sábado, 12 de dezembro de 2009

Se tem uma coisa que eu não tenho é esperança nessa merda de país

Faltavam poucos minutos para meia noite de sábado para domingo, quando eu e meu namorado fomos cutucados por um PM.

- Vocês estão se beijando?

Não soubemos nem mesmo que respostas dar. Afinal, era uma pergunta absurdamente óbvia. Sim, estávamos nos beijando, como estavam os outros dois casais na mesma pequena praça.

- Acho melhor vocês circularem.

Ficamos sentados no mesmo lugar com cara de quem diz: “você não pode estar falando sério”. Mas, sim, ele estava.

- Gente, mas tem outros dois casais aqui! – argumentei.
- Olha, vamos circular na boa? – disse o policial, naquele tom de quem faz uma ameaça enrustida caso você se negue a fazer o que ele pede.

“Não quero saber não, heim, Fulano. Manda circular”, gritou uma voz de dentro do prédio perto da referida praça. Então ok, fomos embora.

Descemos uma rua para pegar um táxi. Táxi que nunca passava. Em um buffet ao nosso lado estava tendo uma festa. “Você tem o telefone de algum tele-táxi?”, perguntamos ao porteiro.

- Aqui na rua passa táxi toda hora. Não é possível que você não pode esperar um pouquinho!

Sim, essa foi a resposta dele.

Olha, o porteiro não precisava ser simpático, não tinha a mínima obrigação. Mas bastava dizer que não tinha ao invés de ser grosso gratuitamente, certo?

Ser gay fez com que tentassem, mais de uma vez, me bater na rua. Talvez mais de 30 vezes me xingaram enquanto tudo que eu fazia era apenas andar. Agora, se nem na polícia eu posso confiar, gente cujo salário é pago com os impostos que eu pago e cuja função é me proteger, estamos todos fodidos. Não há esperança mesmo pra isso aqui que circularam e deram o nome de república democrática.

Mas, no país das bananas, da bolsa-gás e das pizzas, o texto acima surpreendeu alguém? É, infelizmente a mim também não.

14 comentários:

Polly disse...

país hipócrita de merda.

All about... (vegan) food disse...

País de merda (pode falar "merda" aqui?). Não é surpreeendente mas é absurdo e merece indignação. As pessoas no Brasil tendem a se acostumarem com os absurdos e por não ser mais surpresa, coisas assim passam a ser "normais". Não é só absurdo, é repugnante. Uma vergonha. Uma a mais para o Brasil colecionar.

Eric Samuel disse...

O “pior” é que ainda existem campanhas contra a homofobia... e ver um procedimento deste, só nos mostra o despreparo daqueles que deveriam manter a ordem do sistema! O que também não é novidade nenhuma... hipocrisia é pouco!

eric disse...

é inegável o anseio por vigança quando eu me deparo com casos assim.
eu não sei sobre desfecho da discussão daquele PLC 122/2006 mas o que causa maior indignação é que não existem nem leis que determinam a punição pra um cara desses. alias, se existe uma instuição discriminante e cheia de si nesse país, esta é a polícia. pode ter certeza que lá está cheio de policiais assim.
infelizmente toda essa indignação que eu tenho é, de certa forma, infrutífera num espaço maior *vergonha*.

e uma característica legal do jornalismo é essa: a de mostrar pro povo esses absurdos cotidianos de nosso páis. mas é ai que eu me pergunto: será que o povo quer saber?

César disse...

Cara preconteito tu vai achar em todo canto,infelizmente,o importante é tentar diminuir essa hipocrisia sem abaixar a cabeça..


obrigado pelo seu comentário no meu blog..

flw

Lucas disse...

Valeu a participação lá no meu post sobre o sumiço das moedas de 1 centavo.

Quanto a essa babaquice, eu não sou "do babado" (1997 me ligou pedindo essa expressão de volta), nem passei por nenhum constrangimento assim, mas eu diria que uma boa saída é peitar esse tipo de imbecil com um bom "Aham, somos gays, e somos cidadãos pagadores de imposto, inclusive, a gente paga o seu salário, sabia? Então, a não ser que o sr. consiga provar que cometemos alguma infração, não há razão pra nós 'circularmos'.", tudo num tom de voz sereno, sem estresse (pelo menos da sua parte).

OK, falar é fácil, mas gosto de acreditar que com treinamento, o sarcasmo fica enorme e a papa na língua fica ínfima.

Dayane Costa disse...

infelizmente, o acontecimento não me surpreendeu, mas mesmo assim: CARALHO.

nem sei o que falar, mas só de imaginar a situação me sinto extremamente constrangida.

e acho que falar o que o Sr. L sugeriu seria uma alternativa legal, mas, sinceramente? eu não falaria com medo de levar uma surra no meio da rua (coisa que teria uma chance ENORME de acontecer).

Gihad Soares disse...

Que horror, sinto pena por você. Pior é saber que quem nos molesta é a quem nós recorremos em caso de moléstia.

Anônimo disse...

lamentável.

é de fazer qualquer um perder a esperança no país, nas pessoas, em tudo.

dá pra ver de longe que há algo errado não só com a polícia como instituição mantedora da ordem, mas com a sociedade como um todo.

mas e a culpa, é de quem?

Renato Chagas disse...

Infelizmente, a hipocrisia ainda impera nesse país. Porque um casal hétero pode até transar em praça pública, e um casal gay pode nem dar um beijo. Porque essa diferença toda?

Mas não devemos perder a esperança. A luta é grande, sei que muita gente vai apanhar e até morrer; mas eles terão que nos respeitar, pelo amor ou pela dor.

Abraços e vamos á luta!!!

Daniel Cassus disse...

O QUEEEEEE????

gente, mas se isso acontece comigo, eu diria para o policial: "não vou circular coisa nenhuma, Sr. FULANO (lendo o nome do policial na farda). E acho bom o senhor me explicar porque está mandando eu circular para eu colocar na reclamação que eu vou fazer na sua corregedoria" enquanto saco o celular e começo a filmar a explicação furada dele.

Ele vai fazer o que? te prender? te bater? Se ele te prender, ele vai ter que achar um delegado tão homofóbico e corajoso quanto para registrar um BO falso.; Se ele te bater, pior ainda pq vc vai poder fazer exame de corpo de delito.

GENTE! O TEMPO DA DITADURA JÁ ACABOU. HOMOFOBIA AINDA NÃO É CRIME, MAS ABUSO DE AUTORIDADE SIM!

LUTEM PELOS SEUS DIREITOS!

Daniel Cassus disse...

e completando: VÁ À DEFENSORIA PÚBLICA! VÁ AO MINISTÉRIO PÚBLICO! BOTE A BOCA NO TROMBONE!

Wans disse...

É revoltante passar por situações como essas quando em praças , ônibus, metrô, shoppings vimos adolescentes praticamente fazendo sexo no meio de todos.
O máximo que já aconteceu comigo foi uma violência psicológica porque não pude doar sangue, mas é tão grave quanto.
Vamos falar a respeito nos nossos blogs. Não deixar barato, porque uma ora a gente vê coisa boa.

railer disse...

absurdo isso! revoltante mesmo. o pior é que a gente fica sem ação numa situação assim, mas não deveria. concordo com o daniel, numa hora dessas, o melhor é ligar o celular e começar a registrar tudo.