terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Curtindo a vida, de fato (por enquanto)


“Ferris Bueller's Day Off”, no Brasil conhecido como “Curtindo a Vida Adoidado”, é um desses filmes oitentistas que todo mundo adora e faz questão que todos ao redor tenham visto e também adorem. Nunca tinha visto e, cansado dessa pressão, fui ver de qual era a desse filme. Não tive surpresa nenhuma. Como suspeitava, o filme não é lá grandes coisas.

(Não tratar clássicos com sacralidade é algo perigoso, eu sei. Mas o poder da propaganda é forte e eu sei que, na mais rasa das análises, é fácil ver como o longa é escasso em conteúdo. E que saber que não trata-se de uma obra-prima não quer dizer que precisam detestar o filme ou que não poderão mais gostar dele. Longe disso! Assim como acontece na música, saber que é ruim é diferente de não gostar; as duas coisas podem coexistir. Mas veja bem: quando chamo “Curtindo a Vida Adoidado” de escasso em conteúdo sei que nem todos os filmes precisam ser profundos e questionadores e cultos; eles podem ser apenas divertidos, e engraçados e de entretenimento. Minha questão aqui é que este longa falha até mesmo nisso. Vou chegar lá...)

O tal Bueller do título, interpretado por Matthew Broderick, é um adolescente que decide matar aula para aproveitar o dia e se finge de doente com maestria para os pais. Ao longo do dia, ao lado da namorada e de seu melhor amigo, foge do diretor da escola e lida com a inveja da irmã mais velha, que odeia o fato dele sempre conseguir se livrar dos problemas com facilidade.

O roteiro e a direção transformam todos os acontecimentos em épicos; matar escola é a coisa mais importante do mundo. Isso torna tudo propositalmente exagerado e deixa a história ótima e engraçada pra maioria, mas foi o que mais me irritou.

No final das contas, é a história de um garoto que é popular e por isso faz o que quer – incluindo aí mentir com maestria e sem necessidade para pais que já o mimam mais do que o suficiente, tratar a namoradinha como acessório e o melhor amigo como um facilitador do plano (pois ele tem dinheiro e um carro, por exemplo) e também como uma simples escada para chamar a atenção ainda mais para si mesmo.

Reflexo de uma sociedade, eu sei. E representação fiel de um tipinho que realmente existente nos colégios, eu sei também. Mas é que essa não foi nem é minha vida, e por isso esse não é ou será meu filme. Na escola, ou você recebe ou você manda bolinhas de papel. E quem as recebia não pode achar que esse filme é legal - especialmente porque essa bolinhas nunca somem, apenas tomam outra forma. É esse tipo de gente - que não se importa de verdade com nada além de si mesmo - quem está trazendo verdadeiro caos ao planeta, em vários níveis.

Quer dizer, vamos todos cantar em roda um ode à desigualdade e aos privilégios sem mérito? Vamos, pelo visto. Aliás, é isso que estamos fazendo há um bom tempo...

3 comentários:

Valfredo Mateus disse...

na faculdade de direito (pasme! e é federal!) onde estudo aqui no nordeste a galera é assim. ainda querem que eu compartilhe dessa vida, escute forró que faz ode ao machismo e chama uma porrada de mulher de 'coisa'. deus me livre. disso eu não compartilho enquanto houver esperança, enquanto eu acreditar nas coisas que acredito.

parabéns pela postagem. há muito já leio esse blog e amado cada palavra, vírgula, infinitas interrogações, exclamações e pontos de continuidade. e só agora me senti no dever do postar.

abração!

Fabiene disse...

Parabéns! Ótimo post!

Fernanda disse...

legal :)