quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O problema dos livros

Tudo começa de maneira inocente: você está na casa do seu amigo ou amiga conversando despreocupadamente, e ele ou ela te fala o quanto aquele livro é legal. Você olha a capa do livro, olha a cara da pessoa, sente o peso do livro na mão e profere as famosas últimas palavras: - Posso levar?

Últimas palavras para o livro, é claro. Ele vai se juntar àquela gigantesca pilha que você deu o nome de "Livros que eu preciso ler urgentemente", cujo tamanho é o mesmo da vergonha que você sente ao olhar para ela. Você só sente vergonha maior quando olha para aquelas outras duas pilhas: a "Livros que eu preciso muito ler urgentemente mesmo" e "Livros que eu preciso ler e devolver senão não conseguirei mais me sentir um ser humano novamente". E eu deixo as pilhas perto da prateleira de livros que já li e isso causa, aposto, ciúmes entre eles.

Pegar emprestado livros que você sabe que não vai ler é um misto de querer abraçar o mundo (vou ler todos os livros legais que me recomendarem), de superestimar a própria capacidade de leitura (amanhã vou ler "Em Busca do Tempo Perdido", "O Tempo e o Vento" e uns dois ou três volumes da enciclopédia Barsa, antes do almoço) e de ter uma espécie de piedade desnecessária pela pessoa que está te oferecendo o livro emprestado (ele vai ficar magoado comigo se eu não aceitar; coitada, ela está oferecendo tão assim de coração).

Mas o pior é que nem são apenas os emprestados – mas é impressionante como meu semblante faz com que os outros pensem que presente perfeito pra mim seja sempre um livro. Tudo bem, gosto de ganha-los, mas parece que a pessoas entra na Leitura do Pátio, fecha o olho, rodopia e aponta pra uma prateleira. Daí tenho também uma pilha de livros que ganhei e nunca li. Dos que li, raros gostei. As minhas pilhas em casa estão cada vez maiores, quase do tamanho da minha irmã mais nova. Tenho a esperança que alguma mágica aconteça e que, durante uns três meses, meu dia tenha 576 horas, em vez de só 24h. Aí, sim, meu problema com os livros que não li estaria resolvido.



Para ouvir depois de ler: Spineless - Alanis Morissette

domingo, 16 de dezembro de 2007

Um brinde a Amy Winehouse

Imagine uma moça magrinha que é a mistura da Janice, de “Friends”, com a Fran Fine, da série “The Nanny”. Agora cubra esta pessoa com tatuagens pin-ups e naivy e lhe dê o alcance vocal de Aretha Franklin, mas com a rouquidão sexy de Etta James. Pronto, você acabou de criar Amy Winehouse.

Nascida e criada numa família judia no subúrbio de Londres, Amy ganhou sua primeira guitarra quando era ainda uma garotinha. Ela e o irmão, Alex, até tentaram formar um grupo de rap. Seu pai era taxista e sua mãe farmacêutica, mas eles tinham um histórico de músicos de jazz na árvore genealógica. Ela já canta e toca há muito tempo, mas foi só depois de “Rehab”, uma bem-humorada e biográfica canção sobre overdose e reabilitação, que a moça apareceu nas paradas e conseguiu divulgar todo o seu trabalho - os álbuns “Frank” (2003) e “Back to Black” (2006).

Mas o negócio é o seguinte: Amy Winehouse, independente dessas coisas, é uma ótima artista. Tem uma ótima voz, boas letras e um super bom-humor – mesmo sóbria. E ela está lançando como aposta de vendas pro Natal seu primeiro DVD ao vivo, com as melhores canções dos dois álbuns. Novamente, ela não larga a birita durante o show todo, mas ela está uma delícia e cada segundo vale à pena de ver, rever e cantar junto. Chears!

Texto completo aqui.

PS: O DVD chama “I Told You I Was Troube: Amy Winehouse Live in London”, vem com 20 – sim, eu disse vinte – músicas e ta custando em média 40r$. Tô super aceitando, ok?

domingo, 9 de dezembro de 2007

Digitei meu nome no Google

E apareceu, além de resultados de vestibulares e fóruns que eu nem lembrava que existiam – muito menos que participei -, muita bizarrice. O primeiro foi esse site aqui, de um projeto desenvolvido na faculdade que agora eu vejo e acho uma merda. Foi há muito tempo e eu não lembro o nome de metade das pessoas – mudei de turno.

O segundo é essa notícia de esportes aqui! “Gabriel Santos pode ser o último reforço do Galo”. Hilário. O terceiro deu num site recheado de fotos de carinhas lutando. Que eu me lembre nunca pratiquei luta livre – bom, não profissionalmente. Mas é que o webmaster do site é meu xará. Mas também achei esse, um hotsite sobre Yoga que fiz há um bom tempo também. Achei o máximo e hoje, ao reler, percebi alguns erros de português, mas faz de conta que eu não vi. Atualmente tem o blog com amigos e o blog da empresa também.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Quem mexeu na literatura?

Ontem, dentro do ônibus, reparei que uma das mulheres que teve sorte de conseguir sentar-se segurava um catálogo de livros. Eram várias capas bonitas com preços chamativos. Mas nenhum me chamou mais atenção do que o “Como Lidar com Pessoas Difíceis” – que custava apenas 5,99 r$. Isso mesmo.

Não sou categoricamente contra livros de auto-ajuda. Acredito ser possível dar idéias para ajudar os leitores. Mas acho que, na verdade, só não sou um defensor ferrenho da extinção do gênero pois me divirto com títulos como esse. Eu vi num site um que se chama “Are You Your Mother?”.

É verdade, não são escritos com tanto apuro quanto um volume de Shakespeare ou Twain, mas eles vendem tanto que é certo que estão funcionando - ou pelo menos atraindo leitores. Afinal, quem não quer ler “Você Pode Influenciar Pessoas” ou “Como Vencer Discussões – Mesmo Estando Errado”? Quer dizer que podemos mandar e fazer todo mundo obedecer? Discutir com o chefe e receber um aumento? Tô dentro.

Porque, por mais canastrões que esses livros sejam, não são como aquele e-mails safados que chegam prometendo te ensinar inglês durante uma soneca. Os livros de auto-ajuda foram elaborados durante um bom tempo, em geral por psicólogos, médicos ou professores de renome e certificado na parede. Talvez não funcione para 100% das pessoas, mas se ajeitarem a vida de dois ou três, você não acha que já valeu?

