segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

C'est la vie

Lá quando eu tinha 18 anos eu me apaixonei (não no sentido romântico) pela amiga de um amigo. Ela era linda e estava sempre muito bem vestida e perfumada. A gente sentava junto em um restaurante e enquanto eu procurava a cerveja mais barata do cardápio, ela pedia manhattans e outros drinks que eu não conhecia ainda.

Nos cafés de Belo Horizonte, ela falava com desenvoltura sobre autores que eu não conhecia ou que tinha lido um livrinho apenas. As piadas mais inteligentes eram as dela. Os assuntos mais interessantes eram os dela. Ela me falava sobre suas idas à Paris, como gostava muito e conhecia bem aquele lugar. Lembro de me sentir tímido perto dela, um reflexo da minha ignorância.

O tempo passou, nos distanciamos e ficou bem claro que a gente só conversava por causa do amigo em comum. Tudo bem, sem problema, c'est la vie. E essa distância (escondida no "contato" apenas via redes sociais) se revelou extremamente interessante: todo aquele charme que eu via realmente estava lá, mas não era o resultado de uma busca genuína por conhecimento ou cultura. Ela não passava de uma herdeira. O ritmo em que ela devorava livros e música francesa era proporcional ao tempo que tinha disponível por não precisar trabalhar.

(Antes de qualquer coisa, eu admito que identifico em mim uma ponta de inveja aqui. A falta de tempo e dinheiro me priva de várias coisas e ver gente com isso em abundância me revolta um pouco. Mas que bom pra ela! Quero dizer, tem muita gente que prefere usar essas horas para fazer coisas idiotas - e ler autores russos está bem longe de ser uma perda de tempo -, então é louvável que seu ócio tenha sido usado com esse fim, não é essa minha questão)

Mas não consigo parar de enxergar dessa maneira: ela era (na verdade, ainda ainda é) só uma pessoa com tempo, nada mais do que isso. E tempo, ainda mais quando existe dinheiro, transforma todo mundo naquilo que a pessoa quiser ser. Ela é realmente inteligente, mas como ela ficaria sem os perfumes caros, as roupas sempre novas, sem "Monty Phyton"? Sem o tempo para as duas faculdades, as aulas de gastronomia, de francês, italiano e inglês? Deus, como seria ela sem uma empregada doméstica em casa? Não sei, mas seria uma outra pessoa, imagino.

Esse é meu ponto: essa pessoa teria bom gosto se ela não pudesse sustentar o bom gosto? Tudo que ela tinha conquistado (materialmente e intelectualmente) foi, na verdade, oferecido para ela de alguma forma.

Existe muita inteligência adormecida por aí, gente interessada que não consegue correr atrás - pois o ponto de partida rumo àquela inteligência é diferente pra cada pessoa e depende bastante do contexto dela; quase mais do que de sua vontade. Ao mesmo tempo, há quem não queira gastar energia. Eu disse que o que ela tinha conquistado lhe foi, na verdade, oferecido. Mas ela teve a opção de não aceitar. Então o mérito é dela sim. Uma outra amiga sonhava em trabalhar com cinema e animação, e hoje está estudando isso no exterior. Não é só porque ela quer, é porque ela pode. Mas não é conto de fadas, ela precisa ralar, tirar ótimas notas etc. Enquanto isso, tenho um outro conhecido cujos pais não fizeram faculdade e depois de muita economia e luta, puderam oferecer isso ao garoto. Mas ele não quis.

Sempre falava com minha terapeuta quando reclamava da vida: "O problema não é o que eu sou, é o que eu queria ser". Nunca me dou por satisfeito pois eu quero ler mais coisas, ver mais coisas, conhecer mais gente, mais lugares. E quando percebo gente assim, navegando com graça no oceano do tudo-na-mão, fico me perguntando se nossos sonhos para o futuro são (ou deviam ser) proporcionais ao nosso passado. Se os meus fossem, acho que me frustaria menos.

C'est la vie.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Acho que já te vi lá

Eu estava dentro do ônibus já no penúltimo capítulo do livro "My Horizontal Life", da Chelsea Handler: nele, ela narra as divertidas desventuras da festa de reunião da classe de seu melhor amigo gay, onde ela é convidada a fingir que é sua esposa. O tanto de mentiras contadas faz a história ir para caminhos cada vez mais engraçados.

Aí chegou meu ponto: estava indo a um Banco do Brasil perto da faculdade Fumec. As pessoas já estavam levantado - o ônibus estava bem vazio - e fiquei ao lado de uma menina bonita e de mochila que me olhou e disse:

- Você está indo pra Fumec?

"Não, eu formei tem um ano e meio - e nem foi pela Fumec" seria minha resposta honesta. Mas algo do livro me inspirou e o que eu falei, na verdade, foi outra coisa:

- Estou.

Que merda. Agora ela vai me fazer uma pergunta sobre o campus que deveria ser óbvia e eu não vou saber responder. Em um milésimo de segundo tentei lembrar o que sabia do lugar e uma imagem da única vez que estive lá dentro até chegou a aparecer na minha mente. Mas ao invés disso tudo, ela disse outra coisa:

- Acho que já te vi lá.

Ufa. Então resolvi chutar o balde. Sorri e apontei pra uma tatuagem vermelha que tenho no braço.

- Aposto que você está me reconhecendo por causa da tatuagem, né?

- Deve ser - ela disse rindo.

Não acreditei nessa menina, que viagem. Não sei muito bem se ela estava dando mole ou não, mas resolvi ir adiante. Só que o ônibus estava parado no sinal e o silêncio entre a gente ficou meio vergonhoso. Aí ela virou de volta pra mim:

- O que você estuda?

Pânico. O único curso que eu sabia que tinha lá era design que é, sem ofensas, um curso bem gay. E isso iria meio que finalizar o assunto, eu acho.

- O que você acha que eu estudo? - perguntei, jogando verde.

- Design?

Eu ri, disse que todo mundo achava isso ("deve ser por causa das minhas roupas"), mas que era algo que não tinha nada a ver. Pedi pra ela chutar outra coisa. Agora, com a dica, ela foi longe:

- Direito?

- Isso. Sabia que você ia adivinhar - disse e ri.

Descemos. Falei que ia ao banco antes e que qualquer dia a gente conversava mais. Ela despediu de mim com dois beijinhos. Fim.

domingo, 13 de novembro de 2011

Toda unanimidade é burra


No meio desse ano eu assisti o documentário "Daquele Momento em Diante", que fala sobre a trajetória musical de Itamar Assumpção, da Vanguarda Paulista na década de 1980. Ele foi músico, compositor e cantor, gravou vários discos e, teoricamente, nunca fez sucesso no Brasil naquela época. Era "alternativo demais".

Em um vídeo, ele falava sobre a facilidade de fazer um show e ser bem recebido (e, digamos, compreendido) na Alemanha. "No Brasil é tudo uma dificuldade", ele compara. Aí suspira e diz assim: "Até quando esse país vai viver de Chico e Caetano?".

Na semana passada, Chico Buarque esteve na minha cidade, Belo Horizonte, e um dos jornais mais lidos daqui, o Estado de Minas, colocou o músico na capa. As manchetes eram títulos de músicas etc etc. De uma breguiça fenomenal. Uma coisa que chamou atenção foi uma linha que dizia assim: "Chico Buarque é unanimidade".

