quarta-feira, 15 de setembro de 2010

No meu tempo, o amor...

Tirando a época em que era ministrada por um pastor evangélico, sempre fui muito com a cara dos meus professores de filosofia, sociologia e semiótica. Há algo nesses estudos que deixa a pessoa mais em paz no relacionamento dela com o mundo.

Em uma dessas aulas, lembro de um professor contando histórias sobre sua filha caçula e rindo muito dessas pessoas que dizem que quem não brincou na rua ou escalou árvores não teve infância. Afinal, são experiências diferentes. Nem melhores, nem piores, apenas diferentes. Nos tempos dos nossos bisavôs, o povo casava com 15 anos de idade. O conceito de infância é algo que muda de acordo com a época, a religião, a cultura etc.

Na verdade, penso que é assim com quase todos os assuntos. Pessoas mais velhas do que eu, mesmo as que usam com maestria o computador, tendem a usá-lo de forma que ele termine seu serviço ali, ou seja, não interagem com ninguém através dele. Para essas pessoas é praticamente impossível explicar como, via internet, nascem amizades e amores.

A era digital mudou toda a forma prática da sociedade e o amor entrou nisso junto. Ele, que também muda conforme mudam os meios pelos quais se estabelece a relação com o corpo do outro, está tão inserido no mundo virtual quanto qualquer outro tópico. Desde sempre, em relacionamentos, saímos do nosso aconchego e atravessamos um espaço de dúvidas para encontrar o outro. Esses questionamentos – ou obstáculos? – são ideológicos, religiosos, estéticos, políticos. E o que o amor na era digital permite é o de passear por ele, explorá-los um pouco mais, antes de pular de ponta no desconhecido.

Antes, exáminavamos a aparência da pessoa, sua presença e seu cheiro, para ver se valia à pena ir mais fundo, e descobrir sua personalidade, caráter e valores. Mesmo que só cliquemos nos avatares que nos chamam atenção esteticamente, acho que essa ordem se inverte e, no mundo virtual, a pessoa não tão atrativa chamará mais atenção que uma pessoa mais bela se tiver interesses em comum declarados – mesmo sendo no formato de uma comunidade do seu livro ou filme favorito.

A mais nova versão do amor para além do corpo é esse amor digital, que é sem corpo! A pessoa te causa uma sensação boa com palavras que te manda por e-mail, MSN, SMS e, então, amor digital, nesse sentido das palavras, joga fora o corpo, mantendo apenas o que nos liga a ele sem que ele esteja entre nós: o intelecto.

2 comentários:

Unknown disse...

Para mim o amor não muda ele sempre está intacto nas mesmas sensações que o forma. Sim ele moderniza por vínculos de comunicação, mas o sentimento forte que o tece em nós não mudou.Como é bom o senti nas fibras mortais.

Dayane Costa disse...

Que texto mais lindo :~