Na verdade, acho que funcionam pois a pessoa já está pré-disposta à mudança, né? A mocinha tá cansada da vida e vê um livro desses, baratinho, na livraria do shopping: batata. Compra, lê, muda tudo, separa, viaja. E, se tudo der certo, em breve vira a famosa autora do best-seller “Descubra as Contas que Aquele Cachorro do Seu Ex Mantinha na Suíça".

Para ouvir depois de ler: Everybody Knows You Cried Last Night - The Fratellis

sábado, 1 de dezembro de 2007

Da arte de ver TV nas férias

Gente, já é dezembro. Que coisa, não? Será que ouso escrever que passou rápido? Passou, mas é muito clichê falar isso, né? Esquece então. O negócio é que o mês doze sempre vem acompanhado de algumas coisas muito boas. A comilança natalina, as promoções de celulares por 10 reais e as férias. Ah, as férias.

Eu geralmente não viajo e nesse dezembro-janeiro-fevereiro não será diferente, mas adoro e até prefiro – pois, afinal, que opção de viagem eu tenho nesse Brasil se eu odeio praia, sol, cachoeira, sítio, fazenda e samba? Adoro ficar em Belo Horizonte nas férias. Posso beber cerveja todo pôr-do-sol. Posso ir ao cinema nas terças-feiras! Posso acordar tarde. Em casa lendo. Em casa vendo TV.

O-ou! A TV. Eu não me responsabilizo se, em duas semanas de férias, eu já souber de cor todas as histórias daqueles programas imbecis que passam nos canais abertos de tarde. Por que é assim: eu vejo cerca de quatro horas de TV por semana (sim, apenas isso!). Todas elas usadas na TV por assinatura. Mas uma vez que você passa o dia inteiro em frente àquela caixa você perde o interesse.

Os senhores Hanna e Barbera fizeram pra lá de 150 desenhos espetaculares, mas o Boomerang passa 18 horas seguidas de "Dom Pixote". Todos os episódios de "Detetives Médicos", do Discovery, sempre começam com a frase "era um dia como outro qualquer na pacata cidade de...". O History Channel só fala sobre a Segunda Guerra Mundial, o People & Arts passa sempre o mesmo episódio de "Feira de Antiguidades" (ainda que o programa tenha 21 anos de acervo). A HBO exibe um monte de programinhas de bastidores antes de começar um filme e, quando ele começa, nunca é o filme do qual tratava o programinha. Já reparou nisso?

Então o lema dessas férias é: “Mexeu comigo? Mexeu com a Márcia!”.

domingo, 25 de novembro de 2007

Saldo

Se tem uma coisa boa em aniversários é a reflexão. As pessoas param pra pensar em suas vidas apenas nessa data – e ocasionalmente no ano-novo. Eu geralmente não chego a conclusão nenhuma em nenhuma das datas citadas a não ser a de que um ano se passou. Parece redundante, mas não é. O único conceito de tempo que eu devia ter é o de que ele está passando.

Fiz 20 anos na semana que passou. Vinte. É incrível o tanto de coisa que já fiz e já passou por mim. É aliviante ver as coisas que quis e tive como fazer e não fiz. É patético lembrar de certas coisas, nostálgico de outras. Eu me sinto totalmente livre e, ao mesmo tempo, completamente atolado de planos. E certos planos são armadilhas. Mas apesar de todo o inferno (astral) que passei e passou, apesar das decepções e choros, dos tapas e socos e dores, também houve música, e amores, e cócegas e cicatrizações.

domingo, 18 de novembro de 2007

Já está escutando os sinos natalinos?

Pois é. Nem eu. Mas não é isso que as lojas querem que a gente responda. Porque se depender delas, o Natal começou lá pelo dia primeiro de novembro. Acontece que o calendário que eu e você conhecemos – aquele de 365 dias divididos por 12 meses – não é o adotado pelo comércio. O calendário deles é bem diferente.

Funciona assim: o ano para eles começa no final de dezembro, pós-Natal, quando chega o carregamento de roupas brancas, taças de champagne e cartazes com o ano seguinte escrito e estampado em letras brilhantes. Isso vai até o dia 2 de janeiro, quando a decoração de Reveillon dá lugar à decoração de Carnaval. Essa, por sua vez, dura bastante: acaba só lá por março. Máscaras de bailes antigos e confete em todas as vitrines desse meu Brasil.

Aí chegam os ovos de Páscoa de todos os tipo. E fica todo mundo morrendo de claustrofobia nas Lojas Americanas escolhendo qual vai querer e se decepcionando com o que ganha. Mas nem bem o coelhinho passou e já é substituído por tudo o que é relacionado com mães. Daí dá-lhe rosas vermelhas enfeitando as vitrines, juntamente com a palavra “Mãe” escrita em letras bem bregas, itálicas e com glitter.

Mamãe nem bem abriu o presente e tudo vira decoração de namorados. Corações bregas, ursinhos de pelúcia bregas e lingeries provocantes bregas tomam conta dos estabelecimentos. Dia dos Namorados é de longe a data mais comercial na minha opinião.

Passou o 12 de junho, é a vez do papai. Gravatas, maletas e, óbvio, a palavra “Pai” escrita em letras bem bregas. Logo depois vem o dia das crianças e as propagandas incrivelmente toscas da Brinkel que divide sua compra em até oito – sim, eu disse oito – vezes sem juros.

Por isso, enquanto os pais ainda estão devendo, aparece um panetone aqui, um pinheirinho ali, uma música da Simone acolá e mal você se dá conta de que o Natal chegou – e ainda estamos em outubro. Então, dá-lhe a overdose até o dia 26 de dezembro quando, como vimos anteriormente, começa o ano novo na cabeça dos lojistas.

A lei dos pisca-piscas funciona ao contrário: podem falhar, mas nunca tardam.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Os Strokes já têm 8 anos.

Por que alguém chegou e me disse que a única banda que tinha acompanhado desde o começo era Strokes. E eu pensei “aff, cala a boca – Strokes começou, tipo, ontem”. Aí depois parei pra pensar e, tsc tsc, eles são de 99. Noventa e nove! Aquela bandinha junkie tá caminhando pra uma década de existência já, minha gente.




Top 5 motivos pra gostar de Strokes

Eles são competentes: É, eles são todos filhos de empresários milionários e podiam viver assim, ser playboys e não trabalhar nunca. Tudo bem que ter uma banda de rock não é lá muito trabalho, mas uma vez que ela faz sucesso é preciso ser objetivo e organizado. Coisa que eles, mesmo bebendo e fumando no palco por exemplo, conseguem ser – nunca ouvi falar de um show que tenha sido uma merda.

