quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Entrevista com o fotógrafo Guillermo Riveros


Nascido em Bogotá, o fotógrafo Guillermo Riveros tem feito cada vez mais sucesso agora que mora em Nova York. Ele é o objeto de todo o seu trabalho, encarnando vários personagens. Gay assumido desde os 15 anos, ele acha o máximo que as pessoas se sintam inspiradas por suas imagens tanto para escrever poesias quanto para masturbação. Eu o entrevistei pro blog Oi Tudo em Cima. Lá está tudo traduzidinho, editado e cheio de links. Aqui está a versão original da conversa, perdoe qualquer deslize meu na língua inglesa.

When you decided to leave Colombia and go to New York?
I moved to New York in the summer of 2007.

And how did New York changed you and your work?
New York has been a great influence for me; on one hand its rhythm has definitely changed my creative process. This city is also extremely vibrant and filled with millions of different people that are very inspiring when creating characters. The availability of material has also influenced the way I work and the possibilities for creation. In Colombia things are harder to find and its complicated to go out on the street and shoot anywhere. Here in New York there are very few limits.


What others photographers you admire?
There are many artists I admire. Some photographers I can think of right now are Juergen Teller, Anthony Goicolea, Cindy Sherman, John Bidgood,Slava Mogutin, Nikki S. Lee and Claude Cahun. I love Bruce LaBruce's punk attitude, and his sense of humour, I think he is a unique mind, and the success of his images and movies come from being a very verbal and funny person. A sort of rebellious intellectual. He has influenced a lot of my ideas about pornography and art; he started a queer punk zine, called “J.D’s” in the late 80’s, that between queer music reviews and top hit lists, the lesbian Tom-of-Finland-inspired drawings of G.B Jones, LaBruce's stories, wanted to antagonize both the gay subcultures and the punk movement. He is one of the most significant and prolific queer artists of the past decades, he has been a huge influence for me since I started working with pornography and queer culture. I’ve been thinking lately about him and the motivations behind pornographic art and how this reflects in queer identities in the age of the internet. From home made porn to facebook profile pictures, flickr, myspace and other world wide web concessionaire/open diary type platforms, where a lot of queer identities are produced and reproduced constantly: the notions of self production, representation and - why not? - self "pornographication" become instantly noticeable and open up the arena for the discussion of bodies that are exposed and observed, in a virtual world where the boundaries of private and public are pretty much invisible.



And what about movies or books? What influences your work?
This is always a hard question. Above all I have to say that one of my favorite movies and books is "The Exorcist". Aside from that one, Its easier for me to think of directors I love, Pedro Almodovar, David Lynch and John Waters have been huge influences for me. Books, many, authors like Michel Foucault and Judith Butler. I'm currently reading Georges Bataille's “Visions of Excess” and Julia Kristeva's “The Powers of Horror”.

You're working on promoting new sets of smaller prints for more affordable prices, is that correct?
Yeah, thinking about the economic situation I want to make some smaller prints at affordable prices to make my work actually more approachable. I'm currently working all the specifics, if anybody is interested in getting more information join my mailing list by emailing mailinglist@guillermoriveros.com and check my website for updates soon!

Can't you say anything more than that?
Its Images from the series "Sigh Oh Nara!", a couple of them are alternative versions to the images you have seen on my website (just to spice it up a notch!) This will be editioned and signed packs of 5 4"x6" prints packed in handmade custom packaging...

Have you ever been to Brazil? What's your impressions of us?
I have never been to Brazil, but I'm dying to go there. There are so many Brazilian things I love: my friends, the music (I've been listening to the likes of Marisa Monte and Fernanda Abreu since I was a kid), off course the language (the music has always made me to want to learn Portuguese, which shouldn't be so hard considering how close it is to Spanish). I also love Brazilian food, I could eat muqueca and brigadeiro everyday!

sábado, 26 de setembro de 2009

O jogo segundo Madonna

"American Life", nono álbum de estúdio da Madonna, é considerado um dos trabalhos mais arriscados dela, no nível artístico e comercial. As músicas são de 2003 e falam de política, religião, família e fama em tempos de George W. Bush invadindo o Iraque e reality shows sobre absolutamente tudo. O CD ganhou boas críticas e os singles até foram bem nas paradas, mas ele não é o favorito de muita gente.

