segunda-feira, 26 de julho de 2010

Orações para todos


Nos Estados Unidos, é muito comum fazerem filmes exclusivamente para a TV. Antes, isso era considerado um trabalho menor, mas hoje não é mais assim. Um filme para TV concorre a prêmios exclusivos e, apesar de não ter reprise, sempre acaba na internet e em DVD. Ironicamente, isso alavanca a audiência. A aposta é de que todo mundo vai comentar do filme no dia seguinte – ou mais cedo ou mais tarde – e antecipar-se à modinho é sempre algo interessante para os americanos.

“Prayers for Bobby”, do ano passado, foi um desses. Produzido pelo Lifetime, que pode ser considerado um canal dedicado às donas de casa, o longa é inspirado no livro "Prayers for Bobby: A Mother's Coming to Terms with the Suicide of Her Gay Son", de Leroy Aarons, ainda sem lançamento em português. Um livro que, como o nome diz, conta a história real de uma mãe cujo filho cometeu suicídio depois de sua família não ter aceitado sua homossexualidade.

No elenco está Sigourney Weaver, atriz que ficou famosa nos anos 1980 devido aos filmes de ficção da série “Alien” - hoje com 60 anos de idade. Com esse papel, ela foi indicada para o Emmy de 2009. Ryan Kelley, de 23 anos, nome mais cotado para o filme "Ben 10", faz o papel do jovem.

Na verdade, a história é mais complexa: a mãe é uma católica fervorosa e todos, inclusive o garoto, começam a história tratando a inclinação sexual "diferente" como uma doença causada por sua falta de fé. Portanto, algo totalmente curável com a leitura da Bíblia, grupo de orações, idas à igreja, pescarias com o pai e o irmão, terapia e, claro, encontros com meninas escolhidas pela mãe - que corrige até a maneira como o garoto caminha.

Bobby tenta, mas não consegue mudar sua maneira de pensar e sua atração por pessoas do mesmo sexo. Sentindo-se preso, decide morar fora um tempo, com sua prima, em outra cidade. Lá, descobre lugares que o aceitam e pessoas que o entendem, incluindo um namorado que lhe é fiel. De volta à sua casa, para mostrar como está feliz, tem seu estilo de vida rejeitado por completo e decide acabar com sua própria vida. O filme parte daí, mostrando o que esse ato causa na estrutura emocional da família.

Não é por acaso que a taxa de suicídios é explosiva entre jovens homossexuais, principalmente entre efeminados e usuários de drogas – legais ou não. Uma coisa estúpida é apanhar na rua porque você é gay, outra é chegar no conforto de seu lar e ouvir um “bem feito”. Não há quem resista a tanta pressão e angústia. Por isso, o rumo do filme é comovente para praticamente qualquer um que o assita. A denúncia ali está muito além de orientação sexual.

No mundo inteiro, todo dia, famílias de todos os credos e classes ainda encurralam seus filhos diante da possibilidade de que eles desenvolvam qualquer tipo de comportamento que não o esperado pelos pais. Isso gera apenas discussão, depressão, desgaste e revolta. Como diz a mãe de Bobby: se antes de julgar, todos procurássemos saber com o que estamos lidando, sob todos os pontos de vista, a vida seria melhor.

Recomendo esse filme - que é facilmente encontrado na web para download. E não é coisa de militância nem nada. Apesar de alguns clichês, o filme não é sentimentalóide e é sóbrio na discussão a que se propõe. A história é comovente e, aposto, está levando muita gente às lágrimas.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Terapia com "O Rei Leão"


Estava pensando em como "O Rei Leão" é um dos meus desenhos animados favoritos. Vi e revi nos cinemas várias vezes e ainda vejo e revejo o DVD sempre que bate vontade. Os traços são lindos - dão emoção aos animais sem que eles pareçam demasiado humanos -, a história é envolvente, colorida, animada e profunda. Profunda até demais.

As lições aprendidas com o "ciclo da vida", a traição de Scar, a culpa de Simba, o estilo de vida "Hakuna Matata" e a revolta das leoas são metáforas para alguns dos mais complexos movimentos filosóficos ou socias já vistos no planeta.

Exemplos?

Timão diz ao achar Simba no deserto: "Quando o mundo vira as costas para você, você vira as costas para o mundo". Junto ao Timão, ele ensina que o leãozinho não precisa fazer aquilo ao que foi ensinado só porque foi ensinado assim, que ele tinha outras maneiras de viver.

Quando Rafiki, aquele babuíno, conversa com Simba, já adulto, o leão diz ter vergonha do seu passado, pois não pode mudá-lo. No que o macaco responde com uma paulada na sua cabeça. Ele apela mas ele diz: "Você não pode fazer mais nada agora. Está no passado". Simba responde: "É, mas ainda dói!". Nisso, Rafiki vai dar com o bastão na cabeça do felino novamente. Ele, já prevendo isso, desvia. Poxa, tem lição maior do que essa?

Belo filme.

domingo, 18 de julho de 2010

O voto gay?

Outro dia, li que Dilma Roussef fechou uma parceria com um pastor evangélico, cujo nome não recordo, para assessorar sua campanha direcionado a esse público, que representa 25% dos eleitores. Na proposta, ela assinou embaixo do que foi pedido por ele em contrato: não virão do poder Executivo leis que aceitem o aborto, o casamento gay e a adoção de crianças pelos cidadãos GLBT.