Eles são bem-humorados: Pode ser the beer speaking, mas eles têm muito senso de humor – e eu acho isso fundamental em todas as pessoas. Os clipes de “Someday” e “Juicebox” mostram isso muito bem - além das performances ao vivo, atitudes com fãs e letras.

Eles são retrôs: Ver o clipe de “Someday”, por exemplo, é quase voltar aos anos 70. As carinhas junkie, os cabelos desgrenhados, as botinhas, os all stars, as calças justas e os casacos jeans. O estilo Strokes de se vestir foi muito importante nos anos 2000: enquanto David Beckham fazia heteros se vestirem como gays, os Strokes faziam os gays se vestirem como roqueiros.

A bateria é boa: Acho que muita gente concorda quando digo que uma das coisas mais marcantes das músicas dos Strokes é a bateria. As batidas são rápidas e agradáveis. Sem contar que Fabrizio Moretti é um dos caras mais bonitos que já passou por esse planeta. Deusquebenza.

O vocalista dança: No comecinho do clipe de “You Only Live Once”, o vocalista Julian Casablancas canta fazendo caretinhas e dançando de um jeito muito bonitinho. Eu sei que pareço uma pré-adolescente falando isso, mas é que, tirando a voz, antes desse clipe eu não via charme nenhum nele.

sábado, 10 de novembro de 2007

"Friends" em comum

Monica teve um curto relacionamento com um homem chamado Richard. Não durou muito, mas foi intenso. Quando ela o confronta sobre questões do futuro e vê hesitação em sua fala e em seus olhos, desiste. Era necessário parar de se ver para que pudessem esquecer – um o outro.

Eles param de se ver, mas não de se gostar. Monica não consegue pensar em mais nada. Não dorme bem, não acorda bem. Ouve as músicas dos dois, lê os livros dele, assiste seus programas de TV favoritos e tem a impressão de vê-lo em toda e qualquer rua por qual passa. A pior sensação é a de não saber a resposta pras seguintes questões: ele se importou? Ele também está triste? Ele também sente falta de conversar comigo?

Até que uma visita surpresa de seu pai muda tudo. Ela pergunta o motivo de uma inesperada visita à filha e ele diz que queria saber se ela estava bem. Ele tinha visto Richard. E, caramba, ele estava acabado, miserável, morrendo de saudades dela. Segundos depois de ouvir isso, Monica consegue finalmente pegar no sono. Seu pai a cobre e vai ver TV.

“Friends” é definitivamente a melhor comédia de todos os tempos pois ultrapassa limites em todos os sentidos – inclusive o de gênero. O episódio acima pode parecer sádico ou cruel, mas é reconfortante. Saber que o outro também sofre dá a impressão que a sua dor não foi em vão. E é disso que sinto falta: retorno.

Para ouvir depois de ler: Let’s Talk About Spaceships – Say Hi To Your Mom

domingo, 4 de novembro de 2007

Legalizar é o começo ou o fim?

Alguém aí viu “Tropa de Elite”? Acredito que sim. É o filme mais falado nesse meu Brasil. Não virou meu favorito, mas achei bem interessante. A parte que eu mais gostei é ele ter levantando uma discussão (que, aliás, já cansei de ter) sobre legalização das drogas.

Nesses meus 19 anos já fui a lugares onde poderia ter escolhido qualquer coisa pra usar. Foram inúmeras possibilidades de experimentar alguns dos poucos tipos de drogas que conheço. Aliás, se há alguma ignorância de que me orgulho é a de não ter usado nenhuma na minha vida. Não é uma experiência que quero ter. Não por me opor em termos morais – conheço muita gente que usa, usou e tals – mas não é pra mim.

Tem uma cena que um policial atira em um traficante e pergunta para um estudante que está no morro quem o matou. Depois de insistirem numa resposta o cara olha para os policiais e diz “Sei lá, um de vocês”. E ele responde: “‘Um de vocês’ o caralho! Foi você! Você que financia o tráfico!”.

Achei isso poderoso pois, de uma forma ou de outra, é verdade. Sempre me vi tentando ser neutro mas não dá mais. É preciso que o usuário também entenda a responsabilidade dele na engrenagem toda. Se há tráfico, violência, assaltos e et ceteras, é porque existem compradores, não? Não consigo mais fingir entender ou não me chatear com pessoas usando uma blusa da Zoomp com estampa de cannabis...


“Quantas crianças vamos perder pro tráfico pra que o playboy possa fumar um baseado?”

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Frasário

Grandes cadeias de livrarias reservam uma prateleira inteira para eles. E lá estão. De longe vejo. Geralmente pequenos. Geralmente rosas. Os livros otimistas. São livrinhos baratos, de poucas páginas recheados de frases para que o leitor “comece bem o dia”.

São inúmeras falas retiradas de grandes romances de Victor Hugo ou Mark Twain descontextualizadas e colocadas na boca desses autores como se fossem suas respectivas filosofias. Mas estamos acostumados com isso desde que William Shakespeare não sabia se seria ou não seria e que Carlos Drummond de Andrade virou apenas uma pedra no meio do caminho. E agora, José?

Não que eu não goste de citações, eu só também não tenho costume de colecioná-las. Já li algumas muito boas. “Leva-se muito tempo para ser jovem”, disse Picasso, por exemplo. Tem uma que li em um desses livrinhos na fila, desconheço o autor, mas lembro que diz: “Mentes são como pára-quedas; só funcionam depois de abrir”. Mas eu acrescento: cuidado que se estiver muito aberta fica fácil colocar bobagens lá dentro.
Para ouvir depois de ler: Those Sweet Words - Norah Jones

domingo, 14 de outubro de 2007

Prêmio Ignobel 2007


Pra quem não sabe, todo começo de outubro é época do Prêmio Ignobel – aquela sensacional paródia do Nobel que premia pesquisas bizarras e escracha com seus cientistas. Com vocês, alguns dos vencedores da edição 2007.

Medicina
Brian Witcombe, de Gloucester, Inglaterra e Dan Meyer, de Antioch, Estados Unidos, por seu incisivo relatório médico intitulado “O Ato de Engolir Espadas e Seus Efeitos Colaterais”.

Física
L. Mahadevan, de Harvard, EUA, e Enrique Cerca Villablanca, da Universidade de Santiago do Chile, por desenvolver um estudo a respeito da mania dos lençóis em ficarem amarrotados.

Química
Mayu Yamamoto, do Centro Médico Internacional do Japão, por desenvolver um método para extrair odor e sabor de baunilha de estrume de vaca.

Literatura
Glenda Browne, de Blaxland, Austrália, por seu estudo sobre artigos (“the”) e os vários problemas que eles causam para qualquer um que esteja tentando organizar títulos em ordem alfabética.