Não é o meu caso.

Por inúmeros motivos, "American Life" é um dos CDs dela que mais gosto. Ele mistura folk e tecno e as letras são as melhores possíveis, ricas e sinceras. Conceitual, o álbum teve produção do franco-afegão Mirwais Ahmadzaï.

Hoje, anos depois de seu lançamento, descobri "The Game", uma canção feita para o álbum e que acabou de fora. Absurdamente linda com uma letra peculiar e que faz bastante sentido para quem já leu alguma coisa sobre espiritualidade, tikun ou Cabala.



You want, I've got
You take, have not
Your loss, my gain
We're all the same

You're in a game but you don't know it
Get in control or you're gonna blow it
Find out his name find out where did it come from
I want to know if he's really got some
Is he really got some?

You have, I lack
We fade to black
Your move, I take
You win, checkmate

We're all sick but we just can't see it
Call it a trick, but we don't want to be it
Try to break through all of your defenses
How would it feel to let go of your senses?

Don't forget to ask him his name
If you knew what I knew, you'd be doing the same
Ambiguity does us no good
I want everything to be understood

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eventful

Essa foi uma semana que pessoas que nasceram em países cuja língua mãe é o inglês chamariam de eventful. Não uso a expressão por ter sido alfabetizado em inglês nem nada disso, mas é que não há uma expressão semelhante na nossa rica língua. Acontece que uma semana eventful, pra mim, não tem a ver com compromissos e agendas lotadas e sim com o número de giros que sua cabeça dá.

Sem muitas delongas e também sem muitos detalhes, foi uma semana que houve de tudo. Absolutamente tudo. De mojitos pecadores às traições mais variadas. De companhias ausentes aos combinados não cumpridos na maior cara de pau do universo. Uma semana onde eu cedi coisas pela última vez e que escrevi sobre coisas que nunca ousei verbalizar.

Por coincidência – se é que elas existem – minha querida prima acabou de fazer um texto em seu blog falando praticamente sobre o mesmo problema que experimentou em São Paulo, onde mora. Não exatamente as mesmas coisas, claro, mas a mesma sensação. Eis meu trecho favorito e que, sem tirar nem colocar, descreve muito bem o que estou pensando:

“Não vou argumentar nem escrever além disso para me poupar de repensar e reviver tudo de novo. Foi desgastante. Fica aqui meu registro de uma semana superestressante com uma pitada de hipocrisia da galera mais próxima que também não me deixou muito feliz. Lanço oficialmente a campanha ‘gente, facilita’”.

E, olha, eu aderi à campanha. Gente, facilita. Hoje em dia a coisa mais legal que tem é ir direto ao ponto numa conversa e a mais fácil que tem é mandar um SMS de celular. Com antecedência, é óbvio.

A única coisa boa dessa semana arrastada da porra é que amanhã vai ter uma mega festa que promete, com companhias maravilhosas, champanhe de graça e bolo. E de bolo eu tô entendendo.

Para ouvir depois de ler: Sick & Tired - The Cardigans

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O inimigo sou eu

Sabe quando você lê uma coisa e acha que aquilo vai mudar sua vida? Eu estava achando cada vez mais improvável que isso fosse acontecer comigo aqui, de frente para uma tela de cristal liquido e recheada de textos curtos sobre assuntos irrelevantes. Mas aconteceu e foi sob a forma de “O inimigo sou eu”, reportagem de Eliane Brum para a revista "Época" sobre um retiro espiritual no interior do Rio de Janeiro.

