quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Lâmpada fluorescente

Um adolescente ouvindo música com fones e um jovem engravatado na calçada. Na hora que chegam à faixa de pedestre, o sinal fecha e é mais perto voltar do que atravessar e os dois fazem o movimento ao mesmo tempo.

O engravato sorri para o adolescente distraído e diz:

- Não dá para confiar nessas coisas.
- Oi? – ele diz tirando um dos fones do ouvido.
- O bonequinho do sinal - diz apontando para o semáforo de pedestres -, ele nem sempre é confiável.

O mais jovem apenas sorri em resposta. O engravatado pergunta:

- O que você está ouvindo?
- Ahm, Phoenix. É uma banda francesa.
- Eu conheço.
- Hum.

Silêncio. Os dois estavam andando agora, e quase que paralelamente.

- Você está passeando ou mora por aqui?

O menino já não sabia se ficava irritado ou não. O cara parecia legal e era bonito, mas a situação era estranha.

- Meio que os dois. Eu estava no shopping ali e moro logo ali na frente.
- Ah, e foi fazer o que no shopping?
- Comprar canetas que escrevem em CDs - o moço fez cara de curioso e ele explicou -, porque vou gravar uns CDs para tocar numa festa amanhã.
- Ah, que legal! E você vai me chamar para ir nessa festa?
- ...Você nem deve gostar do que eu toco.
- Você nem me conhece...!

Ele parou de andar e o outro parou também. O mais velho disse:

- Acho que você já percebeu o que eu quero, não é?
- Me bater com uma lâmpada fluorescente?

O outro riu.

- Não. Aliás, quero exatamente o contrário.
- E o que é o contrário de bater em alguém com uma lâmpada fluorescente?

Ele mexeu no bolso, tirou um cartão de visita e disse:

- Me ligue um dia e eu te conto.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Scott Pilgrim, seu lindo


Depois de muita enrolação, “Scott Pilgrim Contra o Mundo” não chegou aos cinemas brasileiros como um filme bem distribuído. Mas sabemos que isso não impede ninguém de nada. (Como é de praxe hoje em dia, consegui assisti-lo baixando ilegalmente pela internet. Legendado, com qualidade de DVD e tudo. Chupa essa, Paramount).

A premissa é simples: um menino no final de sua adolescência, naquela fase em que o que é considerado infantil e maduro se mistura, está querendo uma garota nova na cidade. Trata-se de Scott Pilgrim e Ramona Flowers. A parte da fantasia da história entra quando percebemos que, além de se apropriar de muitos recursos dos quadrinhos, o filme usa ícones de vídeo-game para descrever a tarefa máxima do longa: Scott deve derrotar os sete ex-namorados malvados da moça.

É igual na vida real, onde a bagagem do outro acaba perseguindo os dois, mas o longa é gênio na maneira que trata isso. É um épico para quem nunca participou de protestos importantes ou deixou a família para trás e foi pra guerra. É a aventura máxima de quem foi criado em casa, no seu quarto, querendo distância dos pais, jogando games e vendo TV. Por isso dialoga de forma tão precisa com seu público alvo. Todo nós nos sentimos como ele alguma vez na vida: quando nos sentimos menores do que os ex-namorados da pessoa que está com a gente agora, quando não sabemos o que falar para a nova namorada diante da antiga, quando começamos a gostar de outra pessoa enquanto ainda estamos com outra, quando trabalhamos juntos da ex etc.

É fantasioso, claro, mas exatamente por isso muito divertido. Tem muita luta e a dor dos socos são reais, mas não adianta sangrar muito pois é só dar reset que a luta começa de novo – boa metáfora para a vida real, não? Mas o roteiro é bom, as piadas são boas e a edição é brilhante – sério, esse filme precisa levar algum prêmio de montagem, pois é uma mistura muito linda de Matthew Vaughn e Michael Gondry. E a trilha? Tem Beck, Broken Social Scene, T. Rex, Rolling Stones, Black Lips e Metric.