Paz
O Laboratório Wright, da Força Aérea em Dayton, Estados Unidos, por pesquisar o desenvolvimento da “bomba gay”, que faria com que os soldados inimigos se tornassem sexualmente irresistíveis uns aos outros.

Aviação
Patricia V. Agostino, Santiago A. Plano e Diego A. Golombek, da Universidade Nacional de Quilmes, Argentina, por descobrir que Viagra ajuda a atenuar os efeitos do jet lag em ratos.

Para ouvir depois de ler: Tick Tick Boom - The Hives

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Auto fidelidade

Eu passei um tempo afastado de “Alta Fidelidade”. Vi o filme em 2001, li o livro no mesmo ano. Comecei a reler no início desse ano - o que não deu certo devido à preocupações com a faculdade. E no último domingo eu finalmente revi o filme. Dirigido por Stephan Frears e estrelado por John Cusack. E, apesar de achar o Jack Black um ator medíocre e pra lá de forçado, estou absolutamente convencido que essa é a minha comédia favorita.

Eu não vou falar que sou Rob Fleming/Gordon (Cusack), pois não sou. Já fui bem mais parecido e talvez me torne mais. Mas atualmente não. Porém, o filme tem sacadas geniais de todos os lados e me faz perder e reerguer a esperança no amor cerca de 50 vezes ao longo de seus 120 minutos. A história começa quando sua namorada, Laura, lhe tasca um pé na bunda e ele lista os piores fins de namoro que teve. Com a lista em mãos, ele decide procurar cada uma das ex para descobrir o que há de errado com ele e poder, assim, reconquistar Laura.

Ele é dono de uma loja de vinis. Junto aos seus funcionários ele pensa em inúmeras listas musicais. “Top 5 músicas sobre morte”; “Top 5 músicas 1 de lado A”, então...

Top 5 Coisas Que Amo em Alta fidelidade

5: A Trilha Sonora: Jack Black canta “Let’s Get It On” (única merda do filme) mas tem também “I Want Candy”, “I’m Wrong About Everything” (John Wesley Harding) e “Always See Your Face” (Love). E Bob Dylan, Stereolab, The Velvet Underground, Stevie Wonder, The Kinks e 13th Floor Elevators.

4: A Chuva: Não tem nada capaz de me fazer mais triste do que chuva. Sempre achei essa coisa de “água que cai do céu” um tanto quanto poético e melancólico. E isso parece estar no filme. Toda cena de desespero de Rob, toda vez que ele chora, toda vez que perde as esperanças, está chovendo. Mas há algo de bonito e refrescante na chuva também. E o recomeço de tudo (o sexo com Laura no carro) é uma cena em que esta chovendo. E ela poderia o ter deixado, ter dito que havia se arrependido. Mas não. Foi, na verdade, o começo de uma nova história.

3: Marie DeSalle: Tanto no livro quanto no filme (interpretada por Lisa Bonet) essa cantora é uma das minhas mulheres favoritas. Ela é esclarecida: faz sexo com Rob pois ambos estão carentes e decepcionados com o término do relacionamento anterior. Ela acredita que sexo é simplesmente um direito humano, completamente separado de sentimentos. “Eu não vou deixar que os sentimentos que ainda mantenho por ele [o ex] me impeçam de fazer um sexo de qualidade”, diz ela na manhã seguinte. Sem contar a clássica cena em faz Rob chorar com “Baby, I Love Your Way” – uma das músicas mais bregas da humanidade.

2: Congratulations, Laura: Ao listar os cinco finais de relacionamento que mais mexeram com ele - Alison Ashworth, Penny Hardwick, Jackie Allen, Charlie Nicholson e Sarah Kendrew - ele vira pra câmera e confessa: “Ok, Sarah não me magoou tanto. Eu só classifiquei ela pra que a Laura não entrasse na lista". Porém, algum tempo depois ele descobre que foi trocado, e não chutado. Como se isso não bastasse, o novo cara é o antipático escroto Ian Ray (Tim Robbins), ex-vizinho do casal. Depois de tentativas inúteis de pegar no sono, Rob chega a uma triste conclusão e diz: “Parabéns, Laura. Você acabou de entrar no Top 5”.

1: O final feliz: Do meio pra frente, o filme toma rumos diferentes do livro. Um deles é a presença de um esperançoso final feliz com um singelo pedido de casamento. A cena tem um dos monólogos mais legais do filme: Rob confessa que pode até desejar outras mulheres, mas sabe que elas são fantasias e que Laura é real e boa pra ele. É tudo que ele sempre quis e tudo que ele decidiu querer até morrer. Ele admite que cansou de pensar no passado – o que eu considero um feito inestimável.

Para ouvir depois de ler: A Hard Day's Night - The Beatles

domingo, 7 de outubro de 2007

Fitas cassetes

Há algum tempo precisei de fitas cassetes pra fazer um trabalho de rádio. Coisa antiquada, né? Nesse mundo (pós?)moderno, que qualquer um dentro do ônibus tem um MP3 player, pra quê ainda fita cassete? O que me levou a outra questão: o que fazer com as fitas antigas?

Aí me passaram um site que tinha umas sugestões bacanas. A minha favorita é fazer um colarzinho com essas fitinhas de secretária eletrônica (como eu nunca pensei nisso antes?). Mas no site tem umas coisas ótimas envolvendo pop art, robozinhos, cintos e cartucheiras.





Para ouvir depois de ler: The Modern Things - Björk

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Que pressa, ein?

Estou lá, descendo a rua e reparo que estou andando deveras rápido, como se estivesse atrasado ou fugindo – e nem sempre estou. Se tem uma coisa que me espanta é isso: a pressa. Não que seja ruim (sabiam que eustresse é o nome do estresse que faz bem?) mas é que várias vezes é desnecessário. A sociedade atual está tentanto forçar amizade entre a pressa e a perfeição, mas não está dando certo...

3 – Comedores de letras: “to aki em ksa. qqr coisa mi da 1 tok”. Vou te dar é um soco na cara, ô analfabeto. Eu demorei 3 segundos para escrever aquilo ali em cima. Pra escrever corretamente (“Estou em casa, qualquer coisa me liga”) demorei 5. Ok, esses 2 segundos vão fazer diferença de verdade pra você?

2 – Balançar fotos Polaroid: Com revelação tradicional você precisa levar o filme ao laboratório e esperar pelo menos 1 hora. Com câmeras digitais você precisa descarregar em um PC e mandar imprimir. Polaroid ainda é a maneira mais rápida de se ter uma fotografia física, não é? Então qual a diferença ela estar pronto em cinco minutos ou em quatro com você balançando a foto?

