segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Viu essa bagunça da "Men's Health"?


A edição de dezembro da revista de boa forma "Men’s Health" traz nada menos que seis chamadas de capa exatamente iguais às publicadas há dois anos, em outubro de 2007. Pelo visto, metade dos destaques da revista atual contém o mesmo texto da edição lançada há dois anos, incluindo as exatas 1.293 dicas para comer melhor.

Na capa atual, o ator sensação Taylor Lautner, do longa-metragem "Lua Nova", já na antiga, o fodão do Jason Stathem, de filmes como "Carga Explosiva", "Revólver" e "Snatch".

O diretor de redação, David Zinczenko, disse (aqui) que a repetição das chamadas faz parte de uma estratégia da marca: "Foi proposital, trata-se de uma ação conjunta dos nossos títulos", e, logo depois, afirmou que os assinantes receberam a publicação com uma capa diferente.

Bom, proposital a gente já sabia, pois ninguém consegue fazer isso aí sem querer, né? O Gawkor, blog onde eu li a declaração do cara, não caiu na balela e termina o texto pedindo novas explicações do editor e ainda zombando: "Faremos uma nova matéria e uma nova manchete para elas".

Casos como o do "KLB é homenageado pela ONU" (lembra disso?) são corriqueiros na era da internet. Uma revista copiar outra, a gente sempre vê. Não que esse pessoal esteja certo - aliás, pelo contrário - mas é bem comum. Agora, você confiaria em uma revista que republica matérias dela mesma? Essa é a pergunta rondando a ação da "Men's Health".

Vamos lá: são textos sobre saúde, muitos são frios, nada deve ter mudado. Por isso, acho bem válido republicar matérias ocasionalmente. Mas colocar mais de uma republicação num único número, todas da mesma edição antiga, e ainda com as chamadas idênticas e no mesmo lugar da capa já é desaforo demais, não? Sem contar a falta de respeito com o leitor.

Não foi a toa que a imprensa americana não engoliu a desculpa do editor e classificou a duplicação como nada mais que preguiça e descuido. É o famoso caso do "ah, ninguém vai perceber". Mas se tem uma coisa que a web mostrou pra gente foi exatamente isso. Sempre tem alguém que percebe.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Acabei de me formar

Em primeiro lugar, agradeço ao primeiro professor do primeiro dia de aula, por me ensinar que, com a devida força de vontade e desempenho, um analfabeto funcional pode sim se transformar em professor universitário, e da matéria Redação e Produção de Texto. Depois gostaria de agradecer à minha professora de diagramação, que não sabia usar um Mac. À professora de Assessoria de Imprensa, por mostrar as inimagináveis e incontáveis maneiras de ensinar uma coisa tão simples da maneira mais complicada e equivocada.

À minha professora de TV, que me mostrou muitas possibilidades de assassínio da língua portuguesa, me exemplificou o que era confusão mental e me ensinou o que é imaginação com as notas que simplesmente inventava. À minha professora de Economia, por me ensinar que, como eu imaginava, compaixão não é uma característica inerente ao economista. Ao outro professor da mesma matéria, que transformava toda e qualquer aula sua em uma incrível palestra sobre o PT.

Agradeço também ao professor L.A. por sua absoluta falta de paciência e prepotência resultantes, deduzo, de uma infância reprimida. Ao professor de Fotojornalismo, por ter me ensinado com maestria que existe picaretagem em todos os lugares, inclusive na fotografia. E, finalmente, ao professor de Redação, um dos piores seres humanos que já passou na minha frente, com um ego incrivelmente cheio de sucessos imaginários e competências facilmente desmascaradas em um diálogo que durasse mais de 10 minutos.

Aos egoístas colegas que acham que estagiar numa emissora de TV sensacionalista é algo nobre. Aos que, no último período da faculdade, não sabiam diferenciar “furto” de “roubo”, escreviam “hilário” sem a letra H e ainda não sabem que o correto é “nada a ver” e não “nada haver”. A todas as mulheres que escolheram ser bonitas a competentes, e a todos os meninos por provarem que o machismo e a homofobia sobreviveram de maneira esplendorosa à virada do século. Todos iluminaram o meu caminho e provaram que, embora a quantidade de alunos seja grande, o nível intelectual da concorrência é bem baixo.

Obrigado a todos!

UPDATE: Ficou ofendido com o texto, foi? Leia esse aqui agora.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Se tem uma coisa que eu não tenho é esperança nessa merda de país

Faltavam poucos minutos para meia noite de sábado para domingo, quando eu e meu namorado fomos cutucados por um PM.

- Vocês estão se beijando?

Não soubemos nem mesmo que respostas dar. Afinal, era uma pergunta absurdamente óbvia. Sim, estávamos nos beijando, como estavam os outros dois casais na mesma pequena praça.

- Acho melhor vocês circularem.

Ficamos sentados no mesmo lugar com cara de quem diz: “você não pode estar falando sério”. Mas, sim, ele estava.

- Gente, mas tem outros dois casais aqui! – argumentei.
- Olha, vamos circular na boa? – disse o policial, naquele tom de quem faz uma ameaça enrustida caso você se negue a fazer o que ele pede.

“Não quero saber não, heim, Fulano. Manda circular”, gritou uma voz de dentro do prédio perto da referida praça. Então ok, fomos embora.

Descemos uma rua para pegar um táxi. Táxi que nunca passava. Em um buffet ao nosso lado estava tendo uma festa. “Você tem o telefone de algum tele-táxi?”, perguntamos ao porteiro.

- Aqui na rua passa táxi toda hora. Não é possível que você não pode esperar um pouquinho!

Sim, essa foi a resposta dele.

Olha, o porteiro não precisava ser simpático, não tinha a mínima obrigação. Mas bastava dizer que não tinha ao invés de ser grosso gratuitamente, certo?

Ser gay fez com que tentassem, mais de uma vez, me bater na rua. Talvez mais de 30 vezes me xingaram enquanto tudo que eu fazia era apenas andar. Agora, se nem na polícia eu posso confiar, gente cujo salário é pago com os impostos que eu pago e cuja função é me proteger, estamos todos fodidos. Não há esperança mesmo pra isso aqui que circularam e deram o nome de república democrática.

Mas, no país das bananas, da bolsa-gás e das pizzas, o texto acima surpreendeu alguém? É, infelizmente a mim também não.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O que esse povo pensa do futuro?

A chamada geração Y, que nasceu nos anos 1980, chegou ao mercado de trabalho. Mais do que esperado, isso gera um enorme choque. De um lado, empresas tradicionais e absolutamente hierárquicas, de outro, recém formados com planos de carreira almejando uma chefia até, no máximo, seus 27 anos. A crise mudou um pouco essa visão dos jovens, mas as empresas estão falhando na adaptação. É equivocado generalizar? Talvez. Mas vamos ignorar isso e seguir e você vai ver onde eu quero chegar.

O que acontece, e aposto que gente como Marcelo Tas me apoiaria nisso, é que os empregadores ainda tratam seu estagiário e trainee como o jovem perdido no mundo que está, por quase um favor, recebendo uma chance de aprender. Em 2009 essa é a maior balela do mundo. Afinal, quem está chegando agora no mercado de trabalho soma mais conhecimento do que era possível antes. Sim, pouca experiência profissional, mas no nível teórico, todos os profissionais de uma empresa estão nivelados quando o assunto é bacharelado, curso de inglês e palestras, sem contar que o jovem de hoje acumula experiências de vida muito diferentes das que seus chefes tinham quando começaram. Portanto, chega desse discurso.

A grande característica da minha geração é que ela foi criada à base do prazer. Meus pais tiravam boas notas pois era a obrigação deles. Eu tirava pois, passando de ano, ganhava um presente. Percebem a diferença? O grande coringa do jovem no mercado de trabalho é esse. Ele trabalhará horas à fio se for em algo que ele goste. Mas, ei, todo mundo sabe que nem todo mundo vai trabalhar em algo que gosta. E aí está outra característica desse pessoal que veio ao mundo na mesma época que eu. Nascidos e encastelados desde então, sucumbem na primeira crítica e não admitem estar errados, o que é um mega ponto contra eles no mercado de trabalho verdadeiro.

Nem todos, inclusive, estão a fim de se darem bem por conta própria. Como Millôr Fernandes disse, ninguém fala mais entusiasticamente de livre-empresa, de leis de mercado e "que vença o melhor" do que a pessoa que herdou tudo do pai. Minha geração não lidou de verdade com política ou guerras e se sente informada lendo sites superficiais. Isso é de um antagonismo gigantesco. Como vários dos de ontem, os jovens hoje falam sobre distribuição de renda, ecologia e sustentabilidade, mas tudo de dentro da casa dos pais, sem ter tido contato real com nenhum desses tópicos e planejando manter essa distância.

Qualidade de vida é isso pra essa galera, é garantir o seu. Não é necessariamente sair da casa dos pais e começar uma revolução na sua vida não. Esse povo quer deixar sua marca no mundo, fazer diferença, chamar atenção, mas com tudo garantido pelos pais antes. O carro, as viagens, o computador, a cerveja e as roupas de grife.