A história é de Scott, Ramona e dos ex-namorados, no máximo. Mas todos os personagens secundários são ótimos. A ex-namoradinha chinesa, os membros da banda, o roomate gay – e sua habilidade incrível de digitar SMSs. “Scott Pilgrim” entra na lista dos melhores filmes, digamos, nerds. Junto com “Superbad”, “Kick-Ass” e outros assim, inocentes diante da gama de filmes bem mais importantes lançados ao mesmo tempo, mas que marcam a gente pois fazem uma crônica muito bem feita da rotina e das fantasias de uma geração.

Escorpianos


- ...Muita gente faz aniversário em novembro.
- É. Os filhos do Carnaval.
- Oi?
- Filhos do Carnaval, nunca ouviu isso? Que quem nasceu em novembro foi concebido em fevereiro. Carnaval.
- Que idiota.
- Idiota nada, faz as contas.
- As contas estão certas, a piada é que é idiota.
- Não é piada.
- Ah, então em fevereiro as pessoas só fazem sexo durante a semana do carnaval?
- Não, mas é que...
- O que? Você tá insinuando que eu fui um acidente, ou que minha mãe casou grávida, ou que nenhum casal casado faz sexo em fevereiro, só solteiros em micaretas?
- Meu Deus, não é isso, é que...
- É que o Carnaval cai em fevereiro todos os anos? E que, então, todo mundo que nasceu em agosto foi concebido no Natal?
- Não, aí não. Por que quem foi concebido no Natal nasceu em setembro. A não ser que a pessoa tenha sido prematura.
- Puta merda...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Comissão de Justiça aprova PEC da Felicidade

A chamada PEC da Felicidade foi aprovada, nesta quarta-feira (10), pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). De autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a PEC 19/10 visa ressaltar que os direitos sociais elencados no artigo 6º da Constituição são essenciais à busca da felicidade. Ao justificar a proposta, Cristovam disse que a busca pela felicidade só é possível se os direitos essenciais estiverem garantidos. Depois de aprovada, o artigo dirá que "são direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados". Apenas isso. Está faltando trabalho para esse povo, não?

Segundo recente estudo de economistas brasileiros, citado pelo senador, fatores como renda, sexo, emprego e estado civil influenciam no nível de felicidade das pessoas.

Então, vamos conversar, senador? É verdade, só quando essa lista toda estiver garantida é que dá para fazer festa e começar a ser feliz de verdade. Peraí. Alguém é feliz de verdade aqui?

A felicidade é o grande motivo pelo qual o ser humano busca ter um futuro. A felicidade é uma questão do corpo e do desejo e isso é algo bem amplo. Passa por todas essas coisas mundanas safadinhas que você está pensando, pelos atos fisiológicos que estão na Constituição e também pela arte como um todo. O negócio é que “felicidade” é um conceito inalcançável, extremamente particular e agora deram para rotulá-lo – até no sentido literal.

A gente vive num mundo que confunde felicidade com satisfação ou realização; e agora querem colocar isso por escrito. Essa mudança no texto implica que quem tem educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer e tudo aquilo, é feliz. É feliz. Gente, mas não pode colocar isso na Constituição! Não é assim a vida. Olha só: quantas milhões de vezes você viu alguém dizer que quando fizesse ou tivesse tal coisa seria feliz e que, quando conseguiu, não foi bem assim? Talvez você já tenha vivido isso. Eu sei que eu sim. Sempre coloco minha “felicidade” numa coisa que farei no futuro. Minha vida estará perfeita quando meu salário aumentar, quando eu comprar aquela roupa, quando eu arranjar um namorado, quando eu visitar aquela cidade, quando eu ler aquele livro, quando eu morar naquela casa. Aí você vai lá, consegue a coisa, realiza o desejo, e nada muda. Você se sente igual, talvez pior.

A confusão de conceito transforma a “realização” numa “felicidade encaixotada”. A publicidade diz que aquela coisa ali vai te fazer feliz e você vai lá e compra, não é? Não estou fora disso. Só acho essa PEC 19/10 uma babaquice pois dá a impressão que quer transformar obrigações do governo em “pacotes de felicidade”. Temo que se um país atrasado desse já sair achando que ter saneamento básico, por exemplo, é felicidade, não vai cobrar nada além disso do futuro, sabe como? O que está na constituição é o mínimo do mínimo do mínimo para se pensar em algum tipo de felicidade plena ou paz real.