1 – O botão de FP: Tem coisa mais patética? Você entra no elevador e a porta vai se fechar em cinco segundos. Pra quê apertar o botãozinha de “fechar a porta”? O que aqueles segundos vão mudar na rotina do seu dia? Seria pior subir de escada, por exemplo. As pessoas realmente viram escravas de coisas que, há pouco tempo, nem existiam.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A verdade de alguns filmes

Várias vezes a história de um filme precisa ser mudada durante as gravações ou mesmo antes do início das filmagens. Os motivos são vários. Mas o fato é que eu consegui – por fontes seguras – o argumento original de alguns dos mais famosos filmes.

Dogville – O roteiro desse filme passou por duas grandes mudanças: a primeira foi a sábia escolha de não fazer um filme sobre um vilarejo totalmente habitado por cães falantes. Com essa mudança, a Disney pulou fora do projeto, deixando a verba incrivelmente pequena, o que resultou na falta de cenários e de final conclusivo para a trama.

Lost In Translation – Por incrível que pareça, a idéia original de Sofia Copolla era a de mostrar o cotidiano de um tradutor de idiomas falido que, para sobreviver, dava aulas de reforço para crianças da 6ª série. Todo o processo de mudança do roteiro começou quando o pai dela que leu o script e disse “ta faltando uma mulher aqui”.

Dancer In The Dark – O famoso filme cult com a cantora islandesa Björk ia ser, na verdade, um longa-metragem infantil. Lars Von Trier deixou escapar numa entrevista recente que o roteiro consistia basicamente em um grande flashback, onde o personagem principal lembrava de seus tempos de criança, em que brincava de cabra-cega na vila onde morava.

Paris, Te Amo – Originalmente, seriam vários curta-metragens sobre a patricinha Paris Hilton. Mas dizem que um magnata (Donald Trump, aposto) bancou o valor que fosse para que a temática mudasse. “Ninguém agüenta mais ouvir falar nessa loira egocêntrica”, teria dito o empresário.

Para ouvir depois de ler: Homecoming - The Teenagers

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Top 5 Músicas de Títulos Doidos

Há algum tempo vi esse blog que une as duas coisas mais legais do mundo: música e listas. Não o leio com freqüência, confesso, então não sei se já fizeram o que vou propor agora. Mas é que hoje eu estava cantando “Bizarre Love Triangle” do New Order e percebi como o título não tem nada a ver com a canção. Então...

Top 5 músicas que o título não tem nada a ver com a letra

5. Bizarre Love Triangle – New Order
4. Lazy Eye – Silversun Pickups
3. Wraith Pinned to the Mist and Other Games – Of Montreal
2. Bachelorette – Björk
1. I Constantly Thank God For Esteban – Panic! At The Disco

Alguém lembra outra?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Divina (e inútil) proporção

A mulher estava lá, descendo a ladeira, via um sujeito parado e, como quem não quer nada, começava um andar mais gingado. Algo que deve vir de algum método antigo de acasalamento. Aposto que você pensava que as mulheres rebolavam para chamar a atenção de alguém. Mas não é nada disso.

Li hoje na Folha de São Paulo: num estudo envolvendo matemáticos e pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, deu-se que mulheres com relação de 0,7 entre cintura e quadril, rebolam. E, vejam só, geralmente as mulheres têm mesmo a cintura com 70% do tamanho do quadril, daí a maioria delas rebola. É praticamente uma questão genética ou óssea.

E, para provar, mediram várias divas por meio de imagens. Você acha que o andar sexy de Jéssica Alba, Sophia Loren e Alessandra Ambrósio eram por motivos aleatórios? Todas elas, mais Vênus de Milo, têm a relação de 0,7. Marilyn Monroe tinha 0,69.

Quando as moças que liam o texto comigo já estavam indo pegar uma fita métrica, pensei: calmaí, Vênus de Milo não é uma estátua?! Ok, uma estátua grega da deusa do sexo e da beleza, uma relíquia arqueológica, mas uma estátua! O que ela está fazendo numa pesquisa sobre rebolado?!

Se pesquisadores estão vendo estátua rebolar, concluímos que a pesquisa é uma furada. Mulheres rebolam por causa dos ossos ou da ginga ou do formato das pernas, tanto faz. Pois, no fundo, a sedução está nos olhos de quem vê.

Para ouvir depois de ler: Femme Fatale – The Velvet Underground and Nico

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Entrevista com Márcia Tiburi

Márcia Tiburi é graduada em filosofia e artes e mestre e doutora em filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escreveu vários livros de filosofia e recentemente lançou o livro “A Mulher de Costas”, segundo romance da Trilogia Íntima. A primeira parte, “Magnólia”, foi finalista do prêmio de literatura Jabuti em 2006. É também professora, colunista de revistas e integrante do programa “Saia Justa”, do canal GNT. Foi uma entrevista recheada de gesticulação, sinergia, risos e palavras difíceis. Não difíceis daquelas que ninguém sabe o significado, mas daquelas que deixam a fala bonita. Das que me deixavam em dúvida entre admirar a inteligência dela ou me envergonhar da minha ignorância.

P: Os dois primeiros volumes da trilogia falam sobre mulheres. Qual a diferença? Do que se tratam os livros?
R: “Magnólia” é a história de uma mulher que se encontra com ela mesma. E isso acontece, por exemplo, se olhando no espelho, talvez descobrindo uma memória perdida ou tendo que enfrentar seus próprios botões. Enfim, você enfrenta algo que é a sua própria fantasmagoria. É um romance um pouco solipsista, de auto-encontro com aquilo que o sujeito tem de enganação de si. Pois ele é o que ele é, o que ele não sabe que é e o que ele não é. Então há esse jogo de descoberta do dentro e do fora, por um personagem. E “A Mulher de Costas” é uma história de uma mulher que se encontra consigo mesma, que ao invés de se enfrentar com um espelho se enfrenta com um deserto. Enquanto “Magnólia” fica dentro de casa, abre uma gaveta e faz uma viagem pelo jardim pra depois poder voltar – e atravessar com isso vários infernos –, “A Mulher de Costas” é uma mulher que simplesmente faz uma travessia de um deserto para outro deserto. É a história de uma princesa moura encantada, que faz parte da mitologia gaúcha, que é a lenda da salamanca do Jarau, que eu conto da minha maneira.