Se fosse numa sala de aula, era hora de levantar a mão e citar uma frase de Nelson Rodrigues pra professora: "Toda unanimidade é burra".

Eu entendo o fascínio das pessoas por Chico, mas acho que a hora dele passou. O mundo mudou e ele ficou parado. Direito dele. Mas é que gostar das músicas dele parece uma coisa obrigatória aqui nesse país. Mas, convenhamos, ele perdeu a mão nas composições - e tem lá mais que uma década. Não era muito mais legal quando ele era censurado e suas letras eram um desafio? Agora tanto faz.

Mas tudo bem, cada um tem o ídolo que merece. Se vocês acham que um velhaco amarelado continua sendo sexy e bom cantor, que bom pra vocês. E pra ele, claro.

O que me deixa chateado é essa babação de ovo excessiva. Pois isso cerca o cara de uma manta que ele não devia ter mais - não estou falando que ele devia ser desrespeitado, nada disso. Mas li que ele mesmo ficou abalado quando descobriu, há alguns anos, que tinham comunidades "Eu odeio Chico Buarque" no Orkut. Provavelmente ele também acreditava nessa unanimidade. Talvez seja hora dos fãs pegarem leve, serem mais críticos.

Sei lá. Ultimamente tenho concordado mais com Nelson Rodrigues do que com Angélicas, Renatas Marias, Ninas e Lolas. Fãs, em geral, são pessoas chatas, que não gostam de ser contrariadas. Fãs de MPB então, sai de baixo. Li um texto que os compara com religiosos fervorosos: se você não acredita no deus deles, está condenado.

A declaração do humorista Marcelo Madureira, que chamou o cineasta Glauber Rocha de "uma merda”, também sacudiu o Rio de Janeiro. Está vendo? O problema é essa suposta unanimidade. Se muita gente acha, você tem que achar também?

Detalhe: dia 31 de outubro, alguns dias antes do show de Chico em BH, foi o centenário de Carlos Drummond de Andrade, um dos escritores mais respeitados do país, e mineiro. Adivinha se ele foi capa do Estado de Minas...

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Quem são os homofóbicos?

Regina Navarro Lins, psicanalista, fala de sexualidade e relacionamentos em sua coluna na internet. Por acaso, me deparei com uma sobre homossexualidade. Aqui tem ela na íntegra. Mas resolvi fazer um texto contando o que ela fala nas minhas palavras.

A gente sempre julga as coisas com os valores do nosso tempo, com os que nos foram ensinados, sem saber que o mundo foi e é muito diferente dependendo da época e do lugar analisados. Religiões, crenças, ideias, valores e costumes nasceram, se firmaram e até passaram e você nem ficou sabendo. A homossexualidade é um exemplo.

Ela foi uma força conservadora na Grécia clássica (século V a.C.), por exemplo. Em algumas cidades, era uma prática necessária dos ritos de passagem da juventude. Sua repressão só começou nos séculos XII e XIII.

No século XIX, a atividade homossexual deixou de ser classificada como pecado e passou a ser considerada doença. Mas é interessante perceber como o tabu só diminuiu nos anos 60, com o surgimento dos anticoncepcionais: a dissociação entre o ato sexual e a reprodução possibilitou aos homossexuais sair um pouco da clandestinidade na medida em que as práticas homo e hétero se aproximaram. Afinal, ambas visavam o prazer.

Mas a discriminação com gays continua, no formato de piadinha e agressões. Qual o motivo disso então? É que ultrapassa as quatro paredes, claro. Segundo ela, a homofobia deriva de um tipo de pensamento que trata diferença e inferioridade de formas parecidas.

Homofóbicos são, então, pessoas conservadoras e rígidas, no sentido de serem favoráveis à manutenção dos papéis sexuais tradicionais. Pois quando se considera que um “homem homossexual não é homem”, fica óbvia a tentativa de preservação dos estereótipos masculinos e femininos, uma coisa tradicional que tem várias formas. E isso, que já foi amplamente discutido nesse blog, é uma bobagem com os dias contados.

Enfim, a homofobia reforça a frágil heterossexualidade de muitos homens. Ela é, então, um mecanismo de defesa psíquica, uma estratégia para evitar o reconhecimento de uma parte de si mesmo que a pessoa não quer aceitar. Ou acha que é coincidência que todos os ataques a gays são sempre homens atacando homens?

Não acho que necessariamente todo homofóbico é um gay enrustido, mas dirigir a própria agressividade contra os homossexuais pode ser simplesmente um modo de exteriorizar os seus próprios conflitos - e assim torná-los suportáveis.

E acaba tendo também uma função social, especialmente em grupos neo-nazistas, mas também em bares e nos escritórios por aí: um heterossexual que exprime seus preconceitos contra os gays pode ganhar a aprovação dos outros héteros ao redor, aumentando a confiança em si. Não tem meio termo: chamou o time adversário de boiola, chamou o motorista infrator de viado, chamou o colega de trabalho de afetado? Tudo é a mesma farinha. Tudo é preconceito pois o que há de parecido entre as expressões é o fato de igualar os gays a algo que você considera perdedor, errado ou inferior.

A homofobia não deixará de existir num passe de mágica, mas qual é a fórmula? Caminhamos hoje (lentamente, eu diria) para uma sociedade de parceria. E, se nela o desejo de adquirir poder sobre os outros não for preponderante, a homossexualidade deixará de ser tratada como anomalia, passando a ser aceita simplesmente como uma diferença.

Sinceramente, não sei se estarei vivo pra ver isso.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Not easily offended

Todo mundo quer falar e se mostrar, mas ninguém quer ouvir ou ficar em silêncio. Quanto mais observo, mais penso isso. A gente tem tantos lugares, canais e maneiras de dar nossa opinião que esquecemos de ouvir. Não que a gente seja obrigado a ouvir o que os outros têm a dizer, mas acho que o que falta mesmo é tato para delimitar o que deve ou não ser dito.

É o seguinte: as pessoas não se focam naquilo que gostam ou acham que ter opinião sobre algo é não gostar daquele algo. Ou, pior, acham que é obrigatório ter opinião sobre tudo. Bem, adivinhem só, não é!

A frase que escolhi pra ilustrar o banner do blog ali em cima resume bem o que penso do assunto. “Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo”. Não fique perto daquilo que não quer estar envolto. Não gosta de amarelo? Então não use amarelo. É contra casamento gay? Então não case com um gay. Não gosta da banda? Então não ouça o CD. É contra aborto? Não aborte. Simples, simples.

Mas não, tem todo mundo que ficar brigando. Tô cansado dessa ditadura da opinião. Muitas vezes é ficando calado que aprendo mais – sobre o mundo, sobre os outros e sobre mim. Tem muita gente por aí precisando tentar isso.

Já dei a dica num outro texto e repito: Se você faz algo que é bom pra você e que, ao mesmo tempo, não é ruim pra ninguém, significa que é bom pra todo mundo. É pedir demais que as pessoas se foquem naquilo que elas gostam? Que tal todo mundo perceber que o que você odeia pode ser exatamente o que deixa o outro feliz? E que o que você ama não é nada além de bobo pra outra pessoa – e que você precisa aceitar isso. Acho que seria uma boa.

