quarta-feira, 30 de junho de 2010
E subi de volta
Tive que descer na portaria do prédio.
- É você que está buzinando?
- Aham.
- Então, você tem celular não?
- Oi?
- Liga pra pessoa que você está esperando. Ou então toca o interfone ali - apontei - porque parece que a pessoa não entendeu que a buzina é para ela e não é justo você encher o saco de todo mundo da rua com sua buzina, é?
E subi de volta.
domingo, 27 de junho de 2010
"Kick-Ass" kick ass!
Nunca fui fã de quadrinhos por motivos que não vem ao caso. Mas nunca escondi meu gosto por filmes de super-herói. Não sei se fui eu que cresci ou se os produtores que perderam a cabeça, mas produções como “Hulk” e “Transformers” não me chamavam atenção. São filmes muito afetados e, de tão irreais, não me causam interesse.
Não que “V de Vingança”, “Watchmen” ou “O Cavaleiro das Trevas” sejam realistas, mas são um pouco mais do que os filmes de super-heróis clássicos e talvez exatamente por isso me causem mais fascínio.
Quando fui assistir “Kick-Ass” só sabia que o filme tinha muita violência. Não tinha ideia nem da sinopse da produção. E foi uma agradável surpresa.
Na vontade de se tornar um herói na vida real, um adolescente arranja uma fantasia e sai por aí querendo combater o crime. Mesmo desengonçado na missão, ele inspira um pai e sua filha, ambos muito mais bem treinados, a fazerem o mesmo e acabam numa acirrada briga com os chefes do tráfico de cocaína em Nova York.
Dirigido por Matthew Vaughn – produtor dos filmões de ação de Guy Ritchie – “Kick-Ass” mistura violência e sangue, muito sangue, com comédia e romance. Mas ele não peca em nenhum aspecto. Não há piada sem graça, cena de luta mal feita e nem romance fácil. A visão feita do mundo adolescente americano tem seus elementos universais e o público – especialmente o masculino – vai morrer de rir com os contratempos do protagonista.
E que protagonista! Além de Aaron Johnson ser lindo, ele é engraçado, competente, e suas primeiras cenas como herói são impagáveis. Chloe Moretz, a criança-adulta de “(500) Dias com Ela”, não cresceu, mas já apareceu roubando todas as cenas em que aparece – o filme é quase dela. Tem também Nicolas Cage, mas quase todo o elenco foge aos olhos dos mais velhos, por serem famosos em séries de TV - o que é uma boa estratégia de divulgação, diga-se de passagem.
Referências ao mundo adolescente de hoje não faltam. No meio das claras citações aos filmes e aos quadrinhos, os personagens lidam com MySpace, Facebook e YouTube, coisas normais na vida de todo mundo hoje, mas que insistem em não existir nos mundos fictícios – já reparou como em nenhum filme ou série as pessoas resolvem as coisas por e-mail ou conversam no MSN?
O filme é baseado numa HQ que nunca li, não posso comentar a adaptação. Mas como uma obra cinematográfica, é muito bom. A narrativa é rápida, mas sem atropelos, e duas horas passam voando, com perdão do trocadilho. É desses que verei mais algumas vezes, com certeza.
Não que “V de Vingança”, “Watchmen” ou “O Cavaleiro das Trevas” sejam realistas, mas são um pouco mais do que os filmes de super-heróis clássicos e talvez exatamente por isso me causem mais fascínio.
Quando fui assistir “Kick-Ass” só sabia que o filme tinha muita violência. Não tinha ideia nem da sinopse da produção. E foi uma agradável surpresa.
Na vontade de se tornar um herói na vida real, um adolescente arranja uma fantasia e sai por aí querendo combater o crime. Mesmo desengonçado na missão, ele inspira um pai e sua filha, ambos muito mais bem treinados, a fazerem o mesmo e acabam numa acirrada briga com os chefes do tráfico de cocaína em Nova York.
