domingo, 26 de junho de 2011

Ini-amigos

Um dia desses eu fiquei pensando em alguns amigos do passado, em como cada um de nós foi para um lado diferente da vida. Nessa categoria de amigos, existem variações menores: aqueles que eu nunca mais nem ouvi falar, aqueles que eu encontro de vez em quando, aqueles que só “vejo no Facebook” e aqueles com quem eu ainda saio e bebo e converso.

Pelo menos um de cada categoria pode ser considerado um ini-amigo. Pessoas que já foram muito próximas e que, por nunca lhe terem feito nada de ruim, você não pode simplesmente dispensar da sua vida. Mesmo que vocês conversem pouco, ninguém tem culpa de vocês conversarem pouco. Ok, soa redundante e babaca, mas eu sei que todo mundo tem alguém assim na sua vida.

O que me fez refletir sobre esse assunto? Bom, várias coisas. Uma dessas pessoas abandonou tudo que tinha aqui (o que não era muito, adiciono) para tentar a sorte em outro país, em outro continente. Admirável, corajoso e muito invejável.

Especialmente por mim, que não tenho peito suficiente para uma investida dessa. Os exemplos são vários e vários. Conhecidos que moram fora mas também os que estão casados com aquela pessoa que foi o seu primeiro amor, ou aqueles que arranjaram o emprego dos sonhos deles antes que eu encontrasse o meu. Etc, etc.

Por isso gosto do termo “ini-amigos”. É que há uma compreensão e um companheirismo em torno da pessoa mas, mesmo assim, há também um pingo de inveja dela ou pelo menos algum nível de competição entre a gente.

Sei que no cinema e na música posso buscar outros milhares de exemplos, então sei que não estou louco. Isso realmente existe na vida de todo mundo, certo?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Divas x Divas


Todo mundo sabe que não sou lá fã de futebol. E só tem uma coisa mais chata que torcedor comemorando a vitória do time que torce: gente comemorando a derrota do time rival. Mas esse texto não é sobre o esporte, é sobre “divas”.

Não vou entrar no mérito do que elas são e de quem merece ou não o título de diva, mas percebi que elas são tipo times de futebol para alguns.

Se sua cantora favorita lançou um CD ou um clipe que você achou legal, você vai lá decora as músicas, as coreografias e arrasa na boate. Mas parece que se outra cantora lançou uma coisa que você achou ruim, você pode fazer piadas com as pessoas que gostam dela. Como se as vendas de um CD fossem um reflexo honesto sobre a qualidade das músicas...

Parece que muita gente esqueceu daquela época que o Lennon estava na plateia do Jagger e agora é cada um por si. Não pode gostar de Shakira e J-Lo, por exemplo. Acho uma babaquice esse tanto de viadinho agindo como se isso realmente importasse, ficando realmente ofendido e ofendendo uns aos outros por causa da pessoa que eles admiravam (olha isso!). Como se você ser fã de tal ou tal cantora definisse o seu caráter, seu senso de humor, seu lugar no mundo, seus valores.

É estranho. Tem muito preconceito no mundo com os gays e eles ainda conseguem arranjar um motivo a mais e besta como esse para brigar. Fora dessa comunidade são raros os casos, o resto do povo não está nem aí. "Eu gosto de Móveis e você gosta de Pato Fu. Ok, então". Mas não, não pode ser assim. Se o fulano gosta de Kylie e você gosta de Beyoncé, vocês tentam um explicar pro outro porque sua 'ídola' é melhor que a dele". Não, gente! Não é assim! Foda-se.

Na verdade, o maior problema é que não é apenas uma questão de gosto, é uma questão de ódio. Olha só: eu não vou muito com a cara do povo do Offspring, sabe? Então eu não baixo CD da banda e não vejo os clipes dos caras. Eu não corro atrás de tudo que eles fazem para poder anotar o que eu acho errado e jogar na cara dos fãs da banda. O que não gosto na banda não é uma prova irrefutável de que ela é ruim, não funciona assim. E muito menos irei usar os elementos que eu não gosto do Offspring para justificar a minha idolatria por outra banda. São artistas diferentes e há espaço para todos - talvez não no meu iPod, mas no mundo sim.

(Lady Gaga é um bom exemplo do contrário. Eu gosto dela. O que ela faz está longe de ser genial, mas também está longe de ser medíocre. O clipe novo saiu e, antes que eu pudesse ter tempo livre para ver, todas as pessoas que eu conheço e que não gostam dela já tinham visto e estavam pra lá e pra cá falando que o clipe é ruim. Oi? Que tara é essa? Pra quê isso? Deixem pra lá se vocês não gostam)

As pessoas também esqueceram que música é arte. E arte, em sua excelência, é subjetiva. Eu gostar não faz a coisa boa; eu não gostar não faz a coisa ruim. Estamos claros? É de uma arrogância muito grande comportamentos limitados desse tipo, rivalidades imaginárias como essas.

Que tal todo mundo perceber que o que você deixa de fazer pode ser exatamente o que deixa o outro feliz? É pedir demais que as pessoas se foquem naquilo que elas gostam? Acho que seria uma boa.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Em que planeta você vive?