Todas essas características tendem a ficar mais agudas daqui pra frente, nas gerações a seguir, e isso me causa um certo medo. Já agora eu me vejo cercado de indivíduos hedonistas e egocêntricos, tratando tudo ao redor como descartável. No mercado talvez isso seja bom. Afinal, quem é qualificado e não recebe o aumento prometido diz “adeus” e começa em outra empresa logo demais. Mas sei lá...

Me preocupam – e também me fascinam, confesso – esses que não escolhem aprender e/ou se qualificar e os que vivem de freelancer, por exemplo. Eu estou pensando de forma limitada só aceitando empregos de carteira assinada, em já querer um mínimo de segurança para o futuro? É muito fácil se jogar no mundo sabendo que, se der uma merda, a casa dos pais estará seca, sã e salva para você no caminho de volta. Mas será assim pra sempre? O que esse pessoal pensa do futuro?

Quem descansa agora, trabalha muito mais amanhã. Só tô dizendo...

Para ouvir depois de ler: Smells Like Teen Spirit - Nirvana

sábado, 28 de novembro de 2009

Lula me revira o estômago mais uma vez

Entre os vários textos que a Folha de S. Paulo divulgou em relação ao filme que conta a vida do presidente do Brasil, está um do político César Benjamin, que hoje é editor da Editora Contraponto e colunista da Folha.

Ele escreveu um longo depoimento em que narra todos os horrores que sofreu na cadeia, preso que foi aos 17 anos. Depois de narrar ter sido, por exemplo, entregue na cela para “ser usado” pelos outros presos – e que isso acabou não acontecendo – interrompe sua memória longínqua e pula para 1994, quando integrava a equipe que cuidava da campanha eleitoral de Lula na TV:

Na mesa, estávamos eu, o americano [um publicitário importado pelos petistas] ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: “Você esteve preso, não é Cesinha?” “Estive.” “Quanto tempo?” “Alguns anos…”, desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: “Eu não agüentaria. Não vivo sem boceta”.

Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de “menino do MEP”, em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do “menino”, que frustrara a investida com cotoveladas e socos.

(...) O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.

Mesmo assim, não pretendo assistir a “O Filho do Brasil”, que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.

É bem verdade a opinião dele sobre o filme. Não assisti, mas aposto mesmo que nada de ruim no caráter dele foi retratado nesse filme, como bem acontece em muita cinebiografia por aí.

Já sobre a história da reunião... Essas palavras me reviraram o estômago ontem, quando li o texto. Não entendo de política o suficiente para criticar o governo, mas sim o governante, como pessoa. E, nesse assunto, posso dizer que Lula é uma besta, no sentido bíblico mesmo. Pode ser que alguns projetos sociais de sua aba sejam bons, mas é fato que ele sustenta um sistema corrupto, corruptor e alimenta-o. Essas características eu consigo enxergar com muita claridade por detrás desses meus olhos míopes.

Qualquer discursinho de improviso dele é suficiente para concluir que temos atrás do microfone um malandro de um tipo muito comum em feiras de peças de carro usadas. O Lula é um assombro sem precedentes de absoluta canalhice, um boneco na frente de um colegiado que toma decisões – isso todos sabemos. E o que me chama a atenção é mesmo essa composição de forças que o levaram até lá. Como nos livraremos desta gente?

Para ler depois de ler: Nunca Antes na História Desse País - Marcelo Tas

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Quem sou eu para falar de protetor solar?

Não sei se vocês está sabendo, mas esse tal encontro entre os presidentes do Brasil e do Irã envolve mais do que comércio. Como bem disse Alexandre Garcia, quando o assunto é política externa, Lula é da teoria de que é melhor não ficar isolado.

Nosso país, que já tem importante presença no Haiti, voltará ao Conselho de Segurança da ONU ano que vem e recebeu líderes de Israel e da Palestina. Lindo. Mas, por outro lado, hospeda um presidente deposto que não quer eleição, hospeda um italiano que pegou em armas contra uma democracia e agora recebe o Irã.

Enquanto aguardava a chegada do iraniano, Lula conversou com os jornalistas e confirmou sua intenção de propor uma partida de futebol entre a seleção brasileira e um time combinado de jogadores palestinos e israelenses.

Essa é a política externa diplomática do PT paternalista que eu conheço, minha gente. Pois Lula é gente do povo. Vamos pegar gente do Oriente Médio, um dos poucos lugares no mundo capazes de ser palco de uma terceira guerra mundial, e colocá-los para correr atrás de uma bola.

Admito: se a partida acontecer, ganhando a seleção brasileira, ganha o Brasil. Perdendo, ganham israelenses e palestinos, pois estão todos no mesmo time. Metáfora poderosa. Mas a imagem vai ser linda na gringa. Já vejo manchetes falando para os leitores prestarem atenção no Brasil. Olha só ele, o maior país da América do Sul, que não sabe fazer mais nada exceto chutar bola.

Sem contar que acho quase divertido ver Lula usar o esporte para amaciar teocracias. Tem povo mais competitivo que povo religioso?

Dou mais dois cliques no site e vejo que manifestantes fizeram um protesto contra a decisão da Anvisa de proibir o bronzeamento artificial. A instituição veio dizer que ouviu uma tal de Organização Mundial de Saúde alertar que uns estudos mostram que a prática estética aumenta em 75% o risco do desenvolvimento de melanoma – o mais grave tipo de câncer de pele.

Se no Brasil uma partida de futebol é mais importante que uma política externa sóbria e estão fazendo passeado à favor do direito ao câncer de pele, quem sou eu para escrever sobre voto consciente, corrupção, desvio de dinheiro e protetor solar?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

"Celebrate good times, c'mon!"

Essa é uma frase da música "Celebration", do grupo Kool & The Gang. Bem apropriada para a coletânea de mesmo nome que Madonna lançou um tempinho atrás.

Todas as músicas que valem a pena ouvir estão aqui? Sim. Muita coisa boa ficou de fora? Claro. Mas é assim mesmo que seria. Na minha opinião, só faltou colocar um pouquinho mais das baladas feitas no meio dos anos 90. As únicas canções que realmente senti falta foram “Human Nature” e “What It Feels Like For A Girl” – especialmente pois a versão do clipe não tem a letra toda e ela é linda.

No meio das outras canções, alguns hits – por maiores que sejam ou tenham sido – se apagam diante de outros. “Everybody” podia ter sido facilmente editada e como assim colocar “Live To Tell” depois de “Take A Bow”? Muito pesado e, ao mesmo tempo, diferente. Mas, sim, os melhores e mais famosos hits estão presentes.

A coletânea vem com duas inéditas: “Celebration” e “Revolver”, sendo que a segunda vem depois de “Erotica”. É possível mesmo que Madonna ache que essas canções estejam no mesmo patamar? E colocá-las no fim do disco, depois de todos os hits, é um baita erro. Já que o CD não vai respeitar a cronologia, melhor colocar as faixas novas na abertura. Elas, que já são fracas, minguam aqui.

Já o DVD duplo é organizado cronologicamente. A melhor maneira, para evitar sustos com cabelos dos anos 80. E é ele que eu recomendo. As maiores surpresas são a inclusão de clipes esquecidos como “Who's That Girl” e os até então proibidões, como “Justify My Love”. Os discos também trazem uma Madonna ruiva por computador em “Hung Up” e uma versão alternativa de “Get Together”. Pena não ter o excelente “American Life”, cortado de todas as versões da coletânea.

Assistindo assim, todos de uma vez, você percebe como os clipes são datados, no sentido de que você assiste e sabe de que época ele é. Interessante ver como Madonna é mesmo uma imensa antena que capta várias referências e tendências, mistura tudo e devolve ao mundo de uma forma única, se tornando por sua vez uma influência e um ícone, lógico.

Muita gente torceu o nariz de “Miles Away” ter entrado nesse DVD, uma simples colcha de retalhos com imagens da última turnê. Mas, como a própria Madonna disse, esse lançamento é para celebrar sua carreira e, ao mesmo tempo, agradecer aos fãs. E é nesse clipe que eles estão mais presentes.

Nenhuma das capas é genial e podiam ser fotos mais atuais, mas os encartes todos são bem bonitos, artísticos e com direito a pôster – e, todo mundo sabe, fãs adoram pôster!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Você está preparado para o amor?


Independente de ter alguém do seu lado, você já se perguntou se está preparado para o amor? Saiba, de antemão, que uma coisa não está relacionada a outra. Casais casados há 50 anos podem não estar. Amantes recentes podem estar. É tudo uma questão de... de quê?

Ninguém sabe ao certo. Chega uma hora que algo dentro de você estala e você simplesmente sabe. Muitas vezes você ama a pessoa, mas não está pronto para isso e, sem querer, é capaz de sabotar tudo. Quem já teve o coração partido sabe como a falta de explicação de um fim dói bem mais do que o fim em si. Pois todos os fins que fogem do nosso controle colocam na nossa cabeça dúvidas sobre a gente mesmo e nosso lugar no mundo.