Dirigido por Matthew Vaughn – produtor dos filmões de ação de Guy Ritchie – “Kick-Ass” mistura violência e sangue, muito sangue, com comédia e romance. Mas ele não peca em nenhum aspecto. Não há piada sem graça, cena de luta mal feita e nem romance fácil. A visão feita do mundo adolescente americano tem seus elementos universais e o público – especialmente o masculino – vai morrer de rir com os contratempos do protagonista.
E que protagonista! Além de Aaron Johnson ser lindo, ele é engraçado, competente, e suas primeiras cenas como herói são impagáveis. Chloe Moretz, a criança-adulta de “(500) Dias com Ela”, não cresceu, mas já apareceu roubando todas as cenas em que aparece – o filme é quase dela. Tem também Nicolas Cage, mas quase todo o elenco foge aos olhos dos mais velhos, por serem famosos em séries de TV - o que é uma boa estratégia de divulgação, diga-se de passagem.
Referências ao mundo adolescente de hoje não faltam. No meio das claras citações aos filmes e aos quadrinhos, os personagens lidam com MySpace, Facebook e YouTube, coisas normais na vida de todo mundo hoje, mas que insistem em não existir nos mundos fictícios – já reparou como em nenhum filme ou série as pessoas resolvem as coisas por e-mail ou conversam no MSN?
O filme é baseado numa HQ que nunca li, não posso comentar a adaptação. Mas como uma obra cinematográfica, é muito bom. A narrativa é rápida, mas sem atropelos, e duas horas passam voando, com perdão do trocadilho. É desses que verei mais algumas vezes, com certeza.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Clipes de papel
Dia dos Namorados – além de poder ser a data internacional da expectativa frustrada quanto aos presentes – é a data onde solteiros e solteiras se reúnem para brindar a solteirice. É curioso que uma data essencialmente comercial mexa tanto com o orgulho de todas as pessoas. Pela cidade inteira, no dia 12 de junho, tem eventos apenas para casais ou apenas para solteiros. Precisa mesmo ser um versus o outro?
Acho que estar acompanhado é mostrar que você tem atributos suficientes para ter alguém os querendo apenas para ela, é fazer parte do famigerado e clichêzento “final feliz” de mais da metade dos filmes de Hollywood. Mas é também fazer parte daquela parcela de gente careta, que não frequenta todas festas ou os restaurantes da moda. Todo mundo tem histórias de amiga que é a melhor companhia do mundo, mas que some quando começa a namorar; ou aquele amigo que simplesmente perde todo o seu senso de humor quando ao lado da noiva.
No final das contas, todo mundo sabe que é completamente e perfeitamente possível viver feliz sozinho desde que esta seja uma decisão espontânea e movida por um desejo genuíno. A solidão imposta à revelia pelas contingências do destino é tratada, especialmente hoje em dia, como uma catástrofe existencial. Bobagem, não? Mas, vendo o cenário por inteiro, estar solteiro é uma coisa altamente celebrada e que movimenta bilhões em academias, salões de beleza e lojas de roupas – claro que não estou dizendo que todo mundo frequenta esses lugares apenas para ficar atraente para outras pessoas, mas você sabe de que tipo pessoa estou falando.
Então é o seguinte: de um lado ficam casais felizes e de outro os solteiros, divididos entre os orgulhosos e os envergonhados. Mas não devia ser assim. Estar acompanhado não é, por conta própria, motivo nenhum para se sentir superior. Vivo dizendo que categorias em que você não teve poder de escolha não podem abrigar orgulho nem vergonha – como nascer homem ou mulher, hétero ou gay. E, nesse caso, a regra acaba também se aplicando, mesmo que a solteirice seja de ocasião, e não opção. Quem disse que todo casal é feliz? Quem disse que todo solteiro é infeliz? Ficar o “mês dos namorados” inteiro falando como você ama estar solteiro pode ser sinal exatamente do contrário...
