bons, tudo está mudando o tempo todo – mesmo que você não perceba. Quantas vezes você revira seu armário procurando um CD e acha aquele que você estava procurando na semana passada? Pense nisso.