Como um ex-aluno de ioga que está louco para voltar a praticar desde que interrompeu as aulas, o texto me pegou. Mas imagino que a curiosidade de se aventurar numa experiência dessas diz respeito a mais pessoas do que parece. Ouvir conselhos de monges, sábios pelos olhos até dos mais céticos, são oportunidade únicas.

Isolados do mundo, a primeira tarefa do grupo era meditar e apenas observar a respiração, de olhos fechados, sem interferir. A agenda era rígida e imutável: das 4h30 às 6h30, meditar; das 6h30 às 8h, tomar café-da-manhã; das 8h às 11h, meditar, com um intervalo de dez minutos; das 11h às 12h, almoçar; das 12h às 13h, inscrever-se para fazer perguntas privadas ao professor se quiser; das 13h às 17h, meditar, com dois intervalos de dez minutos; das 17h às 18h, lanchar; das 18h às 19h, meditar; das 19h horas às 20h15, escutar uma palestra (na mesma posição de meditação); das 20h15 às 21h, meditar; das 21h às 21h30, fazer perguntas públicas ao professor. Depois, preparar-se para dormir e, às 22h, a luz se apagava. E tudo recomeçava às 4h da madrugada do dia seguinte, com um sino.

Ela narra a louca vontade de ir embora misturada com a curiosidade de saber como aquilo acabava e descreve a meditação da maneira que sempre quis e nunca achei palavras. Muitos pensam que meditar é descansar e não é nada disso. É um exercício, e dos mais pesados, para a mente. Para alguns, ficar isolado do mundo por 10 dias sem direito a comer carne, tomar remédios, falar e fazer sexo seja uma tortura. A tais pessoas, aconselho ler o texto na íntegra.

Uma das preciosas lições é que vivemos numa época onde as pessoas acreditam que é possível viver sem sentir nenhum tipo de dor física ou psíquica. Basta uma fincadinha na cabeça ou um mero ar nostálgico e já corremos para tomar uma aspirina ou um antidepressivo. Como se felicidade eterna fosse um direito e, o pior, algo alcançável.

O tipo de meditação experimentado aqui chama-se vipássana, baseada no conceito elaborado por Buda de que cada reação de aversão ou cobiça causa uma espécie de nó em nosso corpo. E só removendo – fisicamente – esses nós vamos parar de sofrer. O exemplo é prosaico: “Eu adoro comprar sapatos. (...) O que busco é repetir a sensação que sinto ao comprar um sapato. Não percebo que, por mais que gaste meu salário tentando transformar uma sensação prazerosa em permanente, ela vai passar e vou ter de gastar mais dinheiro para repeti-la. É cobiça, é apego. É ilusão.” Entendem?

Nenhum dos conceitos é estranho para mim, mas fazia tempos que eles não apareciam na minha frente e eu me permiti esquecê-los. O desafio é mantê-los na mente sempre. Pois é fácil ver a beleza do mundo meditando em uma colina gramada ao pôr-do-sol. Complicado é aplicar esses conceitos com um deadline na cabeça ou um parente no hospital. E isso é um desafio e tanto. Acho que vou me inscrever para o próximo grupo.

O que você precisa, segundo os Beatles

Com seus 13 álbuns relançados com uma mixagem mais trabalhada e clara, voltei a ouvir Beatles sem parar. O quarteto foi, para mim, a introdução ao rock. Quando eu era criança, na minha cabeça, existiam apenas MPB e rock – e rock era coisa de gente má, cabeluda e adoradora do diabo. Obviamente, a minha confusão era grande e foi ouvindo Beatles que percebi isso, fuçando a coleção de vinis e CDs da minha mãe.

Crescer ouvindo Jonh, Paul, George e Ringo foi algo que moldou muito minha personalidade e valores. Afinal, as respostas sobre o sentido da vida estão escondidas nos lugares menos prováveis. E da dúvida mais corriqueira às inquietações filosóficas mais profundas, os Beatles responderam tudo.