P: E porque Trilogia Íntima?
Eu comecei a escrever essas histórias todas ao mesmo tempo, tanto “Magnólia”, “A Mulher de Costas” e “O Manto” – que ainda estou escrevendo. E “íntimo” pois queria falar desse solipsismo, dessa convivência e auto-experimentação. O íntimo é essa convivência. A busca solitária e a descoberta. Mas acho que o que tem de meu, tem de universal. As pessoas que leram e me deram retorno, conseguiram entrar nessa viagem. Pois não é uma viagem minha que eu dou a elas, mas uma proporcionada aos leitores através dos personagens.

P: São histórias independentes, porque estão na mesma trilogia?
R: Sim, são livros independentes, mas estão interconectados, há integração entre eles. O que não tem é uma linearidade. Não há uma cronologia que explica “Magnólia” como primeira história e supostamente uma tese, aí “A Mulher de Costas” como antítese e depois “O Manto” como uma síntese. É o contrário! O que tem de comum entre as três é essa experiência de entrega ao mesmo e ao outro e a tentativa de compreensão dessa Banda de Möbius, desses dois lados de uma mesma moeda – onde cada lado é um lado mas compõem um mesmo elemento. Relato ou novela não é uma coisa que eu estou atrás de fazer. Respeito quem faz, claro, mas não é o que eu faço.

P: E a sua filosofia está aparecendo nesses romances?
R: Acho que é a linguagem que aparece na literatura. A filosofia está incorporada em mim e faz parte do meu vocabulário e as questões que estão entranhadas, visceradas, também. Mas eu não tenho um projeto literário à base da razão, ao contrário, eu me interesso por tudo aquilo que foi catalogado por todos os gêneros da literatura. Eu acho que o exercício literário é a sua chance de esquizofrenia (risos). Esquizofrenia para o bem!

P: Como é escrever sobre filosofia atualmente?
R: A filosofia se tornou importante no Brasil, que está aprendendo a democracia. Na ditadura não havia espaço para pensamento livre e é natural que agora a filosofia entre na moda. E tomara que de fato as pessoas se envolvam em reflexões críticas na política, no cotidiano, na responsabilidade ética.

P: Mas há espaço para ela no mundo da informação instantânea?
R: A atenção no próprio pensamento nos torna filósofos do mundo da informação instantânea. O que a filosofia deve fazer é recolocar a atenção que nos é arrancada pelos meios de comunicação no lugar dessa atenção. E, ao meu ver, também mostrar como é o olhar vagaroso sobre as coisas.

P: Você acha que a filosofia está mais acessível às pessoas?
R: Há sim uma vontade das editoras, dos meios de comunicação, da própria esfera culta da sociedade, talvez de uma classe média um pouco mais esclarecida que gosta de cinema e literatura e vai gostar também de filosofia. Mas ainda não dá pra fazer muita festa porque o trabalhador explorado, além de estar excluído do jornal ou da internet, não tem dinheiro para livro nenhum e não está lendo nada. Mas há sim uma vontade de abertura à filosofia por parte das classes lúcidas, que tenta recolocar parâmetros e rever posicionamentos práticos.

P: Como tem sido a resposta para a tentativa de levar filosofia para a TV, com o “Saia Justa”?
R: Um pouco de informação erudita sempre é possível. E esse programa tem um formato, em si mesmo, filosófico. Pois ele é um fórum de mulheres emitindo opiniões. Mais ou menos fundamentadas. É isso que me anima em fazer esse programa: são pessoas diferentes que se propõem a conversar em torno de temas tentando construir um diálogo. Acho que as mulheres foram proibidas de falar ao longo da história da humanidade, então vejo esse programa como um oásis no seio da sociedade patriarcal.

P: O programa é muito criticado por falar demais de sexo...
R: É um programa de TV com todos os defeitos que os programas de TV têm. Mas é que no Brasil se faz muito sexo, há muita pornografia, mas na hora de falar sério sobre o assunto parece que você está cometendo uma heresia. Educação sexual, por exemplo, no Brasil é inexistente. Mas a gente discute também esse cinismo que a gente vive. Sobre política, questões de ética – no sentido de comportamento. Mas é um programa de fala aberta então há muita interferência. E a TV, pela falta de tempo e necessidade de linearidade, limita muito.

P: É verdade que você está escrevendo uma autobiografia tem dez anos?
R: Sim. Começou como um romance em 1998 e eu escrevo e reescrevo, reescrevo. Por que o mais difícil é reconstruir a memória de sua infância. Aliás, se tem alguma coisa boa de se falar da vida de alguém, a meu ver, é a infância, pois o resto é a vida besta de todo mundo. A vida minha e sua que diferença vai ter? Que grandes feitos são tão importantes na vida de alguém para que ele acha que pode contar? Não sei. Mas é que minha vontade é de conseguir memórias perdidas do tempo em que a vida era pura poesia. E no lembrar você vai imaginando coisas, mas eu me divirto com o descortinar desse passado.

Quem quiser ler/ver a entrevista na íntegra é só me perguntar quando vai ao ar ou me pedir um exemplar do jornal :)

sábado, 25 de agosto de 2007

Competição de perdedores

Eu ficava indignado ouvindo minha mãe e meu tio conversando sobre o que tinham almoçado. Ambos de dieta, parecia uma competição pra ver quem tinha comido menos. “Eu só comi brócolis, rúcula e uma fatia de peito de frango”. “Ah, eu comi duas fatias, mas não bebi nada”. “Mas eu nunca bebo”. “Mas eu só como quando estou morrendo de fome”. “Mas acho que isso faz mal”. Ai. Ouvir essa prestação de contas era um saco.

Mas eu reparei que isso é pra lá de comum. E nem sempre as conversas concentram-se em comida. Aliás, podem ser sobre qualquer coisa. A diferença é que muita gente está por aí tentando perder a competição.

“Ai, eu estou tão sem dinheiro”. “Eu só tenho 15 na carteira”. “Eu só tenho 15 no banco”. Qual a graça de ficar competindo pra ver quem tem menos? Um “puxa vida, eu também” finalizaria a conversa bem melhor. O cristianismo católico acusou o lucro como pecado há centenas de anos. Mas os vestígios estão aqui ainda.

Tente dizer pra alguém que você trabalha mais que ele e que, portanto, tem mais direito de estar cansado, por exemplo. Rapaz, ele vai virar uma fera e argumentar que “todo dia tem muita coisa pra fazer”, que está sobrecarregado, sem tempo pra nada, sofrendo. É quase impossível alguém dizer “é, meu trabalho é fácil e delicioso”. Mesmo que seja, a pessoa é escrava da aparência de sofrimento.