Parem de se ofender tão facilmente e cuidem das coisas que te interessam cuidar.


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Do pão de queijo ao leite condensado de hoje


Minha bisavó tinha uma receita de pão de queijo que era puro amor. A massa era gostosa e fofa e o salgado era sempre grande. Uma fornada saía sempre que eu passava meu dia por lá. Ele sempre era servido com café nessas xícaras cor de mel. Nunca gostei da bebida, nem das xícaras, mas esse cheiro ainda me lembra dessa época. Sigo um fã de pão de queijo, mas igual aquele nunca mais provei.

Outra diversão gastronômica que só tinha lá era Toddy. Sim, Toddy tinha em todo lugar – inclusive na minha casa -, mas era só com leite, óbvio. Mas com uns 5 anos de idade desenvolvi uma fascinação estranha por querer provar o pó nas colheradas. Gostava da sensação seca na boca e do esforço estranho para engolir aquela meleca sabor chocolate que era formada. Pelo nível de bizarrice da coisa, não me deixavam fazer isso em casa. Mas lá podia; casa de bisavó pode tudo. Lembro da textura do sofá onde eu sentava para ver desenho animado com um potinho de Toddy puro. Depois eu ia pro quintal catar tatu-bolinha.

Na casa da minha avó era outra história. Lá tinha Danette e flans, os doces mais chiques do supermercado. Atacava todos, assim como atacava os Yakults. Aqueles potinhos de leite fermentado, por algum motivo muito estranho, só entravam na minha casa se tivesse alguém doente por ali. Agora que cresci e não frequento mais a casa dos meus avós como antes, percebi que os doces ainda estão por lá. Na verdade, eles são os lanchinhos de madrugada no meu avô, que sofre de insônia. Mas ele nunca reclamou de me ver roubando as delícias.

Sorvete também era uma coisa rara de se ver em casa. Potes de 2 litros eram muito caros – na verdade, eu ainda acho que são. A raridade dava um gosto diferente à sobremesa e culpo esses episódios por hoje eu ser um tarado com o doce e não poder pisar em um self-service - minha taça vira sempre um grande nada gelado e super doce.

Tinha também o sorvete de um cara que vendia na porta do meu colégio – o Instituo Lídia Angélica, no Itapoã. Era R$ 1,50 o cascão (com cobertura!) e tinha só um sabor indecifrável. Acho que era abacaxi, mas o negócio era metade amarelo e metade rosa. O “creme holandês” da São Domingos tem o mesmo gosto. Acho aquele lugar uma chacota – pois é caro demais pra qualidade baixa de seus sorvetes -, mas quando passo lá, pego um pote sabor infância.

Vocês lembram que a Coca-Cola tamanho família tinha 1 litro? Cada um da casa tinha um copo durante a refeição do sábado e acabou, meu amigo. Hoje, 1 litro é o que eu levo pra dentro do cinema. Na verdade, acho que o hype todo da minha geração ao redor de produtos como Kit Kat, Nutella e Pringles é isso; é a vontade de só comer tudo aquilo que não podíamos.

Parece que estou reclamando da minha infância, mas não estou. E minha mãe me entenderia: minha avó sempre fazia doces bem legais, mas era dessas que raspava a lata até ao alumínio começar a sair. Por isso, com seu primeiro salário, minha mãe comprou um leite condensado só pra ela. Toda vez que me vejo abrindo mão de um arroz pra comprar umas caixas de bis e alugar uns filmes, digo uma frase que virou o mantra do mercado: “esse é o meu leite condensado de hoje. E eu mereço!”

Boa sexta.

domingo, 26 de junho de 2011

Ini-amigos

Um dia desses eu fiquei pensando em alguns amigos do passado, em como cada um de nós foi para um lado diferente da vida. Nessa categoria de amigos, existem variações menores: aqueles que eu nunca mais nem ouvi falar, aqueles que eu encontro de vez em quando, aqueles que só “vejo no Facebook” e aqueles com quem eu ainda saio e bebo e converso.

Pelo menos um de cada categoria pode ser considerado um ini-amigo. Pessoas que já foram muito próximas e que, por nunca lhe terem feito nada de ruim, você não pode simplesmente dispensar da sua vida. Mesmo que vocês conversem pouco, ninguém tem culpa de vocês conversarem pouco. Ok, soa redundante e babaca, mas eu sei que todo mundo tem alguém assim na sua vida.

O que me fez refletir sobre esse assunto? Bom, várias coisas. Uma dessas pessoas abandonou tudo que tinha aqui (o que não era muito, adiciono) para tentar a sorte em outro país, em outro continente. Admirável, corajoso e muito invejável.

Especialmente por mim, que não tenho peito suficiente para uma investida dessa. Os exemplos são vários e vários. Conhecidos que moram fora mas também os que estão casados com aquela pessoa que foi o seu primeiro amor, ou aqueles que arranjaram o emprego dos sonhos deles antes que eu encontrasse o meu. Etc, etc.

Por isso gosto do termo “ini-amigos”. É que há uma compreensão e um companheirismo em torno da pessoa mas, mesmo assim, há também um pingo de inveja dela ou pelo menos algum nível de competição entre a gente.

Sei que no cinema e na música posso buscar outros milhares de exemplos, então sei que não estou louco. Isso realmente existe na vida de todo mundo, certo?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Divas x Divas


Todo mundo sabe que não sou lá fã de futebol. E só tem uma coisa mais chata que torcedor comemorando a vitória do time que torce: gente comemorando a derrota do time rival. Mas esse texto não é sobre o esporte, é sobre “divas”.

Não vou entrar no mérito do que elas são e de quem merece ou não o título de diva, mas percebi que elas são tipo times de futebol para alguns.

Se sua cantora favorita lançou um CD ou um clipe que você achou legal, você vai lá decora as músicas, as coreografias e arrasa na boate. Mas parece que se outra cantora lançou uma coisa que você achou ruim, você pode fazer piadas com as pessoas que gostam dela. Como se as vendas de um CD fossem um reflexo honesto sobre a qualidade das músicas...

Parece que muita gente esqueceu daquela época que o Lennon estava na plateia do Jagger e agora é cada um por si. Não pode gostar de Shakira e J-Lo, por exemplo. Acho uma babaquice esse tanto de viadinho agindo como se isso realmente importasse, ficando realmente ofendido e ofendendo uns aos outros por causa da pessoa que eles admiravam (olha isso!). Como se você ser fã de tal ou tal cantora definisse o seu caráter, seu senso de humor, seu lugar no mundo, seus valores.

É estranho. Tem muito preconceito no mundo com os gays e eles ainda conseguem arranjar um motivo a mais e besta como esse para brigar. Fora dessa comunidade são raros os casos, o resto do povo não está nem aí. "Eu gosto de Móveis e você gosta de Pato Fu. Ok, então". Mas não, não pode ser assim. Se o fulano gosta de Kylie e você gosta de Beyoncé, vocês tentam um explicar pro outro porque sua 'ídola' é melhor que a dele". Não, gente! Não é assim! Foda-se.