A ideia do amor romântico, do feriado debaixo das cobertas e do delivery de pizza engana muito. Estar junto dá um trabalho danado e esses momentos são, na verdade, raros. Alguém me disse que "estar com alguém é um trabalho árduo fantasiado de aconchego", adorei a frase. Da mesma maneira, a ideia do solteirão bon vivant, que pega todo mundo e cada dia está com outra pessoa sem ligar a mínima para sentimentalismo, é falsa. Além de financeiramente cara. São poucos os que conseguem passar a vida toda assim.
Dia 12 de junho é um dia como outro qualquer em escala global. Igual o dia que você passa no vestibular, tem um filho, quebra a perna. Um dia normal para a humanidade. E, caso vocês não saibam, casais e solteiros podem sair e se divertir em qualquer outro dia.
O pior é que tudo se inverteu e já conheci um casal que se sente intimidado, não querendo comemorar o Dia dos Namorados para não ofender os amigos solteiros. Que preguiça! Gente, comemore. Primeiro pois, quando solteiros, ninguém tinha esse cuidado com você; segundo pois, afinal, qual outra data namorados têm estabelecida? Natal tem família, aniversário tem amigos. Dia dos Namorados pelo menos é uma coisa “oficial de casal”, entende? Torcia o pescoço, mas só namorando percebi que a data, mesmo que apenas comercial, se torna especialmente interessante para casais adultos e gente casada. É que programinhas e presentinhos todo aniversário de mês de namoro é coisa de adolescente e, com a maturidade, esses mimos podem ir sumindo aos poucos, mesmo que o sentimento de um pelo outro continue intacto. Um simples efeito colateral do excesso de intimidade.
Acho que estar acompanhado é mostrar que você tem atributos suficientes para ter alguém os querendo apenas para ela, é fazer parte do famigerado e clichêzento “final feliz” de mais da metade dos filmes de Hollywood. Mas é também fazer parte daquela parcela de gente careta, que não frequenta todas festas ou os restaurantes da moda. Todo mundo tem histórias de amiga que é a melhor companhia do mundo, mas que some quando começa a namorar; ou aquele amigo que simplesmente perde todo o seu senso de humor quando ao lado da noiva.
No final das contas, todo mundo sabe que é completamente e perfeitamente possível viver feliz sozinho desde que esta seja uma decisão espontânea e movida por um desejo genuíno. A solidão imposta à revelia pelas contingências do destino é tratada, especialmente hoje em dia, como uma catástrofe existencial. Bobagem, não? Mas, vendo o cenário por inteiro, estar solteiro é uma coisa altamente celebrada e que movimenta bilhões em academias, salões de beleza e lojas de roupas – claro que não estou dizendo que todo mundo frequenta esses lugares apenas para ficar atraente para outras pessoas, mas você sabe de que tipo pessoa estou falando.
Então é o seguinte: de um lado ficam casais felizes e de outro os solteiros, divididos entre os orgulhosos e os envergonhados. Mas não devia ser assim. Estar acompanhado não é, por conta própria, motivo nenhum para se sentir superior. Vivo dizendo que categorias em que você não teve poder de escolha não podem abrigar orgulho nem vergonha – como nascer homem ou mulher, hétero ou gay. E, nesse caso, a regra acaba também se aplicando, mesmo que a solteirice seja de ocasião, e não opção. Quem disse que todo casal é feliz? Quem disse que todo solteiro é infeliz? Ficar o “mês dos namorados” inteiro falando como você ama estar solteiro pode ser sinal exatamente do contrário...
A ideia do amor romântico, do feriado debaixo das cobertas e do delivery de pizza engana muito. Estar junto dá um trabalho danado e esses momentos são, na verdade, raros. Alguém me disse que "estar com alguém é um trabalho árduo fantasiado de aconchego", adorei a frase. Da mesma maneira, a ideia do solteirão bon vivant, que pega todo mundo e cada dia está com outra pessoa sem ligar a mínima para sentimentalismo, é falsa. Além de financeiramente cara. São poucos os que conseguem passar a vida toda assim.
Dia 12 de junho é um dia como outro qualquer em escala global. Igual o dia que você passa no vestibular, tem um filho, quebra a perna. Um dia normal para a humanidade. E, caso vocês não saibam, casais e solteiros podem sair e se divertir em qualquer outro dia.