Quem disse que felicidade é ter educação ou previdência? Vai saber. E se o trabalho que me faz feliz é contrabando de mulheres? E se o que me faz feliz é matar gente? E se o que me faz feliz é ver meus amigos gays se casando? E se o que faz a menina ali feliz é ela não precisar parir o filho do ex-namorado? Sim, eu sei que as primeiras coisas da lista são crimes, mas a outra metade da lista não está legalizada também não.

O repórter Josias de Souza escreveu no blog dele: “O que é preciso para roçar a felicidade? Todos procuram a resposta. Por ora, ninguém encontrou. Livros? Não, não. O conhecimento leva à reflexão sobre as mazelas humanas. Infelicidade certa. Esperança? Amor? Dinheiro? (…) Calma, seus problemas estão próximos do fim. A Comissão de Justiça do Senado aprovou a emenda constitucional da felicidade. A coisa vai ao plenário. Depois de aprovada, você talvez não ache a felicidade. Mas vai dispor de cobertura constitucional para continuar procurando. Boa sorte! Se encontrar, não seja egoísta. Avise ao repórter, ligue para os amigos, grite ao mundo”.

Entenderam?

Para refletir, senador, para refletir....

Para ouvir depois de ler: So-Called Chaos – Alanis Morissette

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A maldita sinceridade

Segundo Rousseau, a sinceridade é como uma espécie de “tormento cultural”. Imagine o mundo onde não há mentira, que chatice. Empresas falindo porque a foto da embalagem é exatamente como o produto é lá dentro; milhões de mulheres com raiva dos maridos que não gostaram do novo corte de cabelo; currículos mais do que enxutos. Mentiras são lubrificantes sociais.

Ou não? Quero dizer, na comédia “A Invenção da Mentira” - que não é um filme muito engraçado, mas que recomendo pelos questionamentos que levanta -, vemos um mundo onde ela ainda não existe e as pessoas estão tão acostumadas em ouvir a verdade que não se ofendem, e aceitam tudo naturalmente. O cara pergunta se a moça quer jantar com ele de novo e, ao invés de falar que está sem tempo ou algo assim, ela responde que ele é chato, feio e que mastiga a comida de uma maneira nojenta. Aceitar verdades devia ser normal, mas não é. A sinceridade é uma preocupação que oscila entre aceitação, negação e caricaturização.

Das autobiografias aos reality shows, forja-se uma verdade para satisfazer certas curiosidades, hoje segmentadas – um imagina como os outros fazem sexo, enquanto outro imagina como as pessoas lavam louça, vai saber. É que todos sabem, mesmo que instintivamente, que a personalidade cultural das pessoas não reflete exatamente quem ela é em essência. A pessoa que veste tal roupa e vai trabalhar em tal coisa é um personagem, criado por ela com base em um aspecto da sua “personalidade total”. É sua persona – uma palavra grega que diz respeito à máscara por onde a voz passa. Todo mundo está afim de ver a intimidade alheia, o outro lado dos outros, mesmo que não comungue de forma plena das suas próprias ações ocultas – ou “não públicas”. Mas ser sincero é expôr sua intimidade?

Voltando o assunto: sinceridade não é só isso. Que você não é você, em sua totalidade, o dia inteiro, você sabe. Estava querendo falar é de outro tipo de sinceridade.

O Brasil, especialmente, é um país onde esses conceitos todos se confundem. Educação, falsidade. A linha é tênue e você pode ter bastante certeza da sua posição sem conseguir que enxerguem isso. Por aqui, as regras vêm da cordialidade, herdada do tempo de colônia. É a relação de fazer tudo o que o país opressor quer enquanto planeja-se a independência por baixo dos panos. É a relação do tapinha nas costas enquanto amola-se a faca que virá em seguida.

Por outro lado, ser sincero e falar o que se pensa o tempo todo para todo mundo já é uma perversão, não uma qualidade. Existem os momentos onde omissões se fazem necessárias e mesmo mentiras – que, quando não ferem à justiça, são saudáveis.