Eu não acredito que qualquer simpatia é amor à primeira vista, mas estar junto há muito tempo não é sinônimo de se dar bem. Amor é uma coisa delicada e repetitiva e, de forma nenhuma, deve ser desculpa para testar o outro, apenas testar a si mesmo. Amor de verdade não suporta jogos e labirintos mentais.

Dizem que sexo é o máximo de intimidade possível. Bobagem. Estar pelado do lado de alguém ou dentro de alguém não é nada. Respeitar o caráter, os valores e os traumas do outro, isso sim é intimidade. Amor e intimidade estão interligados em pequenos atos. Em saber que, quando o outro pede duas colheres de açúcar, está na verdade pedindo três.

A pessoa amada é quem está na sua mente quando você ouve as músicas alegres antes de dormir, quando lê um texto bonito, é com quem você se preocupa quando vê que um temporal está sendo armado no céu. Como li outro dia, estar acompanhado é um trabalho árduo, mas disfarçado de aconchego.

Para ouvir depois de ler: Nicest Thing – Kate Nash

domingo, 8 de novembro de 2009

O que Jesus faria?

Viu que o site do Senado Federal brasileiro colocou no ar uma enquete sobre gays semana passada? Ela tinha a seguinte pergunta: "Você é a favor do PLC 122/06, que torna crime o preconceito contra homossexuais?". A iniciativa é da Secretaria de Pesquisas e Opinião Pública (Sepop).

Mas acontece que a enquete esteve alguns dias fora do ar. Aliás, continua fora do ar. O que estão fazendo? "Um aprimoramento do sistema de segurança, dificultando burlas ao sistema", explicou a própria agência do Senado. Ah, e o motivo disso? Bom, a pergunta já havia recebido mais de 500 mil respostas, com "sim" e "não" se revezando na liderança. Mas especula-se que igrejas cristãs estejam fazendo campanha com suas ovelhas para que o "não" seja o resultado vitorioso da enquete.

Não é querer criar polêmica à toa, mas esse povo não tem noção do que é ser cristão se está fazendo isso. "Amar o próximo como a ti mesmo" não é a maior lição do messias? Pra onde ela foi então? Você pode até achar homossexualidade algo errado, mas daí para votar e fazer campanha pelo "não"? Isso é comungar dos mesmos princípios de skin heads e outros grupos neo-nazistas, por exemplo.

É realmente assim que Jesus iria medir as coisas? Pecadores merecem as pedras que são atiradas a eles? Um comportamento sexual que você não pratica é motivo para que os praticantes sejam xingados na rua e apanhem a qualquer dia e horário? Porque, talvez eles não saibam, mas quem apanha de skin head não são esses gays cariocas fortes que aparecem em propagandas de cueca. São os gays comuns, estudantes, balconistas, publicitários, professores, jornalistas. Gente que está quieto na sua e é (sub)julgado por uma característica que, de maneira alguma, interfere em seu caráter e seus valores.

Não existem heteros bons, ruins, legais, chatos, promíscuos e trabalhadores? Ou mulheres celibatárias, gordas, magras, fofoqueiras ou caladas? O mesmo vale para gays. Toda generalização nivela por baixo um grupo muito grande e com indivíduos muito diferentes entre si. É o mesmo que falar que todo mundo que tem olho verde tem bom caráter.

Conheço vários gays que acreditam em Jesus e que tem um comportamento tão correto que coloca no chinelo muito cristãozinho por aí. A briga cristãos versus gays não vai acabar nunca se seguirmos assim. Agir dessa maneira com gays faz com que eles se afastem mais das igrejas, o que sustenta o argumento delas. É um ciclo sem fim?

Obviamente, as enquetes pela internet não utilizam métodos científicos, apenas colocam os temas em debate e não servirão de base para tomada de decisão. Mas ainda me dá raiva, viu...

UPDATE: A enquete voltou ao ar. Quer votar? Clique aqui!

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lembrai do 5 de novembro

Era em 5 de novembro de 1605 que a Conspiração da Pólvora devia ter dado certo. Não deu, mas foi o começo de uma linha nova de pensamento mencionada na música “Remember”, de John Lennon, e em “V de Vingança”, quadrinho de Alan Moore e David Lloyd e filme de James McTeigue. Não sabe do que se trata?

Um grupo de católicos ingleses queria assassinar o rei Jaime I e grande parte da aristocracia protestante. Afinal, as pessoas de diferentes religiões estavam sendo tratadas de forma diferente pelo Estado e a gota d'água, que deu início aos planos, foi quando a Princesa Elizabeth, de 9 anos, foi declarada chefe de estado.

O plano era, além de sequestrar uma criança da realeza e incitar uma revolta, explodir o parlamento do país numa sessão no qual todos esses fidalgos estariam presentes. Foram estocados 36 barris de pólvora sob o prédio e o responsável pela detonação de tudo seria um cara chamado Guy Fawkes.

O grande problema dos católicos até hoje, sabemos, é a culpa. E, com medo de matarem inocentes – mesmo que por uma causa maior – o grupo de revoltosos enviou avisos para que certas pessoas mantivessem distância do lugar no dia da explosão. Um aviso chegou ao ouvido do rei e Fawkes foi preso, torturado e condenado à forca por traição e tentativa de assassinato.

O ato hoje é considerado heróico e lembrado com fogos de artifício na Inglaterra. Sem contar a tradicional rima criada e que chegou ao resto do mundo com a música, HQ e filme que fazem referência aos fatos: "Remember, remember, the 5th of November / The gunpowder treason and plot / I know of no reason why the gunpowder treason / Should ever be forgot."

Para ver depois de ler: V de Vingança (James McTeigue, 2006, com Natalie Portman e Hugo Weaving)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Woody Allen por Caetano Veloso?

Tive notícia de que Woody Allen foi tema de uma entrevista que Caetano Veloso deu para o Correio das Artes, suplemento literário do jornal paraibano A União, que circula há 60 anos.

Muitos discordam, mas Caetano é um ótimo letristas e compositor e é admirável ele estar lançando CD e fazendo show até hoje – a qualidade de tais acontecimentos já é outra história. O negócio é que alguém precisa avisá-lo, com urgência, que ele é um cantor. Pois ele não se satisfaz com isso. Também quer ser sociólogo, antropólogo, filósofo, historiador, ensaísta, teólogo, crítico literário e cinematográfico. Todos queremos e realmente somos tudo isso, mas apenas na mesa do bar. Caetano pode falar abobrinhas para a Rolling Stone e ser lido por milhares de pessoas. Essa é a diferença.

“É um careta, um cineasta pequeno”, declarou o cantor sobre Woody Allen. “Gay, maconha, rock, Bob Dylan, tudo isso é desprezado por ele”. Como se ignorar tais assuntos fosse sinônimo de ser um diretor ruim e como se todos os filmes que abordam tais temas fossem obras primas.

“E muitas das piadas são excelentes. Mas sempre se revela uma visão estreita”. Exatamente o mesmo pensamento pregado pelas pessoas que fazem parte daquele movimento contra música. Elas dizem que uma vez que a letra está gravada, cantar é apenas repetir uma ideia, sendo a música sinônimo de não evolução. Um argumento tão furado quanto a opinião de Caetano. Aliás, esqueça isso. Vamos considerar o argumento como firme e sair em caça de piadas com visão ampla!?

“Allen tem a grande elegância de dar a seus filmes a duração que os filmes tinham quando ele era menino. Talvez isso contribua para para o seu relativo fracasso comercial nos EUA: o público exige supersized movies”. Eu não sei nem por onde começar. O mais recente filme de Woody Allen, “Vicky Cristina Barcelona”, amplamente premiado, tem 1h36 de duração. E arrecadou mais de 23 milhões de dólares. Pouco comparando com algum do bruxo Harry Potter, mas é o dobro do que arrecadou, por exemplo, “A Rosa Púrpura do Cairo” e mais de 10 milhões a mais que “Tiros na Broadway”, de 1994, favorito de Caetano. O sucesso é relativo, mas isso combinado com chamar o cineasta de "pequeno", pode nos levar a concluir que, para Caetano, os bons cineastas são, então, aqueles por trás de líderes de bilheteria e só. Tiro arriscado esse.

Caetano Veloso parece perdido em vários sentidos da palavra. É muito complicado ser vanguardista hoje em dia e, ironicamente, a falta de censura limita artistas de sua geração, eu sei. Mas daí para criar polêmica onde não tem é algo meio estúpido de se fazer. Qualquer pessoa que der uma entrevistinha falando mal de Caetano recebe uma respostinha no blog dele no dia seguinte. Mas Woody Allen? Ah, dele eu vou falar mal pro suplemento de um jornal paraibano.

Há espaço para todos, especialmente no mundo das artes, mas eu não consigo evitar a comparação de como cada um dos dois está lidando com sua carreira no momento, mesmo que em áreas diferentes. Cada um conclui o que quiser, claro, mas para mim Caetano perdeu alguns bons pontos dos pouquíssimos restantes.