Isso me fez pensar: em assunto político, foi uma boa troca? Quer dizer, não sei quanto dos eleitores é gay, mas o número soma aos héteros favoráveis à causa. Talvez seja maior que esses 25%. De qualquer forma, o treco já foi assinado. O negócio é que ser à favor ou contra não basta para ganhar nem perder meu voto.

Um exemplo? Marta Suplicy, como sexóloga, saía por aí mandando beijos para a comunidade gay, mas foi a primeira a apontar a homossexualidade não-pública de um rival como objeto de chantagem e barganha.

Marina Silva tem algumas das propostas mais interessantes para o meio ambiente, por exemplo, mas já disse que não tem o casamento gay como "correto", por causa de sua religião, mas que direito civil é direito civil e todo mundo devia tê-los. A declaração causou tanto frisson que abafou o que ela disse depois, e apenas a primeira parte de sua fala tomou os jornais. Portugal tem um presidente católico fervoroso que não teve medo de aprovar o casamento gay declarando aos quatro cantos que achava errado aquilo, mas que era uma questão de dar ao povo o que ele quer.

Acho que faz sentido e que poderia ser caso dela. Se tem gente por aí achando lindo o movimento gay, mas nos bastidores assinando contratos jurando que vai deixá-lo às moscas, talvez o voto em alguém abertamente contra fizesse mais sentido. Olha a que ponto chegamos! Enquanto isso, Serra se diz favorável, não assinou nada com ninguém e, cá entre nós, tem mais know how do que as outras candidatas juntas. Mas dá uma preguiça dele, né?

Só sei que nada vai mudar de verdade com nenhum deles. Casamento gay é uma pauta do momento, mas esse país aqui está longe de não ser preconceituoso - e não é legalizar a união civil que vai fazer isso. Contra, a favor, pouco importa. A lei já existe, é só o Supremo mudar a interpretação.

Semana passada, isso aconteceu na Argentina e ela tornou-se o primeiro país da América Latina onde casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido. Aí, o mesmo portal de internet que escreveu uma matéria ótima sobre o assunto, foi o que linkou o texto com um banner sobre o resultado de um jogo de futebol - numa alusão ao tima perdedor, indiretamente chamado de "viado". E o melhor: várias pessoas ao redor, as mesmas que não se importam com sua orientação sexual e são super tranquilas e cabeça aberta, foram as primeiras a divulgar o negócio, rindo da piadinha que algum estagiário imbecil fez dentro do site.

Penso que, se hoje legalizassem o casamento gay, adoção de crianças por gays e leis anti homofobia, nada mudaria na minha vida. Não vou comemorar o passo da Argentina enquanto taxistas não pararem porque eu dei sinal de mão dada com meu namorado, enquanto existirem skinheads fazendo ronda na rua Augusta, enquanto todo mundo fizer piadinhas no seu aniversário de 24 anos, enquanto héteros têm vergonha de usar blusa rosa, enquanto os times de futebol perdedores forem xingados de "bicha", enquanto tem gente com medo de ir para casa sozinho.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Roqueiros de verdade não reclamam

Flashrock: O evento promovido pela Converse reuniu um monte de bandas muito boas (e outras nem tão boas, mas tá valendo) no Lapa Multshow, em Belo Horizonte. O negócio era no Dia do Rock, numa terça, e totalmente de graça. Obviamente, a procura é grande e chegar cedo é pré-requisito para se divertir. Quem não fez isso ficou de fora. Muito, muito ruim, mas não vale reclamar. Você realmente achou que um evento desses – de graça – ia ser vazio, tranquilo, seco, rápido? Quer isso, paga 200 reais em showzinho no Palácio das Artes, espertão. Todo mundo pegando boi e ainda fica de mimimi. Organização e segurança é uma coisa, o som das bandas é outra. E, todos sabemos, um não tem a ver com o outro.

Discutir rock: Pode ser igual discutir religião, livros favoritos, ídolos de longa data. Uma coisa é falar que “o som de tal banda é pesado demais e não me agrada”, outra coisa é falar que “a banda é baranga e que qualquer um faz um som melhor." Essa segunda afirmação é uma polêmica gratuita e, na realidade, uma ofensa. Discutir assim, na verdade, não é discutir. É xingar, simplesmente. Nenhuma música é, de fato, boa ou ruim, pois adjetivos são subjetivos. Músicas te agradam ou não. É muito chato esse povo que adora uma discussão, contanto que ele tenha razão no final. Gente, pode saber, a banda que você mais odeia do fundo do coração tem muitos fãs. Então vamos todo mundo ficar de boa?

SWU: Puta que pariu, esses ingressos são muito baratos, parem de falar o contrário. Estamos em um país pobre, eu sei, mas é só refletir para concluir a mesma coisa. São bandas gringas que vieram de muito, muito longe tocar aqui. Ok, um festival grande, nos Estados Unidos, tem ingressos que custam o equivalente à 80, 90 reais. Mas ó, a meia-entrada do SWU é 120 reais. A diferença é que as bandas não moram aqui e os organizadores pagam aviões, vistos, transportes e hotéis para os membros, empresários, familiares e instrumentos deles. Além do cachê, claro. Viajar pra lá pode ser complicado, para muitos já que o show é em Itu, mas o ingresso sai em 6x no cartão e os shows só rolam lá pra outubro! Yeah!

Post assim, do meio do nada, mas eu fico vendo essas coisas ao redor e me revolto com a falta de noção da galera, com a mente pequena e falta de respeito das pessoas mesmo. E o espírito reclamão do brasileiro? Tô fora.