Na verdade, o maior problema é que não é apenas uma questão de gosto, é uma questão de ódio. Olha só: eu não vou muito com a cara do povo do Offspring, sabe? Então eu não baixo CD da banda e não vejo os clipes dos caras. Eu não corro atrás de tudo que eles fazem para poder anotar o que eu acho errado e jogar na cara dos fãs da banda. O que não gosto na banda não é uma prova irrefutável de que ela é ruim, não funciona assim. E muito menos irei usar os elementos que eu não gosto do Offspring para justificar a minha idolatria por outra banda. São artistas diferentes e há espaço para todos - talvez não no meu iPod, mas no mundo sim.

(Lady Gaga é um bom exemplo do contrário. Eu gosto dela. O que ela faz está longe de ser genial, mas também está longe de ser medíocre. O clipe novo saiu e, antes que eu pudesse ter tempo livre para ver, todas as pessoas que eu conheço e que não gostam dela já tinham visto e estavam pra lá e pra cá falando que o clipe é ruim. Oi? Que tara é essa? Pra quê isso? Deixem pra lá se vocês não gostam)

As pessoas também esqueceram que música é arte. E arte, em sua excelência, é subjetiva. Eu gostar não faz a coisa boa; eu não gostar não faz a coisa ruim. Estamos claros? É de uma arrogância muito grande comportamentos limitados desse tipo, rivalidades imaginárias como essas.

Que tal todo mundo perceber que o que você deixa de fazer pode ser exatamente o que deixa o outro feliz? É pedir demais que as pessoas se foquem naquilo que elas gostam? Acho que seria uma boa.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Em que planeta você vive?

“Não acredito que todas essas bandas foram confirmadas no Planeta Terra. Já tô lá! (nunca ouvir falar de nenhuma)”

Alguém postou isso no Twitter dia desses, antes dos ingressos do festival se esgotarem, e eu ri muito. Resumiu bastante o que eu acho dessa febre toda de um festival com meia dúzia de bandas esgotar os trocentos mil ingressos em poucas horas.

Tem um amigo que chama essas coisas de Nutellas. Vocês lembram quando Nutella era uma coisa muito, muito cara? Todo mundo que tinha experimentado tinha gostado e fim. Aí ficou mais barato e, agora, todo mundo ama Nutella mais que a vida e quer casar com Nutella e ter filhos de Nutella. Nutella é tudo de bom, maravilhoso, melhor coisa do mundo e eu sempre gostei desde criança. É isso que está acontecendo com a música?

Mas ó, sou o primeiro a falar: não sou uma pessoa atualizada. Demoro para ver e ouvir aquilo que todo mundo está vendo e ouvindo agora. Sabe aquele cara vacilão que vem falar do novo CD da banda quando ela já está quase lançando o próximo? Pois é, sou eu.

Por isso, tudo que vou falar aqui agora tem pouca credibilidade, mas eu fico muito intrigado quando anunciam aquelas bandas que eu realmente nunca ouvi falar e geral vem comemorar quase com orgasmos.

(E quando tocam Florence and the Machine na boate? Povo berra a letra como se fosse a última música que vão ouvir na vida. E essa babação em cima da Adele agora? Eu, sempre o último a pegar essas coisas, tinha pensado em falar assim com um amigo: “Sabe a Adele, daquela música 'Chasing Pavements'? Já ouviu o novo CD dela?”. Antes de chegar à quarta palavra da frase fui interrompido por um “Meu deus, ela é maravilhoooooosaaaa!”. Até levei susto. Gente, é boa, mas não é isso tudo, fiquem calmos).

Tem uma safra de novos artistas que eu sei quem são, eu já ouvi ou já ouvi falar. Me passaram os clipes, vi no "SNL", etc. Estou cercado de pessoas antenadas em música e trabalho com isso. Mas sério, vocês realmente amam tanto assim The Vaccines? E Toro Y Moi é mesmo isso tudo? Vocês realmente ouviram algo do Peter Bjorn and John além daquela música do assobio? Poxa, vocês não só estão com tempo como são bem reservados.

Sim, pois antes do line-up do Planeta Terra, por exemplo, ninguém nunca falou de nenhuma dessas pessoas. Nunca me indicaram, nunca me passaram um link, nunca citaram numa conversa. Nunca vi nada a respeito desses artistas vindo da boca das mesmas pessoas que agora estão se matando ali na fila dos ingressos. Estranho, né?

Aquele seu amigo de bigode e de xadrez que acabou de twittar que o show da Sharon Jones foi o melhor do mundo nunca tinha mencionado a mulher antes - mas, claro, sabe todas as referências do último clipe da Lady Gaga e ficou falando mal dele no Twitter a semana passada toda. Talvez eu é que esteja abilolado demais com a minha ideia utópica de que as pessoas deviam falar mais é daquilo que as agrada. Ou é mesmo uma inversão de valores?

Não duvido que as bandas que citei sejam boas (aliás, vou até procurar ouvir tudo delas para entender a melação), mas elas também são só exemplos, não é nada contra elas, tá?

Fiquei pensado se isso era uma continuação daquela veia de pensamento do começo dos anos 2000, do “eu sou mais indie que você” e concluí que não. Afinal, se você quer provar que é alternativo e you've probably never heard of it, não pode se vangloriar de conhecer artista que está vindo pro Brasil, né? Você tem é que citar uma banda underground da Macedônia que nem lançou o primeiro EP ainda. Quem toca em festival já é mainstream demais pra essa galera.

Mas aí eu penso nas últimas coisas que baixei. Adicionadas recentemente no iTunes: Sara Lov, Hunx and His Punx, Cults, Pigeon Detectives, Ultraviolet Sound e Junior Boys. Também nunca mostrei nenhum deles para ninguém. Mas também duvido que fosse saltitar de alegria se algum confirmasse show no Brasil. Então não sei o que concluir. Não sei bem porque o hype alheio me incomoda. Será que é porque não faço parte dele, doutor?

Acho que tudo em excesso é perigoso e isso que presenciei com os ingressos do Planeta Terra é um bom exemplo de como a internet está deixando o povo mais mente fechada que aberta. Está fechando o povo em grupinhos ao invés de colocar as pessoas em contato com coisas diferentes e que façam sentido para elas mesmas. É como se você precisasse conhecer tal e tal coisa para ser cool. Sendo que as tais coisas são sempre novas, nunca um clássico. É sempre a nova do The Killers e não a antiga do U2 – como se fossem super diferentes.

Preguiça. Não preguiça de conhecer essas bandas novas, mas de achar que conhecê-las é o suficiente para alimentar minha cultura musical – especialmente pois há muito, muito mais por aí.

O babacômetro tá chegando num nível alto demais.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Esteja aqui


Na última semana eu estava cercado de pessoas muito agradáveis. Metade dessas pessoas era formada por amigos de longa data, outra metade por novos conhecidos com quem me dei muito bem. Tínhamos bebido, estávamos dançando e cercados de pessoas animadas, fazendo a mesma coisa. No primeiro silêncio de falta de assunto, o rosto de todos eles brilharam. Mas não estou sendo metafórico.