Para ouvir depois de ler: Never Smile At A Crocodile - Peter Pan

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Músicas para dias de chuva

Ficamos um tempinho sem luz aqui no trabalho e aí fomos tentar lembrar as melhores músicas que tem como temática a chuva. Eis:

Rain - Madonna
Rain - The Beatles
Purpple Rain - Prince
Singing in the Rain - Gene Kelly
I'm Only Happy When It Rains - Garbage
Rainy Days and Mondays – The Carpenters
Raindrops Keep Falling On My Head - Burt Bacharach


E depois com o sol:

Here Comes The Sun - The Beatles
Good Day Sunshine - The Beatles
Ain't No Sunshine – Jackson 5 / Bill Withers
Let The Sunshine In – (Quem canta?)

Lembra outras?

domingo, 18 de outubro de 2009

Motivos para eu não ver TV

* Eu não tenho tempo. Rotina de trabalho de 8h as 18h mais aula das 19h as 22h torna meio complicado ver televisão. Especialmente no último semestre de faculdade. Me sobra o final de semana, que é reservado para coisas mais importantes que TV - uma lista deveras longa.

* Há muito lixo na TV. quando coincide de eu estar a toa em casa, melhor alugar um filme ou ver algum seriado que tenho em DVD. Faustão? "Fantástico"? Otávio Mesquita? Matérias tendenciosamente mal apuradas da Record? Não, obrigado.

* Eu não acho a vida de médicos legistas tão fascinante assim. Aliás, de médico algum - e isso exclui da minha rotina pelo menos 15 seriados de TV. Está aí, inclusive, um profissional dos mais chatos, terroristas e prepotentes do universo.

* "Big Bang Theory" e "Skins", por exemplo, tem seu valor. Mas não tem "Gossip Girl" ou "The O.C." capazes de superar os risos que dei e as lições que aprendi com "Friends", "Seinfeld", "I Love Lucy", "Gilmore Girls", "Mary Tyler Moore" e "Sex and the City". Por que eu perderia meu tempo tentando? Assistir algo só pois todos estão assistindo é algo que não faço desde os 10 anos de idade.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Glorioso Tarantino!

Estou abobado com “Bastardos Inglórios”, novo filme do diretor Quentin Tarantino. Não é necessário ser fã do cara para se deliciar com o longa, mas é preciso ter visto mais que os dois volumes de “Kill Bill”, seus filmes anteriores, para perceber como ele é genial e, provavelmente, o melhor de sua carreira.

A história, de forma simples, mostra um grupo de resistência cuja meta é matar nazistas. Simplesmente isso. Ele é contado em cinco capítulos que misturam - com maestria - assassinatos, tiros e muito sangue com diálogos dos mais geniais. Aliás, esse é um dos méritos do cineasta, o de criar tensão nos espectadores tanto com granadas e espadas quanto com palavras.

Exemplos? Lembra do alter ego do Super-Homem em “Kill Bill – Volume 2”, das gorjetas e de “Like A Virgin” em “Cães de Aluguel” e do quarteirão com queijo de “Pulp Fiction”? Então. A primeira cena aqui, que se passa na França invadida por nazistas, trata da diferença mínima entre um rato e um esquilo e como, apesar disso, temos nojo apenas do primeiro roedor. O discurso é uma metáfora para os judeus e vem da boca de um nazista, claro, interpretado pelo ótimo Cristoph Waltz.

Além dele, Brad Pitt merece destaque. A veia humorística do cara está mais afiada que nunca. E, sim, melhor que em “Queime Depois de Ler”. As belas Diane Kruger e Mélanie Laurent também estão excelentes e ajudam muito – e com glamour – a passar a sensação de que você está dentro do filme. A história se costura de uma forma muito inteligente e o final não poderia ser mais inesperado.

Não vejo a hora de rever.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A favor de "Anticristo"

Veja que irônico. Passar o 12 de outubro, dia da padroeira do Brasil, assistindo a um filme chamado “Anticristo”. Estrelando Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe, para quem não sabe, trata-se do novo longa de Lars Von Trier, dos filmes “Dogville” e “Dançando no Escuro”.

A sinopse? Um casal que recentemente perdeu o filho vai morar numa cabana em uma floresta para, supostamente, enfrentar os medos da mulher. Uma sinopse bem picareta, confesso. Mas falar mais pode não ser bom.

Para começo de conversa, o filme é dividido em capítulos e digo logo que o Epílogo e o Prólogo são absurdamente lindos e poéticos. Quanto ao restante do longa, apenas o “poético” continua – pois o “lindo” sai correndo e foge pra bem longe. É um filme tão – ou mais – desagradável e chocante do que o trailer sugere. E é muito bom.

Para o pessoal ao redor, na sala de cinema, a dedicação do marido e a depressão da mulher estão completamente desconectadas do mundo real. Na tela, a morte é natural, a natureza é violenta, a dor é necessária e o sexo é um prazer e um castigo. Tudo igualzinho na vida real, mas ninguém gosta de admitir isso, certo? Por isso é tão desconfortável e fundamental – para quem tem estômago – acompanhar a história deles.

Aliás, essa foi minha coisa favorita em "Anticristo". Sabia que seria desde que ouvi no trailer a frase “A natureza é a igreja de Satã”. Greenpeace e Al Gore nos fazem acreditar que o homem é um vírus destruidor da sempre boa e generosa mãe natureza. Não nego que estamos num momento delicado da evolução e que o planeta está em ruínas, mas a natureza assusta e não é perfeita ou benevolente. Animais fofinhos comem outros animais fofinhos, bichos parem bichos mortos e inúmeros parasitas são... bom, parasitas!

É importante ver filmes assim, pois a capacidade de aceitar o incômodo não é trabalhada suficiente hoje em dia. Talvez cenas tão densas, envolvendo mutilação e sexo, muito sexo, incomodem o espectador que não vê propósito naquilo tudo. Mas todos os filmes são obras de arte abertas para interpretação. No caso, Lars Von Trier apenas deixa a maior parte da conclusão para quem está na poltrona. Os menos esforçados não verão sentido algum no filme. E isso é ótimo! São eles mesmos os que precisam aprender que nem sempre tudo faz sentido.

domingo, 4 de outubro de 2009

O pop tem razão: “Blame It On The Girls”

“Eu era deprimido pois ouvia música pop ou eu ouvia música pop pois eu era deprimido?”. Essa é uma questão de “Alta Fidelidade”, não sei se do filme ou do livro ou dos dois. O que interessa é que a dúvida é pertinente. Para tentar extrair dela algum divertimento – ou alguma sabedoria – criei essa categoria no blog para analisar músicas que, de alguma forma, fazem sentido.



Ultimamente eu tenho reparado uma coisa muito irritante nas pessoas: a falta de noção. Estou falando de falta de perspectiva. Todos sabem que reclamar da vida é uma coisa natural e que eu faço isso o tempo todo, mas em que lugar decidir passar as férias em Paris ou em Londres é um dilema dramático? Dê graças por ter uma vida em que você pode ter duas opções tão lindas de destino, pare de reclamar e tire numa moeda!

Especialmente no Twitter eu me deparo com coisas desse tipo. Talvez seja inveja, mas eu não consigo ler alguém que não trabalha – e que, por algum motivo, sempre tem dinheiro - reclamar que está com ressaca na manhã de terça-feira, por exemplo. Uma coisa é contar o que aconteceu, outra é contar vantagem – não que ressaca seja uma coisa boa, mas o fato dele poder ter saído na noite de segunda é. E também o fato de que ele está reclamando da ressaca deitado em sua cama, enquanto eu já acordei, tomei banho, peguei ônibus e trabalhei por duas horas.

Essa música do Mika é sobre esse sentimento, eu acho. Sobre gente que, apesar de ter tudo que você sempre quis, não dá valor ao que tem. Ele começa cantando sobre as vantagens da pessoa: “Ele tem um visual que livros demorariam páginas para descrever e um rosto que faria você se ajoelhar. Ele tem dinheiro no banco aos montes e você pode até achar que a vida dele é fácil”.

Tudo cantado com imagens super coloridas, lembrando editoriais de moda nos anos 60 e um flerte de leve com “Laranja Mecânica” nos primeiros takes, não? Achei que ficou um clipe meio Hot Chip meets Björk no começo da carreira.

Depois Mika muda para os conflitos: “Como um bebê, ele é uma criança mimada, sempre competindo com os outros. Enquanto ele se pergunta o que ele vai fazer, a gente deseja ser sortudo como ele”, diz a letra. É a velha história de dizer, ah, se eu tivesse isso faria diferente. Sei que, obviamente, se eu tivesse nascido em circunstâncias diferentes minha personalidade seria outra e talvez eu me comportasse da mesmíssima maneira que essas pessoas. Mas nunca vou saber.

“A vida pode ser simples, mas você nunca falha ao complicá-la todas as vezes”

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Entrevista com o fotógrafo Guillermo Riveros


Nascido em Bogotá, o fotógrafo Guillermo Riveros tem feito cada vez mais sucesso agora que mora em Nova York. Ele é o objeto de todo o seu trabalho, encarnando vários personagens. Gay assumido desde os 15 anos, ele acha o máximo que as pessoas se sintam inspiradas por suas imagens tanto para escrever poesias quanto para masturbação. Eu o entrevistei pro blog Oi Tudo em Cima. Lá está tudo traduzidinho, editado e cheio de links. Aqui está a versão original da conversa, perdoe qualquer deslize meu na língua inglesa.