O pior é que tudo se inverteu e já conheci um casal que se sente intimidado, não querendo comemorar o Dia dos Namorados para não ofender os amigos solteiros. Que preguiça! Gente, comemore. Primeiro pois, quando solteiros, ninguém tinha esse cuidado com você; segundo pois, afinal, qual outra data namorados têm estabelecida? Natal tem família, aniversário tem amigos. Dia dos Namorados pelo menos é uma coisa “oficial de casal”, entende? Torcia o pescoço, mas só namorando percebi que a data, mesmo que apenas comercial, se torna especialmente interessante para casais adultos e gente casada. É que programinhas e presentinhos todo aniversário de mês de namoro é coisa de adolescente e, com a maturidade, esses mimos podem ir sumindo aos poucos, mesmo que o sentimento de um pelo outro continue intacto. Um simples efeito colateral do excesso de intimidade.
Para ouvir depois de ler: Elastic Love – Christina Aguilera
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Aguilera é conceito
MIA, Ladytron, Le Tigre e mais uma penca de gente foi contratada para dar uma nova cara à Christina Aguilera. Supostamente, seria uma trabalho mais alternativo, mais eletrônico e com menos gritinhos – o que faz muito sentido comercial em tempos de Lady Gaga em alta e Mariah Carey em baixa.
Christina Aguilera falha nessa missão em dois momentos: suas baladas seguem como sempre foram e, em 18 faixas, existem dois tracks de introdução muito fracos e pra lá de quatro músicas com letras muito, muito ruins.
Mas o CD é ótimo. Quer dizer, na primeira ouvida não é tão bom quanto o esperado, mas assim que você se acostuma, é só alegria. Ignorando o péssimo primeiro single, “I'm Not Myself Tonight”, o álbum cumpre – mesmo que de forma mínima – a nova embalagem a que se propõe. Sim, pois o núcleo de Christina Aguilera é o mesmo. A prova são as baladas “Lift Me Up”, “I Am”, composta por Sia, e “All I Need”, uma declaração de amor muito bonita ao seu filho.
Por outro lado, as faixas com a tal proposta eletrônica não deixam a desejar na qualidade nem na originalidade. “Bionic”, que dá título ao disco, é ótima. Dessa leva, “Elastic Love” é de longe o destaque, mas “I Hate Boys” e “My Girls”, com participação de Peaches, também são ótimas. Todas têm letras interessantes e bem pouca da gritaria típica de Aguilera – entretanto, nada de auto-tune.
Como é notável, a latinidade e a sexualidade – dois temas muito entrelaçados – também voltam a percorrer canções da loira, que não faz feio ao cantar sobre sexo dentro do casamento em “Sex For Breakfast”, sexo oral em “Woohoo”, sadomasoquismo em “Desnudate” e masturbação em “Vanity”.
Ou seja, não dá para reclamar. Aguilera nunca teve um estilo 100% definido e seus álbuns são conceituais. Esse foi mais um, com um novo conceito. As acusações de ter copiado Lady Gaga são exageradas, tendo em vista que a mesma vive copiando Madonna, que por sua vez copiava David Bowie ou Debbie Harry.
Há espaço para todo mundo e muitas vezes na história da música o lado criativo precisa mesmo apontar para o lado que dá dinheiro. Mas isso nem sempre quer dizer menos qualidade. E Christina prova isso, pegando o que é tendência e mudando de uma maneira que ficasse confortável para ela. A vida é assim.
Para ouvir depois de ler: Bi~ON~iC - Christina Aguilera
Christina Aguilera falha nessa missão em dois momentos: suas baladas seguem como sempre foram e, em 18 faixas, existem dois tracks de introdução muito fracos e pra lá de quatro músicas com letras muito, muito ruins.