Era o reflexo da tela do celular de todos eles. Verificando suas contas e citações no Twitter, Facebook e outras redes sociais. "O momento presente deixou de ser divertido, vou me atualizar sobre o momento presente dos outros". Parecia que a ação coletiva era essa. Eu não tenho esse hábito móvel. Eu trabalho no computador e online, e sempre dou uma olhada nesses sites mas, quando desligo o PC, me desligo deles. Por isso essas coisas me irritam, acho. Dá vontade de tacar os aparelhos alheios na parede, gritar “vida real!” e sair correndo pelado na rua. Mas eu me controlo.

Como disse Seinfeld, é como se a pessoa pegasse o telefone e comparasse aquele conteúdo com o que você está dizendo e decidisse o que é mais interessante. Como se ninguém conseguisse ficar focado numa coisa só por mais de alguns minutinhos. Como se essa grosseria não fosse equivalente à de abrir uma revista na sua cara enquanto você está falando e começar a ler suas páginas.



Isso tem um nome, sabia? É FOMO, sigla de “fear of missing out”, ou seja, “medo de perder alguma coisa”.

Jeena Wortham, do New York Times, escreveu um texto muito bom sobre isso, algo que todos nós já fomos testemunhas (ou somos participantes) sem entender direito mas sabendo, quase instintivamente, que algo nisso está errado.

O que as pessoas fazem, na verdade, é comparar o que estão fazendo e onde estão com o que os outros estão fazendo e onde eles estão. É como se houvesse um medo de que, estando aqui, você está desperdiçando sua oportunidade de estar naquela festa cuja foto alguém acabou de colocar no Facebook.

Parece rídiculo, é compreensível, mas não é nada mais que verdade. Se você está aqui, você não está em outro lugar. É muito simples. A vida toda, desde o começo, foi assim. Se você está com essa roupa, não está com aquela outra; se casou com fulano não casou com beltrano. Mas é que antes você não sabia em tempo real o que está acontecendo no resto do mundo em paralelo, né?

Tem um personagem no filme “Mensagem Para Você” (recomendo muito!) que faz uma observação interessante nesse sentido. Ele conceitua o vídeo cassete como um aparelho que serve para gravar a programação da televisão quando você sai de casa. Mas conclui que parte do objetivo de sair de casa, muitas vezes, é exatamente o de não ver TV. Certo?

De volta à matéria, a jornalista conta sobre uma amiga que se sentia de bem com a vida até abrir o Facebook e ver o status de alguém falando, por exemplo, que teve um filho, enquanto ela tem 28 anos e três colegas de quarto. Nessas ocasiões, ela disse, sua reação instintiva é, com frequência, postar um relato de uma coisa legal que fez ou uma foto divertida do seu fim de semana. Isso a faz se sentir melhor, veja bem. E, claro, deve provocar FOMO em outra pessoa.

Sherry Turkle, uma professora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, diz que à medida que a tecnologia se torna mais onipresente, nossa relação com ela se torna mais íntima, conferindo-lhe o poder de influenciar decisões, humores e emoções. Mas é só se a gente deixar, claro. Suas redes sociais não precisam ser um reflexo fiel da sua vida real - listando o que você faz ou onde está e com quem - o tempo todo.

Tanto, que a jornalista perguntou a Turkle o que as pessoas poderiam fazer para lidar com esse dilema estressante do FOMO. Ela simplesmente disse para deixar o celular de lado um pouco.

E aí, você consegue?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O homem das cavernas em você

Acabei de ler um texto muito bom (esse aqui ó) sobre como um simples batom na cara de uma moça faz um bando de homens correrem atrás dela como cães atrás de uma fêmea no cio.

Não defendo assobios nem xingamentos na rua, mas é inegável que esses traços evolutivos têm resquícios complicados de escapar - você acha que churrasco é um evento social divertido inventado pela galera da facul ou uma variação de um ritual cavernoso de assar a carne da caça dançando em volta da fogueira?

Outra coisa é que batom vermelho - e rosa, e vermelinho na bochecha (chama blush, né?) - comunica mais do que essas mensagens sociais que ela identificou na festa onde foi. A gente cora quando está sexualmente excitado. Isso é fato. E há algo de primitivo em ver isso escancarado pra gente, em ver uma pessoa rubra. As primeiras a perceberam isso foram as egípcias. Qualquer dia, zapeando pelo History Channel ou pelo Discovery, você pega um documentário sobre o assunto.

Mulher maquiada chama atenção pois parece excitada. Quadris largos chamam atenção pois são uma garantia de que a moça vai conseguir parir meus filhos. Mulheres de salto chamam atenção pois lembram patas de mamíferos. Homens musculosos são bons de caça e vão prover bem para minha família. Isso tudo passou, passou, mas foi empacotado de um jeito diferente pra nossa sociedade, que agora tem outros valores.

Os códigos que caem não são substituídos por outros, o que gera confusão. O que funciona ali, é brega aqui, etc. As regras sociais tem diferenças gritantes dentro da mesma cultura. O cara que quer te conquistar chamando pra beber pinga e dançar um funk leva um tapa seu, mas leva a virgindade de outra. Tem gente que acha isso legal, e não aquelas coisas que você gosta. Por isso todo mundo tende a ficar mais fechado nos mesmos ciclos. As outras realidades não nos dizem respeito. Fora do nosso ciclo, sempre achamos que estamos diante de um grupo de canibais que compensam com X aquilo que lhes falta em habilidades sociais. Sendo X um tipo de música, de roupa, de celular, uma profissão, um hábito...

Outra coisa que tem a ver é que a moça que colocou um short curto pois estava com calor não merece ouvir os mesmos assobios na rua de quem colocou o mesmo short justamente para ouvi-los. Mas não tem como alguém de fora saber o objetivo dela ter usado aquela roupa, certo? Mas tem como ninguém assobiar também, não tem?

Mudando de assunto, mas ainda nesse: dias desses constatei uma coisa meio estranha. Quando me xingam de viadinho na rua eu não posso fazer nada. Mas tenho um amigo gay que sempre grita alguma coisa de volta. Ele é forte. Malhado de academia, mesmo. Fiquei pensando nisso um tempo. Xingam ele e ele revida, apelando para a força, chamando para a briga. “Vem aqui apanhar do viadinho então, vem!”. O valentão que gritou sempre corre. Primitivo, não? Das duas partes!

Mas funciona.

domingo, 1 de maio de 2011

A bolha hétero

O discurso de um colunista sexual gay sobre os héteros hoje em dia. Tem um pouco a ver com o que eu escrevi aqui, lembra? Veja o vídeo. É bem interessante.



Eis algo curioso sobre essa coluna que faço há tantos anos. Dos 17 aos 25 anos, quando comecei, odiava os caras héteros. Quando comecei a coluna era uma piada e eu era mal com héteros. A ideia era ter uma coluna de conselhos que fosse o contrário daquelas homofóbicas, sendo heterofóbica. Por um tempo fui todo "fuck you, straight people, fuck you, straight guys, I fucking hate you! Vão se fuder"

E os héteros meio que gostaram e eu comecei a receber várias cartas de homens seguindo meus conselhos. Alguns anos depois, como o Grinch, meu coração cresceu e, de repente, eu amava os héteros. Não daquela maneira estranha que eles se amam, mas sim de uma forma platônica. Pois eu comecei a ter pena deles.