When you decided to leave Colombia and go to New York?
I moved to New York in the summer of 2007.

And how did New York changed you and your work?
New York has been a great influence for me; on one hand its rhythm has definitely changed my creative process. This city is also extremely vibrant and filled with millions of different people that are very inspiring when creating characters. The availability of material has also influenced the way I work and the possibilities for creation. In Colombia things are harder to find and its complicated to go out on the street and shoot anywhere. Here in New York there are very few limits.


What others photographers you admire?
There are many artists I admire. Some photographers I can think of right now are Juergen Teller, Anthony Goicolea, Cindy Sherman, John Bidgood,Slava Mogutin, Nikki S. Lee and Claude Cahun. I love Bruce LaBruce's punk attitude, and his sense of humour, I think he is a unique mind, and the success of his images and movies come from being a very verbal and funny person. A sort of rebellious intellectual. He has influenced a lot of my ideas about pornography and art; he started a queer punk zine, called “J.D’s” in the late 80’s, that between queer music reviews and top hit lists, the lesbian Tom-of-Finland-inspired drawings of G.B Jones, LaBruce's stories, wanted to antagonize both the gay subcultures and the punk movement. He is one of the most significant and prolific queer artists of the past decades, he has been a huge influence for me since I started working with pornography and queer culture. I’ve been thinking lately about him and the motivations behind pornographic art and how this reflects in queer identities in the age of the internet. From home made porn to facebook profile pictures, flickr, myspace and other world wide web concessionaire/open diary type platforms, where a lot of queer identities are produced and reproduced constantly: the notions of self production, representation and - why not? - self "pornographication" become instantly noticeable and open up the arena for the discussion of bodies that are exposed and observed, in a virtual world where the boundaries of private and public are pretty much invisible.



And what about movies or books? What influences your work?
This is always a hard question. Above all I have to say that one of my favorite movies and books is "The Exorcist". Aside from that one, Its easier for me to think of directors I love, Pedro Almodovar, David Lynch and John Waters have been huge influences for me. Books, many, authors like Michel Foucault and Judith Butler. I'm currently reading Georges Bataille's “Visions of Excess” and Julia Kristeva's “The Powers of Horror”.

You're working on promoting new sets of smaller prints for more affordable prices, is that correct?
Yeah, thinking about the economic situation I want to make some smaller prints at affordable prices to make my work actually more approachable. I'm currently working all the specifics, if anybody is interested in getting more information join my mailing list by emailing mailinglist@guillermoriveros.com and check my website for updates soon!

Can't you say anything more than that?
Its Images from the series "Sigh Oh Nara!", a couple of them are alternative versions to the images you have seen on my website (just to spice it up a notch!) This will be editioned and signed packs of 5 4"x6" prints packed in handmade custom packaging...

Have you ever been to Brazil? What's your impressions of us?
I have never been to Brazil, but I'm dying to go there. There are so many Brazilian things I love: my friends, the music (I've been listening to the likes of Marisa Monte and Fernanda Abreu since I was a kid), off course the language (the music has always made me to want to learn Portuguese, which shouldn't be so hard considering how close it is to Spanish). I also love Brazilian food, I could eat muqueca and brigadeiro everyday!

sábado, 26 de setembro de 2009

O jogo segundo Madonna

"American Life", nono álbum de estúdio da Madonna, é considerado um dos trabalhos mais arriscados dela, no nível artístico e comercial. As músicas são de 2003 e falam de política, religião, família e fama em tempos de George W. Bush invadindo o Iraque e reality shows sobre absolutamente tudo. O CD ganhou boas críticas e os singles até foram bem nas paradas, mas ele não é o favorito de muita gente.

Não é o meu caso.

Por inúmeros motivos, "American Life" é um dos CDs dela que mais gosto. Ele mistura folk e tecno e as letras são as melhores possíveis, ricas e sinceras. Conceitual, o álbum teve produção do franco-afegão Mirwais Ahmadzaï.

Hoje, anos depois de seu lançamento, descobri "The Game", uma canção feita para o álbum e que acabou de fora. Absurdamente linda com uma letra peculiar e que faz bastante sentido para quem já leu alguma coisa sobre espiritualidade, tikun ou Cabala.



You want, I've got
You take, have not
Your loss, my gain
We're all the same

You're in a game but you don't know it
Get in control or you're gonna blow it
Find out his name find out where did it come from
I want to know if he's really got some
Is he really got some?

You have, I lack
We fade to black
Your move, I take
You win, checkmate

We're all sick but we just can't see it
Call it a trick, but we don't want to be it
Try to break through all of your defenses
How would it feel to let go of your senses?

Don't forget to ask him his name
If you knew what I knew, you'd be doing the same
Ambiguity does us no good
I want everything to be understood

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eventful

Essa foi uma semana que pessoas que nasceram em países cuja língua mãe é o inglês chamariam de eventful. Não uso a expressão por ter sido alfabetizado em inglês nem nada disso, mas é que não há uma expressão semelhante na nossa rica língua. Acontece que uma semana eventful, pra mim, não tem a ver com compromissos e agendas lotadas e sim com o número de giros que sua cabeça dá.

Sem muitas delongas e também sem muitos detalhes, foi uma semana que houve de tudo. Absolutamente tudo. De mojitos pecadores às traições mais variadas. De companhias ausentes aos combinados não cumpridos na maior cara de pau do universo. Uma semana onde eu cedi coisas pela última vez e que escrevi sobre coisas que nunca ousei verbalizar.

Por coincidência – se é que elas existem – minha querida prima acabou de fazer um texto em seu blog falando praticamente sobre o mesmo problema que experimentou em São Paulo, onde mora. Não exatamente as mesmas coisas, claro, mas a mesma sensação. Eis meu trecho favorito e que, sem tirar nem colocar, descreve muito bem o que estou pensando:

“Não vou argumentar nem escrever além disso para me poupar de repensar e reviver tudo de novo. Foi desgastante. Fica aqui meu registro de uma semana superestressante com uma pitada de hipocrisia da galera mais próxima que também não me deixou muito feliz. Lanço oficialmente a campanha ‘gente, facilita’”.

E, olha, eu aderi à campanha. Gente, facilita. Hoje em dia a coisa mais legal que tem é ir direto ao ponto numa conversa e a mais fácil que tem é mandar um SMS de celular. Com antecedência, é óbvio.

A única coisa boa dessa semana arrastada da porra é que amanhã vai ter uma mega festa que promete, com companhias maravilhosas, champanhe de graça e bolo. E de bolo eu tô entendendo.

Para ouvir depois de ler: Sick & Tired - The Cardigans

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O inimigo sou eu

Sabe quando você lê uma coisa e acha que aquilo vai mudar sua vida? Eu estava achando cada vez mais improvável que isso fosse acontecer comigo aqui, de frente para uma tela de cristal liquido e recheada de textos curtos sobre assuntos irrelevantes. Mas aconteceu e foi sob a forma de “O inimigo sou eu”, reportagem de Eliane Brum para a revista "Época" sobre um retiro espiritual no interior do Rio de Janeiro.

Como um ex-aluno de ioga que está louco para voltar a praticar desde que interrompeu as aulas, o texto me pegou. Mas imagino que a curiosidade de se aventurar numa experiência dessas diz respeito a mais pessoas do que parece. Ouvir conselhos de monges, sábios pelos olhos até dos mais céticos, são oportunidade únicas.

Isolados do mundo, a primeira tarefa do grupo era meditar e apenas observar a respiração, de olhos fechados, sem interferir. A agenda era rígida e imutável: das 4h30 às 6h30, meditar; das 6h30 às 8h, tomar café-da-manhã; das 8h às 11h, meditar, com um intervalo de dez minutos; das 11h às 12h, almoçar; das 12h às 13h, inscrever-se para fazer perguntas privadas ao professor se quiser; das 13h às 17h, meditar, com dois intervalos de dez minutos; das 17h às 18h, lanchar; das 18h às 19h, meditar; das 19h horas às 20h15, escutar uma palestra (na mesma posição de meditação); das 20h15 às 21h, meditar; das 21h às 21h30, fazer perguntas públicas ao professor. Depois, preparar-se para dormir e, às 22h, a luz se apagava. E tudo recomeçava às 4h da madrugada do dia seguinte, com um sino.

Ela narra a louca vontade de ir embora misturada com a curiosidade de saber como aquilo acabava e descreve a meditação da maneira que sempre quis e nunca achei palavras. Muitos pensam que meditar é descansar e não é nada disso. É um exercício, e dos mais pesados, para a mente. Para alguns, ficar isolado do mundo por 10 dias sem direito a comer carne, tomar remédios, falar e fazer sexo seja uma tortura. A tais pessoas, aconselho ler o texto na íntegra.

Uma das preciosas lições é que vivemos numa época onde as pessoas acreditam que é possível viver sem sentir nenhum tipo de dor física ou psíquica. Basta uma fincadinha na cabeça ou um mero ar nostálgico e já corremos para tomar uma aspirina ou um antidepressivo. Como se felicidade eterna fosse um direito e, o pior, algo alcançável.