E é bem mais fácil digerir as divertidas canções que aprender sobre sephirot, rezar virado pra Meca ou ler noventa versículos contando apenas a genealogia de Matusalém. Aliás, imagina só um CD com o Cid Moreira declamando “Something” ou “I Want You” de maneira grave e pausada? Sensacional.

Como dizer para aquela pessoa que você está apaixonado? Prefira a abordagem discreta, fale baixinho. “Closer, let me whisper in your ear, say the words you long to hear: I’m in love with you”. Quando você brigar com um amigão ou se irritar com sua mãe, lembre-se do trecho de “We Can Work it Out”: “life is very short, and there’s no time for fussing and fighting, my friend”. O verso não podia estar mais coberto de razão.

Pensando no futuro? “When I'm 64”. Está desanimado com a vida? Coloca “Hey Jude”. Terminou o namoro? Que tal “Yesterday”? E, depois de dar adeus à sua garota, se bater aquele vazio, ponha na vitrola “All You Need is Love”. A lição? Não há nada que não possa ser feito se você tiver o que realmente precisa. Ou seja, amor.

sábado, 12 de setembro de 2009

Subindo no conceito

É chover no molhado dizer que a Pixar é genial, mas “Up! – Altas Aventuras”, novo filme do estúdio que é braço da Disney, é mesmo maravilhoso. O roteiro é muito bom, sendo divertido e, em vários momentos, sensível.

Um senhor aposentado – dublado no Brasil por Chico Anysio – está prestes a ser mandado para um asilo e decide fugir amarrando centenas de balões de hélio no telhado de sua casa. A idéia é visitar cachoeiras na América do Sul, destino que sempre sonhou conhecer com sua esposa já falecida. O problema é que um aprendiz de escoteiro acabou subindo pelos ares junto, o que abre espaço para situações hilárias entre os dois.

Cheio de referências a filmes antigos, novamente a Pixar dá um ar brilhante a heróis insólitos. De brinquedos a ratos, agora a platéia se pega amando um velhinho rabugento, sendo comovida pelo amor que ele mantém à esposa falecida e pela amizade que nasce com uma criança até então considerada apenas irritante.

A tendência é ir reduzindo um pouco o número de personagens principais em cada filme. Enquanto a Dreamworks, principal concorrente, se preocupa em fazer continuações para sucessos de bilheteria e vai aumentando o número de personagens caricatos a cada novo longa, a Pixar faz o caminho inverso. Vários ótimos filmes únicos com menos personagens principais e muito, muito tempo investido no roteiro, antes de mais nada.

Por isso concordo com quem disse que é a Pixar quem está criando novos clássicos infantis. “Shrek” e “Madagascar” são ótimos, mas são filmes como “Toy Story”, “Monstros S.A.”, “Procurando Nemo” e “Up!” que eu tenho ou terei vontade de rever de tempos em tempos.

Para ver depois de ler: "Up!" (Pete Docter e Bob Peterson), EUA, 2009.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Algumas considerações sobre vegetarianismo

Estou planejando falar sobre isso há meses, mas não sabia ainda qual caminho seguir. Eu parei de comer carne tem cerca de nove meses e, quando eu ainda comia, detestava quem vinha pra cima de mim com argumentozinhos escrotos e vídeos de animais sendo mortos de forma sangrenta. Do meu ponto de vista, gente que faz isso não tem nada diferente daqueles evangélicos chatos que querem que todo mundo ao redor descubra a palavra de Jesus.

