domingo, 13 de novembro de 2011

Toda unanimidade é burra


No meio desse ano eu assisti o documentário "Daquele Momento em Diante", que fala sobre a trajetória musical de Itamar Assumpção, da Vanguarda Paulista na década de 1980. Ele foi músico, compositor e cantor, gravou vários discos e, teoricamente, nunca fez sucesso no Brasil naquela época. Era "alternativo demais".

Em um vídeo, ele falava sobre a facilidade de fazer um show e ser bem recebido (e, digamos, compreendido) na Alemanha. "No Brasil é tudo uma dificuldade", ele compara. Aí suspira e diz assim: "Até quando esse país vai viver de Chico e Caetano?".

Na semana passada, Chico Buarque esteve na minha cidade, Belo Horizonte, e um dos jornais mais lidos daqui, o Estado de Minas, colocou o músico na capa. As manchetes eram títulos de músicas etc etc. De uma breguiça fenomenal. Uma coisa que chamou atenção foi uma linha que dizia assim: "Chico Buarque é unanimidade".

Se fosse numa sala de aula, era hora de levantar a mão e citar uma frase de Nelson Rodrigues pra professora: "Toda unanimidade é burra".

Eu entendo o fascínio das pessoas por Chico, mas acho que a hora dele passou. O mundo mudou e ele ficou parado. Direito dele. Mas é que gostar das músicas dele parece uma coisa obrigatória aqui nesse país. Mas, convenhamos, ele perdeu a mão nas composições - e tem lá mais que uma década. Não era muito mais legal quando ele era censurado e suas letras eram um desafio? Agora tanto faz.

Mas tudo bem, cada um tem o ídolo que merece. Se vocês acham que um velhaco amarelado continua sendo sexy e bom cantor, que bom pra vocês. E pra ele, claro.

O que me deixa chateado é essa babação de ovo excessiva. Pois isso cerca o cara de uma manta que ele não devia ter mais - não estou falando que ele devia ser desrespeitado, nada disso. Mas li que ele mesmo ficou abalado quando descobriu, há alguns anos, que tinham comunidades "Eu odeio Chico Buarque" no Orkut. Provavelmente ele também acreditava nessa unanimidade. Talvez seja hora dos fãs pegarem leve, serem mais críticos.

Sei lá. Ultimamente tenho concordado mais com Nelson Rodrigues do que com Angélicas, Renatas Marias, Ninas e Lolas. Fãs, em geral, são pessoas chatas, que não gostam de ser contrariadas. Fãs de MPB então, sai de baixo. Li um texto que os compara com religiosos fervorosos: se você não acredita no deus deles, está condenado.

A declaração do humorista Marcelo Madureira, que chamou o cineasta Glauber Rocha de "uma merda”, também sacudiu o Rio de Janeiro. Está vendo? O problema é essa suposta unanimidade. Se muita gente acha, você tem que achar também?

Detalhe: dia 31 de outubro, alguns dias antes do show de Chico em BH, foi o centenário de Carlos Drummond de Andrade, um dos escritores mais respeitados do país, e mineiro. Adivinha se ele foi capa do Estado de Minas...

4 comentários:

Carlos disse...

Uma pessoa sensata neste universo. Não estamos condenados!

Compartilho da opinião, porque se tem uma crítica que insistem em me fazer é: como eu conheço MPB e não gosto!?!?!

Não curto, não me conecto, não aproveito! Parece um crime não gostar de Chico, Caetano ou Vinícius.

E acho que ainda abre uma brecha pra discutir a "Ditadura da Intelectualidade" que aparece em vários âmbitos da nossa sociedade e insiste em comandar que aquilo que é bom é o que é letrado...

Palmas para o artigo! Muitas Palmas!

@gabrielkdt disse...

conversando com um amigo (advogado grande apreciador de música clássica e filmes ditos cults) no chat do facebook sobre o texto acima:

Rafael:
é uma pena, mas hoje eu iria a um show do chico como vou ao louvre ver a monalisa ; )

Gabriel:
não sei exatamente o que dizer sobre isso, haha

Rafael:
haha, museu.

Gabriel:
hauhauhaa
mas monalisa é legal

Rafael:
mas é passado, as pessoas vão ver o chico porque querem ouvir 'olhos nos olhos', sabe? passado.

Gabriel:
é, mas isso funciona.
tipo
roberto carlos tb é assim
mas ele tem consciencia disso
então eu respeito mais ele do que o chico atualmente, hahaha
entende?

Rafael:
entendo, ontem eu voltei de franca ouvindo roberto carlos. eu tava na estrada, e ele cantando uma música que falava justamente de estrada.

Gabriel:
entendi
poético

Rafael:
o roberto carlos é simples e eficiente

Gabriel:
eficiente é uma boa palavra

Rafael:
e despretensioso. o roberto carlos não tem uma 'construção', por exemplo. que é a canção mais chata da história da música brasileira.

Gabriel:
hahahahahaha

Camila Couto disse...

Ótimo post.

cleo disse...

gostei