“Não acredito que todas essas bandas foram confirmadas no Planeta Terra. Já tô lá! (nunca ouvir falar de nenhuma)”

Alguém postou isso no Twitter dia desses, antes dos ingressos do festival se esgotarem, e eu ri muito. Resumiu bastante o que eu acho dessa febre toda de um festival com meia dúzia de bandas esgotar os trocentos mil ingressos em poucas horas.

Tem um amigo que chama essas coisas de Nutellas. Vocês lembram quando Nutella era uma coisa muito, muito cara? Todo mundo que tinha experimentado tinha gostado e fim. Aí ficou mais barato e, agora, todo mundo ama Nutella mais que a vida e quer casar com Nutella e ter filhos de Nutella. Nutella é tudo de bom, maravilhoso, melhor coisa do mundo e eu sempre gostei desde criança. É isso que está acontecendo com a música?

Mas ó, sou o primeiro a falar: não sou uma pessoa atualizada. Demoro para ver e ouvir aquilo que todo mundo está vendo e ouvindo agora. Sabe aquele cara vacilão que vem falar do novo CD da banda quando ela já está quase lançando o próximo? Pois é, sou eu.

Por isso, tudo que vou falar aqui agora tem pouca credibilidade, mas eu fico muito intrigado quando anunciam aquelas bandas que eu realmente nunca ouvi falar e geral vem comemorar quase com orgasmos.

(E quando tocam Florence and the Machine na boate? Povo berra a letra como se fosse a última música que vão ouvir na vida. E essa babação em cima da Adele agora? Eu, sempre o último a pegar essas coisas, tinha pensado em falar assim com um amigo: “Sabe a Adele, daquela música 'Chasing Pavements'? Já ouviu o novo CD dela?”. Antes de chegar à quarta palavra da frase fui interrompido por um “Meu deus, ela é maravilhoooooosaaaa!”. Até levei susto. Gente, é boa, mas não é isso tudo, fiquem calmos).

Tem uma safra de novos artistas que eu sei quem são, eu já ouvi ou já ouvi falar. Me passaram os clipes, vi no "SNL", etc. Estou cercado de pessoas antenadas em música e trabalho com isso. Mas sério, vocês realmente amam tanto assim The Vaccines? E Toro Y Moi é mesmo isso tudo? Vocês realmente ouviram algo do Peter Bjorn and John além daquela música do assobio? Poxa, vocês não só estão com tempo como são bem reservados.

Sim, pois antes do line-up do Planeta Terra, por exemplo, ninguém nunca falou de nenhuma dessas pessoas. Nunca me indicaram, nunca me passaram um link, nunca citaram numa conversa. Nunca vi nada a respeito desses artistas vindo da boca das mesmas pessoas que agora estão se matando ali na fila dos ingressos. Estranho, né?

Aquele seu amigo de bigode e de xadrez que acabou de twittar que o show da Sharon Jones foi o melhor do mundo nunca tinha mencionado a mulher antes - mas, claro, sabe todas as referências do último clipe da Lady Gaga e ficou falando mal dele no Twitter a semana passada toda. Talvez eu é que esteja abilolado demais com a minha ideia utópica de que as pessoas deviam falar mais é daquilo que as agrada. Ou é mesmo uma inversão de valores?

Não duvido que as bandas que citei sejam boas (aliás, vou até procurar ouvir tudo delas para entender a melação), mas elas também são só exemplos, não é nada contra elas, tá?

Fiquei pensado se isso era uma continuação daquela veia de pensamento do começo dos anos 2000, do “eu sou mais indie que você” e concluí que não. Afinal, se você quer provar que é alternativo e you've probably never heard of it, não pode se vangloriar de conhecer artista que está vindo pro Brasil, né? Você tem é que citar uma banda underground da Macedônia que nem lançou o primeiro EP ainda. Quem toca em festival já é mainstream demais pra essa galera.

Mas aí eu penso nas últimas coisas que baixei. Adicionadas recentemente no iTunes: Sara Lov, Hunx and His Punx, Cults, Pigeon Detectives, Ultraviolet Sound e Junior Boys. Também nunca mostrei nenhum deles para ninguém. Mas também duvido que fosse saltitar de alegria se algum confirmasse show no Brasil. Então não sei o que concluir. Não sei bem porque o hype alheio me incomoda. Será que é porque não faço parte dele, doutor?

Acho que tudo em excesso é perigoso e isso que presenciei com os ingressos do Planeta Terra é um bom exemplo de como a internet está deixando o povo mais mente fechada que aberta. Está fechando o povo em grupinhos ao invés de colocar as pessoas em contato com coisas diferentes e que façam sentido para elas mesmas. É como se você precisasse conhecer tal e tal coisa para ser cool. Sendo que as tais coisas são sempre novas, nunca um clássico. É sempre a nova do The Killers e não a antiga do U2 – como se fossem super diferentes.

Preguiça. Não preguiça de conhecer essas bandas novas, mas de achar que conhecê-las é o suficiente para alimentar minha cultura musical – especialmente pois há muito, muito mais por aí.

O babacômetro tá chegando num nível alto demais.