Eu reciclo meu lixo e tenho, diria, o mínimo de preocupação com o meio ambiente, mas posso garantir que dó dos animais não foi o principal motivo da minha decisão. Aconteceu que, mesmo não pensando nisso, começou a ficar cada vez mais complicado pensar de forma separada: um pedaço de carne, no animal ou no meu prato, não passa de um pedaço de carne. A diferença básica é que a do meu prato passou por inúmeros processos de cozimento e foi empanturrada de temperos cheirosos para disfarçar que ela está, veja bem a palavra, apodrecendo. Não há argumento contra isso; tá cortado fora do bicho, já começou a apodrecer. E eu não quero colocar isso dentro do meu corpo, obrigado.

Não comer carne é, para mim, uma opção mais saudável para melhorar meu estilo de vida já tão desregrado com refrigerantes e lanches rápidos. O lado ético veio depois. Quando você para de comer carne você começa a se sentir aquele personagem do filme de suspense que tem certeza que viu os fantasmas, mas ninguém acredita. Será que só eu vejo que o discurso que se usa para justificar a exploração dos animais é o mesmo que, no passado, usamos para defender a escravidão e a desigualdade de direitos entre homens e mulheres?

Além da saúde, não comer carne virou um pequeno protesto, minha maneira de boicotar uma indústria que destrói o meio ambiente e explora, tortura e mata animais – sem contar que parar de comer carne abre todo um questionamento sobre tradição e autoridade. Afinal, trata-se de algo cultural que agora, como ser humano autônomo e pensante, eu posso negar.

Eu adoraria estar cercado de pessoas que pensassem assim, mas não me sinto desconfortável com que não o faz. Mas eu também não quero entrar em discussões com quem não está interessado em ouvir sem pedras nas mãos. Trata-se de uma escolha que deve ser respeitada e, se eu não ajo como superior pra cima de você, espero que não faça o mesmo pra cima de mim. Pelo menos reflita antes.

Para ouvir depois de ler: Meat Is Murder – The Smiths

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quero ser amigo do Mika

Não sei vocês, mas eu gosto bastante das músicas do Mika. Quando ele surgiu eu torci o nariz e nem procurei saber do que se tratava. Mas resolvi – não faz mais que um mês – dar uma chance e baixei o primeiro álbum dele, “Life In Cartoon Motion”, e me surpreendi bastante. A voz feminina dele combina muito bem com as letras alegres que ele escreve.

Ele acaba de lançar seu novo single, “We Are Golden”, e eu estou doido para o CD novo dele sair logo. E ele também está. Afinal, desembolsar 25 mil libras em um bar não é uma coisa que a gente faz todo dia!

Mas, calma. Ele não bebeu tudo sozinho. Ele fez um convite a seus fãs pelo Twitter. “Festa hoje à noite no bar Ground Floor, na Portobello Road, 186. Bebidas são por minha conta. Vejo vocês lá. É sério, não estou brincando”. Eu iria e, claro, a galera foi! Mais de 300 pessoas atenderam ao convite e todo mundo ganhou um pint, que é aquele copo padrão de cerveja, com 570 ml, do cantor.

Achei fofo!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O pop tem razão: “Eight Easy Steps”

“Eu era deprimido pois ouvia música pop ou eu ouvia música pop pois eu era deprimido?”. Essa é uma questão de “Alta Fidelidade”, não sei se do filme ou do livro ou dos dois. O que interessa é que a dúvida é pertinente. Para tentar extrair dela algum divertimento – ou alguma sabedoria – criei essa categoria no blog para analisar músicas que, de alguma forma, fazem sentido.



Apesar desse clipe ser uma delícia para quem é fã de Alanis Morissette, por voltar no tempo com trechos de seus clipes mais legais, a letra dessa canção é incrivelmente séria. Ela fala sobre auto sabotagem e, ironicamente, torna esse traço de personalidade um ponto no currículo.

Alanis começa fazendo várias perguntas para, no final, dizer que ela sabe todas as respostas, ou seja, já passou por aquilo. E todo mundo também sabe responder algumas das questões apresentadas aqui.

