quarta-feira, 15 de abril de 2009

Vitória

Recebi uma mensagem logo de manhã na semana passada. É uma amiga, vamos chamá-la de Vitória. Ela me conta em um SMS com seis caracteres de pura empolgação: “Peguei”. O assunto, no caso, era um jovem que fazia parte de suas fantasias na última semana. Mas esse texto não tem um final feliz, se prepare.

Eles se conheceram por acaso no Stadt Jever, aqui em Belo Horizonte. Ele foi ao banheiro e ela sentou em sua mesa, achando que ela estava vaga. Ele voltou e os dois começaram a conversar. As amigas dela chegaram, mas não antes deles trocarem números. Ele apenas acenou para todas com a cabeça e sumiu pela porta.

Ele demorou três dias para ligar. A desculpa era clássica, havia perdido o papel. Vitória não se importou. Ele era educado e os dois conseguiram manter uma conversa digna durante os cinco minutos que estiveram juntos. Minutos versus uma vida inteira é bem diferente, ela sabia, mas era um começo. Afinal, com quantos desconhecidos você passa cinco minutos conversando sem parar e sem citar a previsão do tempo, os engarrafamentos ou os signos?

Combinaram de sair e saíram. Encontraram-se e fizeram uma boa refeição japonesa na sexta. Jantaram filés bonitos no sábado. E domingo ele queria almoçar com ela. Segundo ela, ponto positivo.

- Quando mais cedo no relógio, mais séria está a coisa. Se ele quer encontrar pro almoço deve ser por causa das nossas conversas, que são ótimas.

Fazia sentido a explicação dela. Mas não pude evitar perguntar:

- Mas e como é o sexo?
- Ainda não fizemos sexo.
- Ih...

Expliquei para Vitória que, se o problema não era a agenda deles e se ainda não existia sexo, a teoria dela estava inversa. O almoço provavelmente seria o fim de tudo. Se eles estivessem se pegando de verdade, não teria nada a ver. Mas, sem sexo, você cair de “drinks com comidas sofisticadas” para “almoço no shopping com guaraná” é uma tragédia. É porque ficou tedioso. De uma forma inexplicavelmente estranha e incrivelmente encantadora, ela arregalou apenas um olho e me perguntou o que fazer.

- Pegue as rédeas. Ligue para ele, cancele o almoço e sugira algo de noite. Dê um jeito dele entender que você quer ir pra cama. Não vá se não quiser, mas jogue com a possibilidade.

E foi o que ela fez. Ela não queria perder o moço. Como poucas pessoas, não se sentia pronta para sexo no quarto encontro, mas sabia que o rapaz tinha seu valor. No final das contas, como a telinha luminosa me informou, eles acabaram mesmo na cama. Uau.

Hoje fez, portanto, uma semana do incidente. O telefone celular dela não para de tocar. É o tal. Aparentemente, o homem morava com os pais ainda. Era uma casa gigantesca e seu quarto era independente, mas em algum lugar ali estavam seus pais. Aquele ar de executivo que deu super certo precocemente acabou. Era óbvio que o cara, que já estava na casa dos 30, era mantido com mesadas, o que afasta mulheres independentes.

Enquanto eu escolhia de qual líquido industrial a máquina da Nestlé ia encher meu copo, Vitória concluiu:

- Eu já passei dessa fase de estar fascinada pelo glamour vazio. Umas pegadas aleatórias têm o seu valor, mas uma pessoa independente, bem humorada e talentosa é muito mais tesão.

Eu ri e concordei mentalmente.

Para ouvir depois de ler: Alanis Morissette - That I Would Be Good

Um comentário:

Ju disse...

Tanta coisa a dizer sobre o assunto que nem precisa falar, né?

Um beijo, no lóbulo da orelha.:)