Perceba que, quando te perguntam algo, volta e meio você diz antes da resposta: “Posso ser sincero?”. Ora, porque não poderia? Ah, por muitos motivos. Sempre começamos uma crítica colocando a palavra “sinceramente” na frase. É para amenizar e para nos excluir da culpa – afinal, foi você que pediu minha opinião! Para a filosofia e para muitos, sinceridade é sinônimo de confissão. E – se quem se confessa dá testemunho, conta algo porque viveu e presenciou um fato que pode narrar – confissões podem ser usadas como arma contra aquele que se confessa. Igual funciona quando compatilhamos com alguém um segredo.

Como não sabemos tudo sobre nós mesmos, jamais passaremos essa informação adiante. Mas podemos compartilhar impressões e sentimentos e, então, um pode se sentir como o outro se sente - e esse é o significado da palavra compaixão, intimamente ligada aos relacionamentos amorosos, paternos e de amizade. É a concepção ética de cada um que entra em jogo no assunto. Ter acesso a uma informação, a uma confissão, e não usá-la contra a pessoa tem a ver com isso, certo?

Para refletir.

Para ouvir depois de ler: All I Really Want - Alanis Morissette

domingo, 7 de novembro de 2010

Hábitos alimentares são culturais, sabia?

O DJ e produtor musical Moby esteve no Brasil para participar do Festival UMF, que rolou no sábado passado, e aproveitou para falar de seu novo livro, “Gristle”, lançado em outubro e que trata do tema vegetarianismo.

“Gristle” é para qualquer pessoa que esteja repensando seus hábitos alimentares e as consequências da indústria que cria animais para alimentação. O músico se juntou ao ativista Miyun Park e reunu vários nomes para discutir o assunto – um grupo eclético que contém fazendeiros, atletas profissionais, cientistas, executivos de indústrias alimentícias e outros -, mostrando porque a indústria de abate animal desnecessariamente faz mal aos trabalhadores, às comunidades, ao meio-ambiente, à nossa saúde, aos nossos bolsos e, claro, aos animais.


Não comer carne é, para mim, uma opção mais saudável para melhorar meu estilo de vida já tão desregrado. Esse lado ético veio depois. Li que Paul McCartney parou de comer bicho depois de sair para pescar com os amigos. "Vi o peixe se debatendo dentro do barco, querendo se soltar do anzol. Percebi que a vida dele era tão importante para ele quanto a minha vida é importante para mim". Como alguém que passou mais da metade da vida cantando hinos de amor e comunhão poderia olhar para seu almoço e fingir que aquilo ali não era um animalzinho antes?

É engraçado. Quando você para de comer carne você começa a se sentir aquele personagem do filme de terror que tem certeza que viu os fantasmas, mas ninguém acredita. "Será que só eu vejo que o discurso que se usa para justificar a exploração dos animais é o mesmo que, no passado, usamos para defender a escravidão e a desigualdade de direitos entre homens e mulheres? Será que as pessoas não percebem que hábitos alimentares são questões culturais e de costume? Será que não compreendem que, como seres desenvolvidos e pensantes, não precisamos repetir o que nos foi ensinado como certo, que podemos questionar as coisas?"

Por essas coisas, não comer carne virou um pequeno protesto. É a minha maneira de boicotar uma indústria que destrói o meio ambiente e explora, tortura e mata animais. O que gastam com cereais e água para engordar o bicho que será morto teria sido muito melhor utilizado alimentando humanos que estão passando fome. E não precisa ser nenhum gênio para calcular isso. Claro que não há interesse comercial em parar de alimentar os bichos e simplesmente dar para os pobres, mas é mais um grupo que não quero fazer parte - junto ao grupo dos que enxergam as coisas da natureza meramente como matérias primas.

Eu adoraria estar cercado de pessoas que pensassem assim, não me sinto desconfortável com que não o faz, mas eu também não quero entrar em discussões com quem não está interessado em ouvir. Trata-se de uma escolha pessoal que não diz respeito à opinião alheia. Quer dizer, vegetarianos têm tanta certeza que estão certos que alguns acabam ficando chatos. Mas antes de atacá-los ou de sair por aí declarando seu amor por bacon, pelo menos reflita antes sobre o que vocês está abrindo mão versus o bem que você faz para mundo e para você.

