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Eles se conheceram por acaso no Stadt Jever, aqui em Belo Horizonte. Ele foi ao banheiro e ela sentou em sua mesa, achando que ela estava vaga. Ele voltou e os dois começaram a conversar. As amigas dela chegaram, mas não antes deles trocarem números. Ele apenas acenou para todas com a cabeça e sumiu pela porta.
Ele demorou três dias para ligar. A desculpa era clássica, havia perdido o papel. Vitória não se importou. Ele era educado e os dois conseguiram manter uma conversa digna durante os cinco minutos que estiveram juntos. Minutos versus uma vida inteira é bem diferente, ela sabia, mas era um começo. Afinal, com quantos desconhecidos você passa cinco minutos conversando sem parar e sem citar a previsão do tempo, os engarrafamentos ou os signos?
Combinaram de sair e saíram. Encontraram-se e fizeram uma boa refeição japonesa na sexta. Jantaram filés bonitos no sábado. E domingo ele queria almoçar com ela. Segundo ela, ponto positivo.
- Quando mais cedo no relógio, mais séria está a coisa. Se ele quer encontrar pro almoço deve ser por causa das nossas conversas, que são ótimas.
Fazia sentido a explicação dela. Mas não pude evitar perguntar:
- Mas e como é o sexo?
- Ainda não fizemos sexo.
- Ih...
Expliquei para Vitória que, se o problema não era a agenda deles e se ainda não existia sexo, a teoria dela estava inversa. O almoço provavelmente seria o fim de tudo. Se eles estivessem se pegando de verdade, não teria nada a ver. Mas, sem sexo, você cair de “drinks com comidas sofisticadas” para “almoço no shopping com guaraná” é uma tragédia. É porque ficou tedioso. De uma forma inexplicavelmente estranha e incrivelmente encantadora, ela arregalou apenas um olho e me perguntou o que fazer.
- Pegue as rédeas. Ligue para ele, cancele o almoço e sugira algo de noite. Dê um jeito dele entender que você quer ir pra cama. Não vá se não quiser, mas jogue com a possibilidade.
E foi o que ela fez. Ela não queria perder o moço. Como poucas pessoas, não se sentia pronta para sexo no quarto encontro, mas sabia que o rapaz tinha seu valor. No final das contas, como a telinha luminosa me informou, eles acabaram mesmo na cama. Uau.
Hoje fez, portanto, uma semana do incidente. O telefone celular dela não para de tocar. É o tal. Aparentemente, o homem morava com os pais ainda. Era uma casa gigantesca e seu quarto era independente, mas em algum lugar ali estavam seus pais. Aquele ar de executivo que deu super certo precocemente acabou. Era óbvio que o cara, que já estava na casa dos 30, era mantido com mesadas, o que afasta mulheres independentes.
Enquanto eu escolhia de qual líquido industrial a máquina da Nestlé ia encher meu copo, Vitória concluiu:
- Eu já passei dessa fase de estar fascinada pelo glamour vazio. Umas pegadas aleatórias têm o seu valor, mas uma pessoa independente, bem humorada e talentosa é muito mais tesão.
Eu ri e concordei mentalmente.
Para ouvir depois de ler: Alanis Morissette - That I Would Be Good
Um comentário:
Tanta coisa a dizer sobre o assunto que nem precisa falar, né?
Um beijo, no lóbulo da orelha.:)
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