O tipo de meditação experimentado aqui chama-se vipássana, baseada no conceito elaborado por Buda de que cada reação de aversão ou cobiça causa uma espécie de nó em nosso corpo. E só removendo – fisicamente – esses nós vamos parar de sofrer. O exemplo é prosaico: “Eu adoro comprar sapatos. (...) O que busco é repetir a sensação que sinto ao comprar um sapato. Não percebo que, por mais que gaste meu salário tentando transformar uma sensação prazerosa em permanente, ela vai passar e vou ter de gastar mais dinheiro para repeti-la. É cobiça, é apego. É ilusão.” Entendem?

Nenhum dos conceitos é estranho para mim, mas fazia tempos que eles não apareciam na minha frente e eu me permiti esquecê-los. O desafio é mantê-los na mente sempre. Pois é fácil ver a beleza do mundo meditando em uma colina gramada ao pôr-do-sol. Complicado é aplicar esses conceitos com um deadline na cabeça ou um parente no hospital. E isso é um desafio e tanto. Acho que vou me inscrever para o próximo grupo.

O que você precisa, segundo os Beatles

Com seus 13 álbuns relançados com uma mixagem mais trabalhada e clara, voltei a ouvir Beatles sem parar. O quarteto foi, para mim, a introdução ao rock. Quando eu era criança, na minha cabeça, existiam apenas MPB e rock – e rock era coisa de gente má, cabeluda e adoradora do diabo. Obviamente, a minha confusão era grande e foi ouvindo Beatles que percebi isso, fuçando a coleção de vinis e CDs da minha mãe.

Crescer ouvindo Jonh, Paul, George e Ringo foi algo que moldou muito minha personalidade e valores. Afinal, as respostas sobre o sentido da vida estão escondidas nos lugares menos prováveis. E da dúvida mais corriqueira às inquietações filosóficas mais profundas, os Beatles responderam tudo.

E é bem mais fácil digerir as divertidas canções que aprender sobre sephirot, rezar virado pra Meca ou ler noventa versículos contando apenas a genealogia de Matusalém. Aliás, imagina só um CD com o Cid Moreira declamando “Something” ou “I Want You” de maneira grave e pausada? Sensacional.

Como dizer para aquela pessoa que você está apaixonado? Prefira a abordagem discreta, fale baixinho. “Closer, let me whisper in your ear, say the words you long to hear: I’m in love with you”. Quando você brigar com um amigão ou se irritar com sua mãe, lembre-se do trecho de “We Can Work it Out”: “life is very short, and there’s no time for fussing and fighting, my friend”. O verso não podia estar mais coberto de razão.

Pensando no futuro? “When I'm 64”. Está desanimado com a vida? Coloca “Hey Jude”. Terminou o namoro? Que tal “Yesterday”? E, depois de dar adeus à sua garota, se bater aquele vazio, ponha na vitrola “All You Need is Love”. A lição? Não há nada que não possa ser feito se você tiver o que realmente precisa. Ou seja, amor.

sábado, 12 de setembro de 2009

Subindo no conceito

É chover no molhado dizer que a Pixar é genial, mas “Up! – Altas Aventuras”, novo filme do estúdio que é braço da Disney, é mesmo maravilhoso. O roteiro é muito bom, sendo divertido e, em vários momentos, sensível.

Um senhor aposentado – dublado no Brasil por Chico Anysio – está prestes a ser mandado para um asilo e decide fugir amarrando centenas de balões de hélio no telhado de sua casa. A idéia é visitar cachoeiras na América do Sul, destino que sempre sonhou conhecer com sua esposa já falecida. O problema é que um aprendiz de escoteiro acabou subindo pelos ares junto, o que abre espaço para situações hilárias entre os dois.

Cheio de referências a filmes antigos, novamente a Pixar dá um ar brilhante a heróis insólitos. De brinquedos a ratos, agora a platéia se pega amando um velhinho rabugento, sendo comovida pelo amor que ele mantém à esposa falecida e pela amizade que nasce com uma criança até então considerada apenas irritante.

A tendência é ir reduzindo um pouco o número de personagens principais em cada filme. Enquanto a Dreamworks, principal concorrente, se preocupa em fazer continuações para sucessos de bilheteria e vai aumentando o número de personagens caricatos a cada novo longa, a Pixar faz o caminho inverso. Vários ótimos filmes únicos com menos personagens principais e muito, muito tempo investido no roteiro, antes de mais nada.

Por isso concordo com quem disse que é a Pixar quem está criando novos clássicos infantis. “Shrek” e “Madagascar” são ótimos, mas são filmes como “Toy Story”, “Monstros S.A.”, “Procurando Nemo” e “Up!” que eu tenho ou terei vontade de rever de tempos em tempos.

Para ver depois de ler: "Up!" (Pete Docter e Bob Peterson), EUA, 2009.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Algumas considerações sobre vegetarianismo

Estou planejando falar sobre isso há meses, mas não sabia ainda qual caminho seguir. Eu parei de comer carne tem cerca de nove meses e, quando eu ainda comia, detestava quem vinha pra cima de mim com argumentozinhos escrotos e vídeos de animais sendo mortos de forma sangrenta. Do meu ponto de vista, gente que faz isso não tem nada diferente daqueles evangélicos chatos que querem que todo mundo ao redor descubra a palavra de Jesus.

Eu reciclo meu lixo e tenho, diria, o mínimo de preocupação com o meio ambiente, mas posso garantir que dó dos animais não foi o principal motivo da minha decisão. Aconteceu que, mesmo não pensando nisso, começou a ficar cada vez mais complicado pensar de forma separada: um pedaço de carne, no animal ou no meu prato, não passa de um pedaço de carne. A diferença básica é que a do meu prato passou por inúmeros processos de cozimento e foi empanturrada de temperos cheirosos para disfarçar que ela está, veja bem a palavra, apodrecendo. Não há argumento contra isso; tá cortado fora do bicho, já começou a apodrecer. E eu não quero colocar isso dentro do meu corpo, obrigado.

Não comer carne é, para mim, uma opção mais saudável para melhorar meu estilo de vida já tão desregrado com refrigerantes e lanches rápidos. O lado ético veio depois. Quando você para de comer carne você começa a se sentir aquele personagem do filme de suspense que tem certeza que viu os fantasmas, mas ninguém acredita. Será que só eu vejo que o discurso que se usa para justificar a exploração dos animais é o mesmo que, no passado, usamos para defender a escravidão e a desigualdade de direitos entre homens e mulheres?

Além da saúde, não comer carne virou um pequeno protesto, minha maneira de boicotar uma indústria que destrói o meio ambiente e explora, tortura e mata animais – sem contar que parar de comer carne abre todo um questionamento sobre tradição e autoridade. Afinal, trata-se de algo cultural que agora, como ser humano autônomo e pensante, eu posso negar.

Eu adoraria estar cercado de pessoas que pensassem assim, mas não me sinto desconfortável com que não o faz. Mas eu também não quero entrar em discussões com quem não está interessado em ouvir sem pedras nas mãos. Trata-se de uma escolha que deve ser respeitada e, se eu não ajo como superior pra cima de você, espero que não faça o mesmo pra cima de mim. Pelo menos reflita antes.

Para ouvir depois de ler: Meat Is Murder – The Smiths

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quero ser amigo do Mika

Não sei vocês, mas eu gosto bastante das músicas do Mika. Quando ele surgiu eu torci o nariz e nem procurei saber do que se tratava. Mas resolvi – não faz mais que um mês – dar uma chance e baixei o primeiro álbum dele, “Life In Cartoon Motion”, e me surpreendi bastante. A voz feminina dele combina muito bem com as letras alegres que ele escreve.

Ele acaba de lançar seu novo single, “We Are Golden”, e eu estou doido para o CD novo dele sair logo. E ele também está. Afinal, desembolsar 25 mil libras em um bar não é uma coisa que a gente faz todo dia!

Mas, calma. Ele não bebeu tudo sozinho. Ele fez um convite a seus fãs pelo Twitter. “Festa hoje à noite no bar Ground Floor, na Portobello Road, 186. Bebidas são por minha conta. Vejo vocês lá. É sério, não estou brincando”. Eu iria e, claro, a galera foi! Mais de 300 pessoas atenderam ao convite e todo mundo ganhou um pint, que é aquele copo padrão de cerveja, com 570 ml, do cantor.

Achei fofo!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O pop tem razão: “Eight Easy Steps”

“Eu era deprimido pois ouvia música pop ou eu ouvia música pop pois eu era deprimido?”. Essa é uma questão de “Alta Fidelidade”, não sei se do filme ou do livro ou dos dois. O que interessa é que a dúvida é pertinente. Para tentar extrair dela algum divertimento – ou alguma sabedoria – criei essa categoria no blog para analisar músicas que, de alguma forma, fazem sentido.



Apesar desse clipe ser uma delícia para quem é fã de Alanis Morissette, por voltar no tempo com trechos de seus clipes mais legais, a letra dessa canção é incrivelmente séria. Ela fala sobre auto sabotagem e, ironicamente, torna esse traço de personalidade um ponto no currículo.

