sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Algumas considerações sobre vegetarianismo

Estou planejando falar sobre isso há meses, mas não sabia ainda qual caminho seguir. Eu parei de comer carne tem cerca de nove meses e, quando eu ainda comia, detestava quem vinha pra cima de mim com argumentozinhos escrotos e vídeos de animais sendo mortos de forma sangrenta. Do meu ponto de vista, gente que faz isso não tem nada diferente daqueles evangélicos chatos que querem que todo mundo ao redor descubra a palavra de Jesus.

Eu reciclo meu lixo e tenho, diria, o mínimo de preocupação com o meio ambiente, mas posso garantir que dó dos animais não foi o principal motivo da minha decisão. Aconteceu que, mesmo não pensando nisso, começou a ficar cada vez mais complicado pensar de forma separada: um pedaço de carne, no animal ou no meu prato, não passa de um pedaço de carne. A diferença básica é que a do meu prato passou por inúmeros processos de cozimento e foi empanturrada de temperos cheirosos para disfarçar que ela está, veja bem a palavra, apodrecendo. Não há argumento contra isso; tá cortado fora do bicho, já começou a apodrecer. E eu não quero colocar isso dentro do meu corpo, obrigado.

Não comer carne é, para mim, uma opção mais saudável para melhorar meu estilo de vida já tão desregrado com refrigerantes e lanches rápidos. O lado ético veio depois. Quando você para de comer carne você começa a se sentir aquele personagem do filme de suspense que tem certeza que viu os fantasmas, mas ninguém acredita. Será que só eu vejo que o discurso que se usa para justificar a exploração dos animais é o mesmo que, no passado, usamos para defender a escravidão e a desigualdade de direitos entre homens e mulheres?

Além da saúde, não comer carne virou um pequeno protesto, minha maneira de boicotar uma indústria que destrói o meio ambiente e explora, tortura e mata animais – sem contar que parar de comer carne abre todo um questionamento sobre tradição e autoridade. Afinal, trata-se de algo cultural que agora, como ser humano autônomo e pensante, eu posso negar.

Eu adoraria estar cercado de pessoas que pensassem assim, mas não me sinto desconfortável com que não o faz. Mas eu também não quero entrar em discussões com quem não está interessado em ouvir sem pedras nas mãos. Trata-se de uma escolha que deve ser respeitada e, se eu não ajo como superior pra cima de você, espero que não faça o mesmo pra cima de mim. Pelo menos reflita antes.

Para ouvir depois de ler: Meat Is Murder – The Smiths

5 comentários:

All about... (vegan) food disse...

Ler este post me faz relembrar os tantos momentos que tivemos ao redor do assunto, até mesmo antes de começarmos a conviver. Acho que provavelmente já nos dissemos tudo o que podíamos sobre ele, coisas que concordamos ou discordamos, e fico muito, muito feliz em ver que faço parte de alguma forma da sua decisão de mudar.

Só uma coisa que eu ainda bato na tecla: pregar é sempre chato, mas não há nada demais em informar, trocar idéias, na minha opinão. Falar com quem quer ouvir. Talvez colocar uma (mais uma) pulga atrás da orelha.

Claro que como vegan, eu acredito na ética (o que é diferente de sentir pena), no não tratamento do animal como objeto de consumo, mas esse é apenas o meu pensamento, a base da minha escolha.

Hoje mesmo escrevi um texto para uma revista que vai sair na Alemanha falando sobre o vegetarianismo e veganismo no Brasil e uma coisa abordada foi o questionamento a uma tradição, a uma cultura, ainda existente.

Questionar faz bem pra alma.
=*

Alysson disse...

Confesso que nunca tinha parado pra pensar nisso. E admito tb que eu não seria vegetariano por dois motivos: COMODISMO e GOSTO.

É bem cômodo se alimentar daquilo que todos em minha casa comem. E eu simplesmente detesto verduras pelo gosto que ela tem (acho até que minha língua foi geneticamente modificada).

Nem pretendo contra-argumentar, até porque admiro essa postura ambientalista. Eu respeito, mas não quero e nem consigo fazer igual.

Abração Gabriel!

João Damasio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Damasio disse...

Um dia eu chego lá. Como o Alyson, eu mal consigo comer verduras. Este texto é melhor que muuuuito discurso de ambientalista.
Eu sou Educador Ambiental, mas não mantenho discursos taxativos sobre o que eu mesmo não faço.
O melhor é realmente respeitar sabendo que cada um tem seu tempo e suas razões.

Abraços, João Damasio
JD - Jornalista Descaradamasio(http://jornalistadescaradamasio.zip.net/)

Gabriel Cadete disse...

ah, mas não tem tanto a ver, sabia? eu não gosto de verduras até hoje. abrir mão de carne não tem a ver com começar a comer só folha. hoje, por exemplo, meu domingo foi mega junkie, com lasanha quatro queijos e espinafre, sprite e sorvete de creme, haha. pensa nisso. vc não troca carne por nada, você só deixa de colocar no prato. o resto fica igual, arroz, feijão, batata, alface, tomate, massas...