quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Comissão de Justiça aprova PEC da Felicidade

A chamada PEC da Felicidade foi aprovada, nesta quarta-feira (10), pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). De autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a PEC 19/10 visa ressaltar que os direitos sociais elencados no artigo 6º da Constituição são essenciais à busca da felicidade. Ao justificar a proposta, Cristovam disse que a busca pela felicidade só é possível se os direitos essenciais estiverem garantidos. Depois de aprovada, o artigo dirá que "são direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados". Apenas isso. Está faltando trabalho para esse povo, não?

Segundo recente estudo de economistas brasileiros, citado pelo senador, fatores como renda, sexo, emprego e estado civil influenciam no nível de felicidade das pessoas.

Então, vamos conversar, senador? É verdade, só quando essa lista toda estiver garantida é que dá para fazer festa e começar a ser feliz de verdade. Peraí. Alguém é feliz de verdade aqui?

A felicidade é o grande motivo pelo qual o ser humano busca ter um futuro. A felicidade é uma questão do corpo e do desejo e isso é algo bem amplo. Passa por todas essas coisas mundanas safadinhas que você está pensando, pelos atos fisiológicos que estão na Constituição e também pela arte como um todo. O negócio é que “felicidade” é um conceito inalcançável, extremamente particular e agora deram para rotulá-lo – até no sentido literal.

A gente vive num mundo que confunde felicidade com satisfação ou realização; e agora querem colocar isso por escrito. Essa mudança no texto implica que quem tem educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer e tudo aquilo, é feliz. É feliz. Gente, mas não pode colocar isso na Constituição! Não é assim a vida. Olha só: quantas milhões de vezes você viu alguém dizer que quando fizesse ou tivesse tal coisa seria feliz e que, quando conseguiu, não foi bem assim? Talvez você já tenha vivido isso. Eu sei que eu sim. Sempre coloco minha “felicidade” numa coisa que farei no futuro. Minha vida estará perfeita quando meu salário aumentar, quando eu comprar aquela roupa, quando eu arranjar um namorado, quando eu visitar aquela cidade, quando eu ler aquele livro, quando eu morar naquela casa. Aí você vai lá, consegue a coisa, realiza o desejo, e nada muda. Você se sente igual, talvez pior.

A confusão de conceito transforma a “realização” numa “felicidade encaixotada”. A publicidade diz que aquela coisa ali vai te fazer feliz e você vai lá e compra, não é? Não estou fora disso. Só acho essa PEC 19/10 uma babaquice pois dá a impressão que quer transformar obrigações do governo em “pacotes de felicidade”. Temo que se um país atrasado desse já sair achando que ter saneamento básico, por exemplo, é felicidade, não vai cobrar nada além disso do futuro, sabe como? O que está na constituição é o mínimo do mínimo do mínimo para se pensar em algum tipo de felicidade plena ou paz real.

Quem disse que felicidade é ter educação ou previdência? Vai saber. E se o trabalho que me faz feliz é contrabando de mulheres? E se o que me faz feliz é matar gente? E se o que me faz feliz é ver meus amigos gays se casando? E se o que faz a menina ali feliz é ela não precisar parir o filho do ex-namorado? Sim, eu sei que as primeiras coisas da lista são crimes, mas a outra metade da lista não está legalizada também não.

O repórter Josias de Souza escreveu no blog dele: “O que é preciso para roçar a felicidade? Todos procuram a resposta. Por ora, ninguém encontrou. Livros? Não, não. O conhecimento leva à reflexão sobre as mazelas humanas. Infelicidade certa. Esperança? Amor? Dinheiro? (…) Calma, seus problemas estão próximos do fim. A Comissão de Justiça do Senado aprovou a emenda constitucional da felicidade. A coisa vai ao plenário. Depois de aprovada, você talvez não ache a felicidade. Mas vai dispor de cobertura constitucional para continuar procurando. Boa sorte! Se encontrar, não seja egoísta. Avise ao repórter, ligue para os amigos, grite ao mundo”.

Entenderam?

Para refletir, senador, para refletir....

Para ouvir depois de ler: So-Called Chaos – Alanis Morissette

Um comentário:

ricardo rassan disse...

Ahãm, Gabriel... só uma coisinha... o Tempo todo no artigo você critica o fato da felicidade poder ou não alcançada com base no "ter", um erro na minha concepção. Pois a felicidade está relacionada ao "ser" - o "Sujeito" e não a "Coisa"... ficaadica! Concorda?