"Eles mandam no mundo, eles mandam no mundo". É, mas mandar no mundo não é tão glamuroso, alguém tem que mandar no 7/11 e no Taco Bell e quem quer fazer isso? Deixe com eles. Mas, sexualmente, eles são miseráveis. E quem os deixa assim? Mulheres, gays e outros héteros.

A identidade heterossexual, desde o começo dos movimentos de direito civil das mulheres e dos gays, tem sido ameaçado, digamos. De alguma forma, nos anos 60, quando os gays começaram a sair do armário, de repente era gay ter seu pau chupado - não apenas chupar um pau.

Se você é um cara hetéro na América, hoje, o que te faz hétero é não ser menina e não ser bicha. Então tudo que meninas fazem ou gostam ou que bichas fazem ou gostam é proibido. E você quer manter seu currículo de hétero, então homens héteros não podem ter sentimentos, não podem ter mamilos - todo dia eu recebo cartas de héteros dizendo "eu gostaria de ter meus mamilos estimulados enquanto chupo minha namorada, sou gay?" Não! Nenhuma quantidade de carinho no meu mamilo faria uma vagina tolerável pra mim! Pode ligar a bateria de um carro neles e não funcionaria.

Não podem ter sentimentos, não podem se preocupar com o que vestem ou com suas aparências e há esse terror de que alguma coisa no sexo deles não é "normal". Uns caras acham estranho pois só gostam de cachorrinho e isso deve ser gay, pois ser gay tem a ver com bundas, né?

E recebo cartas das namoradas também. "Meu namorado deve ser gay pois ele gosta de cachorrinho, de estimulação nos mamilos, pois ele corre pra casa pra assistir 'ER'". E que triste é ser hétero e ter o mundo todo fechado pra você.

Meninas vão para a faculdade e têm experiências lésbicas, até se identificam como lésbicas por um tempo, e depois se formam e falam "ah, no que eu estava pensando? Eu gosto de pinto". E héteros se casam com elas e acham isso legal e pedem pra ouvir à respeito, mas héteros sabem que elas são hétero agora. Eles não pensam "você é lésbica, eu sei que é, pois você não teria feito essas coisas se não fosse uma lésbica secretamente e pra sempre".

Mas se um héteros conhece, digamos, apenas um cara e eles dão uns pegas uma noite, bêbados, e os amigos descobrem, ou se sua namorada descobre... A piada é "você constrói mil pontes e ninguém te chama de engenheiro, mas chupe um pinto e você é bicha pro resto da vida". Que tristeza!

Tem uma bombeira lésbica que trabalha perto do meu escritório e uma vez ela passou por mim e eu dei uma checada nela. Depois pensei "nossa, é uma mulher!". Agora é uma piada nossa. Ela chegou pra mim e me disse isso. "Você quer trepar comigo, mesmo sabendo que sou mulher!" e é verdade, eu treparia com ela. E isso não me faz menos gay. Há uma mulher, no mundo inteiro, com quem eu transaria. E, héteros, não te faz menos hétero ter um homem no mundo que desperte algo assim, de alguma forma, no seu cérebro. Chace Crawford que seja! Crossdresser não te faz menos hétero. Você gosta do que você gosta.

Se seu sexo envolve um homem e uma mulher é sexo heterossexual, não importa o que vocês façam. Nem se ela enfiar o dedo no seu ânus. Não é um interruptor que vai te transformar em gay! Se ela coloca o dedo lá e você gosta, você está gostando daquela "straight finger in the ass action"! Recebo milhões de cartas com essa de "eu gosto de fio-terra, diga-me que não sou gay", de homens e de suas namoradas. Mas não recebo cartas de gays falando que os namorados deles gostam de ver filmes pornô com mulheres. Eles não pensam "ai meu deus, ele deve ser hétero!"

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Se voce me odeia,

Eu te amo. E não seria metade do que sou sem você, juro. É seu ódio profundo que me dá forças para continuar em frente, exatamente da minha maneira.

Prometa que nunca vai deixar de me odiar ou não sei se a vida continuaria tendo sentido para mim. Eu vagaria pelas ruas insegura, sem saber o que fiz de tão errado se alguém como você não me odeia, é porque, no mínimo, não estou me expressando direito.

Sei que você vive falando de mim por aí sempre que tem oportunidade, e esse tipo de propaganda boca a boca não tem preço. Ainda mais quando é enfática como a sua - todos ficam interessados em conhecer uma pessoa que é assim, tão o oposto de você.

E convenhamos: não existe elogio maior do que ser odiado pelos odientos, pelos mais odiosos motivos. Então, ser execrada por você funciona como um desses exames médicos mais graves, em que “negativo” significa o melhor resultado possível.

Olha, a minha gratidão não tem limites, pois sei que você poderia muito bem estar fazendo outras coisas em vez de me odiar - cuidando da sua própria vida, dedicando-se mais ao seu trabalho, estudando um pouco. Mas não: você prefere gastar seu precioso tempo me detestando. Não sei nem se sou merecedora de tamanha consideração.

Bom, como você deve ter percebido, esta é uma carta de amor. E, já que toda boa carta de amor termina cheia de promessas, eis as minhas:

Prometo nunca te decepcionar fazendo algo de que você goste. Ao contrário, estou caprichando para realizar coisas que deverão te deixar ainda mais nervoso comigo.

Prometo não mudar, principalmente nos detalhes que você mais detesta. Sem esquecer de sempre tentar descobrir novos jeitos de te deixar irritado.

Prometo jamais te responder à altura quando você for, eventualmente, grosseiro comigo, ao verbalizar tão imenso ódio. Pois sei que isso te faria ficar feliz com uma atitude minha, sendo uma ameaça para o sentimento tão puro que você me dedica.

Prometo, por último, que, se algum dia, numa dessas voltas que a vida dá, você deixar de me odiar sem motivo, mesmo assim continuarei te amando. Porque eu não sou daquelas que esquece de quem contribuiu para seu sucesso.

Pena que você não esteja me vendo neste momento, inclusive, pois veria o meu sincero sorrisinho agradecido - e me odiaria ainda mais.

Com amor, da sua eterna ‘Fernanda’
- Fernanda Young


domingo, 3 de abril de 2011

Em algum lugar por aqui


Acabei de ver "Somewhere" e chorei em algumas cenas, viu? É um belo filme e cuja trilha sonora consegue arrancar lágrimas de tão bem pontuada. Mas uma outra coisa me chamou a atenção. A relação da menina com o pai lembra muito a minha com o meu pai. Claro que meu pai não era famoso ou rico e era ainda menos presente que o moço do filme, mas o tipo de relação é quase igual – pois o personagem é bem parecido com meu pai: bobo, mentiroso, distante e quase álcoolatra. O abismo intelectual que Cleo tem diante de Johnny é diferente, mas quase do mesmo tamanho daquele que eu tinha com meu pai. Aquele abismo que me deixava abobado. Eu ficava olhando para ele, tentando tomar coragem pra pular, mas eu ia cair se eu tentasse. Era melhor ficar cada um numa beirada mesmo, gritando. Mas aí eu fiquei rouco, parei de tentar ser ouvido, saí da beirada e fui pra casa.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Alguns desenhos

Estava falando sobre desenho no MSN e me pediram alguns exemplos. Não tenho scanner, mostrei na cam. Tirei uns prints e estão aqui, só para constar.







segunda-feira, 14 de março de 2011

Top 5 motivos para assistir "Mary Tyler Moore"

Do OTEC: Talvez você nunca tenha ouvido falar, mas “The Mary Tyler Moore Show” merece muito a sua atenção. O seriado contava a vida de Mary Richards, uma mulher de 30 anos, solteira, que trabalhava como produtora de TV em Minesota, Mineápolis. O seriado, que ganhou 6 Emmys e 3 Globos de Ouro, significou muito na época e ecoa em várias produções até os dias de hoje.