E depressivos? Se eu chegar e falar que eu tive depressão pra alguém que também teve e tratou com remédios eles praticamente me batem. Se acham mais vítimas, mais merecedores do título da patologia. Por mim, que fiquem. Não quero competir pra ver quem é mais mentalmente perturbado.

E é por isso que me encontro muito sozinho ultimamente. Cercado de pessoas, na verdade. Mas solitário. Porque todos têm problemas pipocando em suas respectivas vidas. Mas as pessoas acham muito mais interessante falar dos seus do que ouvir o do outro – é natural isso. Então fico eu aqui calado. Cada nova tentativa de compartilhar minhas indagações e frustrações é interrompida pelo interlocutor contando “um caso pior”.

Para ouvir depois de ler: End Of A Century - Blur

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A grande idéia

Ontem acordei cedo com uma grande idéia. Dois minutos depois, percebi que não era tão boa. Mas, durante sessenta segundos, fui tomado por um otimismo contagiante e por aquela sensação de euforia presente nos momentos especiais da vida. Aquelas que me provocam a ilusão de que estou vivendo cenas de um filme, e me fazem pensar que dali para frente nada mais será como antes.

Mas depois passou.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Amor da Primeira Série


Eu sinto falta daquele amor puro e descompromissado da primeira série. Não que os outros amores que tenham passado por mim fossem menores ou maiores, mas foram diferentes. O amor da primeira série era um amor de olhares e descobertas. Eu não sabia que, para as outras pessoas, amar não era suficiente e nem que o sexo importava tanto. Aliás, eu desconhecia qualquer tipo de sexo, ponto G, beijo de língua, pegada.

Realmente não faço idéia se machuquei alguém e realmente espero que não. Mas, para mim, muitos corações e muitas pessoas se tornaram irrelevantes. Enquanto outras eu não consigo tirar da mente. E o amor da primeira série foi o único a ir embora e não deixar dor.

Eu lembro dos nomes, situações e histórias. Cartinhas às escondidas, pedidos de namoro, vergonha, palpitação. A descoberta do amor na primeira série e o que senti naquele tempo é o que me faz querer amar sempre.


Para ouvir depois de ler: Por perto - Pato Fu

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ela está de parabéns

“O nome dela está entre artistas como Beatles, Elvis e Frank Sinatra. Assim como nós, Madonna é a voz de uma geração. Só tenho que me curvar e aplaudir” – Paul McCartney



Madonna nasceu há 49 anos, às 7h08 da manhã, na cidade de Bay City. Madonna passou a sua infância em Pontiac e mais tarde em Rochester Hills (outro subúrbio de Detroit). Em Dezembro de 1963, quando Madonna tinha cinco anos, a sua mãe morre de câncer da mama, aos trinta anos de idade. O pai casa com Joan Gostafson, a governanta da família, que é sua esposa até hoje.

Frequentou a Rochester Adams High School, onde se distinguiu como boa aluna (QI 140) e, contra a vontade do pai, Madonna começa a ter aulas de dança aos catorze anos. Concluiu o ensino secundário e entra na Universidade do Michigan no curso de dança, mas aabandona o curso e com apenas 35 dólares muda-se para Nova York com o objetivo de seguir uma carreira de bailarina.

Passou por dificuldades econômicas e muda de planos: ao integrar a turnê do cantor disco Patrick Hernandez (conhecido por seu único sucesso, "Born To Be Alive"), conhece Dan Gilroy em Paris, que seria seu namorado e junto com o qual fundaria a banda "Breakfast Club", onde Madonna muda de atuação algumas vezes (foi baterista, guitarrista e vocalista). Depois do fim da banda, Madonna criou outra, a “Emanon” (‘No name’, ‘sem nome’, ao contrário) carinhosamente chamada de "Emmy", com um antigo namorado, Stephen Bray. Os dois brevemente decidem afastar-se da banda e começam a trabalhar só os dois em canções.

Assim, uma fita cassete com as canções que Madonna criou com Bray chegou às mãos do produtor e DJ Mark Kamins que a entregou à editora discográfica Sire Records, que contratou Madonna em 1982.

Música à música, as canções da fita são lançadas como singles compactos no mercado (nenhum com fotos dela, para o público achar que se tratava de uma cantora negra (!)) e fazem um bom sucesso. Então é encomendado o primeiro álbum, que é um estouro.

O resto é história.

Para ouvir depois de ler: How High - Madonna

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A foto da minha aura


Para fazer uma matéria para um programa de bem-estar e saúde, há cerca de uma semana, eu tirei fotos dos meus dedos. É uma técnica chamada bioeletrografia. Uma máquina Kirlian registra todos os gases e vapores exalados pelo nosso corpo e a foto da ponta dos dedos mostra estruturas e cores variadas. É a aura do dedo – mas não a aura mística, não a alma, mas sim esses gases e vapores que estão ao redor do nosso corpo sempre e tudo e tal. Depois de reveladas, as fotos são minuciosamente analisadas e associadas com leitura corporal. E hoje saíram meus “resultados”.

A especialista pediu para conversar comigo em particular antes da gravação. Me entregou o relatório e me apontou um desequilíbrio energético leve. Notou a presença de stress, depressão, culpa e decepções na minha aura. Além de conflitos emocionais tendentes à carência afetiva.

Cada coisa é detectada e relacionada com uma parte do corpo (decepção tem a ver com a bexiga, por exemplo, e se sua aura mostra que ela está desnorteada logo algo nesse campo também está). Assim, ela me disse que meus rins e intestino pedem que eu me imponha mais no mundo, que tente sempre dar uma personalidade minha às minhas atividades. Pouco a pouco, falamos de vários órgãos, sistema linfático, baço, coração, pâncreas e chegamos à próstata: ela estimula impulsos sexuais e ela percebeu algo diferente ali.

- Você passou por... er.. algum conflito sexual?
- Eu sou gay.
- Ah!

Por ser uma terapeuta mística – como ela mesma se define – a indicação terapêutica envolve um floral. Mas outras coisas também, como andar descalço, usar meias e cuecas vermelhas, saborear a água ao beber e me olhar mais no espelho. Na conclusão e por alto, ela falou que eu preciso me impor mais, conversar mais sobre meus problemas e resolver uma questão do passado que eu tenho segurado e que vem me fazendo mal. “Ou você solta ou segura de uma forma que seja confortável”.