Mas o CD é ótimo. Quer dizer, na primeira ouvida não é tão bom quanto o esperado, mas assim que você se acostuma, é só alegria. Ignorando o péssimo primeiro single, “I'm Not Myself Tonight”, o álbum cumpre – mesmo que de forma mínima – a nova embalagem a que se propõe. Sim, pois o núcleo de Christina Aguilera é o mesmo. A prova são as baladas “Lift Me Up”, “I Am”, composta por Sia, e “All I Need”, uma declaração de amor muito bonita ao seu filho.
Por outro lado, as faixas com a tal proposta eletrônica não deixam a desejar na qualidade nem na originalidade. “Bionic”, que dá título ao disco, é ótima. Dessa leva, “Elastic Love” é de longe o destaque, mas “I Hate Boys” e “My Girls”, com participação de Peaches, também são ótimas. Todas têm letras interessantes e bem pouca da gritaria típica de Aguilera – entretanto, nada de auto-tune.
Como é notável, a latinidade e a sexualidade – dois temas muito entrelaçados – também voltam a percorrer canções da loira, que não faz feio ao cantar sobre sexo dentro do casamento em “Sex For Breakfast”, sexo oral em “Woohoo”, sadomasoquismo em “Desnudate” e masturbação em “Vanity”.
Ou seja, não dá para reclamar. Aguilera nunca teve um estilo 100% definido e seus álbuns são conceituais. Esse foi mais um, com um novo conceito. As acusações de ter copiado Lady Gaga são exageradas, tendo em vista que a mesma vive copiando Madonna, que por sua vez copiava David Bowie ou Debbie Harry.
Há espaço para todo mundo e muitas vezes na história da música o lado criativo precisa mesmo apontar para o lado que dá dinheiro. Mas isso nem sempre quer dizer menos qualidade. E Christina prova isso, pegando o que é tendência e mudando de uma maneira que ficasse confortável para ela. A vida é assim.
Para ouvir depois de ler: Bi~ON~iC - Christina Aguilera
segunda-feira, 7 de junho de 2010
Admite-se
“Não se dá valor econômico ao trabalho, se dá ao bem, às coisas. A gente é capaz de pagar, meu amigo, 1 milhão de reais por um apartamento. Aí você chama o homem para pintar o teu apartamento de 1 milhão de reais. Ele te cobra 5 mil, você acha um absurdo”. (daqui)
O trecho acima te fez rir ou causou espanto? Isso acontece aí na sua casa, aposto. A família tem mais de um carro na garagem, eletrônicos último tipo em casa, TVs e faz compras como se estivesse estocando comida para o final do mundo, mas reclama se a empregada pede um aumento.
Mas o negócio é que o assunto saiu da cozinha e está em lugares antes inimagináveis. Como a redação, por exemplo.
É. O piso salarial do jornalista está tão ridículo que hoje, diante da vitrine de uma loja onde um lindo casaco custa 300 reais, me vi tentado a me dirigir ao balcão perguntar não sobre ele, mas sobre a plaquinha que dizia “Admite-se vendedor, caixa e estoquista”. Não é um exagero meu, eu realmente pensei isso.
Acontece que o bem é mais valorizado, então não interessa ser formador de opinião, ter lido Victor Hugo aos 14 anos, saber construir frases com vocativos e vírgulas bem posicionadas. Um amigo que trabalha como vendedor numa livraria, duas vezes por semana, ganha o mesmo salário que eu. É muita palhaçada da minha parte achar que vale a pena ganhar o mesmo tanto que ele por um trabalho que exige de mim muitas horas por dia, às vezes mais do que cinco dias da semana, e que está matando minha visão e minha coluna aos poucos.
Por isso morro de rir desse povo que acha que jornalistas têm um plano diabólico para dominar o mundo. A gente está ocupado demais pensando em pagar o aluguel. Sério, não dá para temer quem ganha o equivalente em reais a três casacos dessa loja. Enquanto isso, o vendedor dela – na casa dos 20 anos – ganha um pouco menos, mas 10% de cada um dos vários casacos de 300 reais que vende e, no final das contas, mais do que minha mãe, jornalista há 20 anos.
