segunda-feira, 24 de maio de 2010

Homem, o sexo frágil

Estava ouvindo uma canção que falava sobre “a sociedade pela perspectiva de uma menina”. Uma das estrofes dizia que elas sempre são silenciadas quando querem falar o que pensam, não podem mostrar que estão machucadas e que não podem mostrar também muitos sinais de força. Interessante, profundo, mas não mais tão correto.

Desculpe falar isso assim mas, neste momento, o homem é o sexo frágil. De um lado, as mulheres seguem em sua histórica caminhada para o lado masculino da força – saindo de casa para votar, subindo de cargos e de salários, tendo filhos mais tarde e tendo, assim, absoluto controle de sua vida. De outro lado, está um homem patético, que ainda não consegue lidar com a flutuação de emoções que existem em todas as relações humanas. Ele ainda não sabe o que fazer com suas emoções e tem medo, muito medo, de entrar em contato com seu lado feminino e de delegar tarefas às mulheres.

Ele está em busca de status e poder e não vê nada na sua frente a não ser a carreira. Muitos pontos positivos aí, mas negativos também. Assim, não consegue ser realizado em nenhum campo. Ele não foi ensinado a fazer isso e, no fundo, segue acreditando que a mulher ao seu lado só o escolheu por sua posição profissional. Além disso, ele está obcecado pelo prazer feminino e, se é o sexo que confirma a condição de macho dele, ele está na mão da mulher, que é quem outorga a ele esse diploma. A prova disso é que cada vez menos os homens se safam de relacionamentos extraconjugais. Hoje, a mulher dispensa um parceiro com muita facilidade. Sem mulher, ele não é macho. Sem emprego, não é provedor. É um ciclo, percebeu?

Não sei se vejo tudo isso mais claro por ser gay, mas sempre achei uma babaquice esse mito de que o homem não precisa de ajuda, não precisa de tratamento, não precisa de proteção. Já mencionei nesse blog antes que, quando um homem me xinga de “viado” ou coisas assim, fico triste por sua mulher. É ela quem está aguentando marteladas sutis – ou literais - de uma pessoa que se sente obrigada a rejeitar tudo que é ligado ao que ele classifica como feminino - e que despreza. Ele não usa blusa rosa, não come arroz integral e não lê poesias. A culpada é a sociedade, que estabelece papéis para cada um dos sexos.

Obriga-se o menino a enfrentar precocemente situações para as quais ele talvez não esteja preparado, mas tem de ir em frente porque é homem, oras. Não pode ter medo dos colegas que querem te bater, não pode voltar chorando para casa, não pode gostar de artes, não pode ser magrelo. É uma coisa cultural muito comum no Brasil. Mulheres estão saindo do papel de objeto com maestria, se aproveitando dele. Elas tentam ser bonitas, educadas e bem vestidas pois sabem que trata-se de uma maneira até honesta de conseguir o que querem. Já o homem educado e bem vestido simplesmente quer fugir de críticas, passar despercebido, não ser humilhado.

Homens não sabem lidar com o desconforto, com o sagrado, com o feminino e acho que passou da hora de começar, porque no passado eles não tinham noção da própria insatisfação. Hoje, isso é luxo. Um homem lúcido, com o mínimo do erudito na sua formação, entende que vai viver mais, entende os benefícios de certos alimentos, os males de certos comportamentos, a importância de fazer check-up. Ao mesmo tempo, está começando a ter consciência do seu papel masculino como provedor e amante e começando a ter menos medo de reclamar, de contar suas angústias, de ir ao museu com prazer, de pedir um drink ao invés de uma pinga.

Mas, verdade seja dita, estão mais tristes, bem mais confusos e, claro, igualmente frágeis.

Para ouvir depois de ler: What It Feels Like For A Girl - Madonna

2 comentários:

Marcus Lima disse...

Excelente post!

Parabéns pelas palavras, concordo plenamente. Os homens estão mais incompletos do que nunca, tendo seu porto seguro somente na profissão e em sua afirmação sobre o parceiro(a). Extremamente forte em relações sociais e profissionais e imaturo nas relações com seus próprios sentimentos e assim foge de si usando pretextos que normalmente ferem, criticam e taxam pessoas que agem de forma diferente, que agem como deveria ser.

Um abraço!

Hélio Monteiro disse...

Bom saber que continua ai, Gabriel! Lucido, tranquilo e inteligente!