sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O que esse povo pensa do futuro?

A chamada geração Y, que nasceu nos anos 1980, chegou ao mercado de trabalho. Mais do que esperado, isso gera um enorme choque. De um lado, empresas tradicionais e absolutamente hierárquicas, de outro, recém formados com planos de carreira almejando uma chefia até, no máximo, seus 27 anos. A crise mudou um pouco essa visão dos jovens, mas as empresas estão falhando na adaptação. É equivocado generalizar? Talvez. Mas vamos ignorar isso e seguir e você vai ver onde eu quero chegar.

O que acontece, e aposto que gente como Marcelo Tas me apoiaria nisso, é que os empregadores ainda tratam seu estagiário e trainee como o jovem perdido no mundo que está, por quase um favor, recebendo uma chance de aprender. Em 2009 essa é a maior balela do mundo. Afinal, quem está chegando agora no mercado de trabalho soma mais conhecimento do que era possível antes. Sim, pouca experiência profissional, mas no nível teórico, todos os profissionais de uma empresa estão nivelados quando o assunto é bacharelado, curso de inglês e palestras, sem contar que o jovem de hoje acumula experiências de vida muito diferentes das que seus chefes tinham quando começaram. Portanto, chega desse discurso.

A grande característica da minha geração é que ela foi criada à base do prazer. Meus pais tiravam boas notas pois era a obrigação deles. Eu tirava pois, passando de ano, ganhava um presente. Percebem a diferença? O grande coringa do jovem no mercado de trabalho é esse. Ele trabalhará horas à fio se for em algo que ele goste. Mas, ei, todo mundo sabe que nem todo mundo vai trabalhar em algo que gosta. E aí está outra característica desse pessoal que veio ao mundo na mesma época que eu. Nascidos e encastelados desde então, sucumbem na primeira crítica e não admitem estar errados, o que é um mega ponto contra eles no mercado de trabalho verdadeiro.

Nem todos, inclusive, estão a fim de se darem bem por conta própria. Como Millôr Fernandes disse, ninguém fala mais entusiasticamente de livre-empresa, de leis de mercado e "que vença o melhor" do que a pessoa que herdou tudo do pai. Minha geração não lidou de verdade com política ou guerras e se sente informada lendo sites superficiais. Isso é de um antagonismo gigantesco. Como vários dos de ontem, os jovens hoje falam sobre distribuição de renda, ecologia e sustentabilidade, mas tudo de dentro da casa dos pais, sem ter tido contato real com nenhum desses tópicos e planejando manter essa distância.

Qualidade de vida é isso pra essa galera, é garantir o seu. Não é necessariamente sair da casa dos pais e começar uma revolução na sua vida não. Esse povo quer deixar sua marca no mundo, fazer diferença, chamar atenção, mas com tudo garantido pelos pais antes. O carro, as viagens, o computador, a cerveja e as roupas de grife.

Todas essas características tendem a ficar mais agudas daqui pra frente, nas gerações a seguir, e isso me causa um certo medo. Já agora eu me vejo cercado de indivíduos hedonistas e egocêntricos, tratando tudo ao redor como descartável. No mercado talvez isso seja bom. Afinal, quem é qualificado e não recebe o aumento prometido diz “adeus” e começa em outra empresa logo demais. Mas sei lá...

Me preocupam – e também me fascinam, confesso – esses que não escolhem aprender e/ou se qualificar e os que vivem de freelancer, por exemplo. Eu estou pensando de forma limitada só aceitando empregos de carteira assinada, em já querer um mínimo de segurança para o futuro? É muito fácil se jogar no mundo sabendo que, se der uma merda, a casa dos pais estará seca, sã e salva para você no caminho de volta. Mas será assim pra sempre? O que esse pessoal pensa do futuro?

Quem descansa agora, trabalha muito mais amanhã. Só tô dizendo...

Para ouvir depois de ler: Smells Like Teen Spirit - Nirvana

4 comentários:

All about... (vegan) food disse...

Vou comentar apenas um dos pontos que me chamou a atenção no texto agora: a questão de os jovens brasileiros viverem por muito tempo na casa dos pais (a geração passada, a nossa e, provavelmente, a futura). Vivendo do lado de cá do oceano, o que eu tenho visto é que os jovens aqui na Irlanda (e também na Alemanha pelo que pude comprovar, não posso falar dos outros países) saem de casa assim que terminam a escola. claro que o ensino médio nesses países pode ser profissionalizante, o que já permite uma entrada no mercado de trabalho, mas mesmo quem faz um ensio médio como o nosso científico (nem sei se ainda existe esse termo) também se vira. É muito raro ver pessoas com mais de 23 anos morando com os pais por aqui. E com isso, a juventude aqui começa a ter uma noção melhor do que é cuidar da vida, construir um futuro, lutar pelo que quer. Independente de ser bem nascido ou não, a grande maioria sai da casa dos pais e com o incentivo dos mesmos. Eu tenho achado muito válido esse aspecto aqui e pretendo adota-lo!

fred disse...

Pow, vou ter de comentar o post e o comentário!!!

O comentário antes, porque é mais curto. Glauce, isso é muito diferente mesmo, mas nos países latinos, o drama de sair de casa é igual aqui. Na espanha, isso é avaliado como um problema social...

Quanto ao post, parabéns Gabriel. Lúcido, fluente e inteligente. Só acrescentaria mais uma coisa: a sua geração é a 1a que efetivamente sai da faculdade durante essa grande mudança da comunicação. Muito além dos conhecimentos teóricos, o valor da sua geração é a compreensão, em um nível inconsciente, da força e da importância das novas tecnologias e linguagens. Um "menino" recém formado que tem um blog bacana e usa bem o Twitter tem (e terá cada vez mais) muito mais valor do que em qualquer outra época. Um profissional "experiente" precisa se adaptar, um jovem simplesmente sabe.

É isso. Tenho fé nessa geração.

Anônimo disse...

somos os filhos da revolução
somos burgueses sem religião
somos o futuro da nação

geração ... google!

Tatiana Kielberman disse...

Olá!
Se possível me adicione no MSN: tatikielber@hotmail.com.
Obrigada!