segunda-feira, 7 de junho de 2010

Admite-se

“Não se dá valor econômico ao trabalho, se dá ao bem, às coisas. A gente é capaz de pagar, meu amigo, 1 milhão de reais por um apartamento. Aí você chama o homem para pintar o teu apartamento de 1 milhão de reais. Ele te cobra 5 mil, você acha um absurdo”. (daqui)

O trecho acima te fez rir ou causou espanto? Isso acontece aí na sua casa, aposto. A família tem mais de um carro na garagem, eletrônicos último tipo em casa, TVs e faz compras como se estivesse estocando comida para o final do mundo, mas reclama se a empregada pede um aumento.

Mas o negócio é que o assunto saiu da cozinha e está em lugares antes inimagináveis. Como a redação, por exemplo.

É. O piso salarial do jornalista está tão ridículo que hoje, diante da vitrine de uma loja onde um lindo casaco custa 300 reais, me vi tentado a me dirigir ao balcão perguntar não sobre ele, mas sobre a plaquinha que dizia “Admite-se vendedor, caixa e estoquista”. Não é um exagero meu, eu realmente pensei isso.

Acontece que o bem é mais valorizado, então não interessa ser formador de opinião, ter lido Victor Hugo aos 14 anos, saber construir frases com vocativos e vírgulas bem posicionadas. Um amigo que trabalha como vendedor numa livraria, duas vezes por semana, ganha o mesmo salário que eu. É muita palhaçada da minha parte achar que vale a pena ganhar o mesmo tanto que ele por um trabalho que exige de mim muitas horas por dia, às vezes mais do que cinco dias da semana, e que está matando minha visão e minha coluna aos poucos.

Por isso morro de rir desse povo que acha que jornalistas têm um plano diabólico para dominar o mundo. A gente está ocupado demais pensando em pagar o aluguel. Sério, não dá para temer quem ganha o equivalente em reais a três casacos dessa loja. Enquanto isso, o vendedor dela – na casa dos 20 anos – ganha um pouco menos, mas 10% de cada um dos vários casacos de 300 reais que vende e, no final das contas, mais do que minha mãe, jornalista há 20 anos.

Eu acho um passo para trás abrir mão do meu suado diploma e ir para trás do balcão de uma loja de livro, de roupa ou de qualquer outra coisa, a não ser que eu seja o dono dessa loja. Mas cadê minha carteira de motorista, meu carro, meu sonho dourado de morar sozinho? Aliás, o que aconteceu que meu cartão de crédito é rejeitado na hora de comprar um crepe de queijo?! Achei que, com 22 anos, eu já estaria tão mais longe, tão mais livre. E nunca me senti mais preso na vida.

Vou parar esse texto por aqui antes que eu comece a revelar coisas demais e/ou a chorar.

2 comentários:

All about... (vegan) food disse...

Salário de jornalista sempre foi uma vergonha e depois que me mudei vi ainda mais o quanto os salários no Brasil são baixos de forma geral e o quanto os produtos tem preço alto. Pelo menos por aqui você compra produtos (principalmente roupas e também livros) de qualidade sem gastar metade do salário.

E sem querer te desanimar aind mais, eu também achei que, aos 35 anos, eu já estaria tão mais longe. Me pergunto todos os dias até onde o motivo de não estar é ter escolhido o jornalismo não só como profissão, mas como amor pra vida toda.

KLAUS disse...

COLEGA O MAIS IMPORTANTE VC TEM QUE A VONTADE DE VENCER!!! ME SURPREENDOU QUANDO LI QUE VC TEM SO 22 ANOS, JA QUE COM SUA IDADE EU NAO ESTAVA NEM AI PARA NADA!!OLHA O MUNDO ESTA EM CRISE, A GRANDE MAIORIA DAS PESSOAS NAO ESTA GANHANDO DINHEIRO, TENHO UMA LOJA E POSSO TE GARANTIR QUE É SO ENCHEÇAO DE SACO!! ABRAÇO