Veja que irônico. Passar o 12 de outubro, dia da padroeira do Brasil, assistindo a um filme chamado “Anticristo”. Estrelando Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe, para quem não sabe, trata-se do novo longa de Lars Von Trier, dos filmes “Dogville” e “Dançando no Escuro”.
A sinopse? Um casal que recentemente perdeu o filho vai morar numa cabana em uma floresta para, supostamente, enfrentar os medos da mulher. Uma sinopse bem picareta, confesso. Mas falar mais pode não ser bom.
Para começo de conversa, o filme é dividido em capítulos e digo logo que o Epílogo e o Prólogo são absurdamente lindos e poéticos. Quanto ao restante do longa, apenas o “poético” continua – pois o “lindo” sai correndo e foge pra bem longe. É um filme tão – ou mais – desagradável e chocante do que o trailer sugere. E é muito bom.
Para o pessoal ao redor, na sala de cinema, a dedicação do marido e a depressão da mulher estão completamente desconectadas do mundo real. Na tela, a morte é natural, a natureza é violenta, a dor é necessária e o sexo é um prazer e um castigo. Tudo igualzinho na vida real, mas ninguém gosta de admitir isso, certo? Por isso é tão desconfortável e fundamental – para quem tem estômago – acompanhar a história deles.
Aliás, essa foi minha coisa favorita em "Anticristo". Sabia que seria desde que ouvi no trailer a frase “A natureza é a igreja de Satã”. Greenpeace e Al Gore nos fazem acreditar que o homem é um vírus destruidor da sempre boa e generosa mãe natureza. Não nego que estamos num momento delicado da evolução e que o planeta está em ruínas, mas a natureza assusta e não é perfeita ou benevolente. Animais fofinhos comem outros animais fofinhos, bichos parem bichos mortos e inúmeros parasitas são... bom, parasitas!
É importante ver filmes assim, pois a capacidade de aceitar o incômodo não é trabalhada suficiente hoje em dia. Talvez cenas tão densas, envolvendo mutilação e sexo, muito sexo, incomodem o espectador que não vê propósito naquilo tudo. Mas todos os filmes são obras de arte abertas para interpretação. No caso, Lars Von Trier apenas deixa a maior parte da conclusão para quem está na poltrona. Os menos esforçados não verão sentido algum no filme. E isso é ótimo! São eles mesmos os que precisam aprender que nem sempre tudo faz sentido.