Eu acho um passo para trás abrir mão do meu suado diploma e ir para trás do balcão de uma loja de livro, de roupa ou de qualquer outra coisa, a não ser que eu seja o dono dessa loja. Mas cadê minha carteira de motorista, meu carro, meu sonho dourado de morar sozinho? Aliás, o que aconteceu que meu cartão de crédito é rejeitado na hora de comprar um crepe de queijo?! Achei que, com 22 anos, eu já estaria tão mais longe, tão mais livre. E nunca me senti mais preso na vida.
Vou parar esse texto por aqui antes que eu comece a revelar coisas demais e/ou a chorar.
O trecho acima te fez rir ou causou espanto? Isso acontece aí na sua casa, aposto. A família tem mais de um carro na garagem, eletrônicos último tipo em casa, TVs e faz compras como se estivesse estocando comida para o final do mundo, mas reclama se a empregada pede um aumento.
Mas o negócio é que o assunto saiu da cozinha e está em lugares antes inimagináveis. Como a redação, por exemplo.
É. O piso salarial do jornalista está tão ridículo que hoje, diante da vitrine de uma loja onde um lindo casaco custa 300 reais, me vi tentado a me dirigir ao balcão perguntar não sobre ele, mas sobre a plaquinha que dizia “Admite-se vendedor, caixa e estoquista”. Não é um exagero meu, eu realmente pensei isso.
Acontece que o bem é mais valorizado, então não interessa ser formador de opinião, ter lido Victor Hugo aos 14 anos, saber construir frases com vocativos e vírgulas bem posicionadas. Um amigo que trabalha como vendedor numa livraria, duas vezes por semana, ganha o mesmo salário que eu. É muita palhaçada da minha parte achar que vale a pena ganhar o mesmo tanto que ele por um trabalho que exige de mim muitas horas por dia, às vezes mais do que cinco dias da semana, e que está matando minha visão e minha coluna aos poucos.
Por isso morro de rir desse povo que acha que jornalistas têm um plano diabólico para dominar o mundo. A gente está ocupado demais pensando em pagar o aluguel. Sério, não dá para temer quem ganha o equivalente em reais a três casacos dessa loja. Enquanto isso, o vendedor dela – na casa dos 20 anos – ganha um pouco menos, mas 10% de cada um dos vários casacos de 300 reais que vende e, no final das contas, mais do que minha mãe, jornalista há 20 anos.
Eu acho um passo para trás abrir mão do meu suado diploma e ir para trás do balcão de uma loja de livro, de roupa ou de qualquer outra coisa, a não ser que eu seja o dono dessa loja. Mas cadê minha carteira de motorista, meu carro, meu sonho dourado de morar sozinho? Aliás, o que aconteceu que meu cartão de crédito é rejeitado na hora de comprar um crepe de queijo?! Achei que, com 22 anos, eu já estaria tão mais longe, tão mais livre. E nunca me senti mais preso na vida.
Vou parar esse texto por aqui antes que eu comece a revelar coisas demais e/ou a chorar.
terça-feira, 1 de junho de 2010
DR
Ao meu redor vejo relacionamentos amorosos de todos os tipos. Novos, longos, à distância, abertos e bem fechados. Todo mundo que está sozinho, uma hora ou outra, acha alguém. Mas e o que acontece depois? Sim, pois achar alguém é o fim de uma fase e apenas o começo de uma outra.
E aí está também o começo do problema de muita gente. De um lado, não é porque amamos que temos que suportar tudo. Intimidade não é tortura. De outro, qual o limite de intimidade possível? O quanto é intimo demais? Isso, se é que tal conceito existe!
Acontece que escolher o amor não é o mesmo que escolher a paz. Na verdade, amor está mais para guerra. As pessoas associam casamento e amor verdadeiro a romance, mandar flores, jantares românticos à luz de velas e até coisas mais profundas, como trazer filhos ao mundo. Mas o romance vai e volta. Uma hora seu marido ou sua esposa são melhores amigos e outra hora eles estão na casa do cachorro.