No Brasil, chegou a ser exibido pela Globo na época e teve reprises no Multishow vários anos depois, mas até hoje não há uma edição nacional dessa pérola em DVD. Uma pena, pois é dessas que o humor sempre parece fresco. Então resolvi fazer essa lista. Eis os motivos que você tem para procurar mais sobre essa série!

5 – Você estuda ou é formado em comunicação social
Mary Richards trabalha na redação de um jornal diário. Acha complicado imaginar alguém fazendo jornalismo numa época sem celular, xerox, computador e muito menos internet? Bom, te digo que era possível fazer, era bem feito e a série representava isso sem ser piegas. A redação não é o destaque no contexto de “Mary Tyler Moore”, mas é bem interessante ver os bastidores de um jornal dos anos 70 com personagens tão ricos quanto esses. Sério, me dá muita vontade de trabalhar com eles.

4 – Você gosta de coisas retrô
E a moda é cíclica, vocês sabem. O seriado foi exibida de 1970 até 1977 e revê-lo é um passeio profundo na moda da época. E com moda eu quero dizer roupas, acessórios, sapatos, decoração e cabelos. Tanto dos homens quanto das mulheres. É muito bom assistir e se pegar com todo tipo de pensamento, desde “que roupa baranga é essa?” até “vi um vestido desse no shopping ontem”. Só aquela abertura, com “Love is All Around”, já vale a viagem!

3 – Oprah aprendeu com ela
Oprah Winfrey já falou milhões de vezes que foi com essa série que ela aprendeu a se colocar em primeiro lugar, a se valorizar, e hoje ela ultrapassou a fase de ser a apresentador mais bem paga do mundo e inaugurou seu próprio canal de TV. Hum, então deu certo. No cenário do show, Mary tinha uma letra M colocada em uma parede e a apresentadora confessou que, assim que alugou seu próprio apartamento, mandou fazer uma letra O para pendurar por lá. Em 1997, ela chegou até a refilmar a abertura da série.

2 – Você tem alguma opinião sobre “Sex and the City”
Não importa qual. Se você acha as garotas super modernas por serem solteiras ou se acha todas bobocas por terminarem a série casadas, precisa ver as de “Mary Tyler Moore”, que eram muito mais convictas de sua solteirice e muito mais felizes assim. Sem contar que os anos 70 foram o ápice da conquista de direitos femininos e a série reflete isso muito bem, tendo apenas mulheres independentes, poderosas e bem humoradas no elenco. Pegue a personagem Sue Ann, por exemplo. Apresentadora de um programa para donas de casa, sobre tarefas de limpeza e receitas culinárias, nos bastidores era a mulher mais ninfomaníaca que a TV já tinha visto (e podia ver) na época. Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha ficariam chocadas.

1 – Você gosta de “Friends”
David Crane e Marta Kauffman, criadores da série sobre os amigos, amam o seriado antigo e chegaram a dizer que Monica é baseada em Mary e Rachel em Rhoda, a melhor amiga dela na história setentista – ou seja, as letras iniciais não são coincidências. Basta uma amostra de poucos episódios para ver que algumas histórias foram chupadas daqui – Joey é igual Ted e Chandler é quase um outro Murray. Isso tira o mérito de “Friends”? De jeito nenhum. Fazer coisas completamente inéditas vai ficando cada vez mais complicado com o tempo. A arte hoje é se inspirar e levar a coisa para um outro nível de relevância. E “Friends” fez isso muito, muito bem. Mas é sempre bom ir à fonte, certo?

sexta-feira, 4 de março de 2011

Mea culpa


Quando me formei, escrevi um texto falando dos meus professores chatos. Acho que ele foi respeitoso com eles na mesma medida que eles foram comigo ao longo do curso. A questão é que era só mais um textinho no meu blog pessoal, mas o negócio causou uma comoção maior e muito interessante.

Um dos professores citados é tão babaca que comentou anonimamente no post, falou sobre o blog na sala de aula - com xingamentos pessoais dirigidos à mim - e tentou juntar outros professores para me processar na justiça. E, o pior, achou que eu não ia ficar sabendo de nada disso. Até hoje penso como teria sido divertido que os professores se juntassem contra mim. Consigo ler as manchetes no jornal e a humilhação pública da instituição e do próprio currículo deles, meu texto sendo replicado em vários outros lugares e o blog sendo super acessado. Enfim, não aconteceu. Uma pena.

Mas a parte mais boba é o comentário anônimo, claro, pois eu dei nome aos bois e assinei o texto. Ele não foi homem o suficiente para isso? Agora, passado o ocorrido, achei melhor ir lá e apagar os nomes das pessoas – afinal, elas mesmas já leram, então tanto faz. Mas é importante falar que metade dos citados naquele texto estão, hoje, fora da faculdade. Não é coincidência, é a prova de que minhas reclamações têm algum fundamento. Todos muito bem colocados no mercado, claro, pois ter contato é tudo e gente chata só cai pra cima, mas estão fora de lá.

E olha, nem precisa ter frequentado faculdade para saber o seguinte: reclamar de uma professor durante a gestão dele é suicídio. A vingança sempre se refletirá nas suas notas e no grau de dificuldade da disciplina que, sem mais nem menos, vai aumentar (por isso o desabafo ter vindo depois do diploma não mostra imaturidade, mostra apenas uma esperteza compreensível). Isso quando não é o próprio coordenador quem defende a professora antiquada dizendo que “ela não pode ser demitida pois trabalha na instituição há 20 anos e não será um bando de calouros que irá tirá-la de lá”. É. A profissional que não se atualizou era mais importante para a faculdade do que os alunos que a mantêm. Legal, né?

Outra coisa interessante daquele texto é que fiquei sabendo a reação de alguns colegas. Todos eles carregam provas e são testemunhas dos fatos, mas, claro, têm impressões diferentes. Isso é normal. O curioso é que alguns adoraram o texto e acharam tudo hilário, outros discordaram com tanta raiva que só consigo imaginar um cenário: o da carapuça que serve. Afinal, quando falei dos outros alunos, não citei nomes. Caso tenham se ofendido, me desculpem, estou aqui para conversar se quiserem, mas saibam que a culpa é mais de vocês do que minha.