Para ouvir depois de ler: Innocence - Björk

domingo, 12 de agosto de 2007

Cat Power / Chan Marshall diz:

"Eu tinha 19 anos [quando comecei a me apresentar como Cat Power]. Não tinha amigos, só a música. Era a única coisa que me dava um senso de grupo, que me ajudava a me relacionar com as outras pessoas e me sentir menos solitária. E permitia expressar a merda pela qual eu estava passando. Se não fosse isso, nem estaria viva agora"

Para ouvir depois de ler: Hate - Cat Power

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Quadrados e esteriscos


A palavra “senha” e seu significado quando eu era criança são completamente diferentes das que eu tenho agora. Antes era um código, uma chave de acesso a um mundo diferente e que eu muito desejava fazer parte. Havia algo de misterioso e secreto nisso. Hoje há senha pra absolutamente tudo que eu preciso fazer. Senha é uma coisa adulta.

E muito se engana quem pensou apenas em cartões de crédito, débito e poupança. Para o e-mail, você precisa de uma senha. Para entrar no seu blog, outra senha. Para entrar no MSN, outra senha. Para poder ler aquela matéria fechada para assinantes, senha. Cada loja online pede que você se cadastre tem senha. No site do estúdio de cinema e da sua banda favorita. No PC da empresa, senha. No da faculdade, senha. Foi virando uma rotina. Mas pra cada lado que olhamos temos uma senha diferente pra decorar.

Isso se você não usar a mesma senha para tudo. O que eu fazia até alguém me dar um peteleco na testa e dizer que, apesar de prática, a idéia é um tanto perigosa. Porque se alguém algum dia descobrir minha senha, vai automaticamente acessar meu orkut, meu blog, o Submarino e meus tediosos arquivos da faculdade.

Senhas que são sua data de nascimento ou seqüências como 1234 não são recomendadas. Especialistas querem que nós, mortais, pensemos em números sem sentido pra juntar com o apelido do nosso primeiro cachorro! Seria uma senha imbatível, mas indecorável também.

No espelho do meu armário, por exemplo, eu tenho todas elas divididas em 3 post-its. A do MySpace, fotologs e do last fm. Ao lado do monitor deixo a senha do site da companhia de celular. No computador da minha casa a do MSN e do e-mail tão gravadas. É fisicamente impossível decorar tudo isso, tenho mais o que fazer!
Pra ouvir depois de ler: Imitation Of Life - REM

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Dos lugares que nunca estive

Adoraria poder fazer uma dessas viagens descompromissadas com a data de retorno e com o máximo de despesas. Se eu tivesse muito dinheiro e decidisse viajar, pra onde iria?

Não tenho certeza, mas acho que começaria nos Estados Unidos. É um país de tolos, mas eu não posso deixar de considerá-lo, é mais forte que eu. Preciso realizar o idiota sonho de infância e ir aos parques da Disney, brincar no máximo de atrações possível, comprar o máximo de bugigangas coloridas possível, tirar fotos estúpidas com pessoas fantasiadas.

Depois, Nova York. Ficar pelo menos um mês na Big Apple e fazer absolutamente tudo aquilo que vejo nos filmes. Acho muito legal ver os personagens falando desesperados aos celulares carregando cappuccinos em copos de isopor. Pick-nicks no Central Park de dia e baladinhas alternativas de noite. O máximo de junk-food possível – por que eu adoro e lá tem de todas as redes pelo menos uma loja. Tirar fotos nas locações de filmes e séries que gosto. Ia ser ótimo.

Daí, iria pro Reino Unido, em resumo, me embebedar. Toda a chamada “cultura PUB” é sensacional pra alguém como eu (hipoteticamente rico e descompromissado). De dia naqueles programas de tias: visitar, ver e fotografar a cidade, os monumentos, os castelos e de noite sair e fazer brindes com canecas gigantes de chope irlandês.

Aí começaria com a parte continental européia. Passar um tempinho em Portugal e na Espanha aproveitando bastante da culinária desses lugares. Uma passada na Itália não seria nada mal pelos mesmos motivos. Na França o mesmo esquema de Nova York: repetir costume de filmes. Cafeterias bonitinhas e museus sensacionais.

Depois descia pra África. Uns 15 dias lá. Na primeira semana podia ficar em algum daqueles hotéis resorts gigantescos e luxuosos. Fazer um safári um rafting ou uma dessas bobagens – só pra falar que fiz. Aí voltava pro norte do continente e fazia aquela coisa obrigatória de celebridades de “ver a pobreza de perto”. Quem sabe adotava alguém lá!

Depois ia pro Japão. De dia comer sushi horrores e passear pelos vários lugares lindos que existem por lá. Tirar um milhão de fotos em Tóquio, meditar em campos com cerejeiras e de noite, claro, as famosas e singulares baladinhas japonesas. E comprar tudo quanto é parafernália tecnológica bem barata.

Talvez – apenas talvez – descesse ali pra Austrália, só pra ver como estão as coisas e tirar umas fotos na Opera House.

Seria demais :)

Para ouvir depois de ler: I've Seen It All - Björk

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Últimas Considerações sobre Paris


Qualquer um que já foi ao Pátio Savassi comigo sabe que lá é um lugar deprimente pra mim. Eu tenho a sensação de que todos são mais bonitos e ricos que eu. Sensação, pois sei que não são - bom, nem todos. O que acontece muitas vezes é que a moça feia é rica, portanto, bem cuidada. Você vê que o cabelo dela está impecável, que a roupa é fina etc. E isso explica em parte o motivo de alguém no planeta achar aquela bunda azeda da Paris Hilton bonita. Eita, a mulher é o capeta oxigenado.

“Simple Life” é um dos programas de televisão mais engraçados do planeta. Mas não acho interessante transformar Paris Hilton em musa ou exemplo pra ninguém. Eu admito que ela é muita coisa que eu queria ser: rica, inconseqüente e superficial. Mas eu não sou nenhuma dessas três coisas. E acho realmente triste admirar os dois últimos itens como qualidades.

Famosa porque é popular e popular porque é famosa. Quando ela esteve no Brasil li uma adolescente de uns 15 anos dizer que se Paris morresse amanhã, ela se matava, pois era tudo na vida dela. Talvez a loira seja a personagem símbolo de um movimento válvula de escape dos novos ricos. Talvez ela seja o sonho da classe média alta. Mas desde quando irresponsabilidade é algo pra ser admirado?
E acho que ela parece um traveco - o que explicaria essa paixão vazia que 90% dos gays têm por ela. Mas eu já cansei de falar sobre isso. Cada vez deixo passar mais o assunto. Eis o juramento de nunca mais falar dessa moça-que-só-deu-certo-porque-deu-errado. Ela merece os fãs que tem? Não sei. Mas do inverso tenho certeza.
Para ouvir depois de ler: Meeting Paris Hilton - CSS