domingo, 27 de abril de 2008

Amor de irmão é uma piada.

Quem tem irmãos ou convive com gente pequena deve saber: crianças são capazes de inventar as brincadeiras mais nonsenses da paróquia. E o legal é que, apesar do amplo repertório comum – com jogos do tipo esconde-esconde, taco, chá de bonecas e afins – toda criança teve suas brincadeiras particulares. Como as minhas com Isabela.

Como muitos sabem, Isabela nasceu quando eu tinha seis anos e era a estrela da casa. Foi duro ter de dividir o posto com um bebê que parecia um queijo branco. No conviver, a pessoa absorve um pouco de você e a identificação foi aparecendo e fomos ficando o mais amigos que podemos ser com essa diferença de idade.

Tínhamos, por exemplo, mania de inventar música pra todas as coisas. Quando nossa mãe fazia um pudim, tinha uma musiquinha. Quando pegávamos elevador, tinha outra. Era muito engraçado.

Nosso quintal tinha uma cratera quadrada gigante que meu pai gostava de chamar de “buraco onde vamos construir uma piscina”. Um dia, munido de cubinhos de chiclete, fazia bolas com eles e cuspia dentro desse buraco. Um a um, logo havia uma pequena plantação de bolas vazias e vermelhas dentro da piscina. Chamei Isabela e disse: “Tá vendo aquilo? São ovos de aliens”.

Hoje nosso catálogo de piadas internas é tão vasto que, num almoço em família, peguei meu avô dizendo pra minha mãe: “Eu não entendo nada que eles conversam”. Claro que não. Uma conversa nossa, em dias de bom-humor, envolvem falas de filmes, séries, rimas, trocadilhos e musiquinhas.

Explicação? Até hoje não achei. Mas são memórias inexplicáveis que só me fazem sorrir.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Um álbum saboroso!

“Hard Candy”, o novo CD de Madonna, vazou na internet no final de semana e me causou dois alívios. Primeiro pois eu estava muito curioso e agora, finalmente, ouvi as canções. Segundo pois pude ouvir e concluir: ele é bom!

Estou bem aliviado pois, quando vi a capa, eu não acreditei. Achei estranha. Quando ouvi o primeiro single, “4 Minutes”, eu morri: é uma música estranha, com uma letra pra lá de fraca, com buzinas e featuring Justin Timberlake.

Mas o álbum tem um conceito e letras muitos mais profundas do que as que esperamos de um CD dance. Ele começa com “Candy Shop”, uma canção fraca mas gostosa que abre o track list. Aí vem “Give it 2 Me”, uma música produzida pelos Neptunes. Nada de sexual na canção, ok? Fala sobre “deixa comigo que eu dou um jeito, ninguém vai me deter”. Super animada e serve direitinho em qualquer pista de dança. Será o segundo single, aposto.

“Heartbeat”, como disse uma amiga minha, é bem legal por ser moderna e, ao mesmo tempo, bem Madonna. Uma música bonita sobre o prazer de dançar e uma ponte muito legal. Depois vem “Miles Away”, produzida pelo Timbaland. Bem eletrônica mas com violões, fala sobre amor à distância. Ela canta nuns agudos e sobe umas notas como ela nunca fez antes. Nota 10, linda música.

Destaque pra “Incredible”, uma canção sobre como você só percebe o quanto as coisas estavam ótimas quando elas ficam ruins. Começa rápida, desacelera e anima de novo. É melancólica, mas dançante. Aí vem “Beat Goes On”, do Kanye West com Neptunes, bem diferente da versão que vazou, mais dançante e com mais malabarismos vocais. Depois tem “Dance 2tonight”, com back vocais do Justin. Dançante e sóbria, tem um ar oitentista e lembra “Kiss” do Prince.

“Spanish Lesson”, a próxima canção, é diferente do resto do álbum – que é redondinho – e tem umas batidas quebradas. É como se Madonna tivesse sido produzida pelo Gogol Bordello aqui. Ela fala umas coisas em espanhol, mas o conceito da música, em resumo, é “dance sem se importar com a letra”. A próxima chama-se “Devil Wouldn’t Recognize You” e é genial - pudera, Madonna prometeu essa canção em "American Life" e depois no "Confessions" e a faixa nunca era finalizada de uma forma que a deixasse satisfeita. A letra é mais pessoal, o clima é um pouco mais pesado, bem menos dançante. Lembra “Cry Me A River”, do Justin. A canção fala sobre como podemos ser prepotentes, achando que estamos fazendo o suficiente, salvos e que nem o diabo nos reconheceria.

Eu adorei “Hard Candy”. Estava com medo de Madonna se perder com esses produtores, mas isso não aconteceu - ela sabe o que faz e esse CD prova isso de uma forma deliciosa. Pharrell Williams subiu no meu conceito! Agora até já acostumei com a capa. A primeira frase de "Voices" pergunta: "quem é o mestre e quem é o escravo?". E "Madonna" é a resposta pras duas perguntas.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Chega de Saudade




Nostalgia é mais comumente referida como um sentimento de saudades que qualquer pessoa pode ter, freqüentemente é associada com lembranças da infância. É a saudade daquela coisa boa que não volta mais. Mas a pós-modernidade é um ciclo, meus senhores, e tudo volta. Por exemplo, o B-52s voltou. Alguém se importa?

Sim, muitos. Mas não é esse o tema desse texto. O negócio é que eu olho ao meu redor e sufoco em saudosismos vazios. Pior que isso: negação às coisas novas só porque são novas. Isso é ficar preso no tempo.

O que aconteceu de bom foi bom e passou. O que é bom e novo – se também é bom – deve ser considerado também. É muito complicado pegar um ex-hippie e colocar ele pra ouvir o novo CD da Madonna, não vai dar certo. Mas um meia-idade que curtia o som de Aretha Franklin ou Dionne Warwick provavelmente vai gostar das músicas de Amy Winehouse.

Aliás, talvez nem seja isso que me revolte. Afinal de contas, nessa vida de modernos, quem tem tempo de parar pra pesquisar sobre o que está sendo ouvido? Se você não se mantiver um pouquinho informado sobre o cenário musical por dia, não dá pra chegar e entender de uma vez assim. O que me irrita um pouco é a nostalgia histérica.

Tipo assim: eu não nego a contribuição que fizeram para a música, mas não é forçar a barra engolir coisas inéditas de Ney Matogrosso, Caetano Veloso e Mutantes? Achar que isso é se atualizar é mentir pra si mesmo – e mentir pra si mesmo é mentir para o mundo. Coisas novas de gente antiga têm uma outra áurea. Se a pessoa buscou atualização, ponto pra ela. Se não, que venha o próximo.

Não sei. Eu nunca consigo explicar isso direito pra pessoas mais velhas que eu. Elas acham que estou falando pra elas assistirem MTV. Então, deixa.