Alanis começa fazendo várias perguntas para, no final, dizer que ela sabe todas as respostas, ou seja, já passou por aquilo. E todo mundo também sabe responder algumas das questões apresentadas aqui.

Como ficar paralisado por medo de abandono? Como manter as pessoas a um braço de distância sem nunca chegar perto demais? Como desconfiar das pessoas que supostamente o amam mais? Como fingir que está bem e que não precisa da ajuda de alguém? Como se sentir desprezível se você está ajudando alguém? Fácil.

Como odiar Deus quando você é um orador e um espiritualista? Como sabotar fantasias com medo de sucesso? Como mentir para você e, consequentemente, mentir para todo mundo? Como continuar sorrindo quando você está pensando em se matar? Como conhecer todos muito bem e então culpá-los por tudo?

Minhas respostas, no caso, são variadas. As de Alanis vem como se fossem a newsletter de um curso a distância:

"Eu tenho feito pesquisas durante anos. (...) Eu lhe ensinarei tudo isso em 8 passos fáceis no curso de uma vida. Eu mostrarei para você, em 8 passos fáceis, qual a aparência da liderança quando ensinada pelo melhor".

E eis um título de melhor que eu não quero mais ganhar.

sábado, 5 de setembro de 2009

O protocolo de preocupação

Quando um amigo não está bem de saúde o que você faz? Pede pra ele te ligar caso precise de alguma coisa e só? Só. Eu não sabia muito bem o que esperar, mas foi isso que aconteceu comigo.

É uma interessante observação de um protocolo de comportamento comum entre as pessoas. Conto nos dedos – de uma mão – quem realmente ficou preocupado com minhas incríveis dores recentes. Existem níveis de gravidade, claro, o grau de preocupação evolui junto com ele, e não é como se eu estivesse com câncer ou coisa nem parecida. Mas pedras nos rins – mesmo quatro – são dignas de preocupação, não?

Sei lá. Nunca tive um amigo que teve isso e não sei como medir – apesar de que, agora que tive, entendo a dor e imagino que serei bem compreensível. Mas o que achei curioso é a repetição exata das coisas. Ninguém pôde oferecer mais do que isso e aí está a cilada da regra. Em que planeta uma pessoa passando mal vai ter a habilidade e perspicácia de ligar para um amigo ajudar caso esteja precisando de qualquer coisa? E que coisas entram nessa lista de “qualquer coisa”? Pois não é possível que a lista seja a mesma para seus amigos, pais e irmãos. É?

Enfim, eis o protocolo: no primeiro sinal de dor ela é só sua, você se vira. No segundo, quando você já foi examinado e aquilo que você teve já tem, também, um nome, o problema continua sendo seu. Mas todos vem perguntar se você melhorou. Se sim, fim. Se não, irão perguntar quando você vai melhorar – afinal, eles tem outras coisas para se preocupar e não podem ter um amigo doente nessa lista. Ele não é prioridade e ainda atrapalha a consciência leve das pessoas. Se a previsão de melhora é a longo prazo, de vez em quando eles perguntam como você está indo. E você responde “bem”. Mas não pense em dar continuidade a isso e se estender demais em explicações sobre sua patologia. Irão te interromper para falar sobre uma comida deliciosa de ontem e a festa sensacional que você perdeu, assuntos bem mais divertidos, convenhamos.

Não acho um absurdo e tampouco fico triste ou revoltado. Eu pago uma pessoa para me ouvir reclamar da vida quatro vezes por mês, não é essa a função desse blog.

E eu não me retiro do cenário também, pois criei uma resposta padrão para quem seguia o protocolo de preocupação. No final, eu praticamente nem falava nada e já mudava de assunto. Pra quê me estender em algo se, no final, enquanto eu falo, o interlocutor vai estar apenas pensando no que vai proferir a seguir?

Mas eis meu momento reclamação: não bastava meu pai, que tem cálculo renal praticamente todo ano, me passar esses genes de merda. Ele não fez questão nem de guardar a data da intervenção cirúrgica e me ligou um dia antes para saber se estava tudo bem. Posso?

É como diz o ditado: “O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso...”



Para ouvir depois de ler: Where You Lead - Carole King

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Xuxa, colabora

Lembro muito bem que, no ano passado, uma chamada do Programa Amaury Jr. que entrevistou a Xuxa dizia: “De férias na Disney com a filha Sasha, ela concedeu uma entrevista corajosa onde acusa a televisão brasileira de não dar atenção para as crianças. E, quando dá, pensa primeiro em retorno financeiro e em índices de audiência, jamais na educação.”

Fiquei perplexo com afirmação. Não que não seja verdade, mas de sair da boca da suposta rainha dos baixinhos. Algo me cheirou a busca por redenção. Depois que teve uma filha, Xuxa entendeu bem melhor seu papel e sua influência na TV brasileira.

Ela passou a apresentar seus programas vestida e não fez concessões - mesmo quando sua nova fórmula educativa amargou pouca audiência – e, imagino, desfez o tal pacto com o capeta. O estrago com as meninas que engravidaram na adolescência e com as que sofreram por se acharem fora do padrão loira-magra-branca das Paquitas já estava feito, mas isso não vem ao caso.

Conectada ao Twitter, Xuxa sofreu um pouquinho nos últimos dias, mostrando absoluta falta de intimidade com a ferramenta online. Além de escrever todos os textos em letra maiúscula e dos inúmeros erros de português, foi a vez de sua filha, Sasha, escrever uma palavra errada. As correções vieram dos internautas e deixaram a apresentadora puta da vida, a ponto de postar:



Ah, ok. Uma menina de 11 anos, brasileira, filha de brasileiros e que mora no Brasil, foi alfabetizada em inglês?

Os últimos acontecimentos só mostraram o que todos suspeitavam: o sucesso é perigoso. Como observou o jornalista Mauricio Styver (aqui), o Twitter apenas tornou possível uma coisa há tempos sonhada: xingar a TV e ser ouvido. E Xuxa, endeusada e isolada em seu castelo, não estava preparada para enfrentar a realidade. E o vídeo ridículo do tal fã Davis Reimberg só mostra como o povo brasileiro, alienado que só ele, precisa desesperadamente de novos ídolos.

Agora, rolou o boato de que a apresentadora ia dar uma de Daniela Cicarelli com YouTube e ameaçou processar e censurar o Twitter. Faz-me rir. Xuxa, colabora com a gente e volta pra sua vidinha intocável, por favor? Cercada de puxa-sacos você faz um bem para o resto do mundo que, por consequência, fica bem longe de você.

sábado, 22 de agosto de 2009

Você merece alguém melhor que eu

Já ouviu essa frase? Não é uma das piores armadilhas do mundo?

Se você concordar com a pessoa estará, supostamente, falando que não gosta dela. Admitindo que está de olho em outro alguém ou se colocando no alto de um pedestal inalcançável de beleza e sabedoria e dizendo que ninguém ao seu lado é capaz de ser tão bom quando você.

Por outro lado, se você discordar, rola uma sensação de estar se diminuindo. De que você aceita qualquer pessoa do seu lado. E, além disso, talvez ainda dê a impressão contrária. A de que você precisa estar ali para cuidar da outra pessoa que, por sua vez e se interpretar assim, vai achar a afirmação um tanto quanto orgulhosa demais.

Conversando com uma amiga, concluímos que sempre que a tal frase é proferida ela é verdadeira. Mas o que rola é que esse “alguém melhor” não é, necessariamente, outra pessoa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O pop tem razão: “Stuck”

“Eu era deprimido pois ouvia música pop ou eu ouvia música pop pois eu era deprimido?”. Essa é uma questão de “Alta Fidelidade”, não sei se do filme ou do livro ou dos dois. O que interessa é que a dúvida é pertinente. Para tentar extrair dela algum divertimento – e, quem sabe, alguma sabedoria – criei essa categoria no blog para analisar alguma música que, de alguma forma, faz sentido.



Stacie Orrico, ex-cantora gospel que apostou no pop adolescente nos anos 90, não foi para frente. Não tinha como mesmo com essa voz nasal. Mas se alguma coisa ficou foi “Stuck”, uma canção que, como o nome diz, gruda na cabeça.

Preste atenção na historinha do clipe. O mocinho não quer nada com a mocinha, mas fica provocando ela o tempo todo. Na vida real é assim também, é tudo uma questão de encher o saco e decidir parar com tudo por completo. Só assim a sensação de estar preso na pessoa também vai sumir.

O clipe também faz uma citação a “DisMissed”. Lembra desse reality show da MTV? Mais anos 90 impossível. No caso, uma pessoa ia para um encontro com duas outras do sexo oposto e escolhia uma no final. Tem crônica mais fiel da frivolidade dos relacionamentos? Não é suficiente que, para não perderem nenhuma oportunidade, muitas pessoas ficam com várias ao mesmo tempo paralelamente. Agora, eles saem os três para jantar?

