segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sobre política

Dilma, Serra, Marina, Plínio e o cacete. Época de eleição, especialmente as presidenciais, é época de refletir sobre a última gestão, sobre as mudanças que aconteceram e as que queremos que aconteçam. A gente vive num país de merda, onde eu estou aqui, na frente de um computador que eu já acho ultrapassado, enquanto do outro lado da rua tem um cara dormindo no chão, sem casa para voltar, sem dinheiro para comprar comida, sem lugar para tomar banho; famílias inteiras vivendo com metade do meu salário “que não dá pra nada”. A democracia é muito jovem por aqui e vai demorar para nos juntarmos aos peixes graúdos em muitos assuntos.

Eu não acho legal viver num país que posa de bacanudo pros gringos enquanto tem gente dentro dele passando fome, acho isso um grave problema de priorização. A pose pode gerar respeito e atrair investimento, mas aplicados da maneira errada, nada muda aqui dentro de verdade. Uma coisa que não muda mesmo, por exemplo, é minha vontade de ir embora. Mas ó, líderes não são perfeitos e as imperfeições dos líderes que escolhemos são reflexos das nossas. Entretanto, não devemos mudar de líder, devemos mostrar a eles que tipo de mudanças queremos deles.

Política é um jogo de ego e de manipulação mental via mídia. O candidato promete um salário mínimo de 5 mil reais, enquanto outro promete gás de cozinha para pobres que nem conhecemos. Por que não votamos no primeiro deles, já que sua proposta é a melhor pra gente? É porque ele é tosco, tem um cenário ruim e uma cara feia. Já aquele que faz promessas menores, as faz com mais convicção, num cenário limpo, lindo e iluminado, e as imprime em folhetos coloridos e com fotos grandes de suas imperfeições de pele mascaradas por programas de computador. É ou não é?

Por que pensar sobre o meio ambiente é coisa do Partido Verde? Por que distribuição de renda é coisa do PT? Por que privatização é coisa do PSDB? Todos são assuntos que interessam a todos e não devemos escolher qual assunto/partido queremos discutir agora. Tudo deve ser levado em consideração o tempo todo. Meu incômodo é que existem pautas que, com a globalização, rodam o mundo. Casamento gay, por exemplo, é o assunto do momento. Mas as vezes me pego pensando que abriria mão dessa luta com um sorriso no rosto se me garantissem afinco verdadeiro em todas as promessas de melhor ensino, menos violência, saneamento básico e energia elétrica aos pobres. Anda não dá para pedir menos homofobia do Seu Zé, um sem educação, no sentido escolar e/ou erudito, criado numa favelona onde “viados” são estrangulados todo dia.

Enfim.

A mentalidade conservadora enfatiza a responsabilidade que temos pelas nossas próprias ações enquanto a liberal nos traz o pensamento de que devemos tratar os outros como gostaríamos de ser tratados. O erro está, portanto, em jogar cada coisa para um lado, enquanto deveríamos unir essas formas de pensar. Ah, mas não estou falando de candidatos e sim do nosso cotidiano. Enquanto a galera não perceber que o pessoal é o global e que o pessoal é o político, nada anda. Vivemos em comunidade e esse povo maquiado que você vê no palanque vai mudar de discurso assim que for conveniente, te garanto. É a gente que precisa mudar isso daqui – então não jogue sua parte da responsabilidade em cima de uma urna eletrônica.


Ouça depois de ler: Madonna - I'm So Stupid

2 comentários:

João Damasio disse...

Candidatos e mais candidatos, temos um sistema que mais que sugestiona, impõe como devem agir. O sistema baseia-se em como podemos ser convencidos pelo maior capital.

Cada candidato tem suas propostas em pontos que o destacam pela atuação. Super normal, na vida de qualquer um é assim... nunca atuamos em tudo junto ao mesmo tempo, se assim fazemos, só fazemos cagada.

Mas, claro, concordo plenamente, que tudo deve ser integrado. E não há como separar. 99% da população parece pensar que dá para separar, mas não... não há nenhuma área independente e autonoma.

Voto em Marina Silva porque ela tem esta visão integradora e percebo que o direcionamento à ela é sempre da questão ambiental, porque ela veio da amazonia e foi ministra do meio ambiente. Nós, jornalistas sempre elaboramos perguntas à ela incluindo e priorizando esta temática. Se assim não fosse ela não falaria tanto somente sobre isto.

Alysson disse...

Gabriel, vc falou tão visceralmente daquilo que eu acredito que fiquei até um pouco emocionado... =)

Vejo na TV as panelinhas de eleitores que lutam pelos seus ideais individuais (ou comuns, mas dentro de um grupo seleto) e esquecem completamente o conceito de democracia.

Acho muito importante falar de "casamento gay", mas concordo que esse problema é algo totalmente secundário a uma série de problemas basais extremamente danificados no nosso país.

E essa visão de necessidades de urgência não se vêm nem nos candidatos e nem na mentalidade dos eleitores, por isso tenho tão pouca fé nessa nova eleição...

Abração!