Como ficar paralisado por medo de abandono? Como manter as pessoas a um braço de distância sem nunca chegar perto demais? Como desconfiar das pessoas que supostamente o amam mais? Como fingir que está bem e que não precisa da ajuda de alguém? Como se sentir desprezível se você está ajudando alguém? Fácil.

Como odiar Deus quando você é um orador e um espiritualista? Como sabotar fantasias com medo de sucesso? Como mentir para você e, consequentemente, mentir para todo mundo? Como continuar sorrindo quando você está pensando em se matar? Como conhecer todos muito bem e então culpá-los por tudo?

Minhas respostas, no caso, são variadas. As de Alanis vem como se fossem a newsletter de um curso a distância:

"Eu tenho feito pesquisas durante anos. (...) Eu lhe ensinarei tudo isso em 8 passos fáceis no curso de uma vida. Eu mostrarei para você, em 8 passos fáceis, qual a aparência da liderança quando ensinada pelo melhor".

E eis um título de melhor que eu não quero mais ganhar.

sábado, 5 de setembro de 2009

O protocolo de preocupação

Quando um amigo não está bem de saúde o que você faz? Pede pra ele te ligar caso precise de alguma coisa e só? Só. Eu não sabia muito bem o que esperar, mas foi isso que aconteceu comigo.

É uma interessante observação de um protocolo de comportamento comum entre as pessoas. Conto nos dedos – de uma mão – quem realmente ficou preocupado com minhas incríveis dores recentes. Existem níveis de gravidade, claro, o grau de preocupação evolui junto com ele, e não é como se eu estivesse com câncer ou coisa nem parecida. Mas pedras nos rins – mesmo quatro – são dignas de preocupação, não?

Sei lá. Nunca tive um amigo que teve isso e não sei como medir – apesar de que, agora que tive, entendo a dor e imagino que serei bem compreensível. Mas o que achei curioso é a repetição exata das coisas. Ninguém pôde oferecer mais do que isso e aí está a cilada da regra. Em que planeta uma pessoa passando mal vai ter a habilidade e perspicácia de ligar para um amigo ajudar caso esteja precisando de qualquer coisa? E que coisas entram nessa lista de “qualquer coisa”? Pois não é possível que a lista seja a mesma para seus amigos, pais e irmãos. É?

Enfim, eis o protocolo: no primeiro sinal de dor ela é só sua, você se vira. No segundo, quando você já foi examinado e aquilo que você teve já tem, também, um nome, o problema continua sendo seu. Mas todos vem perguntar se você melhorou. Se sim, fim. Se não, irão perguntar quando você vai melhorar – afinal, eles tem outras coisas para se preocupar e não podem ter um amigo doente nessa lista. Ele não é prioridade e ainda atrapalha a consciência leve das pessoas. Se a previsão de melhora é a longo prazo, de vez em quando eles perguntam como você está indo. E você responde “bem”. Mas não pense em dar continuidade a isso e se estender demais em explicações sobre sua patologia. Irão te interromper para falar sobre uma comida deliciosa de ontem e a festa sensacional que você perdeu, assuntos bem mais divertidos, convenhamos.

Não acho um absurdo e tampouco fico triste ou revoltado. Eu pago uma pessoa para me ouvir reclamar da vida quatro vezes por mês, não é essa a função desse blog.

E eu não me retiro do cenário também, pois criei uma resposta padrão para quem seguia o protocolo de preocupação. No final, eu praticamente nem falava nada e já mudava de assunto. Pra quê me estender em algo se, no final, enquanto eu falo, o interlocutor vai estar apenas pensando no que vai proferir a seguir?

Mas eis meu momento reclamação: não bastava meu pai, que tem cálculo renal praticamente todo ano, me passar esses genes de merda. Ele não fez questão nem de guardar a data da intervenção cirúrgica e me ligou um dia antes para saber se estava tudo bem. Posso?

É como diz o ditado: “O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso...”



Para ouvir depois de ler: Where You Lead - Carole King