domingo, 4 de outubro de 2009

O pop tem razão: “Blame It On The Girls”

“Eu era deprimido pois ouvia música pop ou eu ouvia música pop pois eu era deprimido?”. Essa é uma questão de “Alta Fidelidade”, não sei se do filme ou do livro ou dos dois. O que interessa é que a dúvida é pertinente. Para tentar extrair dela algum divertimento – ou alguma sabedoria – criei essa categoria no blog para analisar músicas que, de alguma forma, fazem sentido.



Ultimamente eu tenho reparado uma coisa muito irritante nas pessoas: a falta de noção. Estou falando de falta de perspectiva. Todos sabem que reclamar da vida é uma coisa natural e que eu faço isso o tempo todo, mas em que lugar decidir passar as férias em Paris ou em Londres é um dilema dramático? Dê graças por ter uma vida em que você pode ter duas opções tão lindas de destino, pare de reclamar e tire numa moeda!

Especialmente no Twitter eu me deparo com coisas desse tipo. Talvez seja inveja, mas eu não consigo ler alguém que não trabalha – e que, por algum motivo, sempre tem dinheiro - reclamar que está com ressaca na manhã de terça-feira, por exemplo. Uma coisa é contar o que aconteceu, outra é contar vantagem – não que ressaca seja uma coisa boa, mas o fato dele poder ter saído na noite de segunda é. E também o fato de que ele está reclamando da ressaca deitado em sua cama, enquanto eu já acordei, tomei banho, peguei ônibus e trabalhei por duas horas.

Essa música do Mika é sobre esse sentimento, eu acho. Sobre gente que, apesar de ter tudo que você sempre quis, não dá valor ao que tem. Ele começa cantando sobre as vantagens da pessoa: “Ele tem um visual que livros demorariam páginas para descrever e um rosto que faria você se ajoelhar. Ele tem dinheiro no banco aos montes e você pode até achar que a vida dele é fácil”.

Tudo cantado com imagens super coloridas, lembrando editoriais de moda nos anos 60 e um flerte de leve com “Laranja Mecânica” nos primeiros takes, não? Achei que ficou um clipe meio Hot Chip meets Björk no começo da carreira.

Depois Mika muda para os conflitos: “Como um bebê, ele é uma criança mimada, sempre competindo com os outros. Enquanto ele se pergunta o que ele vai fazer, a gente deseja ser sortudo como ele”, diz a letra. É a velha história de dizer, ah, se eu tivesse isso faria diferente. Sei que, obviamente, se eu tivesse nascido em circunstâncias diferentes minha personalidade seria outra e talvez eu me comportasse da mesmíssima maneira que essas pessoas. Mas nunca vou saber.

“A vida pode ser simples, mas você nunca falha ao complicá-la todas as vezes”

2 comentários:

eric disse...

uhuuuul, adorei esse post...

reclamar da vida é coisa normal, mesmo quem leva uma aparente 'vida boa' reclama, porque é normal que nunca estejamos satisfeitos.
agora pensa: existem pessoas que não tem um trabalho e que quando vêm você reclamando queriam também ser 'sortudos' como você. então por isso que é sempre bom enxergar que antes de estar 'abaixo' de alguém existem pessoas em condições piores; isso tipo tapa nossa boca. 'peraí porque que eu estou reclamando, se aquele ali queria estar no meu lugar?!'

agora, eu quero que esse cara que reclama de ressaca na terça feira de manhã se exploda, ainda mais quando faz isso tipo : 'oi, eu não sei se ontem foi segunda ou sábado?' por favor né!

parabéns pelo post!

Dayane Costa disse...

Mika tem uma história comigo, com pessoas que já me relacionei e, por mais bobas que as letras possam parecer, aprendi a prestar atenção nelas.

Esse post aí é bem uma coisa que você já falou em algum lugar: cada dia eu tenho mais raiva de pessoas que têm vidas fáceis.

A questão não é se colocar no lugar dos outros ('ah eu tenho emprego e outras pessoas não') e sim saber valorizar o que você tem com bom senso, sem jogar na cara das pessos ou esbanjar por aí. Acho que esses tipo de comportamento independe do seu berço. Pra mim, é uma questão de personalidade sim.

E quem vai pra balada segunda à noite merece nada mais nada menos que a morte. Gracinha, né. Enquanto você tá sijogando na pista eu tô estudando matérias horríveis e me preparando pra acordar 5 da manhã e pegar um ônibus fedido. Beijos.