Mas o texto causou um problema maior que todos esses. A proporção que ele tomou deu a impressão de que eu tinha odiado o curso e o corpo docente. Uma mentira. Eu gostei muito e foi uma experiência que levarei para sempre. Mas senti que ofusquei meus professores brilhantes falando apenas daqueles que, na verdade, não mereciam palavras. Vou agradecer sem nomes – os inocentes pagam pelos pecadores – mas realmente sinto o que escreverei à seguir.

Meu professor e orientador de conclusão de curso iluminou bem o meu futuro. Me deu condições mais do que suficientes para que eu visse o que queria ser, com o que eu queria trabalhar e muitas outras coisas que ele nem faz ideia. As professoas das matérias semiótica e sociologia simplesmente mudaram minha vida e continuarão sendo mentoras. Eu nunca mais vi o mundo e nenhum ser humano da mesma maneira e faltam-me palavras para dizer como eu gostaria de morrer tendo, pelo menos, metade da genialidade delas. Minha professora de jornalismo online, querida, foi outra assim. Além de ter me ajudado a conseguir meu primeiro estágio, virou coordenadora do curso perto da hora que eu estava para sair da faculdade e lidou muito bem com os trâmites e o apocalipse que são greves de professores e faculdade sendo vendida. Deve ter sido a melhor coordenadora que este curso já viu.

Sem mais no momento.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre filmes pornôs

Estava relendo textos antigos meus e achei este, do dia 2 de dezembro de 2007.

Alguns sabem as inúmeras histórias engraçadas que trabalhar numa locadora de filmes me deu. Especialmente a sessão de “filmes eróticos”. É muito curioso quando chega uma mulher fina pra alugar um desses – sempre imaginamos que a clientela é só de velhinhos tarados ou de jovens frustrados, mas dá todo tipo de gente. E o motivo é que há todo tipo de filme. E, durante uma faxina por lá, tomei a liberdade de listar aqueles com os títulos mais engraçados e postá-los aqui.

Começando com "Kinky Ladies Of London”, um filme britânico, óbvio. Daqueles bem hardcores aparentemente. As fotos da capa dão até medo. Super impressão de que em London toda Lady é kinky. Há também um chamado “Perereca 220 Wolts”. e eu não sei o motivo e nem quero saber. Ao contrário do outro, a capa/contra-capa é muito light. Mas o título é engraçadissímo, diz aí!

Não posso fazer um post sem citar “La Conga Sex” o filme da Gretchen. A capa do filme simplesmente diz “photoshop!”. Aí você vira e tem fotos dela de quatro e tals e me dizem “gente, mas essa mulher não era evangélica?”, e eu digo “ué, que eu saiba evangélica também faz sexo”. Não faz?

O melhor foi um cara que perguntou sobre novidades por trás das cortinas e esse era o filme mais novo. Com idade para ser meu pai, ele arregalou os olhos e perguntou, todo feliz: "Uau, com aquela bunda dela deve ter pelo menos uma cena de anal, né?"

Tem dois que o título também me chama a atenção: “Ensina-me A Transar” - pois faz piada com “Ensina-me a Viver” e tem uma freira-dominatrix na capa -, e “Mandingas do Sexo”. Esse último achei estranho, pois eu achava que a palavra correta era “mendigas”... Mas aí me contaram que "mandiga" é sinônimo de macumba.

Na parte dos filmes pornôs gays eu destacaria “Full Up My Ass” - mais literal impossível - e “Que time é teu?”, em VHS, sobre “relacionamentos em um time de futebol americano”. Então as fotos são de homens gigantescamente musculosos vestidos com aquelas ombreiras ainda.

Eu sei que tinha mais filme. Perdi o papel onde anotei o nome de todos. Medo de alguém aqui em casa achar, melhor eu ir procurar.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Curtindo a vida, de fato (por enquanto)


“Ferris Bueller's Day Off”, no Brasil conhecido como “Curtindo a Vida Adoidado”, é um desses filmes oitentistas que todo mundo adora e faz questão que todos ao redor tenham visto e também adorem. Nunca tinha visto e, cansado dessa pressão, fui ver de qual era a desse filme. Não tive surpresa nenhuma. Como suspeitava, o filme não é lá grandes coisas.

(Não tratar clássicos com sacralidade é algo perigoso, eu sei. Mas o poder da propaganda é forte e eu sei que, na mais rasa das análises, é fácil ver como o longa é escasso em conteúdo. E que saber que não trata-se de uma obra-prima não quer dizer que precisam detestar o filme ou que não poderão mais gostar dele. Longe disso! Assim como acontece na música, saber que é ruim é diferente de não gostar; as duas coisas podem coexistir. Mas veja bem: quando chamo “Curtindo a Vida Adoidado” de escasso em conteúdo sei que nem todos os filmes precisam ser profundos e questionadores e cultos; eles podem ser apenas divertidos, e engraçados e de entretenimento. Minha questão aqui é que este longa falha até mesmo nisso. Vou chegar lá...)

O tal Bueller do título, interpretado por Matthew Broderick, é um adolescente que decide matar aula para aproveitar o dia e se finge de doente com maestria para os pais. Ao longo do dia, ao lado da namorada e de seu melhor amigo, foge do diretor da escola e lida com a inveja da irmã mais velha, que odeia o fato dele sempre conseguir se livrar dos problemas com facilidade.

O roteiro e a direção transformam todos os acontecimentos em épicos; matar escola é a coisa mais importante do mundo. Isso torna tudo propositalmente exagerado e deixa a história ótima e engraçada pra maioria, mas foi o que mais me irritou.

No final das contas, é a história de um garoto que é popular e por isso faz o que quer – incluindo aí mentir com maestria e sem necessidade para pais que já o mimam mais do que o suficiente, tratar a namoradinha como acessório e o melhor amigo como um facilitador do plano (pois ele tem dinheiro e um carro, por exemplo) e também como uma simples escada para chamar a atenção ainda mais para si mesmo.

Reflexo de uma sociedade, eu sei. E representação fiel de um tipinho que realmente existente nos colégios, eu sei também. Mas é que essa não foi nem é minha vida, e por isso esse não é ou será meu filme. Na escola, ou você recebe ou você manda bolinhas de papel. E quem as recebia não pode achar que esse filme é legal - especialmente porque essa bolinhas nunca somem, apenas tomam outra forma. É esse tipo de gente - que não se importa de verdade com nada além de si mesmo - quem está trazendo verdadeiro caos ao planeta, em vários níveis.

Quer dizer, vamos todos cantar em roda um ode à desigualdade e aos privilégios sem mérito? Vamos, pelo visto. Aliás, é isso que estamos fazendo há um bom tempo...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O amante

Além do acasalamento, há este outro abraço, que é um enlaçamento imóvel: estamos encantados, enfeitiçados: estamos no sono, sem dormir; estamos na volúpia infantil do adormecer: é o momento das histórias contadas, o momento da voz, que vem me hipnotizar, me siderar, é o retorno à mãe.

Contudo, durante esse abraço infantil, o genital acaba irremediavelmente por surgir; ele corta a sensualidade difusa do abraço incestuoso; a lógica do desejo põe-se em marcha, o querer-possuir retorna, o adulto se justapõe à criança. Sou então dois sujeitos ao mesmo tempo: quero a maternidade e a genitalidade.

O amante poderia ser assim definido: uma criança de pau duro.

– Barthes