domingo, 18 de julho de 2010

O voto gay?

Outro dia, li que Dilma Roussef fechou uma parceria com um pastor evangélico, cujo nome não recordo, para assessorar sua campanha direcionado a esse público, que representa 25% dos eleitores. Na proposta, ela assinou embaixo do que foi pedido por ele em contrato: não virão do poder Executivo leis que aceitem o aborto, o casamento gay e a adoção de crianças pelos cidadãos GLBT.

Isso me fez pensar: em assunto político, foi uma boa troca? Quer dizer, não sei quanto dos eleitores é gay, mas o número soma aos héteros favoráveis à causa. Talvez seja maior que esses 25%. De qualquer forma, o treco já foi assinado. O negócio é que ser à favor ou contra não basta para ganhar nem perder meu voto.

Um exemplo? Marta Suplicy, como sexóloga, saía por aí mandando beijos para a comunidade gay, mas foi a primeira a apontar a homossexualidade não-pública de um rival como objeto de chantagem e barganha.

Marina Silva tem algumas das propostas mais interessantes para o meio ambiente, por exemplo, mas já disse que não tem o casamento gay como "correto", por causa de sua religião, mas que direito civil é direito civil e todo mundo devia tê-los. A declaração causou tanto frisson que abafou o que ela disse depois, e apenas a primeira parte de sua fala tomou os jornais. Portugal tem um presidente católico fervoroso que não teve medo de aprovar o casamento gay declarando aos quatro cantos que achava errado aquilo, mas que era uma questão de dar ao povo o que ele quer.

Acho que faz sentido e que poderia ser caso dela. Se tem gente por aí achando lindo o movimento gay, mas nos bastidores assinando contratos jurando que vai deixá-lo às moscas, talvez o voto em alguém abertamente contra fizesse mais sentido. Olha a que ponto chegamos! Enquanto isso, Serra se diz favorável, não assinou nada com ninguém e, cá entre nós, tem mais know how do que as outras candidatas juntas. Mas dá uma preguiça dele, né?

Só sei que nada vai mudar de verdade com nenhum deles. Casamento gay é uma pauta do momento, mas esse país aqui está longe de não ser preconceituoso - e não é legalizar a união civil que vai fazer isso. Contra, a favor, pouco importa. A lei já existe, é só o Supremo mudar a interpretação.

Semana passada, isso aconteceu na Argentina e ela tornou-se o primeiro país da América Latina onde casamento entre pessoas do mesmo sexo é permitido. Aí, o mesmo portal de internet que escreveu uma matéria ótima sobre o assunto, foi o que linkou o texto com um banner sobre o resultado de um jogo de futebol - numa alusão ao tima perdedor, indiretamente chamado de "viado". E o melhor: várias pessoas ao redor, as mesmas que não se importam com sua orientação sexual e são super tranquilas e cabeça aberta, foram as primeiras a divulgar o negócio, rindo da piadinha que algum estagiário imbecil fez dentro do site.

Penso que, se hoje legalizassem o casamento gay, adoção de crianças por gays e leis anti homofobia, nada mudaria na minha vida. Não vou comemorar o passo da Argentina enquanto taxistas não pararem porque eu dei sinal de mão dada com meu namorado, enquanto existirem skinheads fazendo ronda na rua Augusta, enquanto todo mundo fizer piadinhas no seu aniversário de 24 anos, enquanto héteros têm vergonha de usar blusa rosa, enquanto os times de futebol perdedores forem xingados de "bicha", enquanto tem gente com medo de ir para casa sozinho.

5 comentários:

folhetim felino disse...

Oi,

conversava com uma amiga sobre isso, estes dias.

Nem sempre votar em um candidato por um motivo mais específico é uma boa ideia, até por que, ele não tem que resolver apenas problemas específicos de um ou outro segmento, e sim fazer o que é melhor para o coletivo. Mais ou menos como fez o Presidente de Portugal.

Unknown disse...

gostei demais do texto. mas não consigo concordar com "Penso que, se hoje legalizassem o casamento gay, adoção de crianças por gays e leis anti homofobia, nada mudaria na minha vida."
sabe o que é?
não se muda a opinião das pessoas por decreto (ainda bem!), mas não dá pra desprezar o potencial desse tipo de ação afirmativa, no que se refere ao estímulo de mudanças de consciência e afirmação/auto-estima de grupos socialmente excluídos.
como exemplo desse tipo de ação, a ações anti-racismo: o racismo não acabou (e sei lá se um dia vai acabar a estranheza do ser humano com o que é diferente...), mas alguém duvida do impacto delas na mudança de consciência? no mínimo, o racista sabe que o que faz não é socialmente tolerado.
no caso dos gays já não é bem assim, uma vez que o próprio ordenamento os proíbe de adotar filhos, casarem-se, e até de doarem sangue (!).
ou seja: se essas leis acontecessem, talvez sua vida mudasse um pouco, sim.
abração!

Anônimo disse...

isso varia. eu já fui vítima de homofobia vinda de um policial. ou seja, se tivesse sido outra pessoa e eu fosse me reportar a ele, o tal policial não teria feito nada...

Anônimo disse...

todos tem o direito de ser feliz.

João Damasio disse...

Gosto da sinceridade da Marina Silva e de sua disposição quanto ao plebiscito para questões de cunho cultural, religioso e tal, porque ninguém muda de opinião sobre nada de um segundo ao outro, mas estudar cada caso e permitir que a democracia se faça para todos é o melhor a fazer. Algumas pessoas acham ruim o posicionamento pessoal da Marina, será que prefeririam a mentira, a promessa falsa que nunca seria cumprida?

E mesmo assim, acho que não deveria ter "voto gay" porque não há "voto hetero", não deve haver "voto da mulher" porque não há só "voto do homem", talve, mas nem assim, haver "voto ambientalista" porque não há "voto ruralista", talvez haja tendências e influências.

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