Então, confundimos discutir um problema com discutir a relação. A grande maioria de nós vive num movimento pendular de tudo ou nada, vida ou morte, amor eterno ou rejeição aguda, dedicação total ou rompimento. Será que relacionamento é esse conjunto de sobressaltos? Esquecer uma data, não dar presentinhos todo dia, não poder conversar quando o celular toca no trabalho, essas são coisas normais.
É verdade que em alguns casos precisamos mesmo discutir a relação e os hábitos. E isso deveria ser encarado como uma coisa positiva! Assinalar diferenças é sinônimo de compreender o outro, suas neuras e sonhos, de se colocar no lugar dele – com os olhos dele – e, muitas vezes, de se comprometer com um futuro de interesses mútuos.
Todo mundo que está acompanhado precisa respirar e permitir que o outro tenha seu espaço, sua hora de fazer suas coisas. E, claro, se permitir e se acostumar a tê-lo também. Por mais feliz que você esteja com essa pessoa, vai me dizer que você não gosta de poder ficar em casa um sábado comendo porcaria e ouvindo música brega bem alto usando roupas velhas?
O que faz tudo funcionar é a habilidade de um amar o outro incondicionalmente. E não há nada de romântico em amar alguém incondicionalmente. É um trabalho duro, é a coisa mais difícil do mundo. É como o homem que me disse que não tem motivos para amar sua esposa, ele a ama porque ama. Pois com “motivos” ele quer dizer os motivos exteriores. Não é só porque ela é bonita, talentosa, rica, nenhuma dessas coisas físicas. Ele ultrapassou essas coisas e a ama só porque ele a ama. Isso é amor em nível de alma.
Para ouvir depois de ler: I Am - Christina Aguilera
E aí está também o começo do problema de muita gente. De um lado, não é porque amamos que temos que suportar tudo. Intimidade não é tortura. De outro, qual o limite de intimidade possível? O quanto é intimo demais? Isso, se é que tal conceito existe!
Acontece que escolher o amor não é o mesmo que escolher a paz. Na verdade, amor está mais para guerra. As pessoas associam casamento e amor verdadeiro a romance, mandar flores, jantares românticos à luz de velas e até coisas mais profundas, como trazer filhos ao mundo. Mas o romance vai e volta. Uma hora seu marido ou sua esposa são melhores amigos e outra hora eles estão na casa do cachorro.
Então, confundimos discutir um problema com discutir a relação. A grande maioria de nós vive num movimento pendular de tudo ou nada, vida ou morte, amor eterno ou rejeição aguda, dedicação total ou rompimento. Será que relacionamento é esse conjunto de sobressaltos? Esquecer uma data, não dar presentinhos todo dia, não poder conversar quando o celular toca no trabalho, essas são coisas normais.
É verdade que em alguns casos precisamos mesmo discutir a relação e os hábitos. E isso deveria ser encarado como uma coisa positiva! Assinalar diferenças é sinônimo de compreender o outro, suas neuras e sonhos, de se colocar no lugar dele – com os olhos dele – e, muitas vezes, de se comprometer com um futuro de interesses mútuos.
Todo mundo que está acompanhado precisa respirar e permitir que o outro tenha seu espaço, sua hora de fazer suas coisas. E, claro, se permitir e se acostumar a tê-lo também. Por mais feliz que você esteja com essa pessoa, vai me dizer que você não gosta de poder ficar em casa um sábado comendo porcaria e ouvindo música brega bem alto usando roupas velhas?
O que faz tudo funcionar é a habilidade de um amar o outro incondicionalmente. E não há nada de romântico em amar alguém incondicionalmente. É um trabalho duro, é a coisa mais difícil do mundo. É como o homem que me disse que não tem motivos para amar sua esposa, ele a ama porque ama. Pois com “motivos” ele quer dizer os motivos exteriores. Não é só porque ela é bonita, talentosa, rica, nenhuma dessas coisas físicas. Ele ultrapassou essas coisas e a ama só porque ele a ama. Isso é amor em nível de alma.
Para ouvir depois de ler: I Am - Christina Aguilera
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