Ela menciona um telefonema de arrependimento do cara na música. Acho que foi Fernanda Young quem disse – e todos nós confirmamos – que a sensação de “o telefone vai tocar” é uma das mais chatas. Antes, quando você saía de casa, estava tudo bem. Mas, hoje, seu celular – e a angústia da espera de um telefonema que não vem – te acompanham rua afora.

O look retrô das pessoas no clipe e a citação de Beatles no final ganharam minha atenção na época. Assistir o clipe hoje mostra como a música tem uma letra fácil, mas coerente. “Eu te amo, mas te odeio, não consigo parar de pensar em você. Eu me sinto idiota”. É a coisa mais comum do mundo moderno.

sábado, 15 de agosto de 2009

“Brüno”: genial ou homofóbico?

Acabei de assistir “Brüno”, nova comédia de Sasha Baron Cohen, ator também por trás de “Borat”, produção de 2006 indicada ao Oscar de melhor roteiro original.

O primeiro filme conta a jornada de um repórter do Cazaquistão aos Estados Unidos, mostrando as supostas diferenças culturais entre os dois lugares. Toda a produção tem um ar de “câmera escondida”, apenas registrando a reação das pessoas aos atos malucos do tal cazaque.

Novamente, o personagem principal dá título ao filme, mas Brüno é um repórter gay pra lá de caricato, especialista em moda. Austríaco, ele sai de seu país em busca de fama e se mete em inúmeras roubadas.

O que acontece é que ele não é famoso ainda e não pode sair ileso de excentricidades como falar mal de pessoas que não conhece, adotar africanos e ter a pretensão de acabar com a guerra no mundo. Ao encarnar um personagem como Brüno – que é superficial, afetado e incrivelmente burro – todos os alicerces da cultura norte-americana tem potencial para ser alvo de algum tipo de sátira, mesmo que não explicitamente.

O novo filme é muito mais incorreto que "Borat" e também muito mais ousado. Hilário ver Paula Abdul, por exemplo, falando que fazer trabalhos humanitários e ajudar outras pessoas “é como respirar o ar que respiro” ao mesmo tempo que usa um mexicano de quatro como poltrona. Impossível enumerar as cenas que mais ri, são muitas. Mas tenha uma atenção especial à viagem dele ao Oriente Médio, seus dias acampando e à música no final.

O principal erro é que, como em “Borat”, Cohen entra em um grupo – no caso, os gays – para provocar as pessoas ao redor, mas acaba satirizando o próprio grupo que se apropriou. Interromper uma passeata contra os direitos homossexuais vestido com roupas de sadomasoquismo é engraçado, mas de forma alguma contribui para qualquer tipo de tolerância, certo? O tiro sairia pela culatra se o objetivo fosse melhorar a aceitação dos gays na sociedade. Como não é o caso, o longa segue bem. Mas tem seus méritos no assunto quando, por exemplo, mostra quão ridícula é a fala de um pastor que, supostamente, “cura” gays.

Comédias desse tipo são especialmente engraçadas para mim, pois as pessoas ao redor acham que estão sendo acariciadas com risos, mas estão levando belas bofetadas na cara. A crítica aos costumes está lá e, no fim, você acha que a sociedade não tem solução mesmo. A intolerância e a ignorância estão enraizadas de uma forma muito profunda e você percebe que riu para não chorar. Mas pelo menos riu bastante.

Hoje é dia dos solteiros

Hoje, dia 15 de agosto, é comemorado o Dia dos Solteiros. Sim, comemorado, veja bem. Então eu vou entrar na dança e, ao invés de lamentar que ainda pertenço a este grupo, vou listar as inúmeras vantagens de ser um deles.

A primeira coisa é que é muito mais fácil conhecer gente nova e fazer novas amizades sem um namorado do seu lado te distraindo. Quando você sai sozinho para ver os amigos é você quem faz seu horário e você acaba tendo que conversar um pouquinho com todo mundo que está ali. E ninguém do seu lado fica falando “vamos embora?” ou “você não acha que já bebeu demais?” ou “não agüento mais ouvir essa sua piada”.

Tudo bem que nada se compara a uma tarde nublada de sábado vendo filmes em casa abraçados, mas solteiros não precisam fazer todo um processo de deliberação para escolher filmes na locadora. Tá querendo rever “Esqueceram de Mim”? Tudo bem. Está no clima de “Duro de Matar”? Ótimo. Ninguém vai te julgar e você ainda pode comer comidas gordurosas à vontade na frente da TV.

Ah, e você economiza muita grana sendo solteiro. Sendo bonzinho e considerando que vocês não precisem gastar dinheiro com motel, ainda tem jantares, cineminhas, bebidinhas, cafezinhos e presentes nas mínimas datas, como Natal, aniversários do namoro, aniversário de cada um e Dia dos Namorados.

Ficou mais tolerável agora?

Para ouvir depois de ler: 'Til Death Do Us Apart - Madonna

domingo, 9 de agosto de 2009

Uma questão de controle remoto

Tudo que acontece na minha vida me lembra um filme que vi ou um livro que li. Não devia ser o contrário? Meus pais diriam que sim, meus amigos que não.

Diga: como você soube mostrar à primeira pessoa que amou que a amava? Inventou uma maneira ou se inspirou em algo que viu numa série de televisão? Tudo é uma versão de uma outra coisa? Que atire a primeira pedra quem nunca precisou copiar uma frase de um filme por aí.

Toda vez que aparece alguma medida contra a abordagem de alguns temas em certos horários na TV, vem uma galera falar que é censura. Mas a influência dos meios de comunicação é ilimitada. Não no sentido de que podem colocar o que quiserem na sua cabeça, mas é que aquela caixa no meio da sua sala não apenas te informa do que está acontecendo no mundo.

Quando os pais saem e os filhos estão ali, não há formação de opinião sobre política, há um noticiário de como anda a sociedade. Apresentadoras de desenhos animados com roupinhas curtas, rappers pegando no saco. Anúncios com modelos de 16 anos fazendo pose sexual e revistas pornográficas com mulheres vestidas de criança. Você acha mesmo que nada disso fica registrado de alguma forma na mente da molecada? Na minha ficou e aposto que minha analista concordaria.

Mas, ei, não estou dizendo que isso é ruim. Só é preciso ter cuidado para uma coisa não passar por cima da outra, principalmente na dicotomia corpo e mente. Eu tenho uma irmã de 15 anos e sei como as coisas podem fugir do controle.

Vão discordar de mim os mais conservadores, os mesmos que dizem que brincar na rua é mais saudável que vídeo game. Dirão que o melhor é trocar experiências com pessoas por perto. Bobagem. Não há como medir pior/melhor, são experiências diferentes e praticamente tudo que lemos e assistimos tem a experiência real de alguém como base - sem contar que uma coisa não exclui a outra. Na verdade, estamos compartilhando histórias que vem de gente do outro lado do mundo, coisa que era impossível tempos atrás.

Tudo no mundo tem um lado bom e um ruim.

Para ouvir depois de ler: The Machine – Regina Spektor

sábado, 8 de agosto de 2009

O pop tem razão: “Maybe”

“Eu era deprimido pois ouvia música pop ou eu ouvia música pop pois eu era deprimido?”. Essa é uma das questões de “Alta Fidelidade”, não sei se no filme ou no livro ou nos dois. O que interessa é que se trata de uma dúvida incrivelmente pertinente. Para tentar extrair dela algum divertimento – e, quem sabe, alguma sabedoria – criei essa categoria no blog, chamada “O Pop tem Razão”, para analisar alguma música que, de alguma forma, faz sentido. E eu sei exatamente com qual vou inaugurá-la.



Nunca fui fã de Spice Girls e menos ainda da carreira solo das moças, mas o clipe de “Maybe”, da Emma Bunton, me chamou atenção. E, depois, a letra. Como pode um pop tão inocente fazer uma crônica tão justa dos relacionamentos modernos?

Preste atenção no começo da música, por exemplo. “O amor não é engraçado quando está te queimando por dentro, quando tudo que você pensa é como sobreviver à noite. E quando você quer, é apenas um jogo que você joga e quando você consegue, querem tomar de você”. Sobre o mesmo tema, outra parte da letra diz: “E se você quer, não há ninguém pra você. Quando não precisa, existem muitos peixes no mar”.

Não faz sentido? É de comum conhecimento que, depois de um longo período sem ninguém, muitas pessoas aparecem. Não é exatamente algo que gera indecisão, mas um pingo de frustração.

Mas a melhor parte é o refrão, que me lembra as indagações das minhas amigas, querendo ler sinais em todo e qualquer mínimo movimento da pessoa que elas gostam: “Talvez não seja nada, talvez seja tudo na minha cabeça. Talvez eu seja tola, talvez seja uma perda de tempo. Mas eu acho que não, talvez eu tenha certeza que talvez eu esteja apaixonada”.

A gente bem gostaria que os eventos de nossas vidas fossem polvilhados ao longo dela, mas não é assim. São mesmo marés, períodos ruins seguidos de bons, tudo está mudando o tempo todo – mesmo que você não perceba. Quantas vezes você revira seu armário procurando um CD e acha aquele que você estava procurando na semana passada? Pense nisso.