Para ouvir depois de ler: The Smiths - Meat is Murder

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A curva da traição


Para o feriado, peguei vários DVDs emprestados. Entre eles, alguns episódios da série “Os Normais”. Em um deles, um antigo namorado da Vani volta da Europa e a convida para um jantar. Ela acha o cara muito lindo e começa, propositalmente, uma discussão com Rui. Brigados, cada um vai para um lado e ela fica livre para encontrá-lo. No jantar, ele revela que o velho continente mudou sua visão das coisas e que, agora, ele é gay. Vani e Rui retomam o relacionamento como se nada tivesse acontecido.

Se o cara não fosse gay, ela teria ficado com ele, com certeza. Aliás, muitos episódios da série mostram um dos dois traindo o outro, mas eles seguem no relacionamento. Isso é um reflexo da vida real? O que é traição? Resolvi fazer uma pesquisa entre meus amigos. Não pretendo fechar a questão, nem discutir as coisas que “motivam uma traição”, é só uma curiosidade cultural.

- Fugiu do combinado é traição. Se o relacionamento é aberto e está combinado que pode ficar com outras pessoas, não é traição a pessoa ir lá e ficar com outra pessoa – me disse uma amiga.

É, mas e aí? Você pega a pessoa e estabelece esses acordos quando? Quer dizer, não dá para sentar na frente do computador e ir escrevendo regras, imprimir o papel e plastificar. Sem contar que assusta chegar para a pessoa, logo depois do “quer namorar comigo?” e perguntar “o que é traição para você?”. Ok, até acontece. Mas não com muita frequência. Isso é até explorado com muito bom humor na série “Friends”, quando todos elaboram uma lista de 5 celebridades que eles têm direito de fazer sexo se tiverem oportunidades.

Na mesma série, num dos mais clássicos episódios, Rachel se sente sufocada por Ross e pede um tempo. Ele fica muito abalado, pois ela é a garota da sua vida desde o tempo do colégio, sai de noite para beber e vira alvo das cantadas de uma moça muito atraente. Eles passam a noite junto mas, pela manhã, a namorada se arrepende. Ele concorda em voltar, fica feliz, mas ela fica sabendo que ele dormiu com a moça e, mesmo tendo sido na noite em que eles estavam declaradamente separados, não o perdoa - transformando a separação em definitiva.

- Mas sexo é traição com certeza – diz um amigo.
- E sexo pela internet?
- Também! Quer dizer, não. Ah, sei lá.
- Poxa, mas pra pessoa trair com sexo pela internet o traído tem que ser muito ruim, né?
- Ou muito ausente – outra pessoa observa.

Em um episódio de “Sex and the City”, Carrie diz que a definição de traição varia, mas que sua teoria é que, para uma pessoa, o que coinstitui traição é diretamente proporcional à sua vontade de trair. Ou seja, quem não considera que beijar é trair, está afim é de beijar outra pessoa. Já a personagem Samantha diz que traição é uma coisa virtual que depende da mistura da consciência da pessoa com sua natureza humana. “Afinal, se você não for pego, você não traiu”.

Hum, estão começando a perceber o dilema? Tem gente que acha que beijo não é traição. Tem gente que acha que sexo pela internet é. Tem gente que, se é a namorada com outra mulher, não é. Tem esposa que deixa, tranquilamente, o noivo comer uma prostituta na despedida de solteiro. Tenho uma amiga lésbica que diz que a única traição impoerdoável é se a namorada pegar um homem.

- Acho que intenção não é traição. Você pode querer fazer mil coisas com a outra pessoa. Mas se ficar na sua, tudo bem. Mas ir lá e fazer algo, já é.
- Então um selinho na amiga, no reveillon, é traição?
- Depende de em quem é o selinho. E também se, depois, rola uma mão na cintura, uma piscadinha.

Uma amiga interrompe:

- No fim das contas, se meu namorado quiser beijar ou comer outra mulher tão pouco vou me importar e ficar triste. É apenas carnal. Pior seria se ele disse que está apaixonado por ela. Aí ele me traiu feio.
- E se ele não só quiser? E se ele fizer? Acaba tudo ou dá para relevar?
- Pegou ou apaixonou? Uma